quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Os riscos da sífilis cardiovascular

Um dos sintomas avançados e menos conhecidos da sífilis é provocar danos cardiovasculares. Saiba como evitar essa consequência grave

O preocupante crescimento dos casos de sífilis no país, que afeta cerca de 160 mil pessoas por ano, torna premente realizar campanhas de conscientização e ações preventivas. Os brasileiros, em especial os jovens, precisam entender a gravidade dessa infecção sexualmente transmissível (IST), inclusive para o coração.
É isso mesmo: além dos problemas intrínsecos da doença, pode haver sério comprometimento cardíaco. A infecção, causada pela bactéria Treponema pallidum, também tem potencial para desencadear condições como aneurismas, inflamações e danos às válvulas e artérias do coração, incluindo a aorta.
Tal agravamento ocorre quando a enfermidade não é diagnosticada ou remediada corretamente. A chamada sífilis cardiovascular exige tratamento urgente e eficaz, antes que provoque alterações mais graves.
Todos devem saber que o primeiro sintoma após o contágio é uma ferida que aparece principalmente nos órgãos sexuais. Nesses casos, o médico precisa ser procurado de imediato. Porém, com ou sem remédios, a lesão desaparece.
Se o indivíduo não receber tratamento, seis semanas depois começam a surgir manchas no corpo e pode ocorrer febre, mal-estar, dor de cabeça e ínguas. De novo, os sintomas somem por si sós, o que faz muita gente pensar que sarou.
Ledo engano. A partir de dois ou mais anos da infecção, vem a sífilis terciária, com lesões cutâneas, ósseas, neurológicas e, claro, cardiovasculares. O quadro às vezes é letal.
A forma mais eficiente de evitar tudo isso é a prevenção, com o uso de preservativos nas relações sexuais. Se reparar qualquer sintoma, procure um médico com urgência. O tratamento é feito com antibióticos e tem bons resultados, desde que realizado corretamente.
O avanço da sífilis no Brasil evidencia um descuido da população quanto às infecções sexualmente transmissíveis. Tal negligência pode provocar o aumento de outras enfermidades, como aids, gonorreia e hepatite.
Segundo o Ministério da Saúde, em 2018 foram notificados 158 051 casos de sífilis adquirida (passada de uma pessoa para a outra durante o sexo), uma incidência 28,3% maior em relação a 2017, quando foram reportados 119 800 episódios. Precisamos combater essa epidemia!
*José Francisco Kerr Saraiva é médico e presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp)

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Brasileiros criam exame inovador para a dengue

O teste é capaz de detectar os quatro tipos de vírus responsáveis pela doença. E ainda diagnostica zika e chikungunya

É o que se pode chamar de um três em um. O novo exame desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), associação civil sem fins lucrativos instituída mediante parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o governo paranaense, detecta os quatro tipos de vírus que causam a dengue, além dos da zika e chikungunya.
“É o único que faz isso no Brasil”, diz Fabricio Marchini, gerente de desenvolvimento tecnológico do IBMP e pesquisador da Fiocruz Paraná. No caso específico da dengue, outros métodos não são capazes de diferenciar os tipos virais.
O novo exame será importante para o controle da epidemia em vários aspectos. Primeiro porque auxiliará na obtenção de diagnósticos precisos. Hoje, os testes usados na maioria dos serviços da rede pública captam os anticorpos produzidos em resposta à presença dos vírus. Mas isso pode levar a resultados falso-positivos, uma vez que esses anticorpos permanecem no corpo mesmo após a eliminação do agente infeccioso.
“O resultado pode ser confuso”, resume o patologista João Renato Rebello Pinho, coordenador do laboratório de técnicas especiais do Hospital Israelita Albert Einstein e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Além disso, os sintomas iniciais das três doenças são parecidos (febre, erupção cutânea e coloração amarela na pele ou nos olhos).
Portanto, identificar corretamente se é dengue, zika ou chikungunya — e ainda apontar, no caso da dengue, qual o tipo de vírus — é a grande vantagem do método criado pelos brasileiros. Esse conhecimento pode modificar o tratamento e ajudar a como eventuais surtos estão se disseminando pelo país.
O exame, chamado de ZDC Biomol, acaba de obter o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e poderá ser ofertado via Biomanguinhos/Fiocruz ao Ministério da Saúde.
Este conteúdo foi produzido pela Agência Einstein.

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Novo aparelho auditivo oferece tradução simultânea e alerta de quedas

O dispositivo Livio usa inteligência artificial e traz funções inéditas que monitoram o bem-estar do indivíduo acometido por uma deficiência auditiva

Acaba de chegar ao mercado brasileiro o Livio AI, um aparelho auditivo moderno que, conectado a um celular, traduz conversas em até 27 idiomas, alertas sobre quedas e até monitora a prática de atividades físicas. Ele se vale da inteligência artificial para isso.
“A ideia é devolver a qualidade de vida à pessoa com perda auditiva, que sofre com o isolamento social e tem sua cognição prejudicada por causa da privação sensorial”, comenta Natacha Fregnani, fonoaudióloga da Starkey Hearing Technologies, desenvolvedora do aparelho. “É uma tecnologia semelhante a de certas pulseiras e aplicativos de exercício no celular. Mas é mais precisa, porque sofre menos interferências externas”, explica a porta-voz.
As informações são transmitidas, por bluetooth, do aparelho auditivo para o celular e exibidas no aplicativo Thrive, que dá pontuações em três categorias: corpo, cérebro e bem-estar. É no smartphone também que a fala do usuário é convertida para outro idioma a um interlocutor estrangeiro. Em paralelo, o dispositivo traduz o que ele está respondendo diretamente na sua orelha.
Já o alerta sobre quedas é ativado quando o dispositivo capta o movimento brusco de um tombo e, na sequência, a pessoa não se mexe por um minuto. O app manda mensagem para três contatos selecionados e informa onde aconteceu o acidente em um mapinha. O pedido de socorro pode ser cancelado caso o indivíduo levante.
Há duas versões da novidade: uma a pilha e outra recarregável.

