terça-feira, 30 de junho de 2015

Decepção com prótese ‘medieval’ leva britânico a criar mãos baratas feitas em 3D

Custo de mãos e braços biônicos está caindo, mas avanços tecnológicos na medicina prostética ainda estão além da capacidade financeira de muitos britânicos.

Da BBC
Nicky Ashwell usa uma prótese ultramoderna (Foto: BBC)Nicky Ashwell usa uma prótese ultramoderna (Foto: BBC)
Na semana passada na Grã-Bretanha, Nicky Ashwell, uma mulher que nasceu sem uma das mãos, exibiu uma prótese biônica feita com tecnologias tiradas da Fórmula 1 e de programas militares para imitar os movimentos de uma mão comum, o que inclui 14 posições.
Segundo a mulher, o sentimento de naturalidade é muito maior. Segundo a Steeper, o fabricante da prótese, o sistema custa o equivalente a quase R$ 150 mil.
A tecnologia é de causar inveja em muitas pessoas que precisam de próteses, e o problema é que a maioria delas não terá acesso a esse tipo de prótese por ela ser cara demais.
Terceira dimensão
A prótese antiquada fez com que Stephen Davies investisse em impressora 3D (Foto: BBC)A prótese antiquada fez com que Stephen Davies investisse em impressora 3D (Foto: BBC)
Uma dessas pessoas é Stephen Davies. Em 2008, ele visitou uma unidade de próteses do Sistema Nacional de Saúde pública britânico (NHS), em busca de uma opção mais funcional para o braço artificial que usava - tinha dificuldades em atividades de jardinagem e precisava de uma prótese cuja mão pudesse fechar o punho.
Davies, porém, recebeu o que batizou de "prótese medieval", para lá de rudimentar em comparação com a prótese de Ashwell, por exemplo.
"Eu não podia acreditar no que estava vendo. Eu já escondia meu braço mesmo antes de ter recebido aquilo", lembra.
Sua solução foi procurar uma instituição de caridade, a e-NABLE, que usa impressoras 3D para criar mãos de desenho simples para pessoas que não têm dinheiro para próteses biônicas.
Apesar da simplicidade, os modelos são sofisticados o suficiente para permitir o movimento dos dedos.
Stephen Davies cria modelos para crianças sem condições financeiras (Foto: BBC) Davies juntou os cerca de R$ 9 mil necessários para comprar uma impressora 3D e não só imprimiu uma mão para ele mesmo: ele tem ajudado outras pessoas na mesma situação.
Versatilidade
Stephen Davies cria modelos para crianças sem
condições financeiras (Foto: BBC)
"Não há muitas pessoas com esse tipo de iniciativa no Reino Unido, então as pessoas estão desesperadas por opções. Especialmente as crianças, porque elas crescem rápido e precisam atualizar as próteses regularmente", explica o britânico.
"As crianças também gostam das próteses 3D porque elas podem ser coloridas e customizadas. Já vi algumas, por exemplo, decoradas com personagens como o Homem de Ferro e Homem Aranha. Isso pode fazer com que deixem de sofrer bullying no recreio da escola para serem crianças cool".
Mas Jo Dixon, da ONG Reach, que trabalha especificamente com crianças com mãos ou braços amputados, explica que crianças muitas vezes não querem usar próteses.
"Elas são muito versáteis e frequentemente se adaptam às tarefas diárias como cortar comida e usar os brinquedos com seus cotocos. Pais volta e meia me contam que elas simplesmente tiram as próteses e as deixam no chão para brincar, por exemplo", conta Dixon.
Mas, para adultos, os braços e mãos biônicos estão ganhando popularidade, segundo Ted Varley, da Steeper.
"A capacidade das próteses está aumentando. Os preços tendem a cair de forma gradual e as próteses ficarão mais populares. Isso significa que estarão presentes no NHS, por uma questão de custo-benefício".
Dixon, porém, explica que mesmo a modernização das próteses não evita que a decisão de usá-las envolva coragem. Uma das principais preocupações, diz ela, ainda é com olhares ou comentários alheios.
"(Usar próteses) É algo muito pessoal. Mas já notei, por exemplo, que no caso das crianças muitas vezes são os pais que querem vê-las com as próteses, para criar alguma sensação de normalidade. É preciso muita confiança para se usar uma prótese o tempo todo", afirma.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Planos de saúde tentam fazer cliente deixar cigarro

