sábado, 30 de junho de 2012

Os direitos do paciente


A Justiça estabelece regras para assegurar benefícios e mais segurança ao atendimento dos doentes nos hospitais e nos convênios médicos

Mônica Tarantino e Monique Oliveira
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Quitação da casa própria, isenção de Imposto de Renda na aposentadoria, prioridade na tramitação de processos na Justiça, receber a cópia da receita digitada e obter remédios de alto custo sem ter de pagar nada por eles. Esses são apenas alguns dos direitos que os pacientes brasileiros podem ter, mas dos quais muitos não se beneficiam simplesmente porque os desconhecem. “As pessoas sabem pouco sobre os seus direitos. Vejo isso todos os dias aqui no hospital”, lamenta o advogado Victor Hugo Neves, do Departamento Jurídico do Hospital A C Camargo, referência nacional no tratamento do câncer. Trata-se, porém, de uma realidade que começa a mudar graças a um movimento cada vez mais consistente orquestrado pela Justiça, advogados e entidades representantes de pacientes cujo objetivo é justamente divulgar e fazer valer todos os benefícios que ajudam a garantir um atendimento médico seguro e de qualidade. 

Parte das iniciativas mais importantes está sendo executada na esfera da Justiça. É a ela que os cidadãos recorrem cada vez mais, e é dela que recebem, também cada vez mais, decisões favoráveis a seus pleitos. “É só por intermédio da Justiça que o paciente muitas vezes tem um tratamento de qualidade”, diz a advogada Rosana Chiavassa, especializada em direito da saúde. Por conta da demanda, algumas decisões importantes estão sendo tomadas. Recentemente, o Tribunal de Justiça de São Paulo editou oito resumos contendo o entendimento dos juízes sobre alguns dos conflitos frequentes entre usuários de planos de saúde e operadoras. Esse mercado, que conta com 47,6 milhões de conveniados e 1.006 empresas, é o responsável pelo maior número de queixas que chegam aos tribunais.

“No meu escritório, há cerca de 30 liminares concedidas a pacientes de convênio para uma dada a um usuário da rede pública”, diz o advogado Julius Conforti, também especializado na área. As súmulas, como são chamados os resumos feitos pelo tribunal, afirmam que os juízes são favoráveis aos seguintes direitos, mesmo que não estejam previstos nos contratos dos planos: assistência home care, cirurgia plástica após realização de operação bariátrica, colocação de stents cardíacos, próteses e órteses, recebimento de quimioterapia oral, realização de exames e procedimentos envolvidos em doenças cobertas pelas operadoras, internação sem limite de tempo, ser informado pelo menos dez dias antes de descredenciamento por falta de pagamento e não sofrer reajuste por faixa etária a partir dos 59 anos.
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O impacto da manifestação será grande. “A súmula serve como uma informação pública sobre o entendimento majoritário do tribunal. Espera-se que os juízes sigam a direção apontada por ela”, explica o desembargador Luiz Antônio Rizzatto Nunes, do Tribunal de Justiça de São Paulo. “E, quando um tribunal define uma súmula, tenta desestimular a prática de abusos pelas empresas.” As decisões também podem ser utilizadas por tribunais de outros Estados para fundamentar suas sentenças. 

Decisões referentes a batalhas anteriores já se transformaram em jurisprudência. Um dos exemplos é sobre o que foi estabelecido na chamada “Lei dos Planos de Saúde”, de 1998. Nela, estão especificados os tratamentos que os planos são obrigados a cobrir. As empresas defendiam que a norma só valia para contratos estabelecidos depois da lei. No entanto, em razão do número de ações na Justiça, ficou entendido que as regras valem para todos os contratos. “A data da assinatura do contrato é irrelevante”, afirma o advogado Gilberto Bergstein, há 20 anos atuando na área. 

A Associação Brasileira de Medicina de Grupo também participa do movimento que acontece na Justiça. “Estamos nos reunindo com magistrados para discutir a necessidade de criar comitês de especialistas para informar com profundidade os juízes”, diz Arlindo de Almeida, presidente da entidade. 

A mobilização dos agentes envolvidos na defesa dos pacientes está resultando em outras conquistas. Há dois meses, uma lei sancionada pela presidenta Dilma Rousseff determina que os hospitais não podem exigir o cheque caução no momento da internação. Quem infringir a legislação poderá receber pena de detenção de três meses a um ano e multa.

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Também recentemente a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) determinou portabilidade especial para pessoas demitidas sem justa causa e que querem permanecer no plano que tinham quando empregadas. Elas têm direito a ficar com o convênio por até dois anos após deixarem a empresa, dependendo do tempo de pagamento. E, com a resolução da ANS, dois meses antes do término do prazo o indivíduo pode mudar para outra operadora sem ter de cumprir carência.

Outra medida da instituição foi determinar prazos para o atendimento. As consultas pediátricas, de clínica geral ou obstetrícia, por exemplo, devem ser realizadas em sete dias a partir do momento que o usuário buscou o médico. Além disso, a ANS disponibilizou um telefone 0800 para receber as queixas dos usuários desrespeitados nesse direito. “O critério tempo é simples e tangível para o consumidor medir o grau de acesso ao serviço que contratou”, diz Maurício Ceschin, presidente da agência. No primeiro trimestre deste ano, a ANS recebeu cerca de três mil reclamações. “A operadora tem cinco dias para resolver a questão. Caso contrário, pode ser multada e até ter suspensa a comercialização do serviço em questão”, diz Ceschin. 