Tecnologia contra a surdez

O Livio inaugura uma nova fase do uso da inteligência artificial em aparelhos auditivos, em que esses acessórios ajudam a minimizar obstáculos da vida cotidiana provocados pela surdez. Mas outros dispositivos do tipo já empregam recursos como esse para moldar a nitidez e o volume dos sons de acordo com o ambiente. Se o lugar está barulhento, eles automaticamente filtram as vozes mais próximas para distingui-las de outros ruídos, por exemplo.
“Em alguns dispositivos de ponta, é possível conectar o streaming da TV, atender chamadas no celular e controlar outros gadgets da casa”, comenta Jeanne Oiticica, chefe do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Eles ainda são caros, porém a tendência é que, com a popularização da inteligência artificial, tornem-se um pouco mais acessíveis.
Recentemente, a Micro Som lançou o Via AI, com funções semelhantes ao Livio. “Mas vale destacar que aparelhos do tipo são intracanal. Ou seja, vedam o canal auditivo, o que só fazemos em casos de perda moderada e severa”, destaca a otorrino.
Antes de escolher qualquer dispositivo médico, vale a pena conversar com o doutor.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Musculação para evitar que o pré-diabetes vire diabetes

Embora menos reconhecidos, os exercícios resistidos também ajudam a prevenir o avanço dessa doença

  Corrida, ciclismo e as atividades aeróbicas em geral vinham recebendo mais atenção no combate ao diabetes nas últimas décadas. Mas os pesquisadores agora estão se debruçando sobre os efeitos da musculação — e um estudo do Hospital Universitário de Guangxi, na China, dá um bom exemplo disso.
Nele, 137 voluntários com pré-diabetes (quando os níveis de açúcar no sangue estão alterados, porém ainda não atingiram um patamar crítico) foram separados em quatro grupos. Um só puxou ferro, outro focou nos exercícios aeróbicos, o terceiro combinou as duas práticas e o último seguiu parado.
Após dois anos de intervenção, todos os participantes ativos possuíam um risco menor de progredir para o diabetes em si. “Mostramos que o treino resistido é uma opção viável para quem deseja evitar a doença”, afirma o educador físico Xia Dai, um dos autores do experimento.
Os treinos reduzem o risco da doença
Os treinos reduzem o risco da doença (Gráfico: Eduardo Pignata/SAÚDE é Vital)

Pré-diabetes não é pré-doença

Apesar do nome, essa condição já causa estragos. Sabe-se, por exemplo, que ela promove panes cardiovasculares. Ou seja, se a glicemia em jejum estiver entre 100 e 125 mg/dl, é fundamental rever hábitos e buscar apoio de um médico, inclusive com o intuito de evitar a progressão para o diabetes tipo 2.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Como os exercícios físicos fortalecem a ação das vacinas

Não é exagero: suar a camisa dá uma força à imunidade e aumenta inclusive a resposta do corpo às vacinas. Aprenda a tirar proveito disso

Se os brasileiros querem mesmo se prevenir das principais infecções espalhadas por aí, deveriam começar revendo dois comportamentos: o sedentarismo e a negligência com a imunização. Tanto manter as vacinas em dia como praticar atividade física na rotina são atitudes que treinam nossas células de defesa para debelar ataques de vírus e bactérias. Quando combinadas, então, elas produzem uma sinergia digna de nota. A ciência vem comprovando que os exercícios podem melhorar até o efeito dos imunizantes. É o que acontece, por exemplo, no caso da gripe.
Um novo estudo, conduzido em Singapura com 56 mulheres idosas que receberam uma dose para se proteger do vírus influenza, constatou que as mais ativas apresentavam um maior número de anticorpos contra o agente infeccioso até um ano e meio após a picada. Elas também ostentavam outros biomarcadores (pistas no sangue) que indicavam uma atuação mais intensa e efetiva das unidades de defesa, especialmente dos macrófagos, responsáveis por engolir literalmente os inimigos microscópicos.
Essa repercussão do exercício é especialmente bem-vinda aos idosos, porque, com a idade, o sistema imune perde em desempenho. Um dos aspectos comprometidos é a renovação das células de defesa de memória, que reconhecem intrusos específicos e coordenam a produção de anticorpos contra eles.
“Assim, o organismo se torna menos capaz de responder ao desafio imposto pela vacina”, explica o biólogo André Bachi, da Universidade Federal de São Paulo.
Caminhadas, corridas e pedaladas também minimizam outro processo mais comum com o envelhecimento, as inflamações pelo corpo.
“Suspeitamos que a liberação de moléculas anti-inflamatórias possa tornar as células de defesa mais sensíveis aos patógenos da vacina”, diz o biólogo Anis Larbi, pesquisador da Singapore Immunology Network e um dos responsáveis pelo trabalho que visualizou o impacto dos exercícios na imunização contra a gripe.

