Anvisa convocará consulta popular sobre a liberação do plantio e da produção de medicamentos à base de maconha. O cultivo individual continuará proibido
PESQUISA Uso
de maconha para tratamentos de saúde se dissemina em diversos países. O
Brasil, ouvida a opinião popular, seguirá ou não o mesmo caminho
(Crédito: Sezeryadigar)

Para as associações pró-cannabis, a decisão da Anvisa representa um
pequeno avanço, mas está longe de ser uma solução. “A decisão dessa
semana é só o início do debate, mas é muito importante que o tema,
sempre tratado como um tabu, seja discutido cientificamente”, afirma
Patrick Ferrer, diretor jurídico da Associação Brasileira dos Usuários
de Canabidiol (Abuc). O principal problema identificado na medida é que a
Anvisa não libera o cultivo individual ou o associativo e privilegia os
interesses da indústria farmacêutica e a plantação exclusivamente em
lugares fechados – a rigor, tal precaução está correta, porque seria
impossível fiscalizar o plantio indiscriminado dessa planta. Tal
proposta só é defendida por radicais. “O passo dado pela Anvisa é muito
pequeno diante do tamanho da necessidade. O que precisamos é de um
acesso realmente democrático”, diz Maria Aparecida de Carvalho, de 51
anos, casada com Fábio e mãe de Clarian, de 16 anos, que sofre da
Síndrome de Dravet, uma epilepsia cujas convulsões são persistentes e
não cessam com terapias convencionais. Segundo a mãe, com o uso de óleo
de canabidiol, as crises de Clarian diminuíram 80% e passaram a ser
menos intensas.Plantio doméstico
O grande empecilho para o uso legal da maconha no tratamento de saúde, além das limitações legais, é o preço. Medicamentos à base de cannabis custam caro. No Brasil, o único disponível nas farmácias é o Mevatyl, registrado em outros países com o nome de Sativex, desenvolvido para o tratamento da esclerose múltipla. Ele inibe os espasmos causados pela doença. Uma embalagem de Mevatyl, registrado pela Anvisa no início de 2017, não sai por menos de R$ 2,5 mil. Para quem importa canabidiol, dependendo da quantidade que o doente necessita, o custo mensal pode superar R$ 1,5 mil. A proposta da Anvisa tem chances de ser aprovada, mas obstáculos devem aparecer. O principal adversário do uso medicinal é o próprio governo. O ministro da Cidadania, Osmar Terra, já declarou que a considera uma medida “irresponsável” da Anvisa. O governo deve trabalhar para atrasar a liberação da produção local, indicando um membro para uma vaga em aberto na diretoria da agência – o que de fato ele tem direito, assim como gestões anteriores. De todo modo, até na comunidade científica, existe um clima favorável ao uso medicinal da maconha.










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