segunda-feira, 27 de maio de 2019

Por que precisamos dar mais atenção aos rins

Médica alerta para o crescimento no número de casos de doença renal crônica, condição que abala a saúde e a qualidade de vida

Nas últimas duas décadas, o Brasil viu o número de pessoas com doença renal crônica triplicar. Hoje mais de 120 mil cidadãos fazem diálise no país e estima-se que pelo menos 25 mil deles morram por ano. As alarmantes estatísticas brasileiras não destoam do resto do mundo. Calcula-se que 850 milhões de pessoas em todo o planeta são acometidas de algum comprometimento renal — são 2,4 milhões de óbitos por ano, o que coloca a doença renal como a 11ª causa de morte global.
Diante dessa epidemia, a sociedade médica internacional vem tentando chamar a atenção da população para essa dupla de órgãos tão vital à saúde e, no entanto, frequentemente esquecida. Além de remover resíduos e fluidos extras do sangue, os rins têm a tarefa de controlar o equilíbrio químico do corpo, ajudar no balanço da pressão arterial, conservar os ossos saudáveis e produzir o hormônio eritropoietina, necessário para manter os níveis dos glóbulos vermelhos e evitar a anemia.
O grande desafio da doença renal é que, em suas fases iniciais, ela é assintomática. Uma pessoa pode perder 90% das funções desses órgãos sem sentir nada. Somente em estágio avançado é que alguns sinais costumam aparecer, caso de inchaço, fadiga, diminuição de apetite, soluços, redução do volume de urina, entre outros.
Falamos de um problema que, a rigor, não tem cura, o que faz com que os pacientes necessitem de cuidados pela vida toda. Embora a qualidade do tratamento tenha avançado muito nos últimos anos, uma diálise individualizada e de qualidade ainda não é acessível a todos aqueles que precisam, assim como nem todos conseguem usufruir de um transplante de rim.
Como a prevalência da doença renal está aumentando drasticamente, o custo de tratamento dessa epidemia crescente representa enorme carga nos sistemas de saúde de todo o mundo. Na Inglaterra, o valor desembolsado no tratamento da condição já supera o custo dos cânceres de mama, pulmão, cólon e pele juntos. Na Austrália, o custo de tratar todos os casos atuais e novos até 2020 está estimado em 12 bilhões de dólares. Nos Estados Unidos, por sua vez, a despesa com o tratamento deve exceder 48 bilhões de dólares por ano.
A melhor estratégia para redução de custos e danos aos pacientes é a prevenção. O alerta é para que os países invistam mais nesse aspecto e tornem o rastreio de doenças renais um cuidado primário com a saúde, incluindo acesso a exames de sangue (creatinina) e urina (EAS). O diagnóstico e o tratamento precoces podem evitar ou retardar que as doenças renais evoluam para estágios mais graves, que necessitam de diálise ou transplante.
Pessoas com hipertensão e diabetes devem ter atenção especial, já que esses problemas são as principais causas da doença renal hoje. Portanto, proteger-se delas e manter uma dieta equilibrada e um estilo de vida saudável também é uma forma de cuidar bem dos rins.
* Dra. Ana Beatriz Barra é nefrologista, mestre pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e gerente médica da Fresenius Medical Care

segunda-feira, 20 de maio de 2019

O que é o vírus Mayaro: sintomas, transmissão, prevenção e tratamento

Causador da febre do Mayaro, esse vírus é disseminado por mosquitos e pode provocar dores nas articulações, como o chikungunya. Conheça a doença

  O vírus Mayaro é transmitido por diferentes mosquitos – principalmente o Haemogogus – e causa principalmente febre e dores nas articulações, que podem persistir por meses. Ele já é considerado endêmico na região Amazônica, mas há indícios de que pode ter se espalhado para outros locais, como o estado do Rio de Janeiro. Não há vacina que previna contra a chamada febre do Mayaro. Por outro lado, é possível evitar a infecção e, se for o caso, controlar seus sintomas.

Sintomas da febre do Mayaro

  • Febre
  • Dores musculares
  • Dores e inchaço nas articulações, que podem persistir por meses
  • Manchas vermelhas pelo corpo
  • Náuseas
Há relatos de complicações graves, que envolvem problemas neurológicos, hemorragia e até morte. Contudo, esses casos são raríssimos. Na maioria das vezes, os sintomas desaparecem com o tempo.