Como os exercícios físicos fortalecem a imunidade

Esse foco na gripe não é fruto do acaso. Estima-se que metade dos idosos vacinados não desenvolva imunidade ao influenza circulante com a dose aplicada. Metade! Daí a necessidade de pensar em estratégias que sensibilizem o organismo a reagir ao imunizante.
Já há um consenso, porém, de que o suor da camisa também se reverte em benefícios para outras faixas etárias. “Em jovens adultos, sabemos que o exercício pouco antes da vacinação pode tanto melhorar sua eficácia quanto reduzir efeitos adversos, como dor e perda de apetite”, afirma a imunologista Kate Edwards, da Universidade de Sydney, na Austrália.
Em uma das pesquisas que coordenou, a cientista notou que fazer uma sessão de 15 minutos de atividades e ser imunizado na sequência é capaz de turbinar a resposta à vacina pneumocócica, que nos protege contra bactérias por trás de pneumonia e meningite.
Já existem indícios inclusive de que a prática teria potencial para mitigar fatores que atrapalhariam a resposta à imunização. Um experimento com roedores da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, mostrou que a movimentação ajuda o corpo a administrar o estresse fisiológico da própria vacinação.
Ora, a vacina não deixa de ser encarada pelo organismo como um fator estressor, mas se trata de algo controlado e posteriormente proveitoso. Ao preparar o terreno e atenuar essa tensão natural, acredita-se que o imunizante produza um resultado superior.
“A atividade física exige uma adaptação sistêmica, e isso também mobiliza nossas defesas”, explica o cardiologista Henrique Fonseca, pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP).
O papel dos exercícios na imunidade, é bom que se diga, não se resume a otimizar o efeito da vacinação. “Durante a prática, ocorre a liberação de hormônios como a adrenalina, que recrutam células imunes, as colocam em circulação e melhoram seu funcionamento”, conta o fisiologista José Cesar Rosa Neto, professor do ICB-USP.
“Não quer dizer que quem se exercita não pega infecções, mas sim que o organismo está mais bem preparado para lidar com elas”, completa o estudioso da USP.

Quanto mais exercício, melhor?

Nem pense em se matar na academia com a proposta de nunca mais ficar gripado. Com o exagero, o tiro sai pela culatra. “O corpo passará a trabalhar para inibir o recrutamento das células de defesa, e isso cria um quadro muito desfavorável para o combate a infecções”, avisa Fonseca.
Pesquisas com atletas de elite demonstram que se exigir demais diminui a resistência a vírus e bactérias. Tem maratonista que até cai de cama após a prova!
“A sobrecarga imposta por treinos de alta performance provoca, ainda, uma deficiência de imunoglobina A, que resguarda as vias respiratórias”, observa o médico Fábio Jennings, coordenador da Comissão de Medicina Física e Reabilitação da Sociedade Brasileira de Reumatologia.
E como determinar, então, a frequência e a intensidade adequadas para o sistema imune? Embora o ideal seja traçar isso com um profissional depois de uma avaliação individualizada, no geral os experts recomendam cinco sessões semanais de exercícios moderados com até uma hora de duração — ou três dias de malhação mais puxada.
E é bom lembrar que falamos aqui de uma atividade programada, um treino com começo, meio e fim. Ir a pé até o trabalho ajuda, mas não entra nessa conta.
Para potencializar o efeito das vacinas, atividades aeróbicas (caminhada, natação, ciclismo…) em um período próximo à picada parecem ser particularmente interessantes. Naquele estudo de Singapura, por exemplo, as voluntárias caminhavam após tomar sua dose.
Mas o decisivo aqui é a constância. Não adianta malhar só perto da campanha de vacinação da gripe ou de qualquer outra infecção. Tem que buscar a regularidade — o ano todo! Do contrário, feito um atleta sem treino, as defesas podem deixar a desejar em desempenho.

Estou doente! Devo malhar?

Vai depender. Exercícios leves ou moderados diante dos primeiros sintomas de uma gripe ou resfriado podem até ajudar no combate à infecção. Agora, se o mal-estar já estiver instalado (sobretudo na presença de febre), significa que o corpo clama por repouso. E é melhor respeitá-lo.

Efeito anti-inflamatório

Além de melhorar o contra-ataque a agentes infecciosos, o exercício físico auxilia a atenuar inflamações crônicas, um fenômeno presente em males tão diversos quanto doenças cardiovasculares e problemas reumáticos.
Correr ou puxar ferro até instiga uma reação inflamatória, que entra em cena para recuperar a musculatura, mas também estimula a liberação de moléculas que apagam o incêndio depois. Dessa forma, o corpo fica menos exposto a condições adversas atreladas a processos inflamatórios — uma lista que vai de câncer a depressão.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Por que os casos de sífilis não param de crescer no Brasil

Essa infecção sexualmente transmissível preocupa médicos e serviços de saúde. E a principal causa de sua disseminação é o sexo sem camisinha

