sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

OMS declara emergência de saúde pública global por surto de coronavírus

Crédito: ANTHONY WALLACE/
Na China, a população alarmada tenta se proteger do coronavírus (Crédito: ANTHONY WALLACE/)
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou nesta quinta-feira, 30, emergência de saúde pública de interesse internacional pelo surto do novo coronavírus. Identificado pela primeira vez em dezembro, na China, o vírus já infectou mais de 7,8 mil pessoas, das quais 170 morreram.
A decisão foi tomada pela diretoria da entidade após a consulta a um comitê formado por especialistas de todo o mundo, que se reuniu por mais de sete horas na tarde desta quinta, em Genebra.
O comitê de emergência já havia se reunido duas vezes na semana passada, mas, na ocasião, chegou à conclusão de que “era muito cedo” para declarar alerta global. O argumento foi de que, embora já configurasse uma emergência na China, o surto ainda estava muito localizado e não representava uma ameaça internacional.
O cenário, no entanto, se agravou na última semana. Embora mais de 98% das infecções tenham sido registradas em território chinês, o número de países com casos confirmados vem aumentando todos os dias.
Já são 18 nações além da China com registros da infecção. Em três delas (Alemanha, Japão e Vietnã), o vírus contaminou pessoas que não estiveram em território chinês, o que indica transmissão interna nesses locais, cenário que aumenta o risco de propagação global. Esse foi o motivo pelo qual o diretor-geral da OMS decidiu reconvocar o comitê de emergência.
“Embora o número de casos em outros países seja relativamente pequeno em comparação com o registrado na China, devemos agir juntos. Não sabemos o tipo de dano que esse vírus pode causar se ele se espalhar em um país com um sistema de saúde mais frágil. Por isso, declaro emergência em saúde pública internacional”, declarou o diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
No Brasil, ainda não há casos confirmados de coronavírus, mas o Ministério da Saúde investiga pelo menos nove possíveis infecções em seis Estados brasileiros.
Segundo o Regulamento Sanitário Internacional da OMS, acordo legal que envolve 196 países, uma emergência de saúde pública de interesse internacional é definida como “um evento extraordinário determinado que constitui um risco de saúde pública para outros Estados por meio da disseminação internacional de doenças e por potencialmente exigir uma resposta internacional coordenada”.
Quando uma emergência internacional é declarada, esforços sanitários, financeiros e científicos são ampliados para tentar conter o avanço da doença. Geralmente também são definidas diretrizes sobre quais medidas restritivas os países devem adotar quanto a viagens e comércio.
Esta é a sexta vez na história que a OMS declara esse status de emergência. A primeira vez foi durante o surto de gripe H1N1, em 2009. Motivaram ainda a declaração de emergência as epidemias de poliomielite (2014), zika (2016) e Ebola (duas vezes, em 2014 e 2019).

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Possível caso de coronavírus é investigado no Rio; país registra mais 8 suspeitas

Pacientes que estão sob investigação estão sendo monitorados e ficarão isolados até a divulgação do resultado dos exames

Por O Dia
China e Rússia também informaram que investem na criação de vacina
China e Rússia também informaram que investem na criação de vacina -
Rio - O Ministério da Saúde informou, nesta quarta-feira, a existência de nove casos suspeitos de infecção pelo coronavírus no Brasil, mas sem confirmação de nenhum deles. Além dos casos já divulgados em Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS), estão sendo investigadas suspeitas no Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará e Santa Catarina.
Os dados foram atualizados nesta quarta-feira pela pasta. Segundo o ministério, diariamente haverá um boletim de atualização, divulgado às 16h.

No total, a pasta foi notificada de 33 casos. Mas apenas pacientes que apresentam sintomas como febre, tosse e dificuldade para respirar e têm histórico de viagem para a China nos últimos 14 dias, mesmo antes de apresentarem os possíveis sinais de infecção, são considerados suspeitos.

Os pacientes que estão sob investigação estão sendo monitorados e ficarão isolados até a divulgação do resultado dos exames. Outros quatro 4 casos foram descartados pelo governo.
A Fundação Oswaldo Cruz confirmou, por meio de nota, que recebeu amostras referentes aos casos suspeitos em Belo Horizonte e no Rio, e que o prazo para emissão de laudo é de até 72 horas a contar do recebimento da amostra.
Confira a nota completa:
"A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) confirma o recebimento, nesta quarta-feira (29/1), de amostras referentes a casos suspeitos de Belo Horizonte/MG e Rio de Janeiro/RJ. O material está sendo processado para patógenos respiratórios, incluindo os coronavírus. O prazo para emissão de laudo é de até 72 horas a contar do recebimento da amostra. Os resultados serão divulgados pelo Ministério da Saúde (MS)."
*Com informações do Estadão Conteúdo

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Governo confirma mais dois casos suspeitos de coronavírus

Crédito: AFP
O Ministério da Saúde confirmou na tarde desta terça-feira (28) que está investigando mais dois casos suspeitos de coronavírus 2019-nCoV no Brasil. Além de uma paciente em Belo Horizonte (MG), que já havia sido notificado, o governo analisa a hipótese de infecção em Porto Alegre (RS) e Curitiba (PR).
Em nota, as autoridades de saúde brasileiras informaram que os pacientes se enquadram na definição estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ou seja, apresentam febre e pelo menos um sinal ou sintoma respiratório, além de terem viajado para área de transmissão local nos últimos 14 dias.
Ontem (27), a OMS elevou o nível de alerta para alto em relação ao risco global do novo vírus. Desta forma, o governo brasileiro pediu para que a população evite viagens para a China, já que o território é considerado área de transmissão ativa da epidemia.
O 2019-nCoV causa febre, tosse e dificuldades respiratórias. Até o momento, a epidemia já matou 106 pessoas e contaminou 4,5 mil.