De olho em gastos futuros, operadoras ampliam programas de prevenção; na Amil, passou de 130 para 400 interessados por mês

AE
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Preocupadas com os custos de tratamentos de doenças graves causadas pelo cigarro, operadoras de saúde têm tentado atrair pacientes para programas antitabagismo. Com investimento relativamente baixo, as empresas vêm ampliando a iniciativa e tentando novas formas de fazer o fumante aderir ao projeto.

Segunda maior operadora de saúde do País, com 4 milhões de beneficiários, a Amil investe cerca de R$ 300 por paciente em um programa com consultas individuais e em grupo e monitoramento remoto. O valor é inferior à despesa que a operadora teria com o tratamento de um câncer de pulmão, por exemplo, uma das principais doenças associadas ao tabagismo. Um paciente com esse tipo de tumor custa ao plano entre R$ 200 mil e R$ 400 mil.

"Esse programa é interessante para todos: para o paciente, que vai evitar uma patologia no futuro; para o médico, que terá um paciente com melhor condição clínica e mais qualidade de vida, e para a operadora, que tem um beneficiário mais saudável e um custo mais adequado", diz José Luiz Cunha Carneiro Junior, diretor técnico da Amil.

Desde 2012, quando o programa foi criado, mais de 5 mil clientes da operadora aderiram ao programa, média de 130 adesões mensais. Atualmente, 400 pacientes procuram o serviço por mês.

Incentivo

Fumante há 33 anos, a dona de casa Dionisia Santos Souza Pessoa, de 55 anos, foi incentivada a entrar no projeto após sofrer dois enfartes. "Como fiz a cirurgia e o tratamento no hospital da Amil mesmo, via os cartazes sobre esse programa nos corredores e decidi aderir. Meu médico falou que qualquer traguinho seria um veneno para mim. Não era só uma questão de qualidade de vida, era questão de sobrevivência", diz ela, que aderiu ao programa em março e está há três meses sem fumar. "Já tinha tentado parar por conta própria outras vezes, mas essa estratégia de fazer reuniões em grupo me ajudou muito. Um paciente apoia o outro." De acordo com a Amil, um em cada três beneficiários que aderiram ao plano parou de fumar em um ano.

O câncer de pulmão é o tumor mais prevalente entre os pacientes da operadora. Entre 2012 e 2015, o número de pessoas que passaram por quimioterapia por causa da doença dobrou.

Na Bradesco Saúde, maior operadora do País, com quase 4,1 milhões de clientes, o programa antitabagismo é oferecido às empresas. A companhia interessada em oferecer o serviço aos funcionários paga R$ 3,6 mil por pessoa. "Uma médica pneumologista e psiquiatra vai à empresa, faz a palestra motivacional focando nos ganhos que o funcionário terá se parar de fumar e faz uma avaliação dos interessados. Depois, as consultas são feitas na própria empresa", explica Maristela Duarte Rodrigues, superintendente médica do programa.

Foi a facilidade de ter uma médica por perto e o incômodo com problemas de saúde persistentes que fizeram a economista Patrícia Carneiro de Sá, de 52 anos, aderir ao programa oferecido pela companhia onde trabalha. "Tinha tosse crônica, pigarro, não tinha nenhum condicionamento físico, acho que fui criando uma consciência de que precisava de qualquer jeito parar de fumar", afirma ela. Segundo a operadora, 48% dos participantes do programa pararam de fumar e outros 43% diminuíram a quantidade diária.

Com 707 mil beneficiários, a Seguros Unimed passou a oferecer um programa do tipo para seus funcionários e pretende ampliar o serviço para seus beneficiários.

Outros programas

As iniciativas das operadoras em prevenir doenças não estão restritas às ações antitabagismo. As empresas têm investido também em programas para pacientes com doenças crônicas, como diabete, tratamento da obesidade e ações de qualidade de vida para idosos, entre outros projetos.