Em alguns municípios, pacientes com câncer, Aids e doença renal crônica, por exemplo, estão isentos de pagar IPTU. Campos do Jordão, em São Paulo, é um deles. “Incentivamos as pessoas a procurar os vereadores para propor leis assim”, diz Tiago Farina, diretor-jurídico do Instituto Oncoguia, especializado na assistência a doentes com câncer. “Também há projetos para atualizar a lista de doenças graves registrada no governo federal”, afirma Luciana Camargo, diretora-executiva da instituição. Composta por enfermidades como câncer, esclerose múltipla e Parkinson, a lista serve de base para definir quais as doenças cujos pacientes podem se beneficiar com vários direitos, boa parte deles de cunho social. Um exemplo é o direito de pessoas com câncer de sacar o FGTS.
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A história da luta por melhores condições de atendimento é recente, se comparada a outras causas. “O Direito da Saúde começou na década de 50, com o começo dos programas de assistência de saúde nas empresas”, conta Fernando Scaff, coordenador do curso de pós-graduação em direito da saúde da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. E, por se tratar de uma área dinâmica – os avanços na medicina são frequentes –, legisladores, advogados e juízes muitas vezes se veem entre um certo descompasso entre o que dizem as leis e o que a ciência já oferece.

O problema se reflete principalmente quando se fala nos tratamentos que devem ser cobertos pelos planos. Muitas das novidades estão em uso, mas ainda não foram incluídas no rol da ANS do que deve ser pago. Um dos exemplos é a cirurgia robótica, técnica adotada em alguns casos por apresentar menores riscos. “Outro caso é o transplante de coração”, diz a advogada Joana Cruz, do Instituto de Defesa do Consumidor. Em geral, as operadoras negam a cobertura a procedimentos do tipo, mas a chance de o conveniado obter na Justiça o seu custeio é grande. No âmbito público, essa discussão também aparece. Por isso, o Ministério da Saúde criou um comitê para avaliar a incorporação de novas tecnologias ao SUS, uma medida que deve repercutir na redução das demandas judiciais. Em 2011, o ministério foi citado em 12.811 ações judiciais com pedidos de medicamento, por exemplo. 

Para que a assistência seja mais efetiva é preciso superar alguns obstáculos. O primeiro é fazer com que mais gente conheça os direitos. “Os usuários dos planos acabam convencidos de que não têm direitos, deixam de receber tratamentos e pagam pelo que não devem”, afirma Horácio Ferreira, advogado da saúde. “É enorme o número de pessoas que precisa de ajuda”, diz Vinicius de Abreu, representante da ONG Saúde Legal.
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Brechas na legislação também impedem o alcance total da Justiça. No Procon de São Paulo, das 7,2 mil reclamações contra planos de saúde recebidas no ano passado, 950 não tiveram solução. “As operadoras se aproveitam das lacunas na legislação, em prejuízo do consumidor”, diz Paulo Arthur Góes, diretor da instituição.

E, mesmo quando a Justiça já garantiu o direito, pode haver dificuldades. “Muitos hospitais apresentam resistência à aceitação das liminares e só liberam o procedimento quando chega a autorização do plano”, conta o advogado Julius Conforti. Nesses casos, o paciente pode chamar a polícia. Outro direito garantido, mas que também pode exigir esforço de quem quer usufruí-lo, é o acesso aos medicamentos de alto custo. Não é raro que o estoque dos postos de distribuição não esteja abastecido. “Mas, apesar dessas dificuldades, estamos avançando”, diz o advogado Conforti.
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Montagem sobre foto de shutterstock. Fotos: Kelsen Fernandes; João Castellano/Ag. Istoe; Kelsen Fernandes; Orestes Locatel

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Greve das federais afeta atendimento em pelo menos 16 hospitais públicos


Fernanda Bassette e Ocimara Balmant
Vários hospitais decidiram não fazer novos agendamentos por tempo indeterminado - Fabio Motta/AE
Fabio Motta/AE
Vários hospitais decidiram não fazer novos agendamentos por tempo indeterminado
 A greve de professores e técnicos das universidades federais, que já dura 42 dias, deixou de ser um problema exclusivo da educação e passou a afetar também a saúde. Isso porque ao menos 16 hospitais públicos vinculados a essas universidades suspenderam parte do atendimento. 

Embora o atendimento de urgência e emergência continue sendo realizado pelos hospitais, vários deles cancelaram consultas e cirurgias eletivas e decidiram não fazer novos agendamentos por tempo indeterminado.

O Estado ligou para as 42 universidades federais que possuem cursos de medicina e que, teoricamente, têm um hospital universitário vinculado. Todas estão em greve, mas nem todas possuem hospital próprio.

O Hospital de Clínicas vinculado à Universidade Federal do Paraná (UFPR), por exemplo, informou que a greve atingiu diversos serviços, principalmente na área de exames de diagnóstico. Desde segunda-feira, a unidade suspendeu todas as consultas ambulatoriais agendadas – assim, 1,3 mil pacientes deixarão de ser atendidos diariamente.

A medida foi necessária, segundo o hospital, porque a não realização dos exames de diagnóstico impossibilitam o acompanhamento correto do paciente ambulatorial. Ao todo, cerca de 770 exames por dia não estão sendo feitos, entre eles raio-X, tomografia, ultrassom, endoscopia e de análises clínicas.
O Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio Grande (Furg) também está com o atendimento reduzido: só funcionam as UTIs os serviços de urgência e emergência.

Helena Vaghetti, diretora-geral do hospital, diz que o atendimento ambulatorial está sendo feito parcialmente – 40% das consultas foram canceladas e são priorizados os casos graves.

Cirurgias eletivas também estão suspensas – o local fazia ao menos 200 procedimentos cirúrgicos por mês. Os exames dos pacientes internados são feitos por meio de um rodízio dos profissionais, para que o serviço não seja totalmente interrompido.

“As equipes de médicos e enfermeiros estão se revezando para dar conta do atendimento. A gente está negociando com o comando de greve para que eles entendam que o hospital é um serviço essencial que não pode ser interrompido”, diz Helena.

Sem atender. A situação no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (UFS) também é preocupante. Segundo Ângela Maria da Silva, diretora-geral, o hospital está funcionando com apenas 30% da capacidade. “A greve nos afetou substancialmente”, afirmou.

