terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Estudo genético confirma associação da maconha com esquizofrenia

De acordo com um novo estudo, pessoas com risco genético aumentado para esquizofrenia são mais propensas a fumar maconha

Pesquisa publicada recentemente no periódico científico Psychological Medicine comprovou por meio de análises genéticas o que estudos anteriores já haviam sugerido de forma observacional: o consumo da maconha é particularmente perigoso para pessoas com propensão genética à esquizofrenia, mas, principalmente, que os esquizofrênicos tendem a usar mais a droga. 

Evidências genéticas

No novo estudo, pesquisadores da Escola de Psicologia Experimental da Universidade Bristol, no Reino Unido analisaram fatores genéticos que podem prever se uma pessoa é suscetível a usar cannabis e também sua suscetibilidade à esquizofrenia. Os resultados confirmaram que começar a fumar maconha pode sim aumentar o risco de esquizofrenia, mas, em especial, uma pessoa  que carrega genes associados à doença são mais propensas a se tornarem usuárias da droga e a fazer isso de forma abusiva.
Um das possíveis explicações para essa relação, segundo os autores, é que os fatores genéticos para a esquizofrenia são mais fortes do que aqueles para o uso da cannabis. Marcus Munafò, coautor do estudo, especula também que “certos comportamentos ou sintomas associados ao risco de esquizofrenia podem ser aliviados pelos efeitos da cannabis”. Em outras palavras, o consumo de cannabis pode ser uma espécie de automedicação nessas pessoas.
Outra possível explicação, segundo o especialista, é que “as pessoas com maior risco de esquizofrenia podem desfrutar mais dos efeitos psicológicos da cannabis. Há um consenso crescente de que o consumo de cannabis pode aumentar o risco de desenvolver esquizofrenia. Nossos resultados apoiam isso, mas também sugerem que aqueles com maior risco de esquizofrenia podem ser mais propensos a experimentar cannabis”.

Maconha e esquizofrenia

Estudos anteriores já haviam mostrado que o consumo de maconha é mais comum em pessoas com psicose do que entre a população em geral e que, em muitos casos, esse hábito também pode aumentar o risco de sintomas psicóticos. O uso da droga já foi associado a sintomas do distúrbio, como paranoia e pensamentos delirantes, em até 40% dos usuários.
No início desse ano, de acordo com o site especializado Medical News Today, pesquisadores alertaram que pessoas jovens que usam cannabis poderiam aumentar seu risco de desenvolvimento de problemas psicóticos. Além disso, pessoas com esquizofrenia parecem ter uma maior chance de experimentar sintomas psicóticos ao usarem a droga. Entretanto, até o momento, esses resultados não foram considerados definitivos e especialistas pediram mais pesquisas.

THC versus CBD

Em relação ao papel da maconha em aumentar ou reduzir os sintomas de esquizofrenia, Munafò afirma que, embora sejam necessários mais estudos, pesquisas existentes sugerem que dois dos constituintes da cannabis, o tetrahidrocannabinol (THC) e o canabidiol (CBD), podem ser os responsáveis por esses efeitos contraditórios.
De acordo com o Instituto Nacional sobre o Abuso de Drogas dos Estados Unidos (Nida, na sigla em inglês), enquanto a intoxicação por THC tem sido associada com experiências psicóticas transitórias, o CBD não desencadeia alterações mentais e pode ter potencial como uma medicação. Entretanto, a maconha “recreacional” tem um alto teor de THC e baixo de CBD, daí sua provável contribuição para o aumento de sintomas psicóticos em pessoas propensas à esquizofrenia.

Esquizofrenia

O distúrbio mental é caracterizado quando há perda de contato com a realidade, alucinações (audição de vozes), delírios, pensamentos desordenados, índice reduzido de emoções e alterações nos desempenhos sociais e de trabalho. A esquizofrenia afeta cerca de 1% da população mundial. O tratamento é feito com uso de remédios antipsicóticos, reabilitação e psicoterapia.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Médicos alertam para risco de complicações vasculares no verão

O calor gera no organismo uma vasodilatação, que gera uma dificuldade de o sangue dos membros inferiores chegar ao coração
por Agência Brasil
Com o início do verão e o aumento das temperaturas, os cuidados com a saúde devem ser redobrados, afirmou o diretor da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), Julio Peclat. Em parceria com a Sociedade de Cardiologia do estado do Rio de Janeiro (Socerj), a entidade está alertando a população sobre as mudanças fisiológicas que as elevadas temperaturas podem provocar no sistema cardíaco, além de vasodilatação, que ocasiona inchaço nos membros inferiores.
“Do ponto de vista vascular, o calor gera um fenômeno chamado vasodilatação. Você tem uma dilatação dos vasos e isso gera aumento da estase venosa, ou dificuldade de o sangue dos membros inferiores chegar ao coração. Isso se torna mais lento e, muitas vezes, esse sangue sai de dentro para fora do vaso. Isso leva ao inchaço, aos edemas dos membros inferiores”, explicou.
De maneira geral, esse fenômeno é benigno mas pode, também, ser sinal de algum problema de saúde, como insuficiência venosa crônica, varizes, edema linfático ou trombose, destacou o especialista. “Sempre que isso fugir um pouco do normal, a dica é procurar um angiologista ou cirurgião vascular para fazer um exame vascular mais detalhado”, disse Peclat.
Em função dos riscos, ressalta-se a importância de a população ter alguns cuidados para diminuir a possibilidade desse inchaço. Realizar atividade física regular, evitar ambientes muito quentes e exposição direta ao sol, evitar ficar muitas horas sentado na mesma posição ou em pé, sempre caminhar um pouco, mesmo que seja dentro do ambiente menor, são alguns desses cuidados.
Hidratação
A SBACV e a Socerj recomendam ainda que a pessoa tome, pelo menos, entre dois e três litros de líquidos por dia, de preferência água. “Nessa época do ano, a pessoa sua muito, perde muito líquido. Por isso, é importante repor esse líquido”. A alimentação também deve ser leve, evitando comidas gordurosas ou pesadas, dando preferência a carnes brancas e saladas. O sal deve ser reduzido porque absorve muito líquido e pode colaborar para o inchaço de membros inferiores e superiores.
Outra dica é evitar corridas e jogos de praia, como vôlei e futevôlei, nos horários mais quentes, entre 10h e 16h (no horário de verão, de 11h às 17h), e usar bloqueador solar, boné, viseiras, óculos e chapéus. “Usar tudo que tem direito para se proteger, porque o inchaço é um dos problemas relacionados ao calor”.
Cardiopatas são mais suscetíveis
Julio Peclat esclareceu que em pacientes mais idosos, que já têm uma cardiopatia, há chances de o coração acabar sendo afetado pelas temperaturas mais altas. “Ele vai perder mais líquido, porque o sangue fica mais viscoso. Então, teoricamente, esse paciente fica mais suscetível a algum problema cardiovascular”.
A desidratação pode ter efeitos graves para o paciente que tem doença cardiovascular ou cardiovascular periférica, relacionados à perda do nível de consciência, desmaios e queda de pressão arterial. “Tem que ter cuidados, principalmente nos extremos: crianças e idosos. Porque, nessas fases, os mecanismos responsáveis pela termorregulação não são tão eficientes", adverte a SBACV. A ingestão de líquidos, insistiu o médico, protege rins, coração, entre outros órgãos.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Dobra número de surtos de diarreia no Ceará