Na Amil, o programa de combate a problemas crônicos e promoção de melhores hábitos de vida já atendeu 60 mil pessoas no primeiro trimestre do ano.

Maior operadora do Norte e Nordeste, com 2 milhões de clientes, a Hapvida tem ampliado o número de programas do tipo. Já são cinco, que atendem desde portadores de doenças crônicas até gestantes, com 20 mil pessoas beneficiadas.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Teste de sangue e saliva é eficaz na detecção de cânceres orais

As descobertas dos cientistas da Universidade Johns Hopkins têm aumentado a esperança para um teste de triagem barato, que poderia ser feito por dentistas ou médicos durante visitas regulares

Câncer de cabeça e pescoço: segundo pesquisas recentes, o papiloma vírus humano seria um dos causadores da doença
Câncer de cabeça e pescoço: segundo pesquisas recentes, o papiloma vírus humano seria um dos causadores da doença (Thinkstock/VEJA)
Um novo exame que usa sangue e saliva para detectar câncer de cabeça e de pescoço tem se mostrado promissor em um pequeno número de pacientes. A pesquisa foi publicada nesta quarta-feira na revista Science Translational Medicine.
Enquanto provavelmente levará anos até que o teste esteja disponível para o público, as descobertas dos cientistas da Universidade Johns Hopkins têm aumentado a esperança para um teste de triagem barato, que poderia ser feito por dentistas ou médicos durante visitas regulares.
Define-se como câncer de cabeça e pescoço os tumores malignos que ocorrem na cavidade oral, faringe e laringe. No Brasil, estima-se aproximadamente 14.170 novos casos de câncer de cavidade oral, por exemplo. Nos Estados Unidos, afeta 50.000 pessoas a cada ano e está em ascensão entre os homens. Os principais fatores de risco são o álcool, tabagismo e papilomavírus humano (HPV), uma infecção comumente transmitida sexualmente que muitas vezes passa despercebida.
"Conseguimos demonstrar que o DNA do tumor no sangue ou saliva pode ser medido com êxito nesses tipos de câncer", contou o principal autor Nishant Agrawal, professor de otorrinolaringologia e oncologia na Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins.
O estudo envolveu 93 pacientes com câncer que tinham sido diagnosticados anteriormente. Em pacientes portadores de cânceres originados por HPV, os cientistas recolheram amostras de sangue e saliva de DNA relacionado à promoção de câncer. Naqueles com câncer não ligados ao HPV, os médicos buscaram mutações em um punhado de genes relacionados ao câncer.
Os pesquisadores descobriram o DNA do tumor na saliva de 71 dos 93 pacientes (76%) e no sangue de 41 dos 47 (87%). Metade dos pacientes concedeu tanto saliva quanto amostras de sangue aos cientistas, e os testes combinados encontraram DNA do tumor em 45 dessas 47 pessoas (96%). "A combinação de exames de sangue e de saliva pode oferecer a melhor chance de encontrar o câncer", disse Agrawal.
Mais testes sobre um maior número de pacientes ainda são necessários antes que o teste possa procurar a aprovação do mercado. Uma forma beta do teste pode custar milhares de dólares, mas com o tempo poderia ser oferecido por 50 dólares em ambiente de consultório ou de cuidados primários de um dentista, disseram os pesquisadores.
"Nosso objetivo final é desenvolver melhores testes de triagem para encontrar cânceres de cabeça e pescoço entre a população em geral e melhorar a forma de como monitorar pacientes com câncer de recorrência de sua doença", afirmou o co-autor Bert Vogelstein, professor de oncologia na Johns Hopkins Kimmel Cancer Center.
(com agência France-Presse)

terça-feira, 23 de junho de 2015

Leishmaniose preocupa a fronteira

Pesquisa pioneira mapeia incidência da doença na região de Foz do Iguaçu. Parte do estudo é financiada por um instituto canadense