A unidade realiza cerca de 10 mil consultas por mês. As consultas estão suspensas e só pacientes que recebem medicamento de uso contínuo estão sendo atendidos (casos de epilepsia, aids ou doenças psiquiátricas). Das quatro salas cirúrgicas, apenas uma está funcionando e dos 20 leitos, apenas sete estão ocupados. “Essa greve terá um impacto imenso no atendimento. Até o final do ano estamos com a agenda comprometida. Se a greve entrar no mês de julho, com certeza teremos impacto no ano que vem”, afirmou Helena.

O hospital vinculado à Universidade Federal de Alagoas (Ufal) também já enfrenta problemas por conta da greve. Um acordo com os grevistas mantém o atendimento das urgências, mas a marcação de novas consultas e cirurgias eletivas estão suspensas. O problema é que a agenda de cirurgias já está cheia até o final deste ano e a não realização das eletivas provocará um impacto no atendimento em 2013.

No Hospital de Clínicas vinculado à Universidade Federal da Bahia (Ufba) – que atende cerca de 22 mil pessoas por mês em consultas eletivas – a situação é semelhante: desde o início do mês a unidade não está fazendo novos agendamentos de consultas e cirurgias. Por enquanto, os funcionários do hospital estão se revezando para garantir o atendimento do que já estava previamente agendado.

Impacto. Em Campina Grande, na Paraíba, o hospital ligado à universidade cancelou as consultas que seriam realizadas por professores da instituição. “Das oito mil consultas que realizamos ao mês, apenas mil são efetuadas pelos professores em greve, então o impacto não é tão grande”, diz a diretora geral do Hospital Universitário Alcides Carneiro, Berenice Ferreira Ramos. Segundo ela, “como a greve e seus motivos estão sendo muito divulgados, a população está entendendo a causa”.

No estado vizinho, a pró-reitora de gestão de pessoas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Miriam Dante dos Santos, explica que a paralisação de metade dos 1.200 funcionários dos 4 hospitais vinculados à instituição vai ser sentida pela população a partir da próxima segunda. 
“Até agora, negociamos com o comando de greve para que consultas e cirurgias agendadas fossem realizadas. Mas, em julho, isso não mais acontecerá. Num Estado como o nosso, em que a situação da saúde já não é boa, essa greve vai fazer muita diferença na vida das pessoas.”

Por lá, só serão mantidos os serviços de urgência: UTI, pronto atendimento das maternidades e cirurgias de alta complexidade.

Em Recife, o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que realiza cerca de 20 mil consultas e 470 cirurgias ao mês, cancelou consultas e cirurgias por conta da greve de professores e funcionários. Estão mantidos apenas os procedimentos de urgência para os pacientes que já estão internados e as consultas de pré-natal de alto risco, oncológicas, asma grave e crianças com alergia alimentar. (COLABOROU LUIS CARRASCO)

quinta-feira, 28 de junho de 2012

A cerveja sem álcool tem benefícios para os corredores?



(Foto: Thinkstock)
Já sabemos que uma alimentação saudável ajuda a ficar em paz com a balança e promove a boa saúde. Muitos especialistas apontam os fenóis como potentes antioxidantes e com propriedades antiinflamatórias. De fato, muitos nutricionistas prescrevem suplementos e alimentos ricos em polifenóis, justamente para prevenir o aparecimento de aterosclerose (acúmulo de gordura nas artérias do coração), câncer e diabetes.
Um fato que considero curioso: bebidas alcoólicas contém diversos compostos não alcoólicos com propriedades extremamente saudáveis.  Por exemplo, foram identificados mais de 50 tipos diferentes de polifenóis na cerveja. Alto lá! Não estou recomendando o consumo de bebidas alcoólicas.
Um recente estudo1 conduzido por pesquisadores alemães (por razões óbvias) investigou se a ingestão de cerveja sem álcool por 3 semanas antes e duas após a Maratona de Munique ajudaria a reduzir todo o processo inflamatório e a incidência de doenças do trato respiratório que comumente ocorrem após uma prova tão extenuante. Um grupo de 58 corredores do sexo masculino que não tomavam nenhum tipo de medicamento foi instruído a ingerir entre 1 e 1,5 litro de cerveja sem álcool por dia. Um outro grupo de maratonistas (63) ingeriu uma bebida com os mesmos ingredientes da cerva sem álcool, exceto os polifenóis. Os resultados?
Como podemos visualizar no gráfico acima, o nível de inflamação imediatamente após o término da maratona foi bem inferior para o grupo que ingeriu a cerveja sem álcool por três semanas antes da Maratona de Munique. Outro resultado impressionante: o número de participantes que ficaram doentes após os 42km foi praticamente O DOBRO (100% maior) entre aqueles que NÃO ingeriram a cerveja sem álcool, rica em polifenóis. Houve algum efeito negativo? Apenas no grupo controle, com cerca de 3% dos participantes do estudo relatando problemas de ordem gastrointestinal.
A conclusão da pesquisa? O consumo de cerveja sem álcool (rica em polifenóis) nas três semanas que antecedem e também duas após a maratona ajuda a reduzir a inflamação pós-prova e também diminue o risco de ficar doente. Em outras palavras, cerveja faz bem para o maratonista. Mas atenção: desde que seja sem álcool!
1-    Scherr, J.; et. all. (2012). Nonalcoholic Beer Reduces Inflammation and Incidence of Respiratory Tract Illness. Medicine and Science in Sports & Exercise, Vol.44, No. 1, p.18-26.
Por Renato Dutra

