sexta-feira, 3 de abril de 2009

Infestação de dengue é maior do que ´alto risco´



Dos 116 bairros de Fortaleza, a dengue está presente em 74,4%, sendo que em alguns com situação de alto riscoEmbora os casos de dengue tenham triplicado de 2007 para 2008, neste ano não deve haver epidemia, segundo gestores da saúde. Contudo, há situações que preocupam, como a presença da doença em 74,4% dos bairros de Fortaleza, que só nestes três primeiros meses teve 677 casos confirmados. A situação é mais grave na Praia do Futuro, onde o índice de incidência por 100 mil habitantes é de 2.920,2, dado 11 vezes maior do que 250, que classifica o alto risco.Até 100, o índice é considerado de baixo risco; de 100 a 250, médio; e de 250 em diante, de alto risco. Assim como a Praia do Futuro, estão em situação gravíssima Cais do Porto (533,3), Conjunto Esperança (460,2), Centro (448,4) Jacarecanga (326,8) e Couto Fernandes (371,9). O cálculo é feito a partir do número de pessoas doentes em relação à população do bairro.Já a infestação na cidade, que é de 0,68, representa a quantidade de mosquito encontrada nas visitas às casas. O recomendável é 1%. Como informa Patrícia Facó, gerente da Vigilância Ambiental da Secretaria da Saúde do Município (SMS), nos bairros com mais de 1% a SMS aciona o setor de Educação e Saúde e dispara a operação “Quintal Limpo”, em parceria com lideranças comunitárias e a população. Em 2008, foram recolhidos de quintais 90 toneladas de lixo.Para Patrícia, é possível que o índice de infestação, medido a cada dois meses (o último é de janeiro), esteja maior devido às chuvas. Agora, embora com índice baixo, a preocupação persiste porque também há bairros com valores altos, como o João XXIII (3%). Significa que, de cada 100 residências visitadas pelos agentes de endemias, três apresentam foco.De acordo com ela, os bairros que necessitam de maior alerta são Jóquei Clube, Autran Nunes, Antônio Bezerra, Messejana, Grande Bom Jardim, Vicente Pinzón, Parangaba e Serrinha. A estrutura das residências e o saneamento precário ou inexistente são determinantes nesse processo. Em todos eles há casas à beira de mananciais e ruas sem qualquer pavimentação.“Como estamos em período de chuva, é uma guerra muito difícil, porque aumenta a proliferação de insetos em geral porque a umidade atmosférica está maior”, ressalta Patrícia, mestre em Patologia Tropical pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutoranda em Biotecnologia pela Universidade Estadual do Ceará (Uece).Na Capital, há 87 bairros com registros confirmados de dengue, segundo boletim epidemiológico divulgado semana passada, pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). Do total de casos, 200 ocorreram em crianças e adolescentes de zero a 14 anos e outros 232 no público de 20 a 34 anos.Evolução da doençaDesde o início dos anos 2000 a dengue se espalhou pela maior parte dos municípios cearenses. Em 1986, havia 65 municípios com infestação pelo Aedes Aegypti e 35 com transmissão de dengue. De lá para cá, os índice mais baixos foram em 1989, quando foram registrados 34 cidades com infestação e 13 com transmissão. Em 1994 surgiram as primeiras mortes por dengue hemorrágica, em três cidades.Desde 1986, os anos de maior epidemia da doença foram 1994 (47.789 casos), quando a incidência por 100 mil habitantes foi de 732,31, e 2008 (44.508), com índice de 533,93. Neste ano, a incidência está em 1,66.Até 1993, só existia, no Ceará, o sorotipo DENV-1 da doença. A partir de 1994, surgiu o sorotipo 2, que persiste até hoje e ganhou apoio do DENV-3 em 2002. O tipo um não está mais presente no Estado. Em 2009, ano de epidemia no Ceará, a incidência foi 100 mil habitantes chegou a 530,77 — neste ano está em 2,55. PREVISÃOSesa descarta epidemia da doença no Estado este anoProvavelmente não haverá epidemia de dengue no Ceará, neste ano. A estimativa é do coordenador de Promoção e Proteção à Saúde da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), Manoel Fonseca. Isso porque, nos três primeiros meses de 2008, o Ceará somava cerca de 10 mil casos. No mesmo período deste ano, foram confirmados 921. O problema é que o índice de incidência ainda é alto, de 2,25%, mais que o dobro recomendado pela Organização Mundial da Saúde — 1%.Segundo Fonseca, que é mestre em Gerenciamento de Sistemas Locais de Saúde pelo Instituto de Saúde da Itália, a Sesa está em constante discussão com os municípios acerca de estratégias de combate à dengue. No mês passado houve reunião com secretários de 34 municípios. A Secretaria capacita profissionais no Interior do Estado e faz cursos com médicos e enfermeiros.Além disso, se o município comprar telas para caixa d´água, o Estado cede 50% a mais para incrementar o trabalho. Por exemplo, se a prefeitura comprar mil metros, a Sesa adquire outros 500. Isso é feito desde o ano passado.O Estado dispõe, ainda, de 25 máquinas recuperadas para usar como fumacê. Em Fortaleza, também há apoio à borrifação seletiva. Na Capital há dez máquinas para isso.Na opinião de Manoel Fonseca, a consciência ambiental ainda é muito atrasada no País. “Tem que começar esse trabalho na escola, para levar consciência sanitária às crianças e informação para as pessoas mudarem de atitude”.Ele afirma que, para o caso de uma epidemia inesperada, a Sesa discute um plano de contingência que inclui ações em todo o Estado. Até porque é possível haver uma epidemia isolada em uma cidade.
Marta BrunoRepórter

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