O caso recente de uma garota internada em Botucatu assustou as brasileiras. Ninguém está livre de sofrer do problema

Os anticoncepcionais podem aumentar em 5 vezes o
risco de trombose (iStock/Risco de trombose é maior, sim, com os
anticoncepcionais modernos)
Há dois meses, Juliana começou a sentir uma dor de cabeça que, aos poucos, foi evoluindo até ela precisar ir ao pronto-socorro. Após ser diagnosticada com enxaqueca e tratada com medicamentos, Juliana voltou pra casa. Dois dias depois, contudo, acordou sem conseguir comandar sua perna e mão direita e também com grande dificuldade para realizar funções simples do cotidiano, como enviar mensagens pelo celular e ir ao banheiro. A jovem foi socorrida por amigas e levada a um hospital de São Paulo pelos pais, onde realizou uma ressonância que revelou o diagnóstico –não era apenas uma enxaqueca.
Pois as pílulas anticoncepcionais aumentam, sim, os riscos de desenvolver trombose, principalmente entre aquelas que têm histórico familiar da doença, fumam e sofrem de enxaqueca. Um estudo publicado no ano passado no periódico científico The BMJ revelou que as pílulas modernas, que surgiram a partir da década de 90, são as que oferecem maior risco para as mulheres. O fato é que, enquanto os anticoncepcionais orais mais antigos são compostos apenas pelo derivado da progesterona, a nova geração de contraceptivos é composta por uma combinação de derivados de dois hormônios: progesterona e estrogênio. Essa combinação, sobretudo com novas gerações de progesterona (principalmente as compostas com drospirenona, desogestrel, gestodeno e ciproterona), é que é responsável pelo risco maior.
O fato é que os contraceptivos orais afetam o sistema circulatório da mulher, aumentando a dilatação dos vasos e a viscosidade do sangue. Como resultado, é possível que se formem coágulos nas veias profundas, localizadas no interior dos músculos. É mais comum que isso ocorra nas pernas, mas é também possível que o problema surja nos pulmões e até no cérebro, onde pode haver um acidente vascular cerebral (AVC).
O imunologista Ricardo de Oliveira, da RDO Diagnósticos, em São Paulo, defende que