Foz do Iguaçu
especial para a Gazeta do Povo
De cada sete cães de Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná, um está infectado pelo Leishmania infantum, agente causador da leishmaniose visceral. A doença, que é transmitida pela picada do mosquito-palha (espécie um pouco menor que o Aedes aegypti) tem alta taxa de mortalidade nos animais e também pode ser contraída pelos seres humanos.
O Paraná registrou em 2012 o primeiro caso autóctone (quando a doença é transmitida no local e não trazida por uma pessoa que viajou a outra região). “O vetor se adaptou à Região Sul devido às mudanças climáticas recentes, o que explica a ausência em décadas passadas”, alerta Vanete Thomaz Soccol, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenadora de um estudo encomendado pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).
A pesquisa pioneira – desenvolvida em parceria pela Secretaria Estadual da Saúde com a UFPR e especialistas de outras universidades –tem como objetivo mapear os casos da doença na região da Tríplice Fronteira – Foz, Ciudad del Este (Paraguai) e Puerto Iguazú (Argentina).
A solicitação da pesquisa surgiu de um alerta da OPAS sobre as possíveis migrações do vetor. Na Argentina, o primeiro caso da doença em humanos foi registrado em 2008 e depois epidemias se alastraram por todo o país. No mesmo período, houve registros no Paraguai e recentemente uma criança de dois anos morreu no país após sintomas da doença.
“Como a região do extremo-oeste do Paraná faz fronteira com esses países, era provável a existência do vetor e então passou a ser considerada uma área de risco”, destaca a pesquisadora. Parte do estudo é financiada por um instituto canadense de pesquisa.
Profissionais da saúde fizeram trabalho de campo em todos os bairros de Foz, com a coleta de amostras de sangue dos cães e a instalação de 130 armadilhas para a captura de insetos. Os resultados até agora são alarmantes: além da vasta contaminação em cães (taxa de 14,6%, com 104 casos positivos entre as 710 amostras), a presença do mosquito transmissor foi identificada em todas as regiões da cidade. A taxa de cães infectados no lado argentino da fronteira é ainda mais preocupante: 28%. No Paraguai, 8%.
Nos três países serão adotadas medidas de controle. Em agosto, o grupo se reúne para definir quando as ações serão executadas e como serão financiadas. “Também estamos fazendo o levantamento sazonal do vetor para saber qual a época de maior densidade”, completa Soccol. O governo do estado também atua para organizar uma rede de retaguarda para o atendimento de pacientes que eventualmente sejam infectados pela leishmaniose visceral.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Coreia do Sul registra três novos casos do vírus MERS

Autoridades sul-coreanas acreditam que a doença está começando a perder força. O número de pessoas em quarentena caiu de 6 700 para 4 035 no sábado

Virús MERS deixa população da Coreia do Sul em estado de alerta
Virús MERS deixa população da Coreia do Sul em estado de alerta(Kim Hong-Ji/Reuters)
A Coreia do Sul registrou neste domingo três novos casos de Síndrome Respiratória do Médio Oriente (Mers, na sigla em inglês). Os três casos incluem dois profissionais de saúde, elevando o total de contágios para 169, segundo informou o Ministério da Saúde local.
Um dos profissionais de saúde é um médico que tratou um paciente no Centro Médico Samsung, em Seul, considerado o epicentro do surto, onde mais de 80 pessoas foram infectadas. O segundo caso é de um profissional que tirou um raio-X de um paciente com o vírus, em outro hospital em Seul. Até agora, 43 pessoas recuperaram da doença e tiveram alta hospitalar.
As autoridades de saúde do país acreditam que a doença, que já matou 25 pessoas, está começando a perder força. O número de pessoas em quarentena caiu de 6 700 na última quarta-feira para 4 035 no sábado.

Na semana passada, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que a epidemia de MERS na Coreia do Sul é um sinal de alerta para que todos os países aumentem a vigilância. "Todos os países devem estar preparados para a possibilidade de focos similares a este e de outras doenças infecciosas graves", destacou a organização. Apesar do alerta, a OMS decidiu não declarar estado de emergência internacional pelo coronavírus MERS porque ainda "não se apresentam as condições".
O Mers é considerado um "primo", mais mortal, mas menos contagioso, do vírus responsável pela Síndrome Respiratória Aguda Severa (Sars) que, em 2008, fez cerca de 800 mortos em todo o mundo. Como o Sars, provoca infecção pulmonar e os afetados sofrem febre, tosse e dificuldades respiratórias, não havendo, por enquanto, tratamento preventivo para a doença. De acordo com a OMS, o vírus apresenta uma taxa de mortalidade de quase 35%.
(com Agência Brasil)

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Após cirurgias, menino ganha orelhas e usa óculos pela 1ª vez

Cirurgiões usaram cartilagens das costelas do garoto para criar a nova orelha.