Células-tronco gostam de passar fome



Thinkstock
Outro dia fui dar uma palestra sobre o impacto da genética nas nossas vidas e acabei falando sobre a nossa pesquisa sobre envelhecimento: o projeto 80mais. Quando terminei um senhor muito simpático me perguntou: “E o que devemos comer para envelhecer com saúde?” Comecei a rir. Infelizmente não tenho uma boa notícia. Todos os estudos recentes apontam não para o que comer, mas para deixar de comer, se queremos estender a vida. Já falei disso em colunas anteriores. Existem várias hipóteses para explicar como a restrição alimentar pode nos beneficiar e é claro quais seriam as alternativas. Isto é, viver muito sem passar fome. Em um trabalho recente, publicado na revista Nature, em maio, cientistas liderados pelo Dr. David Sabatini, nos Estados Unidos,  pesquisaram  como a restrição alimentar atua nas células-tronco do intestino. Segundo os autores, passar fome , aumentaria o número e  ativaria as células-tronco intestinais, pelo menos em camundongos.
O que os cientistas queriam investigar?
O laboratório coordenado pelo Dr. Sabatini dedica-se a pesquisas relacionadas com a regulação do crescimento e metabolismo em mamíferos. Sabemos que os tecidos no corpo são mantidos pelas células-tronco que têm a capacidade de se auto-renovar e diferenciar-se em tecidos específicos. Por outro lado, já foi demonstrado, em diversos organismos que a restrição calórica, preserva a longevidade. Entende-se aqui como restrição calórica, a diminuição da ingestão de calorias, porém mantendo-se uma nutrição adequada. Em algumas linhagens de  camundongos, pesquisas anteriores já haviam mostrado que a restrição calórica promove a formação de novos neurônios e previne a diminuição do número de células-tronco hematopoéticas com a idade. Na pesquisa que acaba de ser publicada, os autores quiseram  investigar como a restrição calórica atua em células-tronco intestinais denominadas “Paneth cells”.
O que são Paneth Cells ou células de Paneth?
Elas constituem as células principais que formam o “nicho” do epitélio do intestino delgado. Trabalhos anteriores haviam demonstrado que a perda das células de Paneth (CP)  causam  diminuição das células-tronco intestinais (CTI), enquanto a adição das CP em cultura ( “in vitro”) aumenta o potencial das CTI. Isto é, aparentemente as CP são “parceiras” importantes para as células-tronco intestinais.
Como foi feita a pesquisa?
Os camundongos do experimento foram submetidos a dieta hipocalórica por 4 a 28 semanas e comparados com um grupo controle que alimentava-se  sem restrições. No primeiro grupo houve uma perda de cerca de 20% na massa corporal. Obervou-se também uma diminuição na massa do intestino, mas ele manteve-se morfologicamente normal.
Qual foi o resultado  observado?
Os cientistas viram que a restrição alimentar  ocasionou a preservação e a auto-renovação das CTI. Observou-se também um aumento no número tanto das CTI como  das CP. Além disso, a restrição alimentar melhorou a regeneração do epitélio intestinal. Os cientistas também mostraram, em exprimentos subsequentes  que quando as CTI eram cultivadas junto com CP retiradas de animais que haviam sido submetidos a restrição alimentar , também ocorria ativação das células-tronco. Isto é, como verdadeiras parceiras, as células de Paneth estavam enviando uma sinalização positiva para as CTI. Algo assim: “Mexam-se, estamos com pouco alimento”.
Em resumo
Os autores demonstraram aqui , em uma nova pesquisa, que dieta hipocalórica preserva e aumenta o “pool “de células-tronco intestinais em camundongos. Essa é mais uma demonstração dos efeitos benéficos de “fechar a boca” mantendo-se  é claro uma nutrição balanceada. Depois de ler mais esse trabalho decidi que ao invés de jantar, só vou comer uma frutinha. Pelo menos hoje.
Por Mayana Zatz

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Descuido da família é principal causa de crise alérgica em crianças


Mesmo quando pais recebem instrução sobre como evitar o problema, a maioria das crianças tem, em média, um episódio de reação alérgica por ano

Leite
Alergia alimentar: pesquisa observou que 72% das crianças com alergia a leite ou a ovo apresentaram ao menos uma reação alérgica em um período de três anos (ThinkStock)
A maioria das crianças com alergia a determinados alimentos, mesmo quando suas famílias foram instruídas sobre como evitar o problema, sofre episódios de reação alérgica uma vez ano. Quando o caso é grave, apenas um terço desses jovens recebe o medicamento adequado para a reação. Essas são as conclusões de um novo estudo feito pelo Consórcio de Pesquisa em Alergia Alimentar, um grupo formado por especialistas da Faculdade de Medicina Mount Sinai, nos Estados Unidos. O trabalho foi publicado nesta segunda-feira na revista Pediatrics.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Allergic Reactions to Foods in Preschool-Aged Children in a Prospective Observational Food Allergy Study

Onde foi divulgada: revista Pediatrics

Quem fez: David Fleischer, Tamara Perry, Dan Atkins, Robert A. Wood, Stacie M. Jones, Alice K. Henning e Donald Stablein e Scott Sicherer

Instituição: Faculdade de Medicina Mount Sinai, nos Estados Unidos

Dados de amostragem: 512 crianças com alergia a leite ou a ovo

Resultado: Mesmo quando as famílias foram instruídas sobre a alergia das crianças, 72% apresentaram reações alérgicas ao longo de três anos, sendo que 11% foram graves. Nesses casos, somente 30% das crianças receberam o medicamento adequado
O trabalho se baseou em dados de 512 crianças que tinham alergia a leite ou a ovo. Todas as famílias tinham recebido instruções sobre quais alimentos deveriam ser evitados pelas crianças e prescrições dos medicamentos que deveriam ser aplicados em caso de reação alérgica. Após acompanharem as crianças durante três anos, os pesquisadores observaram que 72% delas tiveram ao menos uma reação alérgica nesse período, com uma média de um episódio por ano. De acordo com os autores, essas reações foram atribuídas à falta de supervisão, má interpretação das informações nas embalagens dos alimentos, contaminação cruzada e erros cometidos durante a preparação dos alimentos.
A pesquisa também mostrou que, entre todas as crianças que apresentaram alguma reação alérgica, 11% tiveram anafilaxia — um quadro grave de reação caracterizado por problemas como inchaço da garganta, tontura e desmaio. Desses casos, apenas 30% das crianças receberam o medicamento adequado. Segundo o estudo, os pais que não administraram a droga por medo, não reconheceram a crise como sendo grave ou não tinham a droga disponível no momento da crise.
“Esse estudo reforça a importância de educar os pais e as outras pessoas que cuidam das crianças sobre como evitar reações alérgicas graves provocadas por alimentos, bem como quais são os medicamentos adequados para episódios como esses”, diz Scott Sicherer, que coordenou a pesquisa.
Clique nas perguntas abaixo para saber mais sobre alergia infantil:


*O conteúdo destes vídeos é um serviço de informação e não pode substituir uma consulta médica. Em caso de problemas de saúde, procure um médico.

