terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Limpeza celular ajuda a nos tornar mais longevos

Começamos a envelhecer cedo. Aos 21 anos nosso corpo passa a eliminar mais células do que criá-las e a soma dessas unidades fundamentais de nosso organismo entra no negativo. Por dia, um adulto perde cerca de 1 bilhão de células. Não há ainda formas de interromper esse fenômeno, mas a busca pela sua reversão, dizem os cientistas, passa pela tentativa de desvendar o mecanismo de um processo natural em que as próprias células se encarregam de eliminar componentes problemáticos por meio de uma espécie de faxina: a chamada autofagia.

Neste processo de limpeza, ocorre a destruição de proteínas e elementos defeituosos e estressores da célula (ver quadro). Caso a autofagia não dê conta de eliminar o que afeta a função celular, a célula morre.

Estímulo

Alimentação e atividade física ajudam faxina A faxina promovida pela autofagia ajuda a conter o envelhecimento. Ao digerir mitocôndrias desgastadas, a célula se livra de estruturas que podem liberar radicais livres. Destruir componentes envelhecidos permite que as células funcionem melhor e se mantenham jovens mais tempo. A boa notícia é que tudo indica que há como dar uma forcinha nesse processo. Pesquisas feitas com camundongos na Universidade do Texas, nos EUA, provaram que a autofagia é estimulada com a prática de atividade física. Estudos em animais mostraram também que uma alimentação com restrição calórica ajuda no processo. Mesmo sem testes em humanos, esta é uma mensagem importante para quem tem uma dieta regrada e não deixa o corpo ficar parado. “Pessoas saudáveis, que praticam atividades físicas e controlam o peso e a taxa de colesterol podem equilibrar o processo de morte celular e ganhar um tempo a mais de juventude”, diz a pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo, Soraya Soubhi Smaili.

“A autofagia é um processo que ocorre dentro da célula. É uma autolimpeza, que ajuda a retardar a morte celular, o que pode diminuir a perda de células e equilibrar o nosso ‘saldo’ por um tempo maior”, explica a professora do Departamento de Farmacologia da Escola Paulista de Medicina (EPM) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro da Sociedade Internacional de Morte Celular Soraya Soubhi Smaili.

Conhecida desde a década de 60, a autofagia era encarada antes como um tipo de morte celular. Estu­­­dos sobre ela só passaram a ser desenvolvidos no início dos anos 90, quando os genes que controlam esse processo de digestão celular foram descritos. Só então, o verdadeiro papel do fenômeno começou a ser desvendado.

“Ainda não conhecemos completamente como a autofagia ocorre, mas percebemos que ela não tem papel de morte, mas de proteção e sobrevida de nossas células”, diz a professora da Unifesp.

Contra a degeneração

Manter as células vivas por mais tempo pode ser essencial para conter o avanço da degeneração causada por doenças como o mal de Parkinson e de Alzheimer, caracterizadas pelo acúmulo de proteínas malformadas nas células.

“Algumas pesquisas mostram que, quando a autofagia é estimulada com fármacos, aumenta a sobrevida dos neurônios, evita que eles entrem em processo de degeneração e permite que um maior número de células continue em funcionamento”, afirma Soraya.

O estímulo a esta autolimpeza ajudaria também a retardar a diabete – atenuando a resistência à insulina – e as doenças cardíacas, ao tornar mais lenta a perda de função e atividade dos órgãos. “Em quadros de isquemia ou enfarte, a autofagia é importante para a manutenção das células do músculo cardíaco. É uma forma de manutenção da vida”, diz o pesquisador da Univer­sidade Federal do Rio Grande do Sul Eduardo Cre­­­­monese Fillipi Chiela.

Células cancerígenas também se beneficiam

Da mesma forma que a autofagia ajuda células como os neurônios a sobreviver, ela pode auxiliar células doentes a se multiplicar. No caso do câncer, caracterizado como uma proliferação exagerada de células danosas, o processo de limpeza precisa ser controlado, pois este mecanismo de defesa faz com que o tumor resista aos tratamentos.

“Inibir a autofagia em células cancerígenas permitiria aumentar a sensibilidade para matá-las, mas ainda não existem remédios ou tratamentos específicos para agir nesse processo”, explica a pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo, Soraya Soubhi Smaili.

Pesquisa

Desde 2007, biomédicos do Ins­­­tituto de Biociências da Uni­­­versidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) tentam esclarecer como um composto conhecido resveratrol – bastante concentrado no vinho tinto – age de forma diferente em células sadias e em células cancerígenas responsáveis pelos tumores mais comuns e agressivos do sistema nervoso central, os gliomas.

O resveratrol protege as células saudáveis e mata uma parte das células tumorais. Por outro lado, o composto induz a autofagia no restante das células cancerígenas sobreviventes, o que as protege da morte.

“Cerca de 40% das células tumorais morrem logo no primeiro contato com o resveratrol. Queremos descobrir a influência da autofagia sobre os mecanismos de morte celular e tentar esclarecer e controlar a ação do resveratrol neste processo. Isto pode ser inovador no tratamento contra este câncer”, explica o biomédico e pesquisador da UFRGS na área de biologia celular e molecular de tumores cerebrais, Eduardo Cremonese Fillipi Chiela. O pesquisador analisou por quatro anos a ação do resveratrol em culturas de células de gliomas. O próximo passo é testar esse modelo em animais.

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