Da BBC
Garoto nasceu sem orelhas, devido a uma condição conhecida como microtia (Foto: PA)Garoto nasceu sem orelhas, devido a uma condição conhecida como microtia (Foto: PA)
O britânico Kieran Sorkin, de 9 anos, acaba de passar por uma operação e agora pode realizar um sonho antigo: usar óculos de sol pela primeira vez na vida.
O garoto nasceu sem orelhas, devido a uma condição conhecida como microtia, e tinha apenas pequenos lóbulos.
No procedimento pioneiro, cuja segunda fase ocorreu em fevereiro, os cirurgiões usaram cartilagens das costelas do garoto para criar a nova orelha de Kieran, que em seguida foi coberta com pele retirada de seu couro cabeludo. O molde foi a orelha de sua própria mãe.
Antes de uma cirurgia prévia, no ano passado, Kieran disse à BBC que sempre que olhava para seus amigos pensava: "Quero orelhas como as deles".
'Demais!'
Mas foi nessa quinta-feira que Kieran ouviu do seu cirurgião – Neil Bulstrode do Hospital Great Ormond, em Londres.
"Demais!", disse o garoto. "O dr Bulstrode fez meu sonho se tornar realidade."
A mãe do menino disse que não podia ter ficado mais feliz com o resultado. "Kieran foi muito corajoso durante toda essa jornada e o resultado foi incrível", disse.
"Foi a decisão certa e já está fazendo uma grande diferença na confiança e na autoestima dele."
Kieran já conseguia ouvir graças a um implante feito em uma cirurgia realizada anos antes.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

"Ninguém vai acabar com a dengue. Ela chegou para ficar"

Secretário Estadual da Saúde de São Paulo, o médico infectologista David Uip prevê que, no próximo ano, o Estado viverá novamente uma situação complicada em relação à doença

Cilene Pereira
Entre janeiro e maio deste ano, São Paulo viveu uma epidemia de dengue, com mais de 400 mil casos e de 170 mortes. No próximo verão, em 2016, o estado não deve esperar uma situação menos complicada no que se refere à doença. A previsão é do secretário estadual da Saúde de São Paulo, o médico infectologista David Uip. “Mas ninguém vai pisar no freio este ano. Todo mundo percebeu que não tem essa de inverno, verão, não se pode acomodar”, afirmou o especialista nesta entrevista à ISTOÉ.
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O secretário Estadual de Saúde de São de São Paulo, o médico infectologista David Uip
 
ISTOÉ – O estado de São Paulo viveu este ano uma epidemia de dengue, com mais de 400 mil casos. O que deu tão errado?
David Uip –
Não deu errado. Prevíamos que isso acontecer. São Paulo havia sido poupado das grandes epidemias brasileiras, e como é muito difícil erradicar o Aedes Aegypti e ele não respeita fronteiras, ele chegou para valer há cinco anos e encontrou ambiente adequado: clima quente, chuvas, aumento do índice pluviométrico e pouca capacidade de ação do estado.
ISTOÉ – Por que?
Uip - Como se lida com uma epidemia? O que é efetivo? É quando tem prevenção por vacina e se pode tratar o agente causal. O outro problema são os criadouros do mosquito: 80% deles são em casas. E o que sobra? Uma ação muito forte que tem que envolver a sociedade. Ela tem que criar condições para o controle do criadouro.
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Cerca de 80% dos criadouros do mosquito transmissor da dengue estão em casas e sobrados
 