A transmissão

O ciclo é muito parecido com o da febre amarela. Ou seja, um mosquito com o vírus Mayaro infecta um ser humano ou um macaco. Esses hospedeiros, então, contribuem para a disseminação da doença, uma vez que outro inseto pode picá-los, receber o vírus e passá-lo pra frente.
Atualmente, o Mayaro circula mais em regiões de mata ou próximas a elas no Brasil. Seu vetor mais conhecido é o mosquito Haemagogus, que também espalha a febre amarela. Esse é um inseto eminentemente restrito a ambientes com muitas árvores.
No entanto, estudos indicam que o Aedes aegypti e mesmo o famoso pernilongo têm potencial para transmitir o vírus Mayaro. Essa é uma preocupação, porque, se isso começar a acontecer, o número de casos no Brasil pode se multiplicar.
Nesse sentido, uma pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro sugere que esse agente infeccioso já está no estado desde 2015 – possivelmente por uma adaptação do Haemagogus. O Ministério da Saúde, por sua vez, afirma que não há episódios urbanos confirmados de febre do Mayaro.

O diagnóstico e o tratamento

Como seus sintomas se parecem com os da febre amarela, da dengue e, principalmente, do chikungunya, é comum haver uma confusão entre eles. Só exames laboratoriais são capazes de realmente distinguir entre as infecções.
Mas, para efeito do tratamento, muitas vezes isso não é necessário. Até porque as doenças mencionadas não possuem tratamento específico. Em outras palavras, os médicos controlam os sintomas, avaliam a evolução do quadro e esperam o próprio organismo reagir à presença do vírus Mayaro.
Ao apresentar sinais suspeitos, é importante buscar atendimento profissional.

A prevenção

Não existe uma vacina. Para fugir o problema, você deve evitar a picada de mosquitos infectados. Como?
Evite frequentar áreas de mata sem proteção, principalmente na primavera e no verão, quando o vetor é mais ativo. Repelentes e roupas compridas ajudam bastante.
Além disso, sempre cabe eliminar locais de água parada para impedir a proliferação do Aedes aegypti. Quando menor a concentração dele, menor a probabilidade de o vírus Mayaro ganhar espaço nas cidades.
Fontes: Instituto Oswaldo Cruz e Ministério da Saúde.

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Maior evento de divulgação científica do mundo começa na semana que vem

Bares espalhados por 85 cidades de todo o país vão sediar o Pint of Science, festival internacional que leva cientistas para conversar com as pessoas

No primeiro semestre de 2016, recebi um e-mail inesperado: Natália Pasternak e Luiz Almeida, dois biólogos do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, queriam falar sobre um tal de Pint of Science. Nunca tinha ouvido falar do projeto, mas bastou uma rápida conversa com a dupla para entender a genialidade da ideia: durante três noites, pesquisadores de várias áreas do conhecimento visitam bares, restaurantes e pubs, onde batem um papo descontraído com os demais frequentadores do local e explicam que raios fazem em seus laboratórios.
O festival começou na Inglaterra, terra que abriga um pub a cada esquina, e logo ganhou proporção internacional. Ele desembarcou em terras brasileiras no ano de 2015, com um projeto piloto em São Carlos, no interior paulista. Em 2016, sete municípios participaram. Em 2017, o número subiu para 22. Ano passado, foi catapultado para 56. Agora, em 2019, teremos incríveis 85 cidades. Em nenhum outro lugar do planeta o evento atraiu tanta gente e ocupou tantos estabelecimentos. Em 2019, passamos a Espanha como o maior Pint do mundo. Olé!
Depois daquela conversa inicial, reencontrei a Natália e o Luiz em uma série de outras iniciativas. Eles até viraram colunistas de nosso site, no blog “Cientistas Explicam”. Entre um projeto e outro, chama a atenção o brilho nos olhos não só deles, mas de todo mundo que faz o Pint acontecer. Em sua maioria, são aguerridos estudantes de pós-graduação que se voluntariam e têm um trabalho danado para que cada palestra e cada encontro saia da melhor maneira possível.
A programação de 2019 está cheia de eventos incríveis — o difícil é escolher em qual deles marcar presença.  SAÚDE, claro, não poderia ficar de fora dessa. Nosso editor Theo Ruprecht estará no Galeria 540, na região de Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, no dia 22 de maio, para falar sobre divulgação científica sobre câncer nas pautas de nossa querida revista.
Já este que vos escreve fez, junto com outros colegas, um pequeno lobby entre os organizadores para levar o Pint pela primeira vez para a Zona Leste da capital paulista. O Armazém 77, bar localizado na Penha, irá receber grande elenco para discutir diversos tópicos — de poluição ambiental a parto humanizado e preservação do patrimônio histórico.
Você pode conferir a programação completa no site oficial do evento. O brinde à ciência acontecerá nos dias 20, 21 e 22 de maio (segunda, terça e quarta-feira), sempre a partir das 19 horas. Aproveite para selecionar os assuntos que mais te interessam e vá conversar com um cientista. Tenho certeza que eles ficarão extremamente felizes em tirar todas as dúvidas que surgirem durante o bate papo.
O Pint of Science de 2019 ganha um caráter ainda mais especial, pois acontece em meio à balbúrdia do enxugamento de verbas para a pesquisa e para as universidades anunciada pelo governo federal. A produção de conhecimento no país está ameaçada e, claro, o evento vai trazer o tema e se posicionar contra esse corte. Afinal, aplicar dinheiro na ciência não é gasto, mas, sim, investimento para o Brasil avançar.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Primeira imunoterapia contra câncer de mama desembarca no Brasil

