segunda-feira, 29 de julho de 2019

Sarampo tem prevenção

A vacina livra as pessoas da doença. Então, por que mesmo em lugares como São Paulo, onde as autoridades da saúde atuam com eficiência, a maioria da população não procura se proteger e acaba proliferando a contaminação?

Crédito: Divulgação
É caótico o quadro geral da saúde pública no Brasil, e deve-se isso, sobretudo, a ineficiência das autoridades que atuam nessa área no âmbito federal. Vem ocorrendo, no entanto, em estados e cidades cujos responsáveis agem com seriedade e rigor nesse campo, um fenômeno que nos leva à perplexidade, principalmente por ser fruto de um questionável comportamento de parte da população — aquela que se manifesta contrariamente ao método de imunização por meio de vacinas, sem que exista para tal atitude o menor embasamento científico. Vale observar, ainda, que tal repulsa à vacinação raramente se dá nos estamentos sociais mais carentes de recursos e informação, mas se manifesta, isso sim, nas classes sociais que possuem fácil acesso ao esclarecimento e melhores condições de vida. Nos últimos dias, na cidade de São Paulo vê-se um assustador aumento nos casos de sarampo, apesar de as autoridades que respondem pela saúde pública estarem cuidando corretamente do caso e disponibilizando à população fartos lotes de vacinas.
De meados de junho até a quarta-feira 24 a escalada da epidemia bateu na casa dos 1.034%. O público alvo da vacinação está na faixa etária entre os quinze e os vinte e nove anos, porque é composto de pessoas que já nasceram em uma época na qual essa grave doença estava erradicada no País — ou, pelo menos, sensivelmente enfraquecida. A meta de cobertura vacinal corresponde a três milhões de indivíduos, e há doses para se chegar a esse objetivo. Absurdamente, porém, não mais que cento e oitenta mil pessoas se vacinaram, frisando-se que até em estações do metrô instalaram-se postos e equipes. É como se fosse necessário implorar para que o chamado à prevenção seja atendido, quando está em jogo uma enfermidade que pode deixar graves sequelas, afetar o sistema neurológico e matar. “O público alvo é justamente o que menos está procurando os postos de vacinação”, diz a médica Marta Lopes, professora do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da USP
CUIDADOS Somente em relação ao público alvo, esperava-se vacinar três milhões de pessoas. Não mais que cento e oitenta mil foram aos postos de saúde (Crédito:WILLIAN MOREIRA/FUTURA PRESS)
Falsa ciência
A fábula de que vacina faz mal nasceu, por ironia do destino, em uma das mais conceituadas publicações científicas do planeta: a revista “Lancet”. Induzida a erro, ela publicou em 1998 um artigo do médico inglês Andrew Wakefield, associando vacinas ao autismo. Descobriu-se que Wakefiled agia em má fé, a revista desculpou-se, mas o fato é que movimentos contrários à imunização se alastraram na Europa, nos EUA e desembarcaram no Brasil. Na questão específica do sarampo, erradicado no País em 2016 e agora outra vez atuante (provavelmente a partir de navios infectados que ancoraram no porto de Santos, no litoral paulista, e do fluxo de aviões), só está imunizado naturalmente quem já o contraiu quando criança. Pressupõe-se que indivíduos com mais de sessenta anos estejam nessa situação, e os mais jovens não, porque quando nasceram o sarampo era “coisa do passado”. Na verdade, é uma moléstia do presente. E tem-se como se precaver. “A vacina é eficaz no mundo inteiro”, diz a professora Marta. No Brasil, no ano passado, foram notificados cerca de dez mil casos, e 2019 ameaça ser pior. Cabe às pessoas, que vivem em locais onde se fornecem vacinas, como São Paulo, cuidarem de si e de seus familiares — cuidados, aliás, que pais têm de exercer em ralação a filhos por força de lei.

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