O aumento dos casos de sífilis, uma infecção sexualmente transmissível, tem alarmado médicos e serviços públicos de saúde no país. Só em 2018, foram registrados 158 051 episódios do tipo adquirido, ou seja, disseminado por meio de relações sexuais. Esse número equivale a uma média de 433 pessoas afetadas por dia.
Entre 2017 e o ano passado, o crescimento da doença foi de 28,3%. Ela passou de 59,1 para 75,8 registros por 100 mil habitantes, de acordo com o Ministério da Saúde. Para ter ideia, em 2015 esse número era de 34,1 casos por 100 mil.
A maior parte das notificações ocorreu em indivíduos entre 20 e 29 anos (35,1%), seguidos pelo grupo de 30 a 39 anos (21,5%). Mas, segundo o ministério, houve um incremento da detecção em todas as faixas etárias.
Um dos motivos para essa alta é que os jovens não valorizam o preservativo. “As pessoas estão mais confiantes de não contrair doenças, mesmo porque a aids, que no passado matou tanta gente, hoje tem tratamento. Menos de 70% dos brasileiros usam camisinha e isso justifica o aumento das infecções sexualmente transmissíveis”, explica o ginecologista e vice-presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, Sérgio Podgaec.
No fim de 2018, uma pesquisa realizada pela fabricante de preservativos DKT Internacional com 1 500 brasileiros identificou que 47% dos jovens entre 14 e 24 anos não costumam colocar a camisinha para as relações sexuais. Já outro estudo, esse divulgado em 2016 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com 102 301 alunos 14 e 15 anos, mostrou que apenas 66,2% utilizaram o preservativo na última relação.
“O que as pessoas esquecem é que a camisinha protege não só contra a aids. Ela é a prevenção mais eficaz para sífilis, HPV, gonorreia e clamídia”, alerta o médico.
Causada pela bactéria Treponema Pallidum, a sífilis desencadeia quatro estágios diferentes. No primeiro, aparecem nódulos na região genital, ânus ou boca. No seguinte, surgem manchas na pele comumente associadas a febre, dor de cabeça e perda de peso. Muitas vezes, essas úlceras são confundidas com alergia.
“A terceira fase da doença é a mais grave. Ela pode causar danos ao coração e afetar o sistema nervoso central”, explica Podgaec.

A situação da sífilis, estado por estado

Casos de sífilis por estado
 (Fonte: Ministério da Saúde/Divulgação)
Santa Catarina tem a maior taxa de detecção dessa enfermidade, segundo dados do Ministério da Saúde. Para cada 100 mil habitantes, 164,1 possuem a doença. No total, são 11 611 infectados.
Na contramão, Alagoas ostenta o menor índice: 16,1 para cada 100 mil pessoas, totalizando 535 casos.
No Sudeste, o menor índice é de Minas Gerais, com 68,3 casos para cada 100 mil habitantes, seguido por São Paulo, onde a taxa é de 82,1. Entre 2010 (quando as notificações se tornaram compulsórias) e dezembro de 2018, o estado paulista registrou 201 250 casos de sífilis adquirida, com taxas que cresceram ano a ano.
“Esse aumento nos números não quer necessariamente dizer que as pessoas estão se infectando mais e, sim, que a documentação dos casos está ficando mais eficiente e virando rotina no dia a dia das vigilâncias”, argumenta a coordenadora das Ações para Eliminação da Transmissão Vertical de HIV e Sífilis do Programa do Estado de São Paulo de DST-Aids, Carmen Sílvia Bruniera Domingues.
De acordo com ela, o sistema de notificação teve uma melhora expressiva em São Paulo nos anos de 2015 e 2016, o que ajudou principalmente a identificar a presença de sífilis em gestantes. E por que isso é importante? Através da placenta, a bactéria Treponema Pallidum consegue atingir o feto e, se não tratada, pode provocar falhas na dentição, problemas nos ossos, cegueira, surdez e até problemas no sistema nervoso. Essa é a sífilis congênita.
As notificações de grávidas com a doença no estado subiram de 10 723 casos em 2017 para 12 232 em 2018. “O aumento dos registros é um bom sinal, porque mostra que estamos identificando e tratando essas mulheres para proteger seus bebês”, afirma Carmen Sílvia.
Com isso, o estado conseguiu reduzir de 6,7% para 6,5% a taxa de sífilis congênita para cada 1 mil nascidos vivos de 2017 para 2018. Outros oito estados diminuíram esse índice: Amazonas (de 10,3 para 9,9), Espírito Santo (de 11,5 para 10), Rio Grande do Sul (de 14,3 para 13,9) e Mato Grosso (de 4,5 para 3,6).
Apesar disso, no Brasil como um todo as notícias não são boas. Veja o gráfico abaixo:

casos de sifilis congenita
O aumento de recém-nascidos com sífilis congênita é reflexo do número de gestantes infectadas no país. No ano passado, foram 62 599, 25,7% a mais do que em 2017 e quase seis vezes mais que em 2010. A maioria (52,5%), de acordo com a série histórica de 2005 a 2018, tem entre 20 e 29 anos, seguido pela faixa etária de 15 a 19 anos (24,7%).
Segundo Podgaec, uma das particularidades da sífilis que dificulta sua contenção é a de que ela dificilmente apresenta sintomas no sexo masculino. “É uma doença que atinge especialmente as mulheres. O homem pode passar a vida inteira infectado e não sentir nada. Isso eleva o risco de transmissão durante o sexo desprotegido”, diz o ginecologista do Einstein.
Com o aumento de pessoas infectadas nos últimos anos, o Ministério da Saúde lançou em 20 de outubro de 2017 uma ação nacional para combater a sífilis, especialmente a congênita. O objetivo era mobilizar gestores e profissionais de saúde sobre a importância do diagnóstico e tratamento da doença durante o pré-natal.
Bater na tecla da prevenção é importante, porque os preservativos estão entrando em desuso. “Além disso, as mulheres não costumam pedir exames de sífilis e aids nas visitas de rotina com o ginecologista”, lamenta Carmen Sílvia. Aí fica complicado combater a bactéria Treponema Pallidum precocemente.
O tratamento da sífilis, aliás, é feito com injeções de penicilina. As doses do antibiótico são receitadas por médicos ginecologistas ou infectologistas e variam de acordo com a fase da doença.
Este conteúdo foi produzido originalmente pela Agência Einstein.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Cientistas descobrem um novo subtipo de HIV