Voltada para o tipo mais agressivo de tumor de mama – o triplo-negativo –, a medicação atezolizumabe beneficia mulheres com poucas opções de tratamento

Embora a imunoterapia seja tida como a maior revolução da oncologia nos últimos anos, ela ainda não havia chegado ao câncer de mama. Eis que a aprovação no Brasil do medicamento atezolizumabe, da farmacêutica Roche, quebra esse paradigma e, de quebra, traz uma opção justamente contra o subtipo mais agressivo da doença e mais carente de inovações: o tumor de mama triplo-negativo.
A indicação do remédio é para os casos avançados ou metastáticos da enfermidade – ou seja, quando ela já se espalhou para outros órgãos. “Essas pacientes […] têm um prognóstico difícil. O tratamento aprovado pela Anvisa se torna o preferencial na prática clínica”, afirma o oncologista Carlos Barrios, diretor do Centro de Pesquisa em Oncologia do Hospital São Lucas (RS), que participou dos estudos que avaliaram a droga, em um comunicado à imprensa.
A aplicação do atezolizumabe em conjunto com um quimioterápico ampliou significativamente a sobrevida das mulheres. Você pode ver esses resultados em detalhes e entender o mecanismo de ação do medicamento em uma reportagem que fizemos um tempinho atrás, quando esses estudos saíram do forno.
Ao contrário dos tratamentos comuns contra o tumor, a imunoterapia não se volta contra a doença em si. Na verdade, ela estimula as células de defesa da pessoa a reconhecerem o inimigo e o atacarem. Desde o surgimento da classe, diversos cânceres foram beneficiados.
Para ter ideia, o próprio atezolizumabe já tem indicação no Brasil contra o câncer de bexiga e o de pulmão. No entanto, nem ele nem outros imunoterápicos estão à disposição no sistema público. O alto custo dessa linha de tratamento é um dos desafios a serem superados nesse sentido.

O câncer de mama triplo-negativo e o tratamento atual

Esse tumor não apresenta três alvos que podem ser atacados por determinados tratamentos – daí seu nome. Para ser mais específico, ele NÃO tem:
• Receptores de estrogênio, um hormônio feminino
• Receptores de progesterona, outro hormônio feminino
• Proteína HER2
Sem esses tais biomarcadores, fica difícil enfrentá-lo com hormonioterapia ou terapia-alvo, por exemplo.
Se ele é diagnosticado logo no início, ainda pode ser removido com cirurgia. Do contrário, as mulheres com câncer de mama triplo negativo – que correspondem de 10 a 15% dos casos – tinham à disposição basicamente a quimioterapia, eventualmente com apoio da radioterapia.
Essa carência de terapias modernas contribui para a alta taxa de mortalidade da enfermidade. Antes do atezolizumabe, outros medicamentos inovadores foram testados, sem sucesso. Daí a importância do resultado atual.

terça-feira, 14 de maio de 2019

É normal acordar à noite para fazer xixi?

Médico explica as principais causas da noctúria e conta quais são as formas de controlar a condição. A boa notícia: tem, sim, tratamento!