O aumento pode estar ligado à crise hídrica no Estado, que prejudica a conservação e limpeza de água e alimentos
por Vanessa Madeira - Repórter
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Segundo as estatísticas da Sesa, os municípios cearenses mais afetados até o momento foram Fortaleza, Maracanaú e Caucaia ( FOTO: THIAGO GADELHA )
A quantidade de surtos de Doenças Diarreicas Agudas no Ceará (DDA) neste ano quase dobrou em relação a 2015. De acordo com dados divulgados pela Secretaria de Saúde do Estado (Sesa), enquanto em todo o ano passado foram contabilizados 30 surtos de diarreia, em 2016, até o dia 20 de dezembro, este número passou para 58.
O surto é caracterizado pela ocorrência de dois ou mais casos de DDA relacionados entre si, ocasionados pela ingestão do mesmo alimento ou da mesma água contaminada. De acordo com especialistas, o aumento pode estar ligado à crise hídrica pela qual passa o Estado nos últimos anos.
O número de casos isolados da doença também cresceu, se comparado ao do ano passado. Neste ano, houve 289.877 ocorrências, 25% a mais que em 2015, quando foram registrados 231.957 casos. Segundo as estatísticas da Sesa, os municípios cearenses mais afetados até o momento foram Fortaleza (36.974 casos), Maracanaú (20.545) e Caucaia (10.818).
Contaminação
O infectologista pediátrico Robério Leite, do Hospital São José (HSJ), explica que a causa mais provável da elevação do número de surtos e casos de DDA é o agravamento da seca no Estado. Conforme ele, a crise hídrica prejudica as condições de armazenamento, higienização e conservação de alimentos e água, principais elementos de transmissão da doença.
"Com a piora das condições de saneamento e abastecimento de água, o risco de contaminação aumenta. Como a água é o principal veículo dessas doenças infecciosas diarreicas, é possível que o crescimento do número de casos seja impacto disso", diz.
O abastecimento de algumas cidades por caminhões-pipa, segundo o médico, também aumenta as chances de contaminação, sendo favorável à disseminação de DDA. "Quanto mais etapas existirem entre a fonte e chegada de água para o consumo humano, o risco de contaminação cresce. Com certeza, o uso de carros-pipa por si só já é um risco aumentado", observa Robério Leite.
O especialista destaca que a doença afeta principalmente crianças menores de um ano de idade e idosos. Nesses grupos, as chances de ocorrerem manifestações mais graves são maiores, em especial se as doenças forem associadas a quadros de desnutrição. Nesses casos, as DDA podem ocasionar forte desidratação e perda de eletrólitos (sais minerais) e levar a óbito.
A prevenção contra as Doenças Diarreicas Agudas deve incluir o cuidado com armazenamento e tratamento da água e de alimentos ingeridos. A higienização das mãos após utilizar o banheiro e antes de refeições também é fundamental.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Governo permite reajuste ‘excepcional’ de remédios

Para o ministro da Saúde, Ricardo Barros, o objetivo da MP é manter no mercado medicamentos de baixíssimo custo que são comprovadamente eficazes

O presidente Michel Temer publicou no Diário Oficial da União de terça-feira uma medida provisória que permite reajustar ou diminuir os preços dos medicamentos “excepcionalmente”. A decisão será tomada pelo conselho de ministros da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed).
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse que o objetivo da MP é manter no mercado medicamentos de baixíssimo custo que são comprovadamente eficazes, mas não há mais interesse econômico na produção.
Ele citou como exemplo a penicilina, que está em falta. “Estamos com uma epidemia de sífilis e não conseguimos resolver o problema porque não há interesse econômico na produção da penicilina nem pelos laboratórios públicos. Vamos ajustar o preço de custo para que se tenha uma margem para quem produz, seja laboratório público ou privado, e dessa forma poderemos abastecer o mercado e evitar essa epidemia”, afirmou o ministro.
De acordo com o Ministério da Saúde, além da penicilina, outros medicamentos que podem ter preços ajustados são os de tratamento de câncer, como Benzonidazol, L-asparaginase, Dactinomicina e componentes usados, por exemplo, como contraste em exames de radiografia. Todos eles apresentaram produção instável nos últimos anos e a fabricação está sendo acompanhada pelo ministério.
Em nota divulgada nesta terça-feira, o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma) disse que a medida “preocupa a indústria, pois rompe com a norma de regulação econômica para o setor farmacêutico, causando um clima de indefinição e incerteza”.
“A instabilidade criada pela MP tem o potencial de congelar os investimentos já programados pela indústria farmacêutica, podendo até mesmo afetar o mercado de trabalho setorial, que hoje emprega 600.000 profissionais diretos e indiretos�, informa a nota.
Atualmente, os medicamentos com preços controlados têm reajuste autorizado no fim do mês de março com base em índices máximos definidos pelo governo.
De acordo com o ministro, haverá uma regulamentação da MP sobre a aplicação para não criar instabilidade no mercado. “Não queremos nenhuma oscilação nesse crescimento que está havendo na indústria farmacêutica”, afirmou Barros. O ministro também disse que o governo não vai permitir desabastecimento de medicamentos por causa da regra.
Para haver mudança no preço, deverá ter parecer unânime dos ministros que fazem parte da Cmed. São eles Saúde, Fazenda, Justiça, Casa Civil e Indústria e Comércio Exterior.

Aumento

Neste ano, o governo federal autorizou reajuste de até 12,5% nos preços de medicamentos, dependendo da categoria do produto. O porcentual ficou acima do autorizado em 2015 e também da inflação no ano – o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou em 10,67%.
No ano passado, o reajuste máximo autorizado pelo governo foi de 7,7% e, em 2014, o teto foi de 5,68%. De acordo com a Cmed, o ajuste tem como base um modelo de teto de preços calculado a partir do IPCA, em um fator de produtividade, em uma parcela de fator de ajuste de preços relativos intrassetor e outra de valores relativos entre setores.
O reajuste acumulado desde 2008, de acordo com o Sindusfarma, ficou em 58,83%, abaixo da inflação no mesmo período – de 74,17% pelo IPCA.
(Com Estadão Conteúdo)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Método com laser e bactérias marinhas trata câncer de próstata

O novo método usa laser e um medicamento feito de bactérias para eliminar os tumores, sem causar os severos efeitos colaterais de terapias tradicionais

Um novo método promete tratar o câncer de próstata sem efeitos colaterais. O tratamento inovador utiliza lasers, bem como um remédio feito de bactérias marinhas para eliminar os tumores e já é considerado um avanço significativo no combate à doença. De acordo com o estudo publicado recentemente na revista científica The Lancet Oncology, a abordagem foi completamente efetiva em quase metade dos pacientes submetidos a ela.
As terapias disponíveis atualmente envolvem cirurgia e radioterapia e, frequentemente, deixam como sequelas a impotência e diferentes graus de incontinência urinária. Isso é uma das razões pelas quais muitos homens demoram para procurar tratamento. “Isso [o novo tratamento] muda tudo”, explica Mark Emberton, cientista e médico que testou a nova terapia no University College de Londres, na Inglaterra.

Abordagem inovadora

O medicamento utilizado no novo tratamento é feito de bactérias que vivem em regiões profundas do oceano, praticamente na escuridão, e que ativam suas toxinas quando expostas à luz. A intervenção com o laser é feita através da inserção de dez fibras óticas na região do períneo – o espaço entre o ânus e os testículos para alcançar a próstata.
A ativação dos laseres estimula o medicamento injetado na corrente sanguínea, responsável por “matar” os tumores. Os testes clínicos, realizados em 47 hospitais europeus com 413 pacientes mostrou que 49% dos pacientes entraram em remissão completa após o tratamento. Posteriormente, apenas 6% dos homens precisaram ter a próstata removida, em comparação com 30% dos pacientes que não foram submetidos à nova terapia.

Efeitos colaterais

O impacto na potência sexual e no ato de urinar durou apenas três meses – nenhum dos pacientes teve efeitos colaterais significativos dois anos após o tratamento.
Um desses pacientes, o britânico Gerald Capon, de 68 anos, contou à rede britânica BBC que está totalmente curado.  “Sinto-me extremamente afortunado por ter sido aceito no programa de testes. Sinto que poderei passar o resto da minha vida sem preocupações”, disse.
Para Emberton, essa nova tecnologia representa um momento tão significativo para o tratamento de câncer de próstata e como a remoção localizada do tecido canceroso em vez do seio inteiro foi para as mulheres com câncer de mama.
“A decisão de buscar tratamento sempre foi um balanço entre benefícios e danos. Os danos sempre foram os efeitos colaterais – a incontinência urinária e as dificuldades sexuais para a maioria dos homens. É uma grande transformação termos um novo tratamento que é virtualmente livre de sequela,”, disse afirmou o médico.
No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer estima 61.000 novos casos da doença em 2016 e 13.000 mortes.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Produto usado em estética afetou 17 mil pessoas no país

Metacril ou bioplastia é usado como modelador para glúteos e coxas e tem sido aplicado no rosto para o preenchimento de rugas

