MARIANA VERSOLATO
EDITORA-ASSISTENTE DE "CIÊNCIA+SAÚDE"
Que vinho faz bem para o coração muita gente sabe. Mas como escolher
qual garrafa levar para casa considerando apenas os benefícios da
bebida?
EDITORA-ASSISTENTE DE "CIÊNCIA+SAÚDE"
Cientistas da USP dão pistas nessa direção. Em estudo publicado no periódico "Australian Journal of Grape and Wine Research", a professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP Inar Castro e colegas fazem um ranking de vinhos da América do Sul com base na sua funcionalidade.
Editoria de Arte/Folhapress |
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Os primeiros colocados do ranking foram o tannat e o malbec argentinos, praticamente empatados. Depois vêm, nessa ordem, as uvas syrah, carménère, cabernet sauvignon e merlot. As pesquisadoras não divulgam as marcas analisadas.
Também é possível olhar para os resultados de acordo com o país. Entre os vinhos de alta funcionalidade, a maioria eram argentinos, seguidos pelos chilenos, brasileiros e uruguaios.
A uva campeã não é exatamente uma surpresa. A tannat, como o nome indica, é rica em taninos. "E quanto mais tanino e quanto maior o sabor adstringente, mais potente o efeito para a saúde. Por isso o chá-verde, que é amargo, é rico em antioxidantes", afirma a nutricionista e bioquímica Lucyanna Kalluf.
Para chegar a essa conclusão, as pesquisadoras da USP avaliaram a atividade antioxidante (capacidade de "varrer" os radicais livres que causam oxidação celular), concentração de substâncias fenólicas (compostos como o resveratrol que têm ação antioxidante e anti-inflamatória) e a quantidade de antocianinas (pigmento roxo da família dos flavonoides).
"Com base nesses parâmetros, criamos um modelo matemático. Posso pegar qualquer vinho e dizer se ele é de baixa ou alta funcionalidade", diz Castro.
A pesquisadora afirma, porém, que o trabalho tem limitações. "Nosso modelo tem valor preditivo de 96%, então ainda temos 4% de erro."
Kalluf lembra que o trabalho não conseguiu ver uma relação direta entre a quantidade de antocianinas e a capacidade funcional, algo que outros estudos já mostraram.
Já para Gustavo Andrade de Paulo, médico gastroenterologista e diretor da Associação Brasileira de Sommeliers (regional São Paulo), a pesquisa usou uma amostra genérica e restrita de vinhos. Ele, porém, elogia a "sacada" de criar esse ranking.
"Hoje, com essa geração saúde que pensa nas vantagens de cada ingrediente, uma lista como essa é útil."
Protásio Lemos da Luz, diretor da Unidade Clínica de Arterosclerose do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP), afirma que os benefícios do vinho estão relacionados à proteção do sistema cardiovascular. "A bebida tem efeito vasodilatador, impede a formação de trombos que podem levar ao infarto e aumenta os níveis de HDL, o colesterol 'bom'."
Mas, em geral, quem bebe vinho não busca apenas o benefício que a bebida traz à saúde. "Tem de tomar vinho primeiro porque gosta. Se puder unir a funcionalidade e o sabor, juntamos o melhor dos dois mundos", diz De Paulo.
Mas, afirma ele, do ponto de vista prático, a diferença entre os benefícios de um e de outro na pesquisa é muito pequena. Portanto, faz mais sentido escolher aquele que agrada mais o paladar.
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