 
Nós, médicos, temos um nome para essa situação em que se acorda algumas (ou muitas!) vezes durante a madrugada para fazer xixi: é a noctúria. Falamos de um transtorno definido pelo ato de urinar precedido e sucedido pelo sono. Muitas pessoas acreditam, de maneira equivocada, que urinar no meio da noite seja um sinal de saúde, de que o organismo anda muito bem. Acontece que a noctúria é frequentemente relacionada a redução na qualidade do sono, sonolência diurna, aumento da pressão arterial, alteração do humor, maior propensão a quedas e fraturas e até a acidentes de trânsito.
O risco de desenvolver a noctúria aumenta com o passar dos anos. Pode chegar a 30% entre pessoas acima dos 65 anos e passar dos 50% entre aquelas com mais de 80. Como dá para perceber, ela atinge indivíduos mais velhos, quando eles já costumam se mostrar mais frágeis.
Que fique claro que a noctúria em si não é uma doença. Urinar frequentemente à noite deve ser visto como sinal de alerta para o sujeito procurar o médico (em geral, o urologista) e podermos detectar o que está acontecendo de errado, bem como prevenir os problemas listados anteriormente.
Existem três causas principais para a noctúria:
  1. Obstrução do jato urinário, que acontece com o aumento benigno da próstata em homens ou devido a um estreitamento da uretra, o canal por onde sai o xixi.
  2. Hiperatividade vesical, situação marcada por contrações inadvertidas da bexiga que provocam intensa vontade de urinar e está relacionada a infecção urinária e cálculos renais ou não tem causa aparente.
  3. Aumento na produção noturna de urina, condição associada a fatores ou doenças, como insuficiência cardíaca, diabetes, insuficiência venosa (inchaço das pernas) ou, ainda, desbalanço hormonal.
Um passo essencial para apurarmos o que vem ocorrendo é a solicitação de um diário miccional, que é uma avaliação, realizada pelo próprio paciente, da frequência em que ele urina de manhã e à noite, do volume de xixi e da quantidade e qualidade de líquidos ingeridos durante determinado período. O diário nos ajuda a determinar qual das três causas é o motivo da noctúria.
Apenas após essa avaliação inicial e, eventualmente, o uso de exames mais específicos, o profissional irá chegar a um diagnóstico preciso. O tratamento, por sua vez, deve ser baseado na origem do problema. Podemos resumir da seguinte forma:
  1. Diante de um bloqueio do canal urinário, a causa mais comum de noctúria em homens após os 40 anos, o tratamento é baseado em medicamentos relaxantes do músculo prostático ou cirurgias na próstata para eliminar a obstrução que está comprometendo o ato e a frequência de urinar.
  2. No caso da hiperatividade da bexiga, quadro mais frequente em mulheres após a menopausa e associado à incontinência urinária, recorremos a terapias e medicações que controlam as contrações da bexiga.
  3. Havendo a produção aumentada de urina à noite, medidas comportamentais, como reduzir a quantidade de líquido ingerido após às seis da tarde e erguer os membros inferiores à tarde por cerca de 30 minutos, assim como ajustar a dose de remédios diuréticos, já ajudam bastante. Mas existem casos que podem exigir uma intervenção com medicamentos específicos. E, felizmente, já existe um tipo capaz de baixar em 60% os episódios de noctúria.
O recado mais importante para a pessoa que suspeita que está urinando demais à noite é entender que está sob risco e seu problema tem solução. Portanto, não tem por que demorar a procurar um especialista.
* Dr. Bruno Cezarino é urologista e médico do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo

segunda-feira, 13 de maio de 2019

9 problemas de saúde que se manifestam pelos olhos

De infecções a tumores, muitas são as doenças que se manifestam pelos olhos. Conheça algumas e saiba o que fazer para proteger sua visão e o resto do corpo

Olhos vermelhos, visão embaçada, desconforto visual… nem sempre essas chateações estão relacionadas a problemas nos olhos. As janelas da alma também ajudam a identificar sinais de que há algo de errado no organismo. E, se nada for feito a tempo, a visão corre sério risco de perder a nitidez — ou até apagar de vez.
Veja, abaixo, nove problemas de saúde que podem revelar sua presença no corpo através dos olhos:

1. Diabetes

Os globos oculares sofrem quando a taxa de açúcar no sangue permanece elevada — um traço típico dessa condição, em especial quando descontrolada. Segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, seus portadores chegam a ter uma probabilidade 25 vezes maior de perder a capacidade de enxergar.
Aqui, um grande vilão é a retinopatia diabética, que acomete acima de 75% das pessoas que convivem com a glicemia elevada há mais de 20 anos. Caracterizada por danos nos vasos sanguíneos que irrigam a retina, ela começa com pontinhos pretos na visão e pode terminar em cegueira. O diabetes também aumenta em 60% o risco de catarata, que embaça a visão.
Para evitar esses estragos, o indivíduo deve controlar a glicose e se consultar com profissionais regularmente.