Muito utilizado para preenchimento e modelagem facial e corporal, o polimetilmetacrilato (PMMA), também conhecido como metacril ou bioplastia, provocou deformidades e complicações em cerca de 17 mil pacientes de todo o país, segundo pesquisa feita pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica – Regional São Paulo (SBPC-SP) e obtida pelo jornal O Estado de S.Paulo.
Essa é a estimativa do número de pacientes que precisaram recorrer a cirurgiões plásticos a fim de corrigir sequelas deixadas pelo produto no período de um ano, entre maio de 2015 e de 2016, conforme a pesquisa feita pela SBPC-SP com 300 especialistas brasileiros.
O PMMA é um produto sintético composto por microesferas de acrílico aplicado por meio de cânulas, sob anestesia local. Os riscos do uso do produto ganharam atenção no final de 2014, quando a modelo foi internada em estado grave com uma infecção nos glúteos e coxas causada pelo uso de metacril e hidrogel, outro produto usado para preenchimento corporal.”Como é formado por microesferas, o PMMA se espalha pelo tecido da região após ser aplicado e, por ser um corpo estranho, costuma causar uma reação que produz nódulos e deformidades. O problema maior é que o quadro é quase insolúvel porque, para extrair o produto, é preciso retirar tecido sadio em volta. É como tentar tirar cola aplicada sobre uma esponja”, diz Luis Henrique Ishida, presidente da SBCP-SP.
Ele relata que, além de ser usado como modelador para glúteos e coxas, o produto tem sido aplicado no rosto para o preenchimento de rugas. “Quando ocorrem complicações, são necessárias pelo menos duas cirurgias para tentar minimizar o problema, mas a região não volta a ser como era. Além disso, há pessoas que podem ter infecções graves ou reações alérgicas que precisarão ser tratadas com corticoides para o resto da vida”, diz o especialista, que pede que a substância seja banida para fins estéticos. “Ela começou a ser usada para corrigir deformidades de pacientes HIV positivos. Mesmo nesses casos os resultados não são os melhores.”
Barato
Médicos dizem que a opção pelo metacril ganhou adeptos pelo custo inferior a outros procedimentos estéticos. Enquanto uma sessão de aplicação de ácido hialurônico custa R$ 2 mil, a de PMMA vale cerca de R$ 900 e nem sempre é feita por médicos. Na internet, é possível encontrar clínicas de estética, consultórios odontológicos e até salões de beleza oferecendo o procedimento.

Questionada sobre a regulamentação do uso do polimetilmetacrilato no país, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que, para fins estéticos, tanto a procedência do produto quanto a capacitação do profissional devem ser observados pelos pacientes. “A orientação do paciente deve ser completa, de modo a permitir sua livre escolha de submeter-se, ou não, ao procedimento. Os estabelecimentos devem possuir condições hígidas e ser devidamente equipados”, informou a agência. O uso do produto em procedimentos reparadores, como para pacientes com lipodistrofia causada pelo tratamento contra o HIV, deve ser feito em unidades de saúde credenciadas.
(com Estadão Conteúdo)

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Os verdadeiros culpados pelo sobrepeso infantil: os pais

Novos estudos mostram que o desleixo da família à mesa é uma das causas de um mal crescente: a obesidade infantil

Há apenas quinze dias, pela primeira vez em duas décadas, os Estados Unidos fizeram um anúncio preocupante: houve uma queda na expectativa de vida de seus cidadãos. Entre as mulheres, a idade média caiu de 81,3 anos, em 2014, para 81,2 anos, em 2015. Entre os homens, de 76,5 anos para 76,3 anos. É pouco, apenas uma questão de meses, mas a reversão da tendência de crescimento da expectativa de vida é um tremendo sinal vermelho. Um dos motivos para a queda, que ainda pede novas rodadas de investigação, está nos pratos que vão à mesa e, sobretudo, no que há entre duas fatias de pão de hambúrguer e gergelim. Some-se à constatação dos anos subtraídos a epidemia de obesidade infantil que assola os Estados Unidos, e eis então um quadro delicado.
O excesso de peso acomete cerca de 30% das crianças americanas — taxa equivalente à do Brasil. Diz David Ludwig, diretor do programa de obesidade no Children’s Hospital Boston: “A obesidade entre crianças e adolescentes é tão evidente que esta geração poderá ser a primeira na história americana a ter vida mais curta que a de seus pais”. Estudos recentemente divulgados não deixam espaço para dúvida: a culpa é dos pais. A forma como eles se comportam à mesa e como educam seus filhos em relação à alimentação é o atalho mais curto para um dos males de nosso tempo.

sábado, 17 de dezembro de 2016

Danos causados pela síndrome do overtraining

Todo excesso é sempre prejudicial à saúde. Isso vale para quem busca ser um maratonista em tempo recorde
Quando há um desequilíbrio entre o estresse causado pelo treinamento e os níveis de recuperação, é possível afirmar que o indivíduo desenvolveu a chamada síndrome do 'overtraining'. Para evitar essa sobrecarga, é importante ter um acompanhamento profissional, assim como o planejamento das atividades físicas.
Apesar de pesquisas demonstrarem que esse problema pode atingir em cheio atletas de alto rendimento, com os amadores a possibilidade para desenvolver o problema é ainda maior, uma vez que o controle da carga de treinamento não é tão rigoroso quando feito por uma equipe profissional. É justamente aí que "mora" o perigo.
>Prazer em correr
>Preparação para a corrida de rua 
>Entenda como ocorre a biodinâmica da corrida 
>Passos fundamentais anteriores à largada
Supercompensação
"O praticante fica na tentativa de melhorar o desempenho, exagera e talvez treina com uma intensidade que o corpo não consegue se recuperar para o próximo treino. Essa é uma das principais causas do que chamamos de 'Teoria da Supercompensação'. É uma sobrecarga progressiva. No entanto, cada indivíduo tem um tipo de adaptação e recuperação", justifica Eduardo Netto, conselheiro do Conselho Federal de Educação Física e mestre em Motricidade Humana.
Netto, que é pós-graduado em Fisiologia do Exercício, explica que a sobrecarga de exercícios gera um acúmulo catabólico muito grande. Isso é comum em praticantes de corrida de médias e longas distâncias, em triatletas, em pessoas que, de um modo geral, estão muito preocupadas com o resultado. Afeta também as pessoas que permanecem em treinamento constante sem ter um período adequado de recuperação.
Dependência de exercícios
Existem vários parâmetros psicológicos envolvidos no processo de 'overtraining'. É o caso da síndrome da dependência ou 'addiction', descreve o professor Franco Noce, psicólogo docente de Educação Física e do programa de pós-graduação em Ciências do Esporte, da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, da Universidade Federal de Minas Gerais.
Essa síndrome, afirma, faz com que a pessoa treine muitas vezes lesionada, em condições ambientais adversas, deixando até mesmo de ter contatos sociais por colocar o treinamento em primeiro plano.
"O overtraining é uma das consequências de um treinamento intenso. Na verdade, um conjunto de treinamentos intensos sem que ocorra a devida recuperação do atleta", cita o professor.
Estresse além da conta
Existe uma diferença entre treino forte e overtraining. Na primeira situação, o indivíduo é capaz de concluir a atividade e depois voltar a treinar. Existem a motivação e a força para enfrentar outra sessão de exercícios.
Com o overtraining, o treinamento foi tão intenso que desde o início do aquecimento o atleta mal tem vontade de continuar. A dificuldade de se perceber que o limite do treino forte foi passado é a ausência de uma orientação profissional.
Como o corpo sente
"O estresse do sistema nervoso por questões hormonais é resultado do overtraining. Há uma reação de catabolismo (quebra de moléculas com o objetivo de fornecer energia) maior que a de anabolismo (regeneração do tecido). Você gasta mais do que compõe o tecido. As lesões acontecem porque o treino foi tão forte e frequente, que o corpo não tem tempo de se recuperar", informa Eduardo Netto.
Os sintomas são fáceis de se perceber: quadro constante de mudança de humor e irritabilidade; queda na qualidade do sono; fadiga constante; dor muscular, sensação de perda nos níveis de condicionamento físico;e baixa na imunidade.
FIQUE POR DENTRO
Repouso integra o processo de recuperação
Segundo o professor Franco Noce (UFMG), quando o overtraining acontece, muitas vezes o atleta é afastado do treinamento. Dependendo da intensidade do problema, essa situação tende a perdurar até por meses. Também pode haver o desligamento total da atividade (drop out) e levar o indivíduo a desenvolver transtornos de ansiedade, frustração e evoluir para quadros depressivos.
Para evitar chegar a esse ponto, o acompanhamento de um profissional de educação física e de uma equipe multidisciplinar é capaz de identificar possíveis excessos que o atleta cometa. No tratamento do overtraining, obrigatoriamente, o praticante deve reduzir o volume de treino consideravelmente. Quando a recuperação é obtida, deve-se cuidar para não cometer os mesmos erros.
"As pessoas querem se tornar atletas com uma velocidade muito grande. É comum o desejo de fazer uma maratona. Mas uma pessoa que é sedentária, para correr dessa forma, precisa de pelo menos um ano de treinamento. Não dá para ser um maratonista em três ou quatro meses. Aí é lesão e sobretreino com certeza", conclui Eduardo Netto.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Chega ao Brasil novo medicamento contra câncer de pulmão