ISTOÉ - E por que isso não aconteceu em São Paulo?
Uip -
Temos 43 milhões de paulistas. É muita gente. E há características intermunicipais muito diferentes umas das outras. Além disso, nem sempre a informação muda comportamento. Precisávamos ampliar a informação.
ISTOÉ – Mas o sr. disse que vocês previram o que aconteceria. Quando começou efetivamente o trabalho para tentar impedir o que poderia vir?
Uip –
Estamos discutindo dengue desde janeiro de 2014. E em novembro fizemos uma reunião com prefeitos e secretários municipais de saúde para alertar que não ia dar certo. Já sabíamos do índice de infestação pelo mosquito em 25 cidades nas quais o quadro era pior. Estávamos vendo o que ia acontecer.
ISTOÉ – E, mesmo assim, por que houve a explosão de casos?
Uip -
Às vezes todo mundo faz tudo e não é o suficiente. Há cidade que tem dificuldade. É preciso controlar o vetor, os criadouros e dar atenção à população. Muitas vezes o município quer fazer tudo isto e não consegue. Nós, do Estado, dobramos o número de agentes, mas tivemos dificuldade de contratação. Parece um processo simples, mas não é. Tivemos dificuldade para contratar motorista para caminhão do fumacê. Quando contrato o agente, ele não é treinado. Tem que treiná-lo. Se a busca de recursos humanos não é simples para o Estado, imagine para o município.
ISTOÉ – Durante a epidemia, o que se viu foram as autoridades de saúde montando ações emergenciais, para atendimento pontual dos casos. Não se planejou uma estrutura de atendimento?
Uip -
Epidemia é encrenca. Não dá para ter uma estrutura planejada, pronta. Isso não existe. Repassamos R$ 50 milhões para os municípios e mais R$ 6 milhões no programa de emergência. Mas faltou treinar mais a base. Numa epidemia, criam-se mecanismos alternativos, como as tendas etc. Mas aí quem atende? Nós e ninguém no mundo têm uma estrutura que de repente se obriga a atender um número muito maior de pessoas a mais.
ISTOÉ – E por que o Estado registrou um número tão alto de óbitos (mais de 170)?
Uip -
O número de mortes é inaceitável. Precisamos reforçar o treinamento das equipes de saúde. O médico tem que identificar rapidamente a gravidade da situação, até porque não se pode tratar igual todo mundo.
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São Paulo registrou mais de 400 mil casos de dengue em 2015
 
ISTOÉ – O que está sendo esperado para o próximo ano?
Uip -
Não espero um ano que vem melhor do que este. Mas todo mundo ficou muito assustado e ninguém vai pisar no freio este ano. Todos perceberam que não tem essa de inverno, verão, não se pode acomodar. Ninguém vai acabar com a dengue. Ela chegou para ficar.
ISTOÉ – E o que está sendo feito para o próximo ano?
Uip -
Acho que temos que fazer mais. Para 2016 não adianta imaginar que as cidades vão responder do jeito que espero. Vamos ter que aumentar números de agentes, de equipamentos. Há situações nas quais podemos melhorar. E temos ainda o chikungunya (vírus também trasmitido pelo Aedes Aegypti), que me preocupa ainda mais. O indivíduo fica meses doente depois de ser infectado.

terça-feira, 2 de junho de 2015

10% das tatuagens causam reações adversas

Um estudo realizado por pesquisadores americanos mostrou que os sintomas mais comuns são inchaço, coceira, cicatriz e vermelhidão no local do desenho. Os problemas duram de poucos meses a anos

tatuagem
O estudo mostrou que Uma em cada dez pessoas que fizeram tatuagens apresenta algum efeito colateral como infecção, coceira, dor ou cicatriz que podem permanecer por meses e até anos(Getty Images/VEJA)
Dez a cada das tatuagens causam problemas, como infecção, coceira prolongada,vermelhidão, sensibilidade ao sol e cicatriz. Os sinais podem durar de poucos meses e até muitos anos. É o que diz um estudo publicado no periódico científico Contact Dermatitis.
A ideia do estudo surgiu de Marie Leger, dermatologista e pesquisadora da Universidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos. A médica notou que muitos pacientes apareciam em seu consultório com queixas relacionadas a tatuagens. Marie, então, reuniu outros dermatologistas e o grupo passou um tempo no Centro Park para entrevistar pessoas que haviam sido tatuadas.