11 pesquisas inovadoras de combate ao câncer


Avanços promissores foram apresentados nas conferências da Sociedade Americana de Oncologia Clínica e da Sociedade de Medicina Nuclear

Guilherme Rosa
Dois grandes congressos trouxeram, neste mês, uma série de descobertas e avanços contra o câncer, de novos métodos de diagnóstico ao tratamento da doença. O Congresso Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO, sigla em inglês) é a maior conferência sobre câncer de todo o mundo. Todos os anos, ela reúne especialistas que apresentam as mais novas pesquisas e possibilidades de tratamento contra a doença. Este ano, a reunião aconteceu entre os dias 1 e 5 de junho, em Chicago. "A intenção do encontro é apresentar os trabalhos mais promissores no tratamento do câncer. Grande parte do que usamos hoje em dia apareceu por lá", diz Solange Moraes Sanches, oncologista clínica do Hospital A. C. Camargo, em São Paulo, um dos principais do Brasil no tratamento do câncer.
Já o congresso anual da Sociedade de Medicina Nuclear aconteceu entre os dias 9 e 13 de junho, na Flórida. Ali, foram mostrados os mais novos avanços no campo, com foco no uso de substâncias radioativas no combate e diagnóstico de doenças. Neste ano, muitas das novidades apresentadas tinham foco no campo do câncer. Por enquanto, muitas dessas descobertas ainda estão sendo assimiladas pelos médicos, mas em pouco tempo estarão disponíveis para os pacientes. Segundo o oncologista clínico Milton José de Barros e Silva, do Hospital A. C. Camargo, a maioria dessas pesquisas sinalizam que estamos entrando numa nova era do combate à doença. "Historicamente, todos os tratamentos eram voltados a combater diretamente o câncer. Agora estamos voltando nossa atenção para os mecanismos por trás da doença e na sua relação com os pacientes", diz o médico. "O futuro são drogas cada vez mais direcionadas a mutações específicas no tumor e com menos efeitos colaterais."
Conheça as principais pesquisas apresentadas nos dois congressos:

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Nova droga usa o sistema imunológico do paciente para combater o câncer

O que diz a pesquisa: Usando uma substância chamada BMS-936558, cientistas conseguiram usar o próprio sistema imunológico de alguns pacientes contra o tumor que estavam desenvolvendo. Normalmente, o câncer consegue se disfarçar e não ser atacado pelas nossas células de defesa. Um dos métodos utilizados pelas células cancerígenas para passar despercebidas é pela ação de uma proteína chamada PDL1, que se comunica com uma outra proteína presente em nossos glóbulos brancos, a PD1. A nova droga impede essa comunicação, e faz com que essas células de defesa ataquem o tumor.
Como foi feita: O remédio foi administrado a 76 pacientes com câncer de pulmão de células não-pequenas, o tipo mais comum da doença. Em 18% dos casos, o tumor diminuiu ou parou de crescer. De 33 pacientes com câncer nos rins, 27% também responderam ao tratamento, e de 94 que tinham melanoma, 28% apresentaram melhoras.
Porque é importante: A pesquisa ainda é inicial, mas já se mostra promissora – são os melhores resultados conseguidos com algum tratamento de imunoterapia até hoje. Particularmente importantes foram seus efeitos nos pacientes com câncer de pulmão, que sempre se mostraram resistentes a esse tipo de tratamento.
Opinião do especialista: Milton José de Barros e Silva, oncologista clínico do Hospital A. C. Camargo
"É uma pesquisa inicial, mas sem sombra de dúvida bastante estimulante, pelas perspectivas futuras que abre. Seu mecanismo de ação é inteligente e ela apresenta bons resultados preliminares."
"A célula que podia destruir o câncer é o linfócito T. O problema é que quando ela chega no tumor, existe uma substância que desliga o linfócito. O que essa droga faz é se ligar no linfócito e cobrir esse botão de desligar. No entanto, o tratamento não é isento de efeitos colaterais. O sistema imunológico também pode atacar os tecidos saudáveis."
"A área da imuno-oncologia está em franca expansão. Ela não está voltada ao desenvolvimento de drogas contra o câncer, mas em drogas que estimulem o sistema imunológico contra os tumores. Hoje, já temos uma droga deste tipo em uso: a Anti–CTLA-4. Ela já foi aprovada nos Estados Unidos, e está sendo analisada pela Anvisa."

terça-feira, 26 de junho de 2012

Vendas de genéricos crescem 34% de janeiro a maio

Vendas somaram R$ 4,2 bilhões, em comparação com os R$ 3,1 bilhões registrados no mesmo período do ano passado