O afatinibe bloqueia a multiplicação de células cancerígenas, reduzindo a progressão da doença

Tido como como uma das principais causas de morte por câncer no Brasil, o de pulmão é um dos tumores malignos mais comuns entre homens e mulheres. De acordo com estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), somente até o final de 2016, 28.220 novos casos da doença surgiram e ainda deverão aparecer no país, sendo 17.330 em homens e 10.890 em mulheres – matando mais do que câncer colorretal, de mama e câncer de próstata combinados.
Indicado como primeira linha de tratamento para o câncer de pulmão avançado e/ou metastático (quando a célula do câncer está na corrente sanguínea), afatinibe é uma nova aposta contra a doença, lançada no mercado nacional no final do mês de novembro. De acordo com especialistas, o princípio ativo é altamente recomendado para os pacientes que sofrem com uma mutação que ocorre em 24% dos casos de adenocarcinomas (o chamado ‘câncer de pulmão de não pequenas células’, com mutações no receptor do fator de crescimento) e que não foram tratados previamente com outros tipos de terapia alvo (medicamentos ou quimioterapia antes da metástase – quando o câncer se espalha além do local onde começou para outras partes do corpo, ou progressão da doença).
“O afatinibe é um tratamento de 2ª geração (evolução da primeira geração de medicamentos) capaz de impedir que as células cancerígenas continuem se multiplicando. É uma terapia alvo, dirigida à alteração molecular responsável por este tipo de câncer de pulmão. Ou seja, a molécula nunca mais se desliga do receptor que sofre com a mutação, bloqueando assim sua multiplicação”, explica Carlos Barrios, oncologista, pesquisador e Diretor do Grupo Latino Americano de Investigação Clínica em Oncologia (LACOG).
Fabricado pela Boehringer Ingelheim, acredita-se que o novo medicamento, cuja posologia indicada é de apenas um comprimido por dia, bloqueia de forma irreversível a multiplicação das células cancerígenas, sendo capaz de aumentar o tempo de vida do paciente e a resposta do tratamento; além de reduzir a progressão da doença.
Segundo especialistas, o que diferencia o novo medicamento das terapias disponíveis no mercado é o mecanismo de ação inédito, abrindo novas perspectivas para pacientes com mutação do gene EGFR. “Alguns estudos mostram que a molécula atua com redução de 27% na progressão da doença e aumento de 25% na resposta objetiva do tratamento. A chegada do medicamento traz uma opção sólida para os pacientes que buscam um tratamento com maior eficácia”, diz o Dr. Antonio Carlos Buzaid, oncologista e diretor geral do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes, da Beneficência Portuguesa de São Paulo e membro do Comitê Gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Estudos
A aprovação do medicamento foi baseada na apresentação do estudo Fase III LUX- Lung 3 realizado com mais de 300 pacientes, que compara a nova molécula com o melhor esquema quimioterápico utilizado para o tratamento – o que aponta um aumento de mais de 12 meses a sobrevida global do paciente com uma alteração genética chamada deleção 19, em comparação à quimioterapia. Além disso, os sintomas relacionados ao câncer de pulmão foram controlados de forma superior.
Afatinibe já era aprovada pela Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos, além de ser comercializada como principio ativo de certos medicamentos na Europa.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Além do colesterol, a estatina também é eficaz contra o Alzheimer

Um novo estudo mostrou que as estatinas, remédio usado para reduzir a taxa de colesterol, reduzem em até 15% o risco de Alzheimer

As estatinas, utilizadas há décadas para controlar o colesterol, podem reduzir significativamente o risco de Alzheimer. A conclusão é de um estudo publicado recentemente no periódico científico JAMA neurology. 
No estudo, pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, analisaram registros médicos de cerca de 400.000 pessoas e concluíram que homens que tomavam estatinas diariamente apresentaram uma redução de 12% no risco de Alzheimer. Nas mulheres, a diminuição foi ainda maior: 15%.
Os autores acreditam que esse efeito benéfico do medicamento no Alzheimer pode ser explicado pela interação entre o colesterol, substância regulada pelo remédio, e a proteína beta-amiloide, que desempenha um importante papel no desenvolvimento de demência. Outra hipótese está relacionada à propriedade anti-inflamatória das estatina
Segundo a análise, a pravastatina e a rosuvastatina, tipos de estatina, estão particularmente associadas à redução do risco de Alzheimer em mulheres. “O tipo de estatina para a pessoa certa pode ser um meio relativamente barato de diminuir o risco de Alzheimer”, disse  Julie Zissimopoulos, líder da pesquisa.
A partir dos 65 anos, o risco de uma pessoa desenvolver Alzheimer duplica aproximadamente a cada 5 anos. Estima-se que a demência afete uma em cada 14 pessoas acima dessa idade e uma em cada seis pessoas após os 80 anos.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Aedes Aegypti Capacidade vetorial é maior para chikungunya

A doença inspira cuidados porque toda a população está suscetível, já que nunca foi exposta ao vírus
A capacidade vetorial do mosquito Aedes aegypti para febre chikungunya, ou seja, a possibilidade de os infectados desenvolverem sintomas clínicos após a infecção, é maior do que a da dengue. Em Fortaleza, o dado é explicado pela razão entre notificações e confirmações. Em 2016, dos 41.590 casos de dengue notificados à Secretaria Municipal de Saúde (SMS), até 9 de dezembro, 20.334 (48,9%) evoluíram para confirmações. Para a chikungunya, o indicador é bem maior: 83,6% das 20.244 notificações foram confirmadas, com 16.921 pessoas infectadas.
Segundo Nélio Morais, assessor técnico da Célula de Vigilância Ambiental e Riscos Biológicos, a doença inspira cuidados porque toda a população está suscetível, uma vez que nunca foi exposta ao vírus. Além disso, explica que o caráter crônico da doença faz com que os pacientes passem até um ano com artralgia e dificuldades de locomoção. Na Capital, 537 casos ainda estão sendo investigados. Porém, as últimas semanas indicam cenário de baixa transmissão da enfermidade.
O assessor explica que a redução no segundo semestre se dá pelo caráter sazonal da doença, já que Aedes aproveita a umidade e o calor do período chuvoso para se reproduzir. Apesar da queda, o especialista afirma que o momento ainda é de preocupação. "A dengue demorou oito anos para produzir uma epidemia; por sua vez, a chikungunya, no primeiro ano de instalação, já infectou 16 mil pessoas".
Também foram notificados 18 óbitos suspeitos da febre chikungunya na Capital; destes, 12 já foram confirmados pelo Comitê Estadual de Investigação dos óbitos por Arboviroses. Conforme a SMS, a idade dos pacientes foi superior a 40 anos, com destaque para aqueles com idade acima de 80 anos, com quatro óbitos. Outras seis mortes ainda estão sendo investigadas. Conforme Nélio, 2016 apresenta, em relação a 2015, uma queda de 25% de casos confirmados de dengue. Dentre as iniciativas de combate, o assessor destaca a Operação Inverno, que ocorre nos 12 bairros com transmissão mais crítica da dengue e da chikungunya, até o próximo dia 28.
Jangurussu
Na semana passada, foram visitados os bairros Barroso e Edson Queiroz; ontem, o Vicente Pinzón. Os próximos da lista são José Walter, Conjunto Palmeiras e Montese. Contudo, ele avalia que, neste ano, as forças de saúde municipais precisaram ser divididas para dar conta de duas frentes diferentes: a chikungunya, que atingiu principalmente as regionais I, III e IV, e a dengue, que se espalhou com maior intensidade na Regional VI. Em 2016, o bairro Jangurussu assumiu o topo da lista de casos confirmados de dengue na cidade, assim como em 2015.
"Nós não vencemos a dengue em 30 anos. Temos sucessos, falhas e limitações porque ela extrapola o setor saúde e envolve educação e saneamento", afirma Nélio. O especialista salienta que uma faxina correta pode ser o diferencial no combate ao mosquito. Além disso, recomenda que escolas e repartições públicas criem brigadas, e que as notificações de casos suspeitos sejam feitas o mais breve possível. (Colaborou Nícolas Paulino).
dsa

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Pane seca na medicina

A tragédia com o voo da Chapecoense sugere uma ideia: e se usássemos recursos da aviação para controlar o desempenho de médicos em nome da transparência?