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Coronavírus faz primeira morte em Pequim e ameaça é ‘elevada’ ao nível mundial

Coronavírus faz primeira morte em Pequim e ameaça é ‘elevada’ ao nível mundial
Equipe médica transporta paciente em hospital de Wuhan, em 25 de janeiro - AFP/Arquivos
Uma primeira morte causada pela epidemia de pneumonia viral foi registrada em Pequim, em um cenário de crescente ansiedade em todo o mundo, com a multiplicação de medidas de prevenção nas fronteiras, enquanto a OMS considera “elevada” a ameaça representada pelo vírus internacionalmente.
“Estamos em estreita comunicação com a China sobre o vírus”, tuitou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, antes de acrescentar que ofereceu “toda a ajuda que possa ser necessária”.
A Mongólia, por sua vez, tornou-se o primeiro país a fechar as fronteiras terrestres com o território chinês. Ao mesmo tempo, pessoas da província chinesa de Hubei, a mais afetada, foram proibidas de viajar à Malásia, enquanto a Alemanha e a Turquia desaconselharam viagens para a China.
França e os Estados Unidos preparam, por sua vez, a evacuação de seus cidadãos.
O número de mortos chega a 82 e o número de casos confirmados oficialmente é de mais de 2.700 na China, incluindo o de um bebê de nove meses. Cerca de cinquenta outros pacientes foram identificados em outras partes do mundo, incluindo vários países da Ásia, Austrália, Europa e América do Norte.
A crise também gera temores de um enfraquecimento da economia chinesa, ou mesmo mundial, levando a uma queda de mais de 2% nas bolsas de valores do Japão e da Europa, enquanto Nova York também estava em forte declínio.
A Bolsa de Xangai, fechada devido a feriados, decidiu estender seu fechamento por três dias, até 2 de fevereiro, segundo a imprensa.
Vários eventos esportivos internacionais programados em solo chinês também tiveram que ser cancelados, adiados ou deslocados.
– Primeiro-ministro em Wuhan –
A ameaça de disseminação é grande. O prefeito de Wuhan, onde o coronavírus surgiu em dezembro, disse no domingo que cinco milhões de pessoas deixaram essa metrópole de 11 milhões de habitantes antes do feriado do Ano Novo Chinês em 25 de janeiro.
A cidade está isolada do mundo desde quinta-feira. A maioria das lojas está fechada e o tráfego é proibido para veículos não essenciais, segundo uma equipe da AFP.
“Todo dia eu me preocupo mais”, disse um estudante vietnamita, Do Quang Duy, de 32 anos.
Um arranha-céu proclamava nesta segunda-feira à noite, em grandes caracteres rosados, a frase “Força Wuhan!”.
Com um casaco azul e máscara de proteção, o chefe do governo chinês, Li Keqiang, chegou a Wuhan nesta segunda, tornando-se o primeiro alto funcionário do regime comunista a visitar a área desde o início da epidemia.
Em uma fotografia oficial, podemos vê-lo em um hospital, com o rosto coberto por uma máscara azul.
As autoridades da província de Hubei têm sido alvo de duras críticas nas redes sociais, onde são acusados de incompetência ou ridicularizados.
Neste contexto, o chefe da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Adhanom Ghebreyesus, era esperado em Pequim.
Sua organização, corrigiu nesta segunda-feira sua avaliação do risco do coronavírus que surgiu na China, considerando elevado para o nível internacional, depois de tê-lo descrito como moderado por “erro de formulação”.
Em seu relatório sobre a situação, publicado nas primeiras horas desta segunda-feira, a OMS indica que sua “avaliação de risco (…) não mudou desde a última atualização (22 de janeiro): muito alto na China, alto no nível regional e em todo o mundo”.
Na última quinta-feira, a OMS considerou “muito cedo para falar de uma emergência de saúde pública de alcance internacional”.
Enquanto isso, em Hong Kong, os pesquisadores disseram que os governos devem adotar medidas “draconianas” para restringir a circulação de pessoas, se quiserem impedir a propagação do vírus.
Eles apontaram que o número de pessoas infectadas pode dobrar a cada seis dias, atingindo o pico em abril e maio em áreas que já enfrentam uma epidemia. Estimam, com base em modelos matemáticos, que existem atualmente mais de 40.000 casos.
Além disso, as autoridades de saúde dos Estados Unidos informaram que sequenciaram o genoma de dois dos primeiros casos de coronavírus chinês nos Estados Unidos, chamados 2019-nCoV, e confirmaram que o vírus era o mesmo que o detectado na China.
Um alto funcionário dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) também anunciou que os Estados Unidos mudarão em breve as regras de inspeção e detecção do vírus no país, que neste momento estão limitadas apenas a viajantes que estiveram em Wuhan.
“Todas as imagens que extraímos são semelhantes às que a China publicou originalmente há algumas semanas”, disse Nancy Messonnier, diretora do departamento de doenças respiratórias do CDC, durante uma teleconferência.
“Isso significa que, de acordo com a análise dos dados disponíveis no CDC, parece que o vírus não sofreu mutação”, acrescentou.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Mortos por coronavírus chegam a 80 na China; há casos confirmados em 14 países

Há ainda 5.794 casos suspeitos sob supervisão

Por ESTADÃO CONTEÚDO
Indonésia
Indonésia -
Brasília - A TV estatal chinesa CGTN divulgou, na noite deste domingo, dados atualizados sobre as contaminações por coronavírus. Na China, são 2.761 casos confirmados, sendo que 80 pessoas morreram. Há ainda 5.794 casos suspeitos sob supervisão.

Ainda segunda a CGTN, 51 pessoas diagnosticadas com coronavírus foram curadas.

O número de casos confirmados fora da China também aumentaram neste domingo. Foram confirmadas infecções na Tailândia (7), Japão (3), Coreia do Sul (3), Estados Unidos (4), Vietnã (2), Cingapura (4), Malásia (3), Nepal (1), França (3) e Austrália (4).