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As vendas de medicamentos genéricos nos cinco primeiros meses do ano tiveram forte expansão, movimentando R$ 4,2 bilhões, segundo a IMS Health. Este montante representa um crescimento de 34% ante os R$ 3,1 bilhões registrados no mesmo período do ano passado. Em unidades, o crescimento foi de 21,2%, totalizando 264 milhões.
Até maio, a participação de mercado dos genéricos em unidades superou os 26%, ante os 24,4% acumulados nos cinco primeiros meses de 2011. Em valores, também se constatou aumento. De janeiro a maio de 2011, a participação dos genéricos era de 19,9%; no mesmo período deste ano saltou para 22,3%.
Mais remédios vendidos
O mercado farmacêutico total também vem crescendo frente aos cinco primeiros meses de 2011, porém em ritmo inferior ao dos genéricos. O conjunto da indústria registrou vendas de pouco mais de 1,02 bilhão de unidades no período, ante 921,6 milhões de janeiro a maio de 2011, fechando com alta de 11,7%. Em valor, houve avanço de 17,8% no período. As vendas totais foram de R$ 19,4 bilhões ante R$ 16,5 bilhões registradas de janeiro a maio do ano passado.
Segundo a presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (PróGenéricos), Telma Salles, o setor deve bater a marca de 30% de participação de mercado ainda este ano. "Neste ano teremos crescimento acima de dois dígitos, superando o desempenho do restante do setor farmacêutico e bem acima da expectativa que se tem em torno do PIB", afirmou, por meio de nota.
Em razão do crescimento do mercado de genéricos, a Associação Brasileira dos Distribuidores de Laboratórios Nacionais (Abradilan) prevê mais investimentos para este ano. A ampliação dos centros de distribuição e qualificação da equipe são metas para que melhorem seu desempenho nas mais de 71 mil farmácias e drogarias existentes no País. De acordo com enquete realizada pela entidade, 38,9% pretendem investir na ampliação do Centro de Distribuição e qualificação da equipe. Separadamente, 33% vão investir na qualificação da equipe, enquanto 16,7% pretendem investir somente na ampliação dos centros.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Crack, um plano imperfeito

Apenas quatro estados brasileiros aderem a plano nacional de enfrentamento à drogadição. Resistência nasce de discordância com programas de saúde empregados pelo governo
  Diego Antonelli
Seis meses após ter sido lançado, o Plano Nacional de Enfretamento ao Crack mobilizou até o momento apenas quatro estados, que assinaram termos de cooperação com o governo federal. O Paraná está fora da lista. Rio de Janeiro, Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do Sul são os únicos que oficializaram adesão ao programa “Crack, é possível vencer”.
O número de adesões representa a metade do estabelecido como meta pela União até junho deste ano. O atual plano, lançado em dezembro do ano passado, foi o segundo programa de combate à epidemia do crack lançado no país em um intervalo de dois anos. A previsão é de que sejam investidos R$ 4 bilhões até 2014, com ações estruturadas em três eixos: tratamento, prevenção e policiamento.
Os eleitos
Plano do governo reserva R$ 103 milhões para o Rio Grande do Sul
A primeira adesão ao plano “Crack, é possível vencer” foi de Pernambuco, em abril deste ano. O estado irá receber R$ 85 milhões até 2014. Em seguida, aderiram ao projeto Alagoas, que receberá investimento de R$ 37 milhões; Rio de Janeiro, que terá repasse de R$ 240 milhões; e Rio Grande do Sul, que terá investimentos de R$ 103 milhões.
Por meio do projeto, o Rio Grande do Sul – o único estado do Sul que formalizou a adesão – terá, até 2014, sete novos Caps-AD 24 horas, qualificação de outros 14; 28 unidades de acolhimento, sendo 20 destinadas ao público adulto e 8 para o público infantil; 242 leitos em enfermarias especializadas; e 19 consultórios nas ruas. Todos os equipamentos representam 548 novos leitos no estado.
Paraná não adere a plano, mas tem parte nos repasses
O Paraná ainda analisa a adesão ao programa de combate à epidemia do crack. A expectativa é de que a formalização aconteça ainda neste ano. No entanto, a coordenadora do Comitê Interssecretarial de Saúde Mental do governo estadual, Larissa Sayuri Yamaguchi, explica que o fato de o Paraná não ter formalizado o ingresso no plano não impede que ocorram repasses.
“O fato de não termos aderido não traz efeitos negativos em termos de investimentos. Isso porque, independentemente da adesão, os recursos podem ser solicitados à União”, explica Larissa. Segundo ela, o principal diferencial do programa é a construção dos Caps-AD III, que funcionam 24 horas. “O Paraná tem projetos que estão sob análise para a implantação de três Caps-AD, em Curitiba, em Piraquara e em Guarapuava”, explica.
Larissa avalia que com a política nacional de combate ao crack o estado tenha mais verbas e recursos para tratar os dependentes químicos. “Estamos no processo de melhoria da estrutura estadual, complementando as ações do plano nacional”, diz.
Segundo o Ministério da Saúde, o Paraná já foi contemplado com R$ 7,5 milhões oriundos do plano “Crack, é possível vencer”. O governo informa que está investindo no eixo de prevenção, com a capacitação de professores da rede pública de educação e também na capacitação de agentes de saúde. O ministério ressalta que, mesmo não tendo a adesão formal ao programa, todos os estados podem enviar projetos para participar do plano.
Estrutura
O Paraná conta hoje com 94 Caps, 76 núcleos de apoio à saúde da família, dois consultórios de rua, 54 ambulatórios especializados em saúde mental, 489 vagas em hospital-dia, 211 leitos em hospitais gerais e 2.404 leitos em hospitais psiquiátricos. Está em fase de implantação, de acordo com o Ministério da Saúde, mais um consultório de rua e três residências terapêuticas para serem instalados no estado.
O plano anterior, de maio de 2010, tinha um programa baseado nos mesmos eixos, mas com uma quantia menor destinada a ações de combate à droga: R$ 400 milhões. O governo estima que a epidemia do crack atinja aproximadamente 1,5 milhão de pessoas em pelo menos 91% das cidades brasileiras.
O montante destinado aos quatro estados que já aderiram ao programa totaliza R$ 465 milhões, a ser repassado até 2014, correspondendo a 12% do valor total projetado. Para especialistas, o número é considerado aquém do necessário. “No papel, o programa é muito bom. O problema é a falta de gestão. Esse programa ainda não decolou”, afirma o sociólogo Luiz Flávio Sapori, especialista em Segurança Pública e autor do livro Crack, um desafio social.
Segundo Sapori, faltam estruturas de gestão e técnica para o assunto. “O governo lançou um programa que até agora não teve resultados. Se continuar dessa forma, infelizmente será um fiasco”, lamenta. Visão semelhante tem o médico psiquiatra Dagoberto Requião, diretor do Hospital Nossa Senhora da Luz, em Curitiba. Apesar do programa específico para combater o crack, ele considera que pouco se pode esperar do projeto. O fato de o governo apostar muito na cura da epidemia por meio de atendimentos em Centros de Atenção Psicossocial para atendimento 24 horas, os Caps-AD III, e em enfermarias especializadas nos hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS), desperta dúvidas sobre a eficácia do projeto. Segundo o governo federal, o plano prevê a criação de 3.508 novos leitos em enfermarias e 1,4 mil novas vagas em Caps-AD.
“O tratamento nesses locais [os Caps] é muito relativo. Isso é reflexo da premissa equivocada do fechamento de leitos em hospitais psiquiátricos (resultado da Lei da Reforma Psiquiátrica, de 2001). Precisaria de um espaço próprio para o internamento dos usuários”, ressalta Requião.
O médico psiquiatra Flávio Falcone, especialista na área, considera que a internação não é o melhor caminho. Ele defende que ocorra a internação somente para casos de desintoxicação, em um período médio de 15 a 30 dias. “A internação por um tempo prolongado não se mostra eficiente. Temos de tratar também os outros males que a droga provoca, como os transtornos mentais. É necessário pensar em outras formas de atendimento que não seja a internação”, avalia.
Falcone acredita que, apesar dos percalços, o plano poderá dar mais estrutura ao combate ao crack. “A tendência é de que com o programa tenhamos melhores condições para tratar o vício. Isso é o que a sociedade espera”, diz.
Em dúvida, governo beneficia segurança pública e não a saúde
No ano passado, a área de segurança foi a mais beneficiada com recursos do plano anterior de combate ao crack – foram compradas viaturas, cartuchos de munição e armas, por exemplo, em um investimento de R$ 80 milhões. A saúde ficou com apenas R$ 78 milhões em todo o país.
Para o sociólogo Luiz Flávio Sapori, da PUC de Minas Gerais, essa inversão é um grande erro que não pode se repetir no atual plano. “Para tratar a epidemia do crack é necessário tratar em primeiro lugar a saúde. A expectativa é de que a prevenção e o tratamento sejam priorizados. A segurança não merece tanto recurso comparado com o que a saúde recebeu”, ressalta.
O Ministério da Saúde informa que vai investir, até 2014, R$ 2 bilhões para implantação e ampliação dos serviços. O valor é metade do total que será investido no programa. O restante ficará à cargo da Justiça e da Educação.
De acordo com dados do governo, o Ministério da Saúde aumentou em R$ 213 milhões o teto financeiro dos 26 estados e do Distrito Federal para financiamento dos 1.793 Caps do país.

