Reação química em cadeia nos folículos capilares reduz produção de melanina. Descoberta pode até ajudar na prevenção do vitiligo
Rodrigo Craveiro
Da equipe do Correio
“Ninguém sofreu na vida o que eu sofri. As lágrimas sentidas, o meu sorriso franco. Refletem-se hoje em dia nos meus cabelos brancos.” A música Cabelos brancos, interpretada por Caetano Veloso, relaciona o fenômeno que dá nome à obra com o sofrimento. A aparência grisalha tornou-se inspiração para artistas e alimentou crenças populares: “se arrancados, eles nascem em dobro”; “eles surgem por causa do estresse”; entre outras. Também permitiu associá-la à sabedoria e a ser motivo de suspiros entre muitas mulheres, que a veem como símbolo sexual. A ciência não poupava esforços para responder por qual razão os fios negros dão lugar aos cinzentos. Uma das teorias atribuía o processo ao resultado de danos prolongados provocados pelos radicais livres — substâncias oxidantes envolvidas em doenças degenerativas e no envelhecimento. Outra tese culpava mecanismos genéticos.
Karin Schallreuter, do Instituto para Desordens Pigmentárias da Universidade de Bradford (Reino Unido), garante, enfim, ter decifrado o enigma. O estudo, elaborado em conjunto com as universidades alemãs de Manz e de Lübeck, foi publicado pela revista científica Faseb Journal. Por e-mail, Karin contou ao Correio que o segredo para os cabelos grisalhos está em reações químicas no interior dos folículos capilares. O embranquecimento dos cabelos é provocado por uma intensificação de peróxido de hidrogênio. “Esse composto químico oxida muitas enzimas importantes, incluindo a catalase (responsável por sua degradação) e a tirosinase (que controla a pigmentação)”, explicou a cientista.
A redução na catalase — enzima que fragmenta o peróxido de hidrogênio e o converte em água e oxigênio — leva ao acúmulo excessivo deste composto nos cabelos. A baixa quantidade de enzimas reparadoras MSRA e MSRB não consegue consertar o estrago provocado pelo excesso de peróxido de hidrogênio. Para piorar, o desbalanceamento químico transtorna a produção da tirosinase. Como a tirosinase é responsável pela produção de melanina (substância que dá pigmentação ao folículo capilar), alterações em sua fabricação determinam a perda de cor dos cabelos.
Perda
“Com o decorrer do tempo, as pessoas perdem enzimas e enfrentam um processo de oxidação”, comentou Karin Schallreuter. A especialista britânica acredita que uma degradação similar da melanina poderia ser a causa do vitiligo. Caracterizada pelo surgimento de manchas esbranquiçadas pelo corpo, a doença atinge cerca de 4% da população mundial. “Nós fizemos essa descoberta em analogia com nossa observação em longa duração do vitiligo e, com base nesses conceitos, podemos recuperar a cor da pele”, acrescentou. A compreensão sobre o mecanismo dos cabelos grisalhos ou brancos abre espaço para estratégias capazes de impedir esse cenário. Uma das soluções seria interromper a reação química em cadeia, o que poderia prevenir inclusive o vitiligo.
Rodrigo Craveiro
Da equipe do Correio
“Ninguém sofreu na vida o que eu sofri. As lágrimas sentidas, o meu sorriso franco. Refletem-se hoje em dia nos meus cabelos brancos.” A música Cabelos brancos, interpretada por Caetano Veloso, relaciona o fenômeno que dá nome à obra com o sofrimento. A aparência grisalha tornou-se inspiração para artistas e alimentou crenças populares: “se arrancados, eles nascem em dobro”; “eles surgem por causa do estresse”; entre outras. Também permitiu associá-la à sabedoria e a ser motivo de suspiros entre muitas mulheres, que a veem como símbolo sexual. A ciência não poupava esforços para responder por qual razão os fios negros dão lugar aos cinzentos. Uma das teorias atribuía o processo ao resultado de danos prolongados provocados pelos radicais livres — substâncias oxidantes envolvidas em doenças degenerativas e no envelhecimento. Outra tese culpava mecanismos genéticos.
Karin Schallreuter, do Instituto para Desordens Pigmentárias da Universidade de Bradford (Reino Unido), garante, enfim, ter decifrado o enigma. O estudo, elaborado em conjunto com as universidades alemãs de Manz e de Lübeck, foi publicado pela revista científica Faseb Journal. Por e-mail, Karin contou ao Correio que o segredo para os cabelos grisalhos está em reações químicas no interior dos folículos capilares. O embranquecimento dos cabelos é provocado por uma intensificação de peróxido de hidrogênio. “Esse composto químico oxida muitas enzimas importantes, incluindo a catalase (responsável por sua degradação) e a tirosinase (que controla a pigmentação)”, explicou a cientista.
A redução na catalase — enzima que fragmenta o peróxido de hidrogênio e o converte em água e oxigênio — leva ao acúmulo excessivo deste composto nos cabelos. A baixa quantidade de enzimas reparadoras MSRA e MSRB não consegue consertar o estrago provocado pelo excesso de peróxido de hidrogênio. Para piorar, o desbalanceamento químico transtorna a produção da tirosinase. Como a tirosinase é responsável pela produção de melanina (substância que dá pigmentação ao folículo capilar), alterações em sua fabricação determinam a perda de cor dos cabelos.
Perda
“Com o decorrer do tempo, as pessoas perdem enzimas e enfrentam um processo de oxidação”, comentou Karin Schallreuter. A especialista britânica acredita que uma degradação similar da melanina poderia ser a causa do vitiligo. Caracterizada pelo surgimento de manchas esbranquiçadas pelo corpo, a doença atinge cerca de 4% da população mundial. “Nós fizemos essa descoberta em analogia com nossa observação em longa duração do vitiligo e, com base nesses conceitos, podemos recuperar a cor da pele”, acrescentou. A compreensão sobre o mecanismo dos cabelos grisalhos ou brancos abre espaço para estratégias capazes de impedir esse cenário. Uma das soluções seria interromper a reação química em cadeia, o que poderia prevenir inclusive o vitiligo.
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