Os mortos da Chapecoense desencadearam uma extraordinária onda de comoção e solidariedade no Brasil e no mundo. Foi emocionante, uma sinfonia de gestos e reações, de compaixão, que nos fazem acreditar, de verdade, no ser humano. Descobrimos naquela terça-feira triste que a sociedade é composta de uma maioria de pessoas do bem, independentemente da origem, do credo ou do time, que com suas atitudes lutam por um mundo melhor. Um mundo no avesso do que lemos nas manchetes dos jornais e das revistas. Um mundo sem corruptos no poder lutando pelos próprios interesses, sem desigualdade social. Os heróis da Chapecoense iluminaram um caminho. Causa revolta, contudo, diante de tanto comportamento admirável e afetuoso, saber que o acidente na verdade foi um crime. Sua origem está na irresponsabilidade e na ganância de um ou de poucos, o atalho mais curto para a pane seca que derrubou a aeronave na Colômbia.
A dor de Medellín alimentou uma reflexão que faço já há algum tempo como profissional da saúde: e se a medicina usasse recursos da aviação para controlar o desempenho de seus pares? Uma ideia seria a implantação de caixas-pretas nos centros cirúrgicos, o instrumento ideal para uma avaliação mais frequente da atividade médica e que poderia inclusive influenciar, com base nos resultados clínicos obtidos, a remuneração daquele médico ou equipe. Gosto de lembrar uma máxima cínica da medicina que propõe a seguinte combinação: se o paciente morrer, fica acertado que o cirurgião também deve morrer. Não é assim, claro. Mas, sabidamente, a relação entre médico e paciente se baseia em confiança, característica fundamental dessa relação, mas longe de ser a única arma disponível para determinar todas as decisões. O segredo é a transparência, algo muito rarefeito em minha profissão.
Estamos na era do big data, da inteligência artificial, e ainda não temos acesso a informações detalhadas sobre os hospitais e os médicos que cuidarão de nossa vida e aos resultados de suas intervenções clínicas ou cirúrgicas, embora várias instituições indiquem profissionais de boa reputação. Convém conhecer um exemplo internacional: no Reino Unido, desde 2005, os resultados das cirurgias cardíacas são divulgados pelos hospitais. E mais: pelo cirurgião cardíaco responsável. Essa postura, que permite cuidadosa organização e precisão nos tratamentos, reduziu a mortalidade hospitalar. Não há dúvida: na trilha da metáfora da aviação, apenas com o conhecimento dos dados poderíamos agir de forma eficiente para corrigir possíveis erros de navegação e acertar nosso plano de voo. Sem dados concretos, o pouso é forçado e as consequências, irreversíveis.
A desinformação abre espaço para duas formas de conduta médica, ambas errôneas. A primeira, destinada aos que possuem mais recursos, leva à adoção de procedimentos desnecessários. A segunda, atrelada aos menos favorecidos financeiramente, é a de sonegação dos cuidados disponíveis. Lutemos pelo fim dos “comandantes Quirogas da medicina”, abrindo portas para a transparência e punindo os que brincam com a vida alheia, como fez o piloto e sócio da desgraçada empresa aérea que economizava combustível.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Por que as pessoas roem as unhas? E como parar com o hábito

O hábito de roer as unhas afeta até 30% da população mundial e pode estar relacionado de ansiedade à genética. Mais: é possível parar com o hábito


Você rói as unhas?  Estudos estimam que o hábito afete entre 20% e 30% da população mundial. Os motivos para a prática variam de acordo com a pessoa, muitos associam ao nervosismo, ansiedade, tédio, fome, frustração e até mesmo como uma forma de relaxamento. Entretanto, as causas que levam a isso ainda permanecem um mistério para a ciência e para a comunidade médica, como afirma um estudo sobre o tema publicado na revista especializada Iranian Journal of Medical Sciences, segundo informações da BBC Brasil.

Onicofagia

O termo técnico para o hábito de roer as unhas é onicofagia e “pode levar a problemas psicossociais significativos e ter um impacto negativo na qualidade de vida” das pessoas, de acordo com um estudo publicado em 2016 na revista on-line PubMed.com.
Roer unhas também pode causar problemas na “unidade ungueal (da unha) e na cavidade oral”, de acordo com outro estudo chamado Onicofagia: o mistério, para os médicos, de roer as unhas. Para os autores dessa pesquisa, este problema é tão difícil de tratar que é preciso um esforço multidisciplinar envolvendo dermatologistas, pediatras e dentistas, entre outros.

Não é TOC

A Associação Americana de Psiquiatria incluiu a onicofagia na lista de transtornos obsessivos-compulsivos (TOC), mas nem todos os psiquiatras concordam com isso. Alguns deles argumentam que apesar de a onicofagia ser, como no caso do TOC, uma conduta natural levada ao excesso, as obsessões do TOC são motivadas por ansiedade. O que não ocorre sempre nesse hábito.
O problema pode ser grave, porém quando associado a outras condições como transtorno por déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) ou transtorno de ansiedade por separação (TAS).

Prazer, perfeccionismo e genética

Uma das razões para roer as unhas, mas que poucos confessam é que esse é um hábito relaxante. Para Sigmund Freud, o pai da psicanálise, poderia ser uma “alteração no desenvolvimento psicossexual na fase oral, que se transforma em uma fixação oral”.
A ligação com o prazer também já foi destacada em alguns estudos com animais. Apesar de camundongos não roerem as unhas, quando cientistas deram endorfinas a eles – o chamado “hormônio da felicidade” – eles alisavam menos o pelo. Quando eles recebiam medicamentos que bloqueavam as endorfinas, os camundongos alisavam mais o pelo. Isso seria um indicador de que alisar o pelo – e isso remete ao hábito de roer as unhas, que também é um hábito associado à aparência – em excesso está ligado ao prazer.
Por outro lado, um estudo publicado em 2015 na revista científica Journal of Behaviour Therapy and Experimental Psychiatry indica que o que move a onicofagia não é a ansiedade, e sim o perfeccionismo. A pesquisa concluiu o hábito pode ajudar pessoas perfeccionistas a diminuir a irritação, o tédio ou a insatisfação.
A genética é outra possível explicação para o hábito de roer as unhas. Pesquisas já mostraram que um terço das pessoas que roem as unhas tem familiares com o mesmo hábito e que isto é algo comum entre gêmeos.

Riscos

Há quem defenda que pessoas que roem as unhas têm um sistema imunológico mais forte, pois vão introduzindo aos poucos agentes estranhos ao organismo. Mas é difícil encontrar provas disso. Além disso, a prática pode levar coisas indesejáveis à boca, como bactérias E. coli e salmonela, que podem se propagar pelo organismo e gerar problemas de saúde.
Segundo a Academia Americana de Dermatologia (AAD) as infecções bacterianas causadas pelo hábito de roer as unhas são um dos problemas mais comuns. A paroníquia, por exemplo, é uma infecção da pele ao redor das unhas. É dolorosa e, em casos mais graves, pode necessitar de uma intervenção cirúrgica.
Outro problema causado pela prática é a deformação nos dentes, o desgaste prematuro e até mesmo a mudança de posição dos dentes, afetando a oclusão dental ou a mordida.