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Coronavírus já matou 26 pessoas; OMS mantém alerta permanente

Coronavírus já matou 26 pessoas; OMS mantém alerta permanente
Passageiros em Xangai - AFP
Vinte e seis mortos e 830 pessoas infectadas com o coronavírus são os números mais recentes sobre o coronavírus, divulgados pelo governo chinês.
A agência de notícias France Press cita a Comissão Nacional de Saúde da China e diz que mais de mil casos considerados suspeitos estão sendo investigados.
O Japão anunciou, na madrugada de hoje, o registro de mais uma pessoa infectada pelo vírus. Uma segunda pessoa infectada também foi confirmada na última madrugada na Coreia do Sul.
Há poucas horas, o Cirque du Soleil anunciou o cancelamento de todos os espetáculos na cidade de Hangzhou, na China.
Mesmo diante desse cenário, a Organização Mundial da Saúde (OMS) voltou a considerar prematuro declarar situação de emergência internacional, mas reconheceu a urgência na China, acrescentando que acompanha atentamente a situação.
A OMS admite voltar a reunir uma comissão de peritos para analisar a questão. Três cidades chinesas estão de quarentena. Até agora não há conhecimento de qualquer caso na Europa.
Muitos aeroportos em todo o mundo já estão adotando medidas de controle dos passageiros procedentes da China.
*Emissora pública de televisão de Portugal

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Arenavírus: o que se sabe sobre o novo vírus que causa febre hemorrágica

Um caso de febre hemorrágica brasileira em SP foi revelado pelo Ministério da Saúde. Conheça o agente infeccioso por trás da doença e o risco de transmissão



No dia 30 de dezembro de 2019, um homem de 53 anos foi a um pronto-socorro no interior paulista com queixas características de febre amarela. Os exames, porém, não confirmaram a doença. Num intervalo de 12 dias, ele passou por outros dois hospitais antes de morrer. Análises genéticas avançadas encontraram uma surpresa: o causador do quadro, chamado de febre hemorrágica brasileira, foi o arenavírus, que não aparecia no Brasil há mais de 20 anos. A confirmação desse caso, mesmo que seja única, é considerada grave pelas autoridades sanitárias.
Separamos abaixo as principais perguntas e respostas a respeito do tema, com informações do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde e do patologista João Renato Rebello, coordenador do Laboratório de Técnicas Especiais do Hospital Israelita Albert Einstein, um dos responsáveis pela descoberta:

O que é o arenavírus?

Os resultados dos testes realizados no Hospital Israelita Albert Einstein mostram que se trata do Mammarenavirus, um gênero pertencente à família Arenaviridae, ou arenavírus.
De forma genérica, os vírus são divididos em famílias. Dengue, zika, chikungunya fazem parte da turma das arboviroses. “Os arenavírus são outro grupo, que havia sido encontrado no Brasil na década de 1990 e estão associados com uma síndrome chamada febre hemorrágica brasileira, marcada por febre, icterícia e sangramentos”, explica Rebello.

Como ele foi descoberto?

O caso notificado na segunda, dia 20 de janeiro, aconteceu com um homem de 52 anos, cujo nome não foi divulgado. Ele morava no interior paulista e passou as férias no Vale do Ribeira, região no sul do estado de São Paulo. Os sintomas iniciais foram febre, hemorragia, confusão mental e inflamação no fígado. O paciente passou por dois hospitais antes de ser encaminhado para o Hospital das Clínicas, na capital, onde faleceu no dia 11 de janeiro.
A suspeita inicial era de febre amarela — afinal, estamos na época de maior atividade desse vírus. “Pesquisamos ainda a presença de hepatites A, B, C, D e E, além de zika, chikungunya e dengue. Tudo negativo”, relata Rebello.
Foi então que os especialistas partiram para um novo método chamado viroma/metagenômica, que está sendo validado pelo Hospital Israelita Albert Einstein. A técnica analisa o material genético do agente infeccioso. Foi assim que o arenavírus foi flagrado.

Há outros casos recentes de febre hemorrágica brasileira relatados?

Por enquanto, não. Mas o Ministério da Saúde e a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo estão monitorando todos os profissionais que tiveram contato com o paciente, assim como a sua família.
Os últimos episódios conhecidos da síndrome ocorreram na década de 1990 nas cidades de Cotia e Espírito Santo do Pinhal, ambas em São Paulo. Uma mulher de 25 anos e um homem de 32 anos morreram. Outras duas pessoas foram infectadas em laboratório.

Como é a transmissão?

Sabe-se que o vírus passa por meio da inalação de partículas presentes na urina, nas fezes ou na saliva de ratos e outros roedores infectados. A transmissão entre humanos pode ocorrer por meio do contato muito próximo e constante com um indivíduo infectado, principalmente em hospitais. Sangue, urina, fezes, saliva, vômito, sêmen e outras secreções desses pacientes trazem o arenavírus. Se não forem usados equipamentos de proteção nesses ambientes, o risco aumenta.

O arenavírus encontrado é o mesmo dos anos 1990?

A análise realizada conseguiu vasculhar todo o material genético do vírus. “Sabemos que há uma similaridade de 88% entre a versão atual e a anterior, detectada há 20 anos”, informa Rebello. Como ele não é idêntico, novos estudos vão determinar com mais detalhes quais suas diferenças e qual o risco que isso representa.

O que ele provoca no corpo?

O vírus fica incubado no corpo entre 7 a 21 dias. Os sintomas começam com febre, mal-estar, dores musculares, manchas vermelhas na pele, dores na garganta, no estômago, atrás dos olhos e na cabeça, sensibilidade à luz, constipação, tonturas e sangramentos na boca e no nariz. Se o quadro evolui, há consequências neurológicas, como sonolência, confusão mental, mudanças no comportamento e convulsão.

Há tratamentos específicos?

Não existe nenhum remédio que bloqueie ou elimine esse vírus. O que os médicos fazem é amenizar os sintomas que aparecem.

Quais são os próximos passos?

