terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Exercício protege contra o Alzheimer

Cientistas brasileiros descobrem como a prática de atividades físicas melhora a memória e até ajuda a restaurar as lembranças perdidas por causa da doença

Crédito: Shapecharge
EFEITO DIRETO Ferreira e seus colegas da UFRJ verificaram como nadar ou correr, por exemplo, estimulam a produção, no cérebro, da irisina, hormônio que ajuda na proteção dos neurônios
O exercício físico é considerado pela medicina um remédio natural contra infarto, acidente vascular cerebral, depressão e câncer. Mais recentemente, surgiram evidências dos benefícios para o cérebro, especialmente para conter a perda de memória e o declínio cognitivo que marcam a doença de Alzheimer. Na semana passada, pesquisadores brasileiros confirmaram os efeitos positivos da prática e foram além, mostrando o mecanismo pelo qual exercitar-se regularmente é uma boa forma de prevenção e de tratamento da enfermidade. Em artigo publicado na versão online da revista científica Nature Medicine, a equipe da Universidade Federal do Rio de Janeiro responsável pelo estudo mostrou que a explicação está na irisina, hormônio liberado durante a execução de exercícios. Ela protege o cérebro e restaura a capacidade de memorização perdida com o avanço da doença.
A informação trazida à luz pelos brasileiros é uma peça importante no enorme quebra-cabeça que o Alzheimer ainda representa para a medicina. Ele não tem cura, exame específico de diagnóstico ou um programa bem estabelecido de prevenção. Isso porque, como a maioria das enfermidades neurodegenerativas, sua origem e evolução têm causas complexas e difíceis de serem estudadas com os recursos disponíveis. O problema é que, com o envelhecimento da população, é urgente encontrar meios efetivos de preveni-la e de tratá-la. Hoje, há cerca de 35 milhões de pessoas no mundo com a doença — um milhão no Brasil. Em 2050, serão 135 milhões no planeta, o que a tornará um grande problema de saúde pública.
Mensageiro químico
A irisina ficou conhecida em 2012, quando o biólogo americano Bruce Spiegelman, da Universidade Harvard (EUA), a descreveu como um mensageiro químico produzido pelos exercícios. Veio daí a inspiração para o seu nome, o da deusa grega mensageira Íris. O hormônio transforma o tecido adiposo branco, que guarda energia em forma de gordura, em marrom. Este dissipa energia sob a forma de calor.
Sua descrição inspirou os cientistas brasileiros a estudar qual seria seu papel no cérebro. Foram sete anos de pesquisa envolvendo cobaias, amostras de cérebro extraídas de pacientes mortos e do líquido cefalorraquidiano coletadas de portadores. Eles chegaram a conclusões importantes: o exercício físico estimula a produção de irisina diretamente no cérebro, onde ela mantém preservadas as sinapses, os espaços entre os neurônios por onde trafegam os neurotransmissores (substâncias que fazem a comunicação entre as células nervosas). “Além disso, o hormônio provoca reações químicas dentro dos neurônios importantes para a memória”, explica Sérgio Ferreira, um dos autores do estudo. Todas essas funções protegem o cérebro da perda de capacidade de aprender e de armazenar informações e chegam a restaurar o que havia sido perdido.
Os dados podem embasar a criação de remédios contra a doença. Mas falta muito até lá. O próximo passo dos pesquisadores é compreender melhor a função do hormônio no cérebro. Depois, há ainda etapas de pesquisa em laboratório e, por fim, em humanos. Tudo isso levará anos. Porém, a informação de que o exercício pode prevenir e retardar a doença deve servir, já, como mais um estímulo para a sua prática. Não há um tempo estabelecido (as cobaias fizeram uma hora por dia de natação, durante cinco semanas), mas ao menos adotar a velha orientação de caminhadas diárias de 20 minutos, por exemplo, é um bom começo.

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