Uma variação até então desconhecida do vírus da aids foi revelada, o que poderia impactar no diagnóstico, no tratamento e até na criação de vacinas

  Em um estudo recém-publicado, pesquisadores anunciaram a descoberta de mais uma versão do HIV: o subtipo L. Ele pertence ao grupo M do vírus causador da aids, que está por trás de 90% dos casos da doença no mundo.
“Revelar essa cepa é só o primeiro passo”, afirma Mary Rodgers, chefe do Programa Global de Vigilância Viral da Abbott, iniciativa responsável pelo achado. “Nós já compartilhamos sua sequência genética com a comunidade científica. Isso vai permitir que todos possam avaliar o seu impacto no diagnóstico, no tratamento e até em potenciais vacinas”, completa, em um vídeo disponibilizado para a imprensa.
Como assim? Toda vez que uma variação do HIV surge, há uma preocupação quanto ao seu potencial de resistir aos remédios e de não ser detectada pelos exames. Além disso, as vacinas que estão sendo desenvolvidas no momento precisarão considerá-la em seus testes de eficácia.
Daqui em diante, os especialistas devem justamente verificar essas questões. Segundo um comunicado da Abbott a respeito da pesquisa, os exames moleculares dessa empresa são capazes de flagrar o subtipo L do HIV.
Mas essa versão do vírus, originalmente identificada na República Democrática do Congo, pode ter desembarcado em outros países, inclusive no Brasil? “É sempre possível haver migração de vírus quando há migração de pessoas”, diz Mary.
Segundo o geneticista Amílcar Tanuri, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, isso só vai ser respondido com tempo e esforço dos experts. “Precisamos, por exemplo, verificar nossas amostras do HIV que não se encaixaram nos subtipos conhecidos anteriormente para checar se elas pertencem ao L”, arremata.
Essa é primeira vez desde 2000, quando diretrizes foram criadas para classificar os subtipos do vírus da aids, que uma nova cepa do grupo M do HIV é descoberto. “Até então, contávamos com outros nove subtipos dentro desse grupo e mais de 50 formas recombinantes entre eles”, ressalta Tanuri.
Pois é: quando infectam um mesmo indivíduo, as variações do HIV podem originar um vírus com trechos de um e do outro. Porém, em teoria, as formas recombinantes são mais fáceis de serem detectadas pelos exames porque carregam pedaços de inimigos já conhecidos.
Já o L é um subtipo puro, assim por dizer. Isso cobra uma dose extra de precaução com os estudos que avaliarão a partir de agora a eficácia dos antirretrovirais e dos métodos de diagnósticos contra ele.

Como os cientistas descobriram o subtipo L do vírus da aids

Ao contrário do que você pode estar imaginando, ele já existe desde os anos 1980. A questão foi realmente identificá-lo.
De acordo com as diretrizes de classificação de uma nova cepa de HIV, são necessários três episódios confirmados e independentes de infecção por um vírus “incomum” para estabelecer um subtipo adicional. No caso do L, os primeiros dois ocorreram nas décadas de 80 e 90 na República Democrática do Congo.
Já a terceira amostra de sangue foi coletada em 2001. A questão é que, na época, a quantidade de vírus presente no material era muito pequena. Isso impossibilitava o sequenciamento genético dele com as tecnologias disponíveis.
Com a evolução dos equipamentos e do conhecimento, os pesquisadores finalmente conseguiram mapear o DNA desse agente infeccioso e confirmar que ele era idêntico ao daqueles separados anteriormente. “Foi um trabalho muito interessante”, elogia Tanuri.
Do ponto de vista prático de diagnóstico e tratamento, nada muda por enquanto para a população em geral. O recomendável é seguir fazendo exames para diagnosticar precocemente o HIV e, se for o caso, seguir à risca o tratamento prescrito pelo médico. Em paralelo, devemos ficar de olho nas notícias para saber se o subtipo L exigirá algum cuidado especial.
Atualmente, 866 mil brasileiros convivem com o HIV, de acordo com o Ministério da Saúde. Só em 2017, 42 420 novas infecções foram contabilizadas.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Como a febre reumática prejudica o coração

Essa doença tem diagnóstico fácil e um tratamento barato. Mesmo assim, continua a atormentar muitos corações por aí

Imagine ter uma simples dor de garganta causada por uma bactéria que, décadas depois, volta a assombrar na forma de uma doença autoimune, com ataques em vários cantos do corpo. Pois esse é o retrato da febre reumática, enfermidade que não costuma dar sinais de sua presença.
“Alguns pacientes só descobrem a condição 60 anos depois, quando estão com um problema grave nas válvulas cardíacas ou sofrem um AVC”, descreve o cardiologista Guilherme Spina, do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo.
Para agravar a situação, o quadro é pouco conhecido pela própria comunidade médica — não se sabe, por exemplo, o número de pacientes atingidos no Brasil, o que dificulta a tomada de decisões e a criação de políticas públicas para combatê-lo.

Saiba mais sobre a febre reumática

O que é: a bactéria Streptococcus pyogenes infecta a garganta e, em algumas pessoas, leva a uma reação exagerada do sistema imune.
Sintomas: após a crise na garganta, a doença fica quieta por anos. Depois, se manifesta no coração, nas articulações ou no cérebro.
Diagnóstico: nas complicações cardíacas, uma auscultação do peito pelo médico já indica que há algo errado. Depois é preciso fazer um ecocardiograma.
Tratamento: o ideal é curar a amigdalite e impedir a evolução para o distúrbio autoimune. Uma dose injetável de antibiótico já basta.