As autoridades brasileiras já notificaram órgãos internacionais como a Organização Mundial da Saúde. Amostras do vírus também foram encaminhadas para o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, órgão dos Estados Unidos que possui laboratórios destinados a pesquisar agentes infecciosos com segurança e rapidez.
Como dito numa pergunta acima, os especialistas brasileiros estão acompanhando os profissionais de saúde e os parentes do homem de 53 anos que apresentou a doença. Se mais algum caso aparecer, eles vão divulgar para toda a sociedade.

E o que nós podemos fazer?

Por enquanto, nada de pânico ou histeria. O caso encontrado é grave, mas tudo está sendo feito para conter a ameaça em sua origem. No mais, vale ficar atento aos sintomas e, se notar algo suspeito, procurar um hospital com rapidez.
“Falamos de um vírus encontrado em ambiente silvestre, em regiões específicas. Ele não é transmitido por mosquitos e não deve ter o mesmo impacto de outros com os quais lidamos com mais frequência, como a dengue”, esclarece Rebello.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Cientistas descobrem células ‘universais’ que podem curar vários tipos de câncer

Crédito: Pixabay
Uma célula do sistema imunológico recém-descoberta poderia ser usada para tratar vários tipos de câncer, segundo um novo estudo da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, publicado na Nature Immunology. A descoberta não foi testada ainda em pacientes, mas pesquisadores sustentam que tem um “enorme potencial”.
Os especialistas de Cardiff estudavam as formas pelas quais o sistema imunológico naturalmente ataca os tumores e outras infecções. Eles descobriram a existência de um tipo específico de célula T (de defesa) no sangue. Ela poderia resultar num tratamento universal contra o câncer por ser capaz de atacar e destruir diferentes tumores.
As terapias com células T são consideradas atualmente as mais promissoras novidades da medicina no combate à doença. Nos tratamentos já disponíveis, as células de defesa são modificadas geneticamente para destruir determinados cânceres. A mais usada é a conhecida como CAR-T. Ela é personalizada e só funciona para alguns tipos de câncer. A terapia não é eficaz para o combate a tumores sólidos – que são a grande maioria dos cânceres.
A célula T descoberta pelos cientistas de Cardiff é equipada com um receptor capaz de reconhecer e destruir a maioria dos cânceres humanos e, ao mesmo tempo, poupar as células saudáveis.
Para os pesquisadores, a descoberta oferece “grandes oportunidades para imunoterapias universais contra o câncer” – até então consideradas impossíveis.
Para testar o potencial terapêutico dessas células, os cientistas as injetaram em camundongos alterados geneticamente para ter um sistema imunológico igual ao humano e também tumores cancerígenos humanos.
As células T recém-descobertas se revelaram capazes de destruir cânceres de pulmão, pele, sangue, mama, osso, próstata, ovário, rins, entre outros, e, ao mesmo tempo, poupar as células saudáveis.
Principal autor do estudo e especialista em células T, Andrew Sewell disse que é “altamente incomum” encontrar uma célula de defesa capaz de destruir tantos tipos de câncer ao mesmo tempo. Isso abre caminho para um tratamento universal – algo que muito pouca gente achava possível.
“Esperamos que essa nova célula nos ofereça um caminho diferente para detectar e destruir um amplo espectro de cânceres em todos os indivíduos”, afirmou Sewell. “As atuais terapias com células de defesa disponíveis só podem ser usadas numa minoria de pacientes, e para uma minoria de casos de câncer.”
Os cientistas esperam agora testar a nova terapia em seres humanos até o fim deste ano. Até lá, o grupo pretende assegurar que as células T recém-descobertas destroem apenas as células cancerígenas e poupam as saudáveis.
“Ainda há alguns obstáculos a superar”, reconhece Sewell. “Mas se o teste em seres humanos for bem sucedido, esperamos ter um tratamento pronto para uso dentro de alguns poucos anos.”
Chefe do departamento de Hematologia da Universidade de Cardiff, responsável pelas terapias com CAR-T, Oliver Ottmann se mostrou muito otimista. “Este novo tipo de célula T tem um enorme potencial de superar as atuais limitações das CAR-T.”

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Acidentes com cobras: o que fazer?

Picadas de serpentes são mais comuns do que se imagina. E um especialista conta o que você tem de saber para se proteger e salvar alguém em caso de acidente

Os acidentes com serpentes são considerados uma doença tropical negligenciada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Academia Brasileira de Ciência. Todo ano, aqui no Brasil, cerca de 28 mil pessoas passam por um episódio dessa natureza e procuram atendimento médico.
Ocorre, porém, que há um número expressivo de brasileiros que sofrem um acidente e, por diversas razões, não buscam assistência, seja pela distância do local da residência até o centro de atendimento, seja pelo desconhecimento da possível gravidade do problema. Infelizmente, muita gente ainda prefere acreditar em crendices e soluções caseiras (como chás e ervas) que supostamente anulariam a ação do veneno, mas não o fazem.
Em nosso país, quatro grupos de serpentes causam acidentes que podem ser fatais: as jararacas (Bothrops), responsáveis por mais de 85% dos episódios; as cascavéis (Crotalus), com cerca de 7%; as surucucus (Lachesis), com 4%; e as corais verdadeiras (Micrurus), com menos de 1% dos registros.
Mas mesmo as mordidas de serpentes consideradas não venenosas exigem atendimento médico, pois dessa forma podem inocular bactérias no indivíduo e levar a um quadro de infecção.
O verão é a época em que diversas espécies de serpentes têm seus filhotes. Dessa forma, o número de animais na natureza tende a aumentar. Os filhotes já apresentam veneno desde o seu primeiro dia de vida, o que potencialmente aumenta o risco de acidentes por aí.
Os acidentes normalmente acontecem quando a pessoa não vê a serpente e involuntariamente pisa ou toca nela. Aquelas histórias de que cobras fazem emboscadas para os humanos ou correm atrás deles para picá-los são apenas crenças antigas e sem nenhum fundamento científico.

