sábado, 25 de dezembro de 2010

Nova técnica recupera pulmões para transplante

Uma técnica aprendida na Suécia pela equipe de cirurgia torácica do Instituto do Coração (Incor) pode ajudar a diminuir a fila de espera por um transplante de pulmão. Com o método é possível recuperar órgãos que hoje não podem ser transplantados. Apesar dos bons resultados, a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) ainda não autorizou o transplante de pulmões tratados.
O transplante de pulmão é dos mais difíceis de serem realizados - no primeiro semestre deste ano foram transplantados 99 corações e 34 pulmões no País (os dados do segundo semestre não estão fechados). Isso ocorre porque o órgão sofre com os traumas que levam à morte cerebral (condição que permite o transplante) e com o tratamento para tentar salvar o paciente.
O soro injetado para estabilizar a pressão arterial e manter os rins em funcionamento entra nos pulmões, congestionando-os. Como consequência, perdem a capacidade de oxigenar o sangue e têm de ser descartados.
"A técnica desenvolvida por Steen (o médico sueco Stig Steen) facilita a redução do edema. Ele criou uma solução que circula pelos vasos pulmonares e "atrai" o líquido que está nas células", diz o diretor do Serviço de Cirurgia Torácica do Incor, Fabio Jatene. Nos testes feitos no instituto, o nível de oxigenação no sangue que circula pelos pulmões tratados melhorou em média 150%.
Segundo Jatene, a técnica poderia dobrar o número de cirurgias realizadas no País. Em um ano, só o Incor realizou 30 transplantes de pulmão e recondicionou 24 órgãos. O Canadá, que também aprendeu o método sueco, transplantou 25 pulmões graças à técnica ao longo de um ano.
Procurada pelo Estado, a coordenadora da Conep, Gysélle Saddi Tannous, informou por e-mail que não teve tempo hábil para localizar o parecer sobre o trabalho do Incor. Mas relatou que a comissão "considerou de extrema relevância a nova técnica, pois, se fosse bem sucedida, poderá encurtar em muito a fila de espera por um pulmão".
Fila. É o caso de Isabela Hawthorne Matuck, de 14 anos, que espera por um pulmão há um ano e quatro meses. Portadora de fibrose cística, ela teve seu estado de saúde agravado em junho de 2009. Parou de frequentar a escola, deixou o balé e depende cada vez mais de um balão de oxigênio. Em setembro, foi avisada de que receberia um pulmão. Chegou a ir para o centro cirúrgico, mas o órgão tinha um edema e foi descartado. "É frustrante pensar que a nova técnica permitiria a cirurgia, mas é tudo tão lento", lamenta a mãe, a artista plástica Ana Lúcia Matuck.

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