Os resultados mostraram que cerca de 10% relataram algum tipo de complicação com suas tatuagens. Na maioria dos casos os sintomas eram simples, como infecções bacterianas, inchaço e coceira. Porém, cerca de seis em cada dez destas pessoas sofreram com problemas crônicos que duraram por anos e só passaram depois de avaliação médica.
"Eu não sou contra tatuagens. Mas as pessoas precisam estar cientes dos riscos envolvido no processo", disse Marie. De acordo com a dermatologista, muitos fatores podem estar relacionados a estas complicações, desde problemas com a tinta, a higiene do local e até mesmo uma reação imunológica ao procedimento.
Os tratamentos vão de anti-inflamatórios a cirurgias a laser para remover as camadas da pele afetadas pela tatuagem.
(Da redação)

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Amor eterno pelo colesterol

Durante décadas, alimentos como o ovo foram tratados ora como vilões, ora como mocinhos. Pesquisas recentes põem fim a essa gangorra - a mais conhecida (e condenada) das gorduras não faz mal quando é levada ao organismo por meio da alimentação

Por: Adriana Dias Lopes
Istockphotos
(Istockphotos/VEJA)
Um inimigo acuado para sempre
(VEJA.com/VEJA)
Já não é o caso, tomando emprestado o mais conhecido verso do Soneto da Fidelidade de Vinicius de Moraes, de um amor que seja infinito enquanto dure, posto que é chama. Em relação ao ovo, o amor agora é eterno, incondicional, irrecorrível. O consumo do mais eclético dos alimentos de origem animal, abundante em colesterol, a mais conhecida e condenada das gorduras, acaba de ser definitivamente liberado pela ciência da nutrição. O aval veio de uma instituição reputada no assunto, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, órgão governamental responsável pelas diretrizes alimentares americanas - e, portanto, com impacto em todo o mundo.
A absolvição se estende a outros alimentos ricos em colesterol, como camarão, coxa de frango (com pele, fique bem claro), coração de galinha, lula e bacalhau. A novíssima norma pode representar uma extraordinária reviravolta nos hábitos à mesa. Ela põe por terra a orientação de cautela no consumo de ovos, para permanecer didaticamente com o mais claro sinônimo de colesterol ingerido, em vigor desde a década de 60. A quantidade de colesterol levado à boca não podia, até agora, ultrapassar 300 miligramas diários, o equivalente a um ovo e meio (ou a uma coxinha de frango). Diz Raul Dias dos Santos, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretor da Sociedade Internacional de Aterosclerose: "É a mudança de padrão alimentar mais drástica já ocorrida desde os primórdios das discussões sobre o papel das gorduras no organismo".
O documento americano é um cartapácio de 571 páginas. A alforria do colesterol aparece na 17ª e, em pouco mais de discretas cinco linhas, abre o sinal verde, com uma recomendação que desde já começa a fazer barulho pela força de sua assertividade. "Não há evidência disponível que mostre alguma relação significativa entre uma dieta com colesterol e os níveis de colesterol sanguíneo. O consumo excessivo de colesterol não é motivo de preocupação." Ponto. E termina aqui o incômodo vaivém que ora fazia do ovo e seus congêneres os vilões da dieta, ora os tratava como mocinhos. À pergunta inescapável - o colesterol dos alimentos faz mal ao coração? - cabe agora uma única resposta: não. Um não eterno. O colesterol danoso é tratado sobretudo com medicamentos (estatinas) e atividade física.
Cerca de 80% do colesterol circulante no organismo é produzido pelo fígado - o restante vem da alimentação. Em doses normais, o colesterol (seja o alimentar, seja o hepático) tem um papel importantíssimo no funcionamento do corpo humano, participando da síntese de hormônios e mantendo a integridade das membranas das células. Em excesso, porém, danifica as paredes das artérias, o que o faz ser também a causa principal dos problemas cardiovasculares, como o infarto e o derrame. O embate, este que agora se encerra, tentava esclarecer qual era a responsabilidade do colesterol ingerido e qual era a parcela do colesterol naturalmente fabricado pelo ser humano. Duas recentes conclusões dos cientistas desempataram o jogo renhido.
Comer sem culpa
(VEJA.com/VEJA)