Em caso de acidente, é fundamental manter a calma e realizar os primeiros socorros. A pessoa que sofreu a picada deve ficar em repouso, ser hidratada e manter o local do ferimento elevado. Exemplo: se o acidente ocorreu no pé, a recomendação é ficar deitado e levantar a perna. Isso ajuda a evitar que o veneno, muitas vezes com ação necrosante, se acumule na região afetada, acelerando a morte dos tecidos.
A vítima precisa ser conduzida quanto antes ao hospital de referência para atendimento de acidentes ofídicos mais próximo. Ser atendido no menor tempo possível é crucial para o êxito do tratamento.
Apesar de o soro antiofídico (que anula os efeitos do veneno) ser específico para cada um dos quatro grupos de serpentes, não há necessidade nem se recomenda tentar capturar o animal que causou o acidente — isso só tende a a ocasionar mais perda de tempo. A partir dos sintomas apresentados, um médico treinado reconhecerá o tipo de acidente e administrará, se for necessário, o soro correto.
É importante lembrar que não se deve cortar ou furar o local da picada nem aplicar qualquer substância como alho ou pó de café. Além disso, nunca amarre o local da picada fazendo garrotes ou torniquetes. Essas medidas, em vez de ajudar, só agravam a situação, muitas vezes transformando um acidente leve em um de difícil tratamento.
* Claudio Machado é biólogo e criador do site e canal de vídeos Papo de Cobra
 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Depressão, remédios e mais: conheça os fatores ligados à enxaqueca crônica

Uma revisão de estudos mostra o que realmente prediz o risco desse tipo de dor de cabeça se instalar de vez na rotina

Enquanto há pessoas que têm uma ou outra crise de enxaqueca no ano, outras sofrem com essas dores de cabeça em mais de 15 dias do mês. Essas últimas são as vítimas da enxaqueca crônica. Mas, de pouco sono a muito café, o que faz um indivíduo com episódios esporádicos do problema passar a enfrentá-los com tanta frequência? É o que responde um estudo publicado recentemente no periódico Cephalalgia, da Sociedade Internacional de Cefaleia.
O trabalho elenca cinco fatores de risco para desenvolver a enxaqueca crônica entre quem já manifesta incômodos ocasionais. Trata-se de uma meta-análise, ou seja, uma revisão criteriosa de pesquisas anteriores sobre um tema. De quase 6 mil artigos publicados sobre esse tipo de dor de cabeça, só 11 foram escolhidos. Excluindo os levantamentos enviesados ou de menor qualidade, os cientistas chegaram aos seguintes vilões:

Depressão

O transtorno psiquiátrico, historicamente ligado à dor de cabeça, aumenta a chance de uma enxaqueca episódica virar crônica em 58%.

Crises frequentes de enxaqueca

Veja: indivíduos que apresentam cinco ou menos dias de dor de cabeça por mês já correm um risco três vezes maior de desenvolver enxaqueca crônica. Mas conviver com as dores de cinco a dez dias eleva em seis vezes a probabilidade de cronificar o problema.
Na prática, essa frequência já é parecida com a da versão crônica, que, aliás, traz um grande impacto na vida emocional e nas funções cotidianas.
Veja també


Excesso de medicação

Os analgésicos comuns podem ajudar em cefaleias pontuais. Entretanto, o abuso faz a medicação perder parte do efeito, além de catapultar a frequência e a intensidade das crises.
Tomar mais de oito comprimidos ao mês já é problemático, como mostramos em nosso recente especial sobre o tema, que ainda aborda os novos tratamentos contra a enxaqueca.

Alodinia

Essa é uma alteração do sistema nervoso que faz com que a pessoa sinta dor a estímulos normais. O exemplo mais conhecido da condição é uma sensibilidade extrema no couro cabeludo, que pode tornar um suplício o simples ato de pentear o cabelo.
A alodinia já era considerada um dos marcadores do risco de enxaqueca crônica. No trabalho recente, foi associada a um risco 40% maior do problema.

Renda baixa

Ganhar bastante dinheiro (nessa investigação, acima de 50 mil dólares ao ano, ou cerca de 210 mil reais) parece proteger contra a perpetuação da enxaqueca. Quem atinge esse patamar financeiro está 35% menos propenso a padecer com a versão crônica da doença. Ora, com mais recursos, é mais fácil ter acesso à informação e a centros de excelência e agir preventivamente, certo?

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Beber chá para viver mais — e melhor

Consumir a bebida pelo menos três vezes por semana aumenta o tempo de vida e ainda protege o coração e o cérebro, indica um estudo

Um novo estudo publicado no periódico científico da Sociedade Europeia de Cardiologia mostrou que quem bebe chá no mínimo três vezes durante a semana ganha anos extras de vida e um coração mais saudável.
Para chegar a essa conclusão, cientistas da Academia Chinesa de Ciências Médicas acompanharam 100 902 pessoas sem histórico de infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e câncer. Os participantes foram classificados em dois grupos: o de consumidores habituais de chás (três ou mais vezes na semana) e não habituais (menos de três vezes na semana) ou não consumidores.
Após cerca de sete anos, os pesquisadores constataram que os fãs da bebida viviam mais. Entre quem tinha 50 anos, por exemplo, a expectativa de vida aumentava 1,26 ano em comparação às pessoas sem o hábito de degustar chás.
Além disso, a presença da bebida na rotina derrubava em 20% o risco de desenvolver doenças cardiovasculares. E a possibilidade de morrer também foi menor, tanto por causa de infarto ou AVC (22%) como por qualquer enfermidade (15%).
Os especialistas ainda checaram as repercussões em longo prazo. Para isso, eles esperaram oito anos e, então, analisaram um subconjunto de 14 081 voluntários. Nessa fase, os participantes foram acompanhados por mais cinco anos.
Aqueles que mantiveram o costume de tomar chá tinham 39% menos risco de sofrer doenças cardiovasculares e 56% menor probabilidade de ir a óbito por esse motivo. A possibilidade de falecer por problemas de saúde em geral baixou 29%.
De acordo com o epidemiologista Dongfeng Gu, que participou da pesquisa, os prováveis responsáveis por essa ação protetora são os polifenóis. Eles são componentes bioativos de ação antioxidante, ou seja, têm o poder de blindar nossas células.
O especialista contou que estudos anteriores já haviam indicado que os polifenóis não ficam armazenados no corpo por muito tempo. “Assim, a ingestão frequente por um período prolongado pode ser necessária para alcançar o efeito protetor”, completou Gu, em comunicado à imprensa.