2. Toxoplasmose

Estamos falando da invasão do parasita Toxoplasma gondii, encontrado, por exemplo, nas fezes de gatos ou em alimentos mal higienizados. Em adultos, ele pode deflagrar febre, cansaço, coriza, caroços no pescoço… e, depois de um tempo, sintomas nos olhos. São eles: dor, vermelhidão, aparecimento de pontos flutuantes no campo visual e aversão à claridade.
Essas consequências surgem em decorrência de uma inflamação na retina que, em situações avançadas, provoca uma cicatriz capaz de cegar. Daí por que é fundamental procurar o médico ao primeiro sinal suspeito. Nos quadros iniciais, a solução em geral não é complexa e envolve só antibióticos.

3. Doenças reumatológicas

Embora muito associadas a incômodos e deformidades nas juntas, elas não raro afetam os olhos. Isso porque encrencas como a artrite reumatoide são autoimunes. Nesse contexto, as células de defesa atacam estruturas do corpo — e os protagonistas da reportagem não são exceção.
“Quando o primeiro sintoma não é dor articular, é uma alteração na visão”, destaca o reumatologista Marcelo Pinheiro, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Desconfie de vermelhidão, coceira, sensibilidade à luz e secura.
Cuidando do problema de base sem demora, os sintomas tendem a sumir.

4. Câncer

Há tumores que surgem nos olhos, como o retinoblastoma. Mais presente na infância, ele atinge cerca de 400 crianças por ano no Brasil e acarreta um reflexo branco na pupila que é observado ao irradiar uma luz artificial no globo ocular. O diagnóstico precoce catapulta as chances de cura e preservação da visão — o teste do olhinho auxilia nesse sentido. Mas o elo entre oftalmologia e oncologia não para por aí.
O câncer de hipófise, ao crescer, espreme o nervo óptico, responsável por levar as informações visuais para o cérebro. E há ainda casos em que um tumor aparece em um local (nas mamas, no pulmão, na pele…) e, então, espalha-se para os olhos.
O tratamento depende de cada situação. Cirurgia e químio são algumas das estratégias.

5. Doenças sexualmente transmissíveis

Poderíamos citar várias, mas ficaremos em duas: aids e sífilis. Na primeira, a queda de imunidade faz com que inimigos oportunistas, como citomegalovírus e herpes, danifiquem até os olhos. Dor, dificuldade pra enxergar e vermelhidão merecem investigação.
No mais, o déficit imune abre as portas para o sarcoma de Kaposi, um câncer que às vezes se instala no órgão da visão. Ainda bem que, com tratamento adequado, tais consequências são raras hoje em dia. “A evolução dos antirretrovirais possibilitou um melhor controle do HIV”, comemora Celso Granato, infectologista do Fleury Medicina e Saúde.
A bactéria da sífilis, por sua vez, é capaz de cair na circulação e desembarcar nos olhos. E um estudo da Universidade de São Paulo sugere um aumento nos episódios de cegueira no Brasil causado pela infecção. Para prevenir, use camisinha.

6. Dengue, zika e chikungunya

Cada uma delas possui suas complicações, porém todas se manifestam de alguma forma no olho, segundo Granato. Tanto dengue quanto chikungunya costumam originar dores atrás do globo ocular como um dos sinais iniciais. Já na infecção por zika, cerca de 50% dos infectados têm conjuntivite.
O diagnóstico é firmado por meio de uma avaliação do médico, com apoio de exames laboratoriais. Conforme esses vírus, transmitidos pelo mosquito Aedes Aegypti, são debelados pelo corpo, os sintomas que descrevemos tendem a desaparecer.

7. Tuberculose

Em um primeiro estágio, suas manifestações estão mais atreladas aos pulmões (tosse, falta de ar…). Só que, com o tempo, o bacilo de Koch, bactéria por trás da tuberculose, consegue fixar moradia no globo ocular. Normalmente, o paciente se queixa de fotofobia, lacrimejamento, desconforto e baixa percepção visual.
Como se safar de todos esses estorvos? Com detecção precoce e adesão aos medicamentos prescritos pelo especialista, que deverão ser tomados por um tempo considerável para livrar o organismo da doença. Aqui, a negligência pode terminar em cegueira.