O dilema da penicilina

Diante de uma dor de garganta, uma injeção desse antibiótico (a popular benzetacil) é a terapia mais barata e efetiva para cortar o mal pela raiz. Como ela é baratíssima, muitas farmacêuticas desistiram de fabricá-la. Isso faz com que o Brasil viva hoje um desabastecimento crônico desse remédio.

Promessa para o futuro

O InCor desenvolveu uma vacina capaz de barrar o Streptococcus pyogenes, micro-organismo que desencadeia a complicação. O imunizante já passou pelos estudos com animais e, agora, será submetido a uma bateria de testes em seres humanos para ver se funciona mesmo.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

O que é a episiotomia e quando ela deve ser feita no parto?

O corte cirúrgico no períneo, também chamado de pique, só deve ser realizado em situações específicas do parto. Conheça suas complicações e indicações

Durante o trabalho de parto normal, algumas mulheres relatam passar pelo pique. Trata-se da episiotomia, um procedimento cirúrgico que consiste em uma incisão no períneo — a região entre o ânus e a vagina — para facilitar a passagem do bebê. Mas quando de fato essa estratégia deveria ser usada hoje em dia e quais suas complicações?
O tocoginecologista Ricardo Porto Tedesco, membro da comissão de assistência ao parto da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), conta que, no passado, essa era uma técnica rotineira.
“A ideia era aliviar a tensão nas fibras musculares no períneo. Depois, a fissura era fechada. Acreditava-se que isso preservava a musculatura da mulher”, relata o especialista, que também é professor da Faculdade de Medicina de Jundiaí, localizada no interior paulista.
Foi só nas duas últimas décadas que a comunidade médica observou que essa incisão não confere proteção. Tanto o Ministério da Saúde como a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendam que ela seja evitada na maioria dos casos.
“Na verdade, o próprio trabalho de parto já pode afetar a musculatura. Realizar a episiotomia não muda a condição anatômica da região após o nascimento”, justifica Tedesco.
O especialista também destaca que esse é um procedimento agressivo e com alta possibilidade de complicações, como surgimento de hematomas e infecção. “Além disso, ele provoca um grande desconforto no pós-parto. O músculo é sensível, então a mulher passa a sentir dor para sentar”, alerta o tocoginecologista.
Atualmente, a episiotomia só entra em cena quando o feto é muito grande e está demorando para nascer por causa do períneo. A OMS informa que não mais do que 10% dos partos deveriam envolver o pique.
Ou seja, é um recurso para ser empregado em último caso. E isso se decide somente quando o bebê está quase saindo — o popular “coroando”. Se ocorrerem complicações, a paciente é tratada com antibiótico e o hematoma precisa ser drenado.

Há hábitos que ajudam a evitar a episiotomia?

Sim! Fazendo atividades físicas de fortalecimento para a região pélvica, é possível diminuir as chances de necessitar do procedimento. “Precisamos trabalhar o períneo como se faz com qualquer outro músculo do corpo”, compara o membro da Febrasgo.
Em geral, fisioterapeutas especializados em gestação sabem como ativar essa musculatura.

A episiotomia no Brasil em números

A boa notícia é que o número de piques realizados no nosso país está caindo, tanto na rede pública como na privada, de acordo com um levantamento da plataforma digital BabyCenter Brasil.
A pesquisa, conduzida com 3 mil mulheres que se tornaram mães em 2018, mostra que, no total, 33% dos partos normais envolveram a técnica. Na edição anterior, de 2012, esse número chegava a 71%. Apesar da queda, cabe lembrar que, segundo esse estudo, o índice atual do Brasil supera em mais de três vezes aquela recomendação da OMS.
E um recado importante: Tedesco aponta que, mesmo sem passar pela episiotomia, algumas mulheres necessitarão de pontos cirúrgicos no períneo. Isso porque é relativamente comum surgirem pequenas lacerações naturais durante o nascimento do bebê.
“Quando isso ocorre, fazemos cortes superficiais na pele. Nesses casos, é preciso dar ponto, porém são muito menos desconfortáveis que uma episiotomia”, tranquiliza o médico.
O estudo do BabyCenter também analisou essa situação. Em 2018, 33% das entrevistadas não tiveram laceração. Outras 48% sofreram com pequenos machucados e 19%, com grandes. O levantamento não constatou aumento na incidência de lacerações naturais de 2012 até o ano passado.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

O que é a próstata e para que ela serve?

Aproveitamos o Novembro Azul para apresentar essa glândula, em geral lembrada só quando sofre com o câncer ou cresce além da conta

Um levantamento recente revelou que 20% dos homens britânicos nem sabiam que tinham uma próstata. Essa glândula, tema central da campanha Novembro Azul, geralmente é associada a problemas como câncer e hiperplasia prostática. Mas ela tem uma função importante.
Veja agora o que é a próstata, para que ela serve e quais os exames que avaliam sua saúde:

SQS gráfico próstata
 (Ilustrações: Erika Onodera/SAÚDE é Vital)

1) Ficha corrida

A próstata está localizada estrategicamente logo abaixo da bexiga — a uretra, o canal que leva a urina para fora do corpo, passa por seu interior. Ela cresce naturalmente ao longo da vida. No adulto jovem, tem o formato de um pêssego, o tamanho de uma noz e o peso de uma ameixa (cerca de 20 gramas).