O tipo de chá faz diferença?

Na análise, o chá verde foi associado a uma possibilidade 25% menor de piripaques do coração e morte. Por outro lado, quem dava preferência ao chá preto não apresentou vantagens significativas.
Isso seria explicado pelo fato de que essa variedade passa por uma fermentação mais intensa, o que levaria os polifenóis a perderem parte de sua propriedade antioxidante. Também se especula que o costume de oferecer chá preto misturado ao leite pode neutralizar o seu efeito favorável nas funções vasculares.
No entanto, Gu lembra que o chá verde é bastante popular na região da Ásia estudada: 49% o bebiam frequentemente, enquanto apenas 8% preferiam a versão escura.
“A pequena proporção de consumidores de chá preto torna mais difícil observar associações robustas, mas nossos resultados sugerem um desfecho diferente entre os dois tipos”, aponta o epidemiologista.

Menor eficácia em mulheres

O trabalho mostrou que o líquido teve um impacto positivo nos homens, mas modesto na população feminina. Porém, isso não significa que a bebida é mais potente no sexo masculino.
A epidemiologista Xinyan Wang, líder da investigação, lembra que as mulheres mais velhas são naturalmente mais suscetíveis a problemas cardiovasculares e, no grupo avaliado, engoliam menos xícaras.
“Essas diferenças aumentaram a chance de encontrar resultados estatisticamente significativos entre os homens”, ensina a profissional.
Os autores concluem que são necessárias mais pesquisas para bater o martelo sobre os achados antes de indicar mudanças oficiais na alimentação. Mas ninguém precisar esperar para colocar na rotina uma bebida bacana como essa, certo?

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Força-tarefa tenta solucionar doença misteriosa que já matou uma pessoa em Minas

Casos começaram a ser registrados no dia 30 de dezembro. Além de um óbito, oito pessoas já foram internadas com os mesmos sintomas

Por O Dia
Caso os sintomas apareçam,  SES-MG informa que devem ser imediatamente notificados (em até 24 horas) ao CIEVS BH (casos de Belo Horizonte) e CIEVS Minas (casos do restante do estado), pelo telefone e por e-mail
Caso os sintomas apareçam, SES-MG informa que devem ser imediatamente notificados (em até 24 horas) ao CIEVS BH (casos de Belo Horizonte) e CIEVS Minas (casos do restante do estado), pelo telefone e por e-mail -
Minas Gerais - Uma força-tarefa composta por técnicos da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e CIEVS Minas, da Secretaria Municipal de Saúde de BH (CIEVS BH) e do Ministério da Saúde (EpiSUS) tenta solucionar uma doença misteriosa que já deixou oito pessoas internadas e matou uma delas em Minas Gerais.
Segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Minas, os casos começaram a ser registrados no dia 30 de dezembro, em um hospital particular de Belo Horizonte. No dia seguinte, um caso idêntico foi registrado em um hospital em Juiz de Fora e, desde então, oito casos foram contabilizados no Estado. Na noite desta terça-feira, o primeiro paciente veio a óbito, em Juiz de Fora. 
Os sintomas da doença são insuficiência renal aguda de rápida evolução (até 72 horas), acompanhada de alterações neurológicas centrais e periféricas, como paralisia facial e borramento visual.
Além das cidades de Belo Horizonte e Juiz de Fora, também foram registrados casos em Ubá e Nova Lima. 
Até o momento, os pacientes são do sexo masculino, com idade entre 23 e 76 anos, e a média de dias entre o início dos primeiros sintomas e a internação foi de 2,5 dias. Exames laboratoriais estão sendo realizados na Fundação Ezequiel Dias (FUNED), mas ainda não há resultados conclusivos.
A Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte informou que, desde que foi notificada, acompanha e monitora os casos e investiga os aspectos clínicos, epidemiológicos e sanitários que envolvem a ocorrência. Essa investigação abrange, inclusive, ação dos fiscais sanitários na coleta de alimentos e demais produtos, para análise laboratorial, além de vistorias nos locais de aquisição desses produtos.

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informa que trabalha no levantamento de informações para verificar se o fato tem indícios de crime. As investigações estão em andamento, com a realização de entrevistas, comunicação com outras instituições públicas, entre outras providências.
Caso os sintomas apareçam, entre em contato imediatamente 
A SES-MG informa que devem ser imediatamente notificados (em até 24 horas) ao CIEVS BH (casos de Belo Horizonte) e CIEVS Minas (casos do restante do estado), pelo telefone e por e-mail, os casos ocorridos a partir de primeiro de dezembro de 2019 que iniciaram com sintomas gastrointestinais (náusea e/ou vômito e/ ou dor abdominal) associados à insuficiência renal aguda grave de evolução rápida (até 72 horas) seguida de uma ou mais alterações neurológicas: paralisia facial, borramento visual, amaurose, alteração de sensório e paralisia descendente.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Drama! Mulher com 'Síndrome de Pica' convive há 15 anos com vício