8. Males neurológicos

O nervo óptico, localizado no fundo da retina, é uma extensão do cérebro. Ou seja, quando a massa cinzenta sofre com alguma coisa, é possível que o olho acuse. Prova disso é o embaçamento súbito da visão após um AVC.
O neurologista Denis Bichuetti, da Unifesp, ressalta que certas anomalias na retina chegam a antever um derrame meses antes. Mas, para pegá-las a tempo de intervir, só indo ao médico mesmo.
Ainda no mundo da neurologia, cabe lembrar da esclerose múltipla, distúrbio autoimune que é uma importante causa de alterações na vista antes dos 40 anos. A sensação de visão turva ou dupla vai e vem de acordo com as crises e o tratamento.

9. Problemas no fígado

Está na boca do povo: se o olho fica amarelado, o fígado anda de mal a pior. Por quê? Danos nesse órgão levam a um acúmulo de bilirrubina, que passa a trafegar pelos vasos sanguíneos até desembocar no globo ocular. E essa substância tem cor… isso mesmo, amarela.
As hepatites virais e a alcoólica, por exemplo, podem ser flagradas por causa dessa mudança na tonalidade — mas a verdade é que, quando pintam o olho, elas provavelmente já deterioraram bastante o fígado.
A boa notícia é que a mudança na tonalidade não significa que a visão vai anuviar dali um tempo. Controlando os estragos hepáticos, o branco volta a imperar.

O checkup dos olhos

Ficou claro que ir ao oftalmo é uma ótima tática para preservar a saúde como um todo, certo? Pois bem: há uma indicação genérica de marcar uma consulta com ele todo ano, porém isso varia demais. Pessoas com certas condições necessitam de vistorias mais frequentes, enquanto outras podem espaçá-las.
Para definir a periodicidade, fale com o doutor. E, ao suspeitar de qualquer sinal, não demore a buscar apoio. “É vital descobrir quais doenças causam os sintomas”, afirma Rony Preti, oftalmologista da Universidade de São Paulo e do Preti Eye Institute.

segunda-feira, 6 de maio de 2019

Febre amarela é relacionada a problemas cardíacos, segundo pesquisa

Estudo brasileiro identificou um elo entre a doença e alterações no coração. Pacientes com febre amarela no estágio grave seriam os mais propensos

Cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com colaboração do hospital americano Children’s National Health System, encontraram uma associação entre a febre amarela e problemas do coração.
Segundo o cardiologista intervencionista do Hospital das Clínicas da UFMG, Bruno Ramos Nascimento, que liderou a pesquisa, trabalhos anteriores já haviam mostrado uma relação entre manifestações cardíacas, como arritmia, e arboviroses (infecções transmitidas por insetos). “Mas, até então, nenhum grande estudo tinha feito uma análise focada na febre amarela”, afirma.
Os experts analisaram pacientes do Hospital Eduardo de Menezes, em Belo Horizonte, de março a abril de 2018. Dos 103 casos com suspeita de febre amarela, 70 foram confirmados – e 69% (48 indivíduos) correspondiam à forma grave da doença.
Os voluntários passaram por avaliações clínicas e exames como eletrocardiograma e ecocardiografia, que averiguam o estado do coração. Se alguma anomalia era identificada, o paciente começava a ser monitorado por um holter – aparelho que mede em tempo real o ritmo cardíaco enquanto a pessoa anda por aí. Alguns inclusive se submeteram a uma ressonância magnética.
Após essa bateria de testes, os estudiosos encontraram alterações eletrocardiográficas em 52% dos voluntários com infecção leve ou moderada e em 77% nos casos graves.
Em dois meses, cinco pessoas morreram. Na necropsia de uma delas, foram encontrados padrões sugestivos de miocardite — um tipo de inflamação no coração. “Outras pesquisas sugerem que parece existir um padrão inflamatório produzido pelo próprio vírus”, explica o cardiologista.
O professor também acredita que a febre amarela seja um gatilho que ativa as nossas defesas naturais de maneira exagerada. “A replicação do vírus pode levar a uma desregulação do sistema imune, causando uma liberação das citocinas, o que ocasionaria o processo inflamatório”, complementa.
Nascimento conta que ainda não conseguiram identificar fatores específicos que expliquem essa relação entre a febre amarela e disfunções do músculo cardíaco. “O que sabemos é que os pacientes que desenvolvem a forma grave da infecção correm maior risco”, aponta.
Apesar dos resultados, o cardiologista pensa que é muito cedo para defender uma investigação cardiológica em todos os episódios de febre amarela. “Mas os médicos precisam ficar atentos. Se surgirem alterações, aí eles devem indicar exames”, conclui.