Parar de roer as unhas é possível

As estatísticas estimam que 45% dos adolescentes roem as unhas, no entanto este número cai de forma significativa quando falamos de adultos. O dado sugere que é possível sim abandonar o hábito, por mais difícil que seja.
A maioria dos que conseguem relatam fracasso em tentativas anteriores. Felizmente, os métodos são muitos e variam desde soluções domésticas, como as broncas dos pais e amigos, substâncias com sabores desagradáveis colocadas nos dedos, até terapias ou dispositivos como pulseiras que dão choques elétricos para tentar corrigir vícios.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Estado zera a fila por transplante de córnea -Ce

O Dia Nacional do Doador de Córneas será comemorado amanhã no Hospital Geral de Fortaleza (HGF)
por Patrício Lima - Especial para Cidade
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Desde a implantação da Central de Transplantes, em 1998, foram realizados no Estado 8.624 cirurgias de córnea ( FOTO: VANDERLEY MOREIRA )
O Ceará zerou a fila de espera de transplantes de córnea, de acordo com análise realizada pelo Ministério da Saúde divulgada pela Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa). O órgão leva em consideração a média dos últimos três meses, que deve ser maior que o número de pacientes na lista de espera. Nos últimos 90 dias, o Ceará realizou 136 transplantes em setembro, 161 em outubro e 140 em novembro. Nesse período, a fila de espera diminuiu de 246 pacientes em setembro, 51 em outubro e 76 em novembro, totalizando uma média 373 pacientes, número abaixo dos 437 procedimentos realizados nos últimos três meses.
Desde a implantação da Central de Transplantes, em 1998, foram realizados no Estado 8.624 transplantes de córnea, 1.183 somente este ano, até o dia 6 de dezembro. A "fila zero" de córnea é uma meta estabelecida pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) e indica a situação em que o paciente que precisar de uma intervenção cirúrgica não necessita esperar pelo tecido porque ele já está disponível para a cirurgia.
O Registro Brasileiro de Transplantes (RBT) posiciona o Ceará como o segundo estado que mais realiza transplantes de córnea no País. Com taxa de 132,1 intervenções por milhão da população (pmp), o Estado está entre os cinco, além do Distrito Federal, que ultrapassaram os 90 transplantes de córnea pmp. Este ano, em outubro, o Ceará já registrava o maior número de cirurgias de córnea realizados em um ano no Estado, superando os 831 procedimentos de todo o ano de 2015. O número de transplantes de córnea ajudou o Estado a estabelecer novo recorde de transplantes de órgãos e tecidos.
"A implantação de novos bancos foi essencial para chegarmos ao segundo lugar no transplante de córneas no Brasil. O número de pacientes na fila de espera era pra ser ainda menor. Muitos adiaram a cirurgia por conta das festas de fim de ano e outros por esperarem o procedimento em suas respectivas cidades. Isso torna possível, inclusive, exportarmos córneas para outros Estados. Vale destacar também que esses números só foram possíveis pela generosidade das famílias dos doadores, que foram solidários e generosos nesse momento de dor ", destaca a coordenadora da Central de Transplantes da Secretaria da Saúde do Estado, Eliana Barbosa.
Além do Banco de Olhos do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), funcionam atualmente o Banco de Olhos do Ceará, em Fortaleza, e o Banco de Olhos da Santa Casa de Misericórdia de Sobral. Eliana Barbosa também destaca a implantação do núcleo de captação de córneas na Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce).
Comemoração
Nesta sexta-feira (09) é comemorado o dia nacional do doador de córneas. Em comemoração, famílias de doadores e pacientes contemplados participarão de uma celebração realizada pela Sesa no Hospital Geral de Fortaleza, a partir da 10h. Na ocasião, também será comemorado os 10 anos do Banco de Olhos do HGF.
DSA

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Assistência Social Microcefalia: aumenta procura por benefício de prestação continuada

Em 2016, no Ceará, 122 crianças com microcefalia receberam o BCP, diz Ministério. Em 2015, foram apenas 10
por Karine Zaranza - Repórter
Apesar das dificuldades, não faltam carinho e esperança em Andreza e Gabriel
Na casa simples da família de Briana Gabriel, cinco pessoas sobrevivem do auxílio ao menino com microcefalia e do Bolsa Família fotos. ( Fotos: Helene Santos )
Na casa de piso e paredes cruas, no Planalto Cauípe, em Caucaia, Andreza Araújo, 18 anos, se fez mãe do pequeno Brian Gabriel. Aos 10 meses, o menino com nome de anjo vai vencendo as dificuldades que a microcefalia impõe desde que veio ao mundo. Ele aprendeu a abrir as mãozinhas e tem mais firmeza no pescoço. Ela, que nunca teve apoio do pai da criança, aprendeu a seguir a vida, por vezes tão crua quanto as paredes do lar. Deixou de trabalhar para se dedicar a Gabriel e confessa que, se não fosse o benefício que recebe desde o terceiro mês de vida do filho, tudo estaria mais difícil.
O primeiro bebê com diagnóstico de microcefalia relacionada ao vírus zika em Caucaia é uma das 122 crianças do Ceará que receberam, em 2016, o Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC), segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDS). Conforme o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), desde junho deste ano, quando o MDS estendeu o BPC para crianças com a mal formação congênita, foram concedidos 118 benefícios do tipo aqui até outubro.
Os números do auxílio ganharam corpo em 2016. Foram 1.586 BPCs liberados para crianças com microcefalia no Brasil, o que representou mais de R$ 9 milhões. Em 2015, segundo o Governo Federal, foram concedidos no País 165 benefícios relacionados à microcefalia, num valor total de R$ 962 mil. Houve um aumento de 99% de um ano para o outro. No Ceará, foram 10 benefícios concedidos em 2015. Em 2016, até outubro foram 122. Um aumento de mais de 1000%.
O auxílio no valor de um salário mínimo, que atualmente é de R$880, é concedido a idosos com mais de 65 anos que não recebem aposentadoria e a pessoas diagnosticadas com um algum tipo de deficiência. É preciso que se comprove o problema de saúde através de perícia médica do INSS e que a família esteja enquadrada na categoria de miserabilidade, com renda per capta de 1/4 do salário mínimo.
Variável
O tempo, segundo a Previdência, é variável. Para o menino de Caucaia, o auxílio chegou em momento exato. A chefe da família Claudia Ramos Rocha, 35, mãe de Andreza, Alessandro, 13, e David, 3, e avó do pequeno Gabriel, perdeu também o emprego. "Eu trabalhava como diarista em duas casas. Tinha que levá-los para os médicos e fisioterapia. Acabava faltando. A patroa me dispensou. Só faço hoje um faxina por semana. A gente agora sobrevive com o Bolsa Família dos dois meninos", relata ela que, assim como a filha, foi abandonada pelo companheiro e carrega sozinha a família.
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O benefício permite que ele se alimente e que possa se locomover do distante bairro até a Policlínica duas vezes por semana. "Teve mês que a gente pagou mais de R$120 só alugando carro para ir ao (Hospital) Albert Sabin e para o Sarah, onde ele é examinado e acompanhado", conta a mãe.
Em Pacajus, Luiz Miguel Freitas, 10 meses, também é um dos beneficiários. Único bebê com microcefalia no município a 54 quilômetros de distância da Capital, o tempo entre a solicitação do BPC e o recebimento foi rápida. Cerca de 30 dias. Fui orientada na Maternidade Escola Assis Chateaubriand logo quando ele nasceu. Entrei no INSS e, em 15 dias, já foi feita a perícia e,15 dias depois, já tinha sido autorizado. Acho que por não ter outros casos, foi assim", aposta a mãe Samara Freitas, 17, que sobrevive com o benefício. Ela mora com a irmã e o filho em uma casa simples da cidade.
Ela comemora a conquista do direito. Sabe que trabalhar ficou mais difícil. Mas sabe também que outras pessoas estão tentando o que ela e o pequeno Luiz já conquistaram. "Conheço mães que ainda estão na luta. Graças a Deus com a gente deu tudo certo", agradece.
Ação
Para quem tem o benefício negado no INSS, uma opção é ingressar na Defensoria Pública da União (DPU). O órgão no Ceará não conseguiu levantar o número de processos relacionados à causa em 2016. No entanto, segundo a defensora Carolina Botelho, houve um crescimento. "Não lembro de ter feito nenhum processo desse em 2015. Sozinha, fiz 10 em 2016", conta.
A defensora avalia que, desde novembro, as leis ficaram mais rígidas. Agora as famílias precisam estar inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal e o beneficiário ter CPF. "Precisa agendar no INSS, que pode demorar até quatro meses. Os benefícios que precisam de perícia médica demora até seis meses. A previdência hoje está mais interessada em fazer perícia de pente fino do que conceder os benefícios", critica ela, ao garantir que o sucesso dos casos é de 80%.
Lei
Conceitos precisam ser reavaliados
Para a defensora Carolina Botelho, da DPU, é preciso sensibilidade para avaliar a liberação dos benefícios no INSS. Primeiro, em relação ao critério de miserabilidade (renda per capta equivalente a 1/4 do salário mínimo) e, segundo, pelo critério de família. Para ela, são conceitos que ultrapassam as definições impostas e, que se analisados pela letra fria da lei, podem impedir que o auxílio chegue a quem, de fato, precise. Outro ponto é que, com a descoberta de casos de zika congênita tardia e sem microcefalia, é possível que demore ainda mais a aprovação do benefício. "Se a deficiência não é visível, é preciso prova médica, clínica, o que demora ainda mais o processo".