domingo, 24 de junho de 2012

Laser contra manchas

Novo aparelho promete acabar com as marcas amarronzadas que podem aparecer no rosto. Ou pelo menos atenuá-las

Cilene Pereira
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Um novo laser é a mais recente arma contra o melasma, mancha amarronzada que costuma aparecer nas bochechas e ao redor dos olhos e uma das mais difíceis de serem tratadas. Chamado Spectra Toning, o aparelho promete fazer desaparecer ou atenuar as marcas e recebeu
a aprovação do Food and Drug Administration, o órgão do governo americano responsável pela liberação de equipamentos voltados aos cuidados com a saúde.

O melasma é resultado do acúmulo de melanina no local. Produzida pelos melanócitos, a substância é o pigmento que dá cor à pele. Sua produção excessiva está relacionada a alguns fatores. O primeiro é o processo de envelhecimento natural. Outras razões são alterações hormonais e exposição solar anterior frequente sem proteção adequada. Mulheres grávidas também estão sujeitas ao seu aparecimento.

Até agora, os tratamentos indicados eram os peelings e a utilização de cremes clareadores. Os laseres disponíveis até a chegada do Spectra não apresentavam resultados animadores. Uma das razões é que o combate à mancha não pode ser agressivo, sob o risco de os melanócitos reagirem ainda mais, produzindo maior quantidade de melanina. E os tipos de laser tentados apresentavam essa possibilidade. “Com o Spectra, usamos baixas potências, com pulsos extremamente rápidos”, explica a dermatologista Mônica Aribi, de São Paulo. “Isso não causa aquecimento na pele. Portanto, ela não precisa se ‘defender’ formando mais melanina.” Mônica é uma das especialistas que já usam o aparelho. “Há melhora da pigmentação geral da face”, conta.

O laser teria uma ação sobre os melanócitos que reduziria as chances de recidiva do problema. Mas para alcançar os resultados prometidos, são necessárias dez sessões, de 20 minutos cada, realizadas semanalmente.
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Gasto do SUS com motociclistas cresce 113% em três anos

Levantamento do Ministério ainda mostrou que taxa de mortalidade de motociclistas superou a de pedestres e a de motoristas

Trânsito Acidentes de trânsito: atendimento a motociclistas dobrou em quatro anos (Luiz Guarnieri/AE)
O número de atendimento a motociclistas dobrou em um período de três anos no Brasil, elevando os gastos com esse tipo de atendimento em 113% de 2008 a 2011. Os dados fazem parte de um levantamento inédito do Ministério da Saúde divulgado nesta quarta-feira. O trabalho ainda mostra que, pela primeira vez, a mortalidade de motociclistas em acidentes supera a de pedestres e a de motoristas.
Segundo o estudo, o gasto com internações por acidentes com motociclistas pagas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) passou de R$ 45 milhões em 2008 para R$ 96 milhões em 2011. O crescimento dos gastos acompanha o aumento das internações, que saltaram de 39.480 para 77.113 hospitalizados no período.