2) Tudo azeitado

A glândula fabrica o líquido prostático. Essa substância é misturada com o líquido seminal, que vem das vesículas seminais. Juntos, eles formam 90% do sêmen e são responsáveis por nutrir, proteger e facilitar a locomoção dos espermatozoides. Esses gametas são produzidos nos testículos e chegam à próstata pelo canal deferente.
SQS gráfico próstata
 (Ilustrações: Erika Onodera/SAÚDE é Vital)

3 No ápice do prazer

Durante a relação sexual, o pênis ereto é estimulado e, após algum tempo, ocorre a ejaculação. Nesse momento, a próstata se contrai e ejeta a mistura de líquido prostático, líquido seminal e espermatozoides em direção à uretra. O sêmen sai em três ou quatro jatos rápidos.

4) Nada de intrusos

Lembra que a uretra é o tubo por onde passa a urina? Como é que o xixi não sai junto com sêmen? Isso não acontece graças à próstata: na ejaculação, a parte superior dela fica apertada e comprime a saída da bexiga, impedindo que o líquido amarelo escape justamente nesse momento.

Sintomas de problemas na próstata

Se esses incômodos pintarem, é bom procurar um médico para uma avaliação criteriosa:
• Necessidade constante de fazer xixi
• Vontades súbitas e urgentes de ir ao banheiro
• Dificuldade para começar a urinar
• Jato fraco ou gotejamento
• Ao sair do sanitário, sensação de que a bexiga não está 100% vazia

As três doenças mais comuns

Hiperplasia prostática benigna: é o crescimento exagerado da próstata, fenômeno comum em metade dos indivíduos com mais de 50 anos.
Câncer: o desenvolvimento de células malignas nessa glândula atinge 68 mil brasileiros por ano e mata 15 mil deles.
Prostatite: trata-se de uma inflamação marcada por dor e inchaço. Pode ter relação com infecções ou até estresse.

Os exames que avaliam a saúde da próstata

Toque retal: como fica logo atrás do reto, é possível palpar a próstata num simples exame feito no próprio consultório.
PSA: uma coleta de sangue avalia a quantidade dessa molécula no organismo. Se estiver alta, é sinal de alarme.
Ultrassom: geralmente só é realizado quando os dois exames anteriores apresentam irregularidades.
Biópsia: se a suspeita aumenta, é preciso cortar um pedacinho da próstata para uma análise mais aprofundada.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Exercício é fundamental para prevenir e superar vários tipos de câncer

Nova diretriz traz mais evidências sobre o assunto e recomenda treinos personalizados para melhorar a vida depois do câncer

Fazer exercícios físicos regulares pode melhorar a expectativa de vida de quem teve um câncer e até evitar que ele apareça. É o que afirma uma nova diretriz assinada por 17 instituições do mundo, entre elas o Colégio Americano de Medicina do Esporte e a Sociedade Americana de Câncer.
Durante dois dias, cerca de 40 especialistas se reuniram nos Estados Unidos para revisar e discutir a literatura científica sobre câncer e atividade física. O esforço foi condensado em três artigos.
O primeiro deles é focado em prevenção, e mostra indícios sólidos de que malhar ajuda a evitar sete tumores comuns: cólon, mama, endométrio, rins, bexiga, esôfago e estômago. Para ter ideia, o risco de ser diagnosticado com certos tipos de câncer é 69% menor entre os fisicamente ativos.
“E ainda existem evidências moderadas para câncer de pulmão, cabeça e pescoço, pâncreas, ovário e mieloma múltiplo”, aponta Daniel Galvão, diretor do Instituto de Pesquisa em Medicina do Exercício da Universidade Edith Cowan, na Austrália, que participou da mesa redonda e assina um dos trabalhos resultantes da reunião.

Exercícios após o câncer

O segundo trabalho da série de recomendações é focado no que acontece depois do diagnóstico. Ele mostra um avanço considerável e bem-vindo nessa área, uma vez que a população de sobreviventes do câncer não para de crescer – hoje, ela está estimada em 43 milhões de pessoas no planeta.
A primeira diretriz publicada pelo mesmo grupo, em 2010, dizia em linhas gerais que se exercitar era aparentemente seguro para essa turma. A nova publicação confirma a suspeita, além de destacar um aumento de 261% nos estudos disponíveis sobre o impacto do exercício físico regular e controlado em diversos aspectos da vida pós-câncer.
“Cada tipo da doença tem um comportamento e, muitas vezes, o paciente conviverá por anos com a neoplasia em si ou as suas consequências”, comenta a patologista Ana Luisa Gomes Mendes, do Núcleo de Estudos em Oncologia da Universidade Federal de Lavras (Ufla). Entre elas estão fadiga, depressão, perda de massa muscular, sequelas cirúrgicas, dores crônicas e perda de massa óssea.
“Assim, é impossível fazer uma prescrição para todos. O ideal é olhar para essas condições específicas e criar um treino individualizado”, aponta Galvão. A diretriz mundial elenca algumas dessas condições e as melhores condutas para cada uma delas. O grupo de Galvão assina ainda outro trabalho, publicado recentemente no Journal of Science and Medicine in Sport, que detalha treinos para 30 consequências do câncer.
Além de atuar contra essas marcas, suar a camisa diminui a probabilidade de tumores de cólon, mama e próstata voltarem, e aumenta a sobrevida de indivíduos com esses tipos de câncer.