sábado, 3 de dezembro de 2016

Tratamento do câncer e doenças autoimunes

Inaugurada fábrica voltada para o desenvolvimento da primeira geração de anticorpos monoclonais
por João Neto - Repórter*
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Nova fábrica brasileira produzIrá medicamentos biológicos para o Sistema Único de Saúde (SUS) ( FOTO: DIVULGAÇÃO )
A tecnologia para a produção de medicamentos vem evoluindo a cada dia. Com o intuito de atender à demanda do País, uma farmacêutica paulista acaba de lançar a fábrica Biotec que desenvolverá medicamentos biológicos à base de anticorpos monoclonais, proteínas usadas pelo sistema imune para identificar e neutralizar corpos estranhos, em larga escala. Inicialmente, serão criadas substâncias para o tratamento de câncer e doenças autoimunes.
O projeto da empresa Libbs pode chegar ao montante de até R$ 500 milhões. Para a construção da unidade, já foram investidos R$227 milhões de um total de R$ 250 milhões. Esse valor foi financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Já para a condução das pesquisas clínicas, o aporte chegará a R$ 250 milhões, repassados pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
Produção nacional
A nova unidade fabril, localizada no município de Embu das Artes, em São Paulo, terá capacidade total para produção de mais de 400 kg de biofármacos por ano. Os primeiros seis medicamentos a serem produzidos na fábrica são: rituximabe, trastuzumabe, bevacizumabe, palivizumabe, adalimumabe e etanercepte.
Todos os fármacos estão focados em parcerias como o Programa de Desenvolvimento Produtivo (PDPs), criado para estimular a produção nacional de fármacos e medicamentos do Ministério da Saúde (MS). Este programa prioriza a transferência de conhecimento para laboratórios públicos. No caso da Libbs, a parceria será com o Instituto de Pesquisa Butantan (São Paulo).
Biológicos
Durante a inauguração da Biotec, ocorrida no fim de novembro, o ministro da Saúde Ricardo Barros, disse que a indústria incentiva a produção nacional e terá impacto direto na queda de custos. Hoje, 51% do que o MS gasta na aquisição de medicamentos é destinado para os produtos biológicos.
"O orçamento com essa finalidade é de R$ 15 bilhões, sendo que metade são medicamentos biológicos de alto custo. Então, há necessidade da transferência de tecnologias e produção de forma mais econômica aqui no País", declarou o ministro.
No primeiro semestre de 2017, serão priorizados medicamentos estratégicos a serem disponibilizados no SUS, todos frutos do PDPs.
O presidente da Libbs, Alcebíades de Mendonça Athayde, ressaltou compromisso da empresa com o avanço dos serviços públicos e promoção de melhorias das condições de trabalho de médicos e funcionários. "Os pacientes terão a garantia de estar recebendo um produto com procedência e qualidade", declarou.
A fábrica contará com tecnologia inovadora no sistema produtivo: o 'single-use'. Nesse caso, os biorreatores, onde são produzidos os anticorpos monoclonais, recebem bolsas descartáveis, que têm como vantagem a flexibilidade e a otimização do processo, já que dispensam operações complexas de descontaminação e assepsia dos equipamentos.
FIQUE POR DENTRO
Biológicos podem substituir quimioterápicos
A partir das Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) com o governo para transferência de tecnologia para o Instituto de Pesquisa Butantan, a farmacêutica Libbs produzirá seis anticorpos monoclonais.
De forma geral, os tratamentos duram de seis a 24 meses e possibilitam benefício antes impossível de ser obtido somente com o uso dos quimioterápicos e com perfil de toxicidade aceitável.
O tempo de uso médio dos anticorpos monoclonais em oncologia muito variável, uma vez que depende do tipo de tumor, do estágio da doença e da resposta obtida após iniciar o tratamento. Também leva em conta como cada paciente reage ao tratamento e requer um acompanhamento individualizado.
*O jornalista viajou a convite da farmacêutica Libbs
DSA

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

CE já cogita epidemia de chikungunya em 2017

Cenário foi apresentado ontem, pela Sesa, com o lançamento do Plano de Vigilância e Controle das Arboviroses
por Lêda Gonçalves - Repórter
Todos os anos, o Ceará elabora planos de combate ao Aedes aegypti. No entanto, para 2017, o planejamento não descarta epidemias da dengue e, principalmente, da chikungunya, doença que apareceu em 2015 e que em 2016, já soma quase 28 mil casos, com 14 óbitos. Aliada a isso, a questão da seca que castiga o Estado há cinco anos e obriga a população a armazenar água de todas as formas. O cenário preocupante foi apresentado na manhã desta terça-feira, pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), com o lançamento do Plano de Vigilância e Controle das Arboviroses, incluindo a zika, transmitidas pela mosquito.
O documento foi dividido em duas intervenções: em caso de normalidade, com registros dentro da média para cada período do ano e em situação de contingência ou epidêmica. Ele foi baseado em dados do último Levantamento Rápido de Índice para Aedes aegypti (LIRAa), realizado em 111 dos 184 municípios cearenses e constatou 10,81% ou 12 deles com alta infestação; 28,83% (32 municípios) se apresentam em situação de média infestação e 60,36% ou 67 com índice de infestação satisfatório.
Segundo dados da Sesa, até a semana passada, o Ceará somou 65,1 mil casos das três doenças, sendo 35,3 mil casos de dengue, com 25 óbitos; 27,7 mil de chikungunya, 14 óbitos; e 1,9 mil de zika confirmados entre janeiro e novembro. De acordo com o coordenador de Promoção e Proteção à Saúde, do órgão, Márcio Garcia, os municípios, em especial, os que terão mudança de gestor, não podem arrefecer as ações de controle do vetor. "E mais do que isso, necessitam também realizar a pesquisa viral para detectar qual o sorotipo infectou o paciente de dengue. Neste ano, 152 não o fizeram, o que fragiliza os esforços", analisa, acrescentando que ainda é cedo para afirmar que o tipo 2, o mais grave dos quatro sorotipos, retornou ao Estado. "Até porque, apenas uma amostra foi identificada e precisamos de mais para comprovar esse retorno". Por enquanto, assevera, o tipo 1, o mais comum, é o que prevalece no Estado.
O fortalecimento e unificação de condutas na detecção dos casos, medidas rápidas para evitar a proliferação da transmissão e circulação do vírus e notificações das ocorrências para análise do Laboratório Central (Lacen) também são apontadas como medidas estratégicas para impedir o agravamento dos casos. "Estamos trabalhando para que pelo menos 80% dos municípios realizem a pesquisa de sorotipos e desenvolvam estratégias". Ele salienta que, com a aproximação da quadra chuvosa, é importante a população ficar em alerta sobre os cuidados no combate aos focos do mosquito Aedes aegypti. "Até porque 60,6% dos depósitos de água, como cisternas, tambores e tanques registram focos do mosquito, seguidos por outros como vasos, prato de plantas, bebedouros de animais, com índice de 11,7%", observa.
Ações
Os municípios, aponta, são responsáveis pelo planejamento e pelas ações de combate ao mosquito, como por exemplo, as visitas de casa em casa, feitas pelos agentes de endemias, e a pulverização de inseticidas.
Mas cada cidadão também é corresponsável e precisa fazer vistorias periódicas em seus imóveis para evitar focos do mosquito, como evitar que água de chuva se acumule sobre a laje e calhas, guardar garrafas sempre de cabeça para baixo, encher até a borda os pratinhos dos vasos de planta e eliminar adequadamente o lixo que possa acumular água, como pneus velhos.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Câncer infantil: índice de cura pode chegar a 70%

