Cientistas iniciam pesquisa inédita com células de embriões para tratar pacientes cegos e criam o primeiro banco público com esses tecidos para investigar doenças como a esquizofrenia e o Parkinson
Mônica TarantinoO País está na dianteira de uma série de estudos com células-tronco, uma das grandes esperanças da medicina para a cura de várias doenças. Da cegueira ao Alzheimer, pesquisadores brasileiros estão debruçados sobre as perspectivas de tratamento de diversas enfermidades a partir do desenvolvimento de novas terapias. Um dos trabalhos pioneiros envolve células-tronco extraídas de embriões – aquelas que podem se tornar qualquer tecido do corpo. Começa em fevereiro um estudo inovador com pessoas cegas em razão da degeneração macular relacionada à idade (DMRI). É a principal causa de cegueira irreversível em países desenvolvidos, especialmente na população idosa. A proposta é conter o progresso da doença e reverter seus danos.“Será a primeira pesquisa no mundo a usar células embrionárias cultivadas no laboratório para se diferenciar em tecidos específicos antes de implantá-las no olho”, explica o oftalmologista Rodrigo Brant, da Universidade Federal de São Paulo. O tratamento é promissor, mas o pesquisador frisa que não se aplicará a todos os casos de perda de visão.

CRIAÇÃO
Rehen contempla neurônios (em verde) derivados de células-tronco
A regeneração do coração é mais uma frente desafiadora de estudos. As primeiras pesquisas nessa área sugeriam que a injeção de células-tronco (tiradas da medula óssea) no coração poderia restituir as células perdidas no ataque cardíaco. Estudos posteriores revelaram apenas um aumento na formação de novos vasos. No Instituto do Coração da Universidade de São Paulo, um estudo de longa duração (mais de seis anos) está prestes a revelar, afinal, se há alguma vantagem no procedimento. Ali, metade dos 140 pacientes submetidos à cirurgia de ponte de safena recebeu, durante a operação, células-tronco adultas no local a ser recuperado. “Vamos comparar os resultados. As análises serão divulgadas nos próximos meses”, diz o cientista José Eduardo Krieger, que coordena o trabalho.

AVANÇO
Brant, da Unifesp, usará células-tronco embrionárias na tentativa
de brecar a cegueira causada por doença degenerativa
Mais uma tendência é o surgimento de coleções de células-tronco para o estudo de doenças e testes com medicamentos. “Temos já um banco de células-tronco e células reprogramadas de mais de 300 pacientes com doenças genéticas. Elas permitirão estudos importantes”, diz a geneticista Mayana Zatz, que dirige o Centro do Genoma e Células-Tronco da USP. Também está em formação um acervo nacional de células reprogramadas, o primeiro do gênero na América Latina. Será voltado para o estudo de problemas como Alzheimer, Parkinson e mais 15 enfermidades. A iniciativa envolve diversas instituições, é pública e tem apoio do Ministério da Saúde. “É um grande passo”, aprova o hematologista Nelson Hamerschlack, do Hospital Albert Einstein. Ele avaliou o impacto do transplante de células-tronco da medula óssea do próprio paciente com esclerose múltipla. “Em 75% dos casos, os sintomas melhoraram ou a doença ficou estabilizada”, diz. Hamerschlack planeja iniciar estudos com pacientes com a doença em estágio mais precoce.

CONQUISTA
Andrea ficou paraplégica por causa de uma queda da escada. Após terapia
com células-tronco, consegue dar alguns passos com ajuda de aparelhos

Fotos: Masao Goto Filho/Ag. Istoé; Rogerio Albuquerque
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