Médicos recriam, em animais, os tumores dos pacientes. O modelo é usado para testar os remédios mais eficazes para cada caso
Uma experiência pioneira no Brasil está sendo conduzida no
Hospital A C Camargo Cancer Center, em São Paulo. Lá, pacientes começam a
ter adicionado ao tratamento um recurso que vem sendo chamado de
“avatar do câncer”. Uma amostra do tumor de cada um é reproduzida e
cresce implantada em um camundongo, sob a pele ou no órgão
correspondente do animal, funcionando como um espelho da doença. Em
casos difíceis, a estratégia é valiosa. Por meio dela, os médicos podem
experimentar contra aquele tumor específico remédios que podem ser mais
eficazes e observar seu comportamento, inclusive agressividade, mas de
forma que o corpo do paciente fique preservado de eventuais prejuízos
que as tentativas possam trazer.
A aplicação clínica no A C Camargo começou há cerca de um ano e meio,
em pacientes com tumores tradicionalmente mais agressivos, como
melanoma (tipo de câncer de pele) e algumas variedades de tumor de rim.
“O trabalho é inicial, mas os resultados são muito interessantes”,
afirma a cientista Vilma Regina Martins, superintendente de pesquisas da
instituição, referência no combate à enfermidade no País. “Os resultados obtidos até agora são muito interessantes” Vilma Martins, cientista do AC Camargo Cancer Center
O que anima os médicos são especialmente as respostas que podem ser
observadas em relação aos medicamentos. No avatar são testadas
medicações novas, em geral com tempo de uso mundial insuficiente para
conclusões definitivas sobre sua eficácia de maneira generalizada. Além
disso, em muitos casos esses remédios funcionam muito bem para um
paciente, mas não dão resultado, ou pelo menos não tão bons, para outro,
apesar de o tipo de tumor ser o mesmo. “Os mini-tumores fazem parte da
oncologia de precisão. Quanto mais personalizado o tratamento, melhor”,
explica Luiz Henrique Araújo, presidente da Regional do Rio de Janeiro
da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica e pesquisador do Instituto
Nacional do Câncer. Em trabalho recente, o médico George
Vlachoginannis, do Instituto de Pesquisa do Câncer, de Londres, atestou a
eficácia do recurso. “Os modelos em animais funcionam como o tumor do
humano. Por isso, são muito eficientes para que possamos estimar as
reações dos pacientes”, disse à ISTOÉ. C.P.
Espelho perfeito Como são feitas as amostras • São extraídas células do tumor do paciente • São injetadas em camundongos, de preferência no órgão correspondente ao atingido no paciente
• Após um período variável, o animal desenvolve tecido tumoral bastante semelhante ao registrado no doente
Nenhum comentário:
Postar um comentário