De 2008 a 2010, o número de mortes por este tipo de acidente, de acordo com o levantamento, aumentou 21% — de 8.898 para 10.825 óbitos. Com isso, a taxa de mortalidade cresceu de 4,8 óbitos por 100 mil habitantes para 5,7 por 100 mil no período, superando as taxas de mortes de pedestres (5,1 óbitos por 100 mil habitantes) e de motoristas de carros, ônibus e caminhões (5,4 óbitos por 100 mil habitantes).

Vítimas jovens — Os dados levantados apontam que os jovens são as principais vítimas. Cerca de 40% dos óbitos estão na faixa etária de 20 a 29 anos. Os homens representaram 89% das mortes de motociclistas (9.651 óbitos) em 2010.

Além do crescimento de fatores de risco, como excesso de velocidade e consumo de bebida alcoólica antes de dirigir, o incremento na frota de veículos também é citado como motivo para o aumento do número de acidentes, segundo o Ministério. A frota de motocicletas foi ampliada em 27% — de 13.079.701 para 16.622.937 veículos — no período, o que elevou a proporção, diante do total de veículos, de 24% para 25,5%.

Em São Paulo, motociclistas são 70% das vítimas de acidentes de trânsito atendidos no Hospital das Clínicas

Um estudo feito no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo divulgado também nesta quarta-feira mostrou que, no hospital, o nível dos traumas dos pacientes que sofreram acidentes graves aumentou em 20%.

De acordo com o ortopedista e coordenador do Grupo de Trauma do Hospital das Clínicas Kodu Kojima, os pacientes graves são considerados aqueles que chegam ao atendimento com mais de uma fratura, uma fratura e uma lesão no crânio, no tórax ou no abdômen, ou uma fratura muito grave. O médico explica que mais de 90% desses pacientes que chegam ao HC sofreram algum acidente de trânsito, e que só os motociclistas representam 70% dessas vítimas.

Para Kojima, esses números são um reflexo do aumento do número de motociclistas em São Paulo, de acidentes no trânsito e também da melhora dos serviços de emergência. "Antes, grande parte das vítimas que sofriam fraturas graves morria antes de receber o atendimento, nem chegava ao hospital", diz o ortopedista. "Acidentes de moto provocam, em grande parte, fraturas nos membros inferiores, como fêmur, pernas e pelvis".
O médico ainda explica que, como motociclistas estão muito mais desprotegidos do que os motoristas de carro, as fraturas tendem a ser piores e eles podem ter de permanecer por mais tempo internados — o que ajuda a explicar o aumento dos gastos com atendimentos a esses pacientes.
(Com Agência Estado)

sábado, 23 de junho de 2012

Empresa de genoma dos EUA identifica seis variações genéticas associadas à calvície precoce


Duas das variantes descobertas também estão relacionadas ao câncer de próstata e uma, à doença de Parkinson

Calvície
Calvície de início precoce: das seis variações genéticas relacionadas ao problema identificadas por novo estudo, uma também está associada à doença de Parkinson
A empresa americana 23andMe identificou seis novas variações genéticas associadas à calvíce masculina de início precoce. O estudo, publicado neste mês no periódico PLoS Genetics, mostrou que duas dessas variantes também estão relacionadas ao câncer de próstata e uma, à doença de Parkinson.

Saiba mais

Anne Wojcicki, em evento da empresa 23andMe, em Nova York
Anne Wojcicki, em evento da 23andMe, em Nova York
23andME
A empresa de genoma pessoal do Vale do Silício foi fundada por Anne Wojcicki, que é casada com um dos fundadores do Google, Sergey Bin, e sua sócia, Linda Avey. O nome 23andMe se refere aos 23 pares de cromossomos que um ser humano tem e que carregam o nosso material genético. Inicialmente, as pessoas pagavam 999 dólares para que, a partir de suas salivas, tivessem seus DNAs sequenciados. Em 2008, no lançamento europeu da empresa, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, as personalidades presentes no evento, como Naomi Campbell, Thomas Friedman e Peter Gabriel, foram convencidas a cuspirem em um tubo esterilizado para terem seu genoma codificado.
Participaram da pesquisa aproximadamente 90% dos 150.000 clientes da empresa americana. Os autores do trabalho combinaram as informações genéticas dos indivíduos e compararam os dados dos homens que apresentaram calvície precoce com os daqueles que sofreram perda de cabelo quando mais velhos ou então que perderem pouco ou nenhuma cabelo durante a vida.
'Mapear genoma será tão rotineiro quanto exame de raio-X'
A partir dessas informações, além de identificarem seis variações genéticas associadas à calvície de início precoce, os pesquisadores mostraram que dois desses genes — o HDAC4 e o HDAC9 — também regulam hormônios associados ao surgimento do câncer de próstata. “A calvície e o risco desse câncer já haviam sido relacionados anteriormente por outros estudos, e o nosso trabalho ajuda a explicar esses achados”, diz o pesquisador David Hinds, que faz parte da equipe da 23andMe.

Descoberta pode ajudar a acabar com a calvície
O estudo também descobriu que uma das variações identificadas ocorre na região do cromossomo 17, que já havia sido associada à doença de Parkinson. Segundo os pesquisadores, os homens envolvidos no trabalho eram mais propensos a relatar calvície e também doença Parkinson do que somente esta última condição isoladamente. “Nossos achados fornecem novas perspectivas para a patogênese da calvície de início precoce. Ao identificarmos as variações genéticas associadas à condição, destacamos a importância de estudos genéticos que estabeleçam outras associações entre a perda de cabelo e problemas de saúde em geral”, disseram os autores no artigo.

Clique nas perguntas abaixo para saber mais sobre calvície:


*O conteúdo destes vídeos é um serviço de informação e não pode substituir uma consulta médica. Em caso de problemas de saúde, procure um médico.