A campanha intitulada "Novembro Dourado" realizou conscientização sobreo câncer infantojuvenil
por Renato Bezerra - Repórter
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Diferentemente do que acontece na fase adulta, o câncer infantojuvenil não tem fatores de risco conhecidos ( FOTO: KID JÚNIOR )
Interromper o cotidiano ativo de uma criança para submetê-la a qualquer tipo de tratamento já é um processo difícil, e quando a patologia se trata de um câncer, o cenário é ainda mais doloroso. Somente no Estado do Ceará, estima-se, para 2017, uma média de 210 tratamentos realizados no Centro Pediátrico do Câncer (CPC), do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), entre pacientes já em acompanhamento e novos casos. Durante o "Novembro Dourado", mês de conscientização sobre o Câncer Infantojuvenil, especialistas chamam a atenção para o diagnóstico precoce, responsável pela taxa de sobrevida de até 70%.
Diferentemente do que acontece na fase adulta, o câncer infantojuvenil não tem fatores de risco conhecidos, estando mais relacionados a aspectos de origem embrionária, segundo explica a oncologista pediátrica da Associação Peter Pan e do Hias, coordenadora do ambulatório de diagnóstico precoce do CPC, Nadja Trompieri.
Por isso, segundo destaca, é importante estar atento aos sinais do corpo, que podem se confundir com doenças bastante comuns à fase da infância. "A única prevenção é ficar atento aos sinais. Às vezes, um gânglio no pescoço pode ser uma infecção, manchas roxas podem ser pancadas, mas mesmo parecendo comum é preciso levar ao médico".
Entre os tipos mais comuns estão a Leucemia Aguda, os tumores do sistema nervoso central, os linfomas, os osteossarcomas (tumores ósseos), entre outros. Mas apesar da gravidade do quadro, a médica revela que o índice de cura para quem adere ao tratamento cedo e de forma correta varia de 60% a 70%. "As crianças respondem muito melhor ao tratamento, por isso é importante fazê-lo corretamente. Hoje há muitos esclarecimentos, se fala muito sobre câncer infantil, sobre o alto índice de cura, então as pessoas estão aderindo melhor ao tratamento", comenta a especialista.
Conforme estimativas do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), 12.900 novos casos de câncer na faixa etária de zero a 19 anos devem surgir somente no ano de 2017 no Brasil. Estudo do Inca e Ministério da Saúde (MS) aponta que a sobrevida de pacientes infantojuvenis são mais elevados nas regiões Sul (75%) e Sudeste (70%). As regiões Nordeste (60%) e Norte (50%) têm os índices mais baixos.
Dados
No Brasil, o câncer é a doença que mais mata crianças a partir do primeiro ano de vida. Entre 2009 e 2013, ainda conforme dados do Inca, a doença foi a responsável por cerca de 12% das mortes na faixa etária de 1 a 14 anos, e 8% na faixa etária de 1 a 19 anos. Em 2014, foram registrados 2.724 mortes por câncer infantojuvenil no Brasil.
Entre os sintomas mais comuns relacionados a tumores da infância estão palidez, manchas roxas e dor na perna; caroços e inchaços; perda inexplicável de peso ou febre; alterações oculares; barriga branca; dor de cabeça, náuseas, vômitos, visão turva, problemas de equilíbrio; dores em membros ou ósseas, entre outros.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

No Ceará 46 cidades em situação de alerta ou risco de surto de dengue, zika e chikunguya

Os dados são do Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti de 2016
Ao apontar 46 cidades em situação de alerta ou risco de surto de dengue, chikungunya e zika no Ceará, o Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa) de 2016, realizado pelo Ministério da Saúde, preocupa infectologista e o poder público. Isso porque o atual período é menos susceptível à infestação, em vista da falta de chuvas. Porém, a apreensão com uma situação grave a partir de 2017 tanto se dá por conta do crescente número de municípios vulneráveis, quanto pela não adoção de medidas preventivas que são reclamadas há 30 anos.
No último LIRAa, que foi apresentado em conjunto com os municípios, verificou-se que 14 municípios estão em risco e 32 em alerta. Outros 68 estão em situação satisfatória. Fortaleza, a capital do estado está em situação satisfatória. Os dados do LIRAa, foram apresentados pelo ministro da Saúde, Ricardo Barros, que também divulgou a nova campanha deste ano para combate ao mosquito transmissor das três doenças. A nova campanha chama a atenção para as consequências das doenças causadas pelo Aedes aegypti, além da importância de eliminar os focos do mosquito.
“Neste ano, esperamos uma estabilidade nos casos de dengue e zika. Como chikungunya é uma doença nova, e muitas pessoas ainda estão suscetíveis, pode ocorrer aumento de casos ainda este ano. Porém, para o próximo, também esperamos estabilização dos casos” explicou o ministro Ricardo Barros. Ele ressaltou, no entanto, que o Sistema Único de Saúde (SUS) está qualificado e preparado para o atendimento destas pessoas.
Para o médico infectologista Anastácio Queiroz, toda vez que há um índice de intervenção de infecção da doença aumenta a preocupação dos infectologistas. Contudo, salienta que as consequências das doenças apresentam-se cada vez mais grave, com três situações endêmicas graves: a dengue matando, a chikungunya causando grande sofrimento e a zika sendo uma ameaça constante para mulheres grávidas.
Anastácio observa que ao mesmo tempo em que se agravaram as causas, as formas básicas de enfrentamento continuam as mesmas de 1986, aparentando não haver nenhum trabalho definitivo e sim intervenções paliativas. “Há 30 anos, identificamos que um grandes focos era as caixas d’água, daí a necessidade de telamento. De lá para cá, muitos não seguiram essa orientação, apesar de um custo relativamente barato. Ou seja, as ações de combate não dependem apenas do poder público, mas também da mobilização da sociedade”, ressaltou.
A técnica do Núcleo de Controle de Vetores (Nuvet), mantido pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), Ricristhi Gonçalves, também concorda que o combate ao mosquito não deve ser esperado apenas pelos entes públicos, mas que deve contar com a inserção popular.
A entomologista reconhece a aflição em vista de que, pelo histórico, não deveria existir um número elevado de municípios com riscos ou em alerta de infecção no atual momento. Quando isso, ocorre há uma propensão maior para a propagação de uma epidemia. Como exemplo, cita o caso de Capistrano, que tem um índice de infestação de 14,5 por mil e viveu uma epidemia de dengue neste ano.
Outro fator de atenção se dá por conta do fim de ano representar o momento de transição das gestões municipais e, principalmente, mas que não podem interromper os serviços dos agentes de combate a endemias e as políticas públicas de saúde.
A boa notícia, segundo a entomomologista, é que o LIRAa, sendo uma ferramenta opcional para os municípios apresentarem um quadro da infestação, tem uma adesão que cresce a cada ano. O último levantamento reuniu 111 cidades cearenses. “Essa é mais uma ferramenta que ajuda a identificar as áreas mais críticas. Não há porque se deva manipular dados, porque a doença acaba aparecendo”, afirmou.
Aumento
Dos 3.704 municípios brasileiros que estavam aptos a realizar o LIRAa - aqueles que possuem mais de 2 mil imóveis - 62,6% (2.284) participaram da edição deste ano. Em comparação com 2015, houve um aumento de 27,3% em relação ao número de municípios participantes. Realizado em outubro e novembro deste ano, o levantamento é um instrumento fundamental para o controle do mosquito Aedes aegypti. Com base nas informações coletadas, o gestor pode identificar os tipos de depósito onde as larvas foram encontradas e, consequentemente, priorizar as medidas mais adequadas para o controle do Aedes no município.
Atualmente, o levantamento é feito a partir da adesão voluntária de municípios. O ministro Ricardo Barros, no entanto, vai propor que a participação, no levantamento, dos municípios com mais de 2000 imóveis seja obrigatória, a partir de 2017. A proposta será apresentada na reunião da Comissão Intergestores Tripartite (CIT) entre estados, municípios e União, no próximo dia 8 de dezembro.
Das 22 capitais que o Ministério da Saúde recebeu informações sobre o LIRAa, apenas Cuiabá (MT) está em situação de alto risco. São nove as capitais em alerta - Aracajú (SE), Salvador (BA), Rio Branco (AC), Belém (PA), Boa Vista (RR), Vitória (ES), Goiânia (GO), Recife (PE) e Manaus (AM); e 12 satisfatórias - São Luiz (MA), Palmas (TO), Fortaleza (CE), João Pessoa (PB), Teresina (PI), Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Macapá (AP), Florianópolis (SC), Campo Grande (MS) e Brasília (DF). O Ministério da Saúde não recebeu informação sobre Maceió (AL), Porto Velho (RO) e Curitiba (PR). As cidades de Natal (RN) e Porto Alegre (RS) adotam outro tipo de metodologia.