Tipos de atividade, frequência e intensidade

Apesar da necessidade de individualização, um esquema é muito citado no documento: três sessões de exercícios na semana em intensidade moderada, de preferência combinando atividades aeróbicas (como correr e pedalar) ao treinamento de força. Os benefícios começam a aparecer geralmente depois de 12 semanas de prática constante.
Treinos supervisionados parecem ser mais eficazes. “Na fase de combate, a supervisão ajuda a garantir segurança e aproveitar ao máximo o exercício. Depois do tratamento, o ideal é obter ao menos uma orientação inicial com um especialista”, informa Christina May Moran de Brito, Coordenadora Médica do Serviço de Reabilitação do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), em São Paulo.

Por que faz bem?

Há muitos motivos para justificar a importância do exercício no combate ao câncer. “Ele melhora a imunidade, reduz a inflamação sistêmica, equilibra o hábito intestinal, o que é importante no caso dos tumores de cólon, além de promover uma composição corpórea adequada”, resume Christina.
Vale destacar o último item, já que a obesidade, uma das consequências da inatividade, está associada a nada menos do que 13 tipos de câncer. Quando o tumor já se instalou, o movimento constante parece inibir sua progressão e favorecer a resposta do corpo ao tratamento – inclusive em situações mais sérias, como a presença de metástase em outros locais.

Linfedema não piora com exercício

Até pouco tempo atrás, se pensava que malhar poderia piorar o linfedema, uma retenção de líquidos que causa inchaço em um membro do corpo – essa é uma consequência comum em mulheres que passam por cirurgia para tratar o câncer de mama. A nova diretriz mostra que isso não ocorre. A novidade é importante, porque o exercício é vital para elas.
E a mulher deve se movimentar mesmo quando já tem o linfedema. “O treino de força progressivo, com cuidado, é seguro, e o tônus muscular colabora com a drenagem linfática na região”, explica Christina. “Nesse caso, o linfedema deve ser tratado e estar estabilizado há três meses, e os exercícios não podem ser realizados sob sol forte ou muito calor”, acrescenta.

Implicações práticas

Por fim, o terceiro artigo produzido pelo grupo, e publicado no periódico CA: A Cancer Journal for Clinicians, fala diretamente com o oncologista. “Nele, mostramos que o exercício deve ser prescrito junto com o tratamento medicamentoso”, comenta Galvão. A ideia é que, já nas primeiras consultas, o assunto seja trabalhado em três etapas: conhecer a capacidade física do indivíduo, aconselhar e, por fim, encaminhar para um especialista na área.
Espera-se que um compêndio tão robusto de evidências eleve a importância do tópico entre as autoridades. Trata-se, afinal, de uma estratégia barata e eficaz contra uma doença desafiadora e onerosa. Segundo os especialistas, a conclusão é de que o exercício é parte do tratamento, mas não existe uma estrutura mundial para que isso se concretize de maneira uniforme.
Por ora, manter-se ativo antes e depois do câncer depende muito da iniciativa própria, que sofre com os estigmas associados à doença. “Observamos que grande parte das pessoas recebe o diagnóstico e interrompe as atividades físicas, sendo que a maioria das contraindicações é pontual e temporária”, diz Christina. Uma pena. “O exercício seria muito benéfico para elas”, conclui.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Candidíase: tratamento, sintomas e prevenção

O que é essa doença, provocada pelo fungo Candida albicans, e o que fazer para controlá-la - de remédios a cremes.

A candidíase é uma infecção causada pelo fungo Candida albicans, que se aloja comumente na área genital, provocando coceira, secreção e inflamação na região. O micro-organismo vive normalmente no organismo sem causar danos, mas, em situações de desequilíbrio, aumenta a população e passa a ser danoso para o corpo. Isso acontece especialmente entre as mulheres, já que o fungo habita a flora vaginal.
Em períodos de baixa imunidade, o ambiente quente e úmido da região genital propicia a proliferação descontrolada, que muitas vezes exige tratamento. Pessoas com o sistema imune debilitado ainda podem sofrer com a candidíase na boca (é o sapinho), na garganta, na pele e nas unhas, entre outros locais.

Sinais e sintomas

– Ardor, coceira e inchaço na região genital
– Fissuras na mucosa genital que lembram assadura
– Corrimento esbranquiçado
– No homem, aparece vermelhidão e uma espécie de nata na ponta do pênis
– Aftas
– Dor ao engolir alimentos

Fatores de risco

– Relação sexual sem preservativo
– Roupa íntima apertada e de material sintético
– Ficar muito tempo com maiô e biquíni molhado
– Diabetes
– Obesidade
– Gravidez
– Deficiência imunológica causada por doenças como aids e câncer
– Tratamento corrente com antibióticos

A prevenção

Para afastar a ameaça da candidíase vaginal, a higiene da região deve ser feita com sabonete de pH neutro. Dar preferência, é melhor optar pela calcinha de algodão, não usar absorvente íntimo todo os dias e evitar roupas muito justas ou molhadas por tempo prolongado.
Não abrir mão da camisinha nas relações sexuais previne o contágio entre os parceiros.
Pessoas com a imunidade comprometida, como portadores de HIV ou em tratamento contra o câncer, precisam de cuidados extras para prevenir a infecção pelo fungo. Lembre-se: a candidíase é uma doença oportunista.

O diagnóstico

Na consulta, o médico analisa a mucosa da vagina ou do pênis. Se necessário, uma raspagem da área afetada fornece uma amostra a ser analisada em laboratório para identificar o tipo de fungo causador do problema.

O tratamento

Na maioria dos casos, o profissional prescreve cremes de uso no local, em geral duas vezes ao dia. Também existe a opção de antifúngicos em comprimido. Quando a irritação é muito acentuada, o especialista pode associar o tratamento contra a Candida albicans a um medicamento via oral à base de corticoide.