Ela busca ajuda profissional para se livrar do problema

Por IG - Último Segundo
Lisa Anderson lida com a compulsão por consumir talco há 15 anos
Lisa Anderson lida com a compulsão por consumir talco há 15 anos -
A cada 30 minutos, Lisa Anderson, de 44 anos, esculpe nas costas da mão um montanha de talco. A 'obra de arte', na realidade, passou a fazer parte da sua alimentação diária da inglesa que possui o vício há cerca de 15 anos.  O hábito foi mantido em segredo por anos e revelado após o ex-companheiro de Lisa questionar porque a esposa se escondia no banheiro. Agora, Lisa busca ajuda profissional para deixar a compulsão por comer talco, diagnosticada por médicos como 'Síndrome de Pica'.
O vício surgiu enquanto ela usava o produto em um dos seus cinco filhos após o banho.  Com a intensificação da compulsão, Lisa pode ingere cerca de 200 gramas do item e já gastou 8 mil libras esterlinas por ano, o equivalente a cerca de R$ 42 mil em compras do produto de higiene. 
O distúrbio é caracterizado pela vontade de comer itens que não possuem valor nutricional, como pedras de gelo, tinta, barro, poeira, sujeiras e tijolo. Quando inalado ou ingerido, o pó de talco é considerado venenoso e pode causar câncer em mulheres que usam o produto na pele há anos. 
Lisa descreve o desejo de consumir o talco como "incontrolável". Ao jornal britânico Daily Mail, ela diz que recorda o exato momento em que decidiu ingerir o pó de higiene pela primeira vez. 
"Eu me lembro de sentir um cheiro avassalador naquele dia, enquanto secava meu bebê. Havia um pouco de pó em cima da tampa da embalagem. Eu simplesmente senti uma necessidade urgente de lambê-la e aquilo realmente me deu prazer. Foi como satisfazer uma necessidade que eu nunca imaginei que tivesse".
Quando está longe de casa, sem acesso ao talco, a inglesa mastigar balas de menta extraforte na tentativa de sanar a dependência. O máximo de tempo que Lisa conseguiu ficar sem comer talco há 15 anos foram dois dias. "Os piores da minha vida", relatou ao Mail.
Síndrome
Conhecida como Síndrome de Pica, a alotriofagia é um transtorno definido pela vontade de ingerir de forma compulsiva itens que não são comestíveis ou que não possuem valor nutricional. A doença ocorre com mais frequência dentro de quadros de autismo, esquizofrenia e Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC).

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

O que o cochilo pode fazer pela sua saúde

Novos estudos atestam que tirar uma soneca após o almoço previne infartos, turbina a memória e melhora o raciocínio, entre outros benefícios

Em tempos de guerra ou paz, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill (1874-1965) não abria mão de tirar um cochilo, sempre por volta das 17 horas. Depois de uma hora e meia de soneca, ele tomava banho, jantava e continuava a trabalhar até a 1 da manhã. No dia seguinte, às 7h30 em ponto, retomava a rotina. “Quem adere ao hábito ganha dois dias em vez de um”, costumava dizer. No Brasil, quem incorporou o costume foi o sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Quando era presidente da República, gostava de pegar um livro ou jornal e dar uma boa cochilada de 15 a 20 minutos em um sofá qualquer do Palácio da Alvorada, em Brasília. “Faz um bem danado”, relatou FHC em 1998.
Parece conversa pra boi dormir, mas o fato é que a ciência assina embaixo. A mais nova pesquisa a confirmar o efeito benéfico do cochilo vespertino vem do Hospital Universitário de Lausanne, na Suíça, e foi publicada na revista médica Heart.
A equipe da epidemiologista Nadine Häusler monitorou os hábitos de sono e o prontuário de aproximadamente 3 400 voluntários com idade entre 35 e 75 anos. Passados cinco anos, ela concluiu que tirar uma pestana uma ou duas vezes por semana reduz em até 48% o risco de eventos cardiovasculares, a exemplo de infartos e AVCs.
“Quando você dorme pouco ou mal à noite, cochilos ocasionais são uma forma de compensação fisiológica que diminui o nível de estresse”, explica a estudiosa.
Cochilar por alguns minutos, de preferência na parte da tarde, não faz bem só ao coração. O cérebro, principalmente o dos idosos, também fica feliz da vida. É o que revela outro estudo, este realizado pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, e publicado no periódico Journal of the American Geriatrics Society.
No trabalho, cerca de 2 900 chineses com mais de 65 anos tiveram que, entre outras tarefas, resolver equações matemáticas, memorizar sequências de palavras e responder a perguntas do tipo “Em que estação do ano estamos?”.
Segundo a médica e coordenadora da investigação, Junxin Li, os que cochilavam cerca de 30 minutos, até por volta das 16 horas, foram os que apresentaram melhores resultados.
Não faltam evidências para legitimar as vantagens do relaxamento pós-prandial — prandium, em latim, quer dizer almoço. Até a Nasa recomenda a soneca a pilotos e astronautas.
Segundo um experimento da agência espacial americana, quem faz um repouso de uns 20 minutos depois da principal refeição do dia tem sua capacidade de raciocínio e memória aumentada em 34% e sua habilidade para tomar uma decisão acertada sobe 54%.
Mas, cá entre nós, será que dá para descansar o esqueleto em tão pouco tempo? A resposta é sim! “Cochilos curtos, de 15 minutos, são suficientes para causar um ‘reset’ no corpo e no cérebro”, afirma a pediatra Lucila Prado, do Departamento Científico do Sono da Academia Brasileira de Neurologia.

Quanto tempo o cochilo deve durar

O sono nosso de cada dia, explicam os cientistas, tem quatro estágios: 1, 2, 3 e REM — sigla para rapid eye movement, ou movimento rápido dos olhos. Do estágio mais superficial ao mais profundo, o ciclo total dura de uma hora e meia a duas e se repete quatro ou cinco vezes ao longo da noite.
O ideal é cochilar apenas 15 minutos, mas, se houver tempo, estique até, no máximo, duas horas. Mais que isso, você pode acordar grogue, irritadiço e mal-humorado. Ou pior: ter dificuldade para pegar no sono mais tarde.
Por essas e outras, a neurologista Andrea Bacelar não recomenda a prática a qualquer um. “Apenas a quem trabalha em turnos ou não dorme o suficiente à noite”, ressalva ela, que é presidente da Associação Brasileira do Sono.

A soneca perfeita

O lugar: deve ser silencioso e climatizado. Na falta de um local assim, que tal a sala de reuniões vazia? Em último caso, até um pufe ou uma cadeira reclinável podem ajudar.
A luminosidade: vale fechar cortinas ou persianas. Agora, se não for possível deixar o ambiente escolhido mais escurinho, recorra a uma máscara de dormir.
O barulho: protetores auriculares podem ser úteis para barrá-lo. Outra sugestão é utilizar fones e ouvir música clássica ou até um barulhinho de cachoeira.
A duração: bastam 20 minutinhos. Mas, se conseguir, capriche: de 90 minutos a duas horas. Mais que isso, você pode acordar grogue e irritado. Use o despertador.
O período: o melhor é cochilar logo após o almoço, de preferência entre as 13 e as 15 horas. Evite tirar sonecas no fim do dia para não atrapalhar o sono principal.

A hora da sesta

Na Espanha, siesta. No Japão, inemuri. Nos Estados Unidos, power nap. São muitos os países que, por razões culturais ou não, adotam o hábito de fazer um repouso pós-almoço. A nomenclatura varia de um lugar para outro.
Na Espanha, o termo siesta se refere à sexta hora do dia. Para os latinos, o dia começava às 6 da manhã. Logo, a sexta hora era ao meio-dia. No Japão, ser pego cochilando no trabalho não significa demissão — em alguns casos, pode dar promoção! É o chamado inemuri, ou “dormindo em serviço”. Uma prova de que o funcionário veste a camisa da empresa.
Para os americanos, soneca virou power nap, ou “cochilo poderoso”. O termo foi criado em 1999 pelo psicólogo James B. Maas, da Universidade Cornell.
“Seu corpo está com fome de sono, mas, durante o dia, você não pode fazer uma refeição completa? A solução é servir um lanche muito saboroso chamado soneca”, compara o autor de Power Sleep (clique para comprar), Sleep for Success e Sleep to Win, entre outros livros.
No Brasil, a moda não pegou. “Não sai barato criar um cochilódromo em uma empresa. Demanda investimento. Além disso, para muitos empresários, o hábito é sinônimo de preguiça. É preciso vencer esse preconceito”, avalia Paulo Sardinha, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos.
Por enquanto, dá para contar nos dedos as empresas que disponibilizam espaços aconchegantes para os funcionários relaxarem um tempinho.
“Mas os benefícios do cochilo para a saúde do trabalhador são incontáveis”, afirma Rosylane Rocha, presidente da Associação Nacional de Medicina do Trabalhador. “Melhora o humor, estimula a criatividade e aumenta a produtividade”, cita.
Desde 2010, a Locaweb, empresa de hospedagem de sites, oferece pufes confortáveis em local arborizado. Em média, 30 colaboradores usam o serviço todo dia. “Funcionários descansados produzem mais”, crava Simony Fernanda, gerente de Gente & Gestão da companhia.
Na farmacêutica Novartis, o balanço também é positivo. A cabine do sono, inaugurada em fevereiro, faz parte do espaço Energized, que inclui sala de meditação e cadeiras de massagem. Todos os meses, 160 funcionários desfrutam da novidade durante 15 a 20 minutos.
“Contribui para um melhor aprendizado e uma execução mais eficiente das tarefas”, garante Júlia Fernandes, diretora de Pessoas e Organização do grupo.
Se a empresa onde você trabalha não proporciona uma área apropriada, o jeito é improvisar: procure um lugar sossegado para a soneca. Pode ser uma sala de reuniões vazia ou o interior do carro — dentro do estacionamento, claro. O ideal é que o ambiente seja escuro, climatizado e silencioso. Se não for, máscaras de dormir e tampões de ouvido dão uma força.
Mas atenção: sonolência excessiva durante o dia pode ser sintoma de algum distúrbio do sono. “No caso dos adultos, são indicadas de sete a nove horas de sono. Se o indivíduo dorme esse tempo e mesmo assim sente uma sonolência que atrapalha suas atividades diárias, ele deve procurar um especialista”, aconselha a médica Luciana Palombini, do Instituto do Sono, em São Paulo.
Um cochilo pode fazer maravilhas. Mas só quando você não é refém dele.

Cochilo próprio para menores

Até os 3 anos de idade, a soneca é obrigatória na vida dos pequenos. Depois, torna-se opcional. “Hoje em dia, muitas crianças seguem o ritmo dos pais e acabam sofrendo de privação do sono”, alerta a médica Simone Fagondes, da Sociedade Brasileira de Pediatria. O mesmo se aplica aos adolescentes.
E, se o sono noturno deixa a desejar, o cochilo vespertino pode ser a solução. Mas, aí, não pode passar de 20 minutos. “É como desligar o carro em um lugar frio. Para o motor pegar novamente, demora à beça”, compara o neurocientista John Fontenelle Araújo, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Refúgios modernos

Pelo menos cinco cidades já alugam cabines para quem quer tirar uma soneca no meio do dia: Rio, São Paulo, Campinas, Recife e Brasília. Na Pausadamente, na capital fluminense, o cliente pode escolher de luz ambiente a trilha sonora.
Na Cochilo, em São Paulo, são quatro opções de tempo — 15, 30, 45 e 60 minutos — e os preços variam de 12 a 25 reais. Em 2012, quando foi inaugurada, eram quatro cabines. Hoje são 37. “Recebemos de seguranças e estagiários a executivos”, conta Alicia Jankavski, uma das proprietárias.
Já o Siesta Box funciona nos aeroportos de Guararapes, no Recife, de Viracopos, em Campinas, e Juscelino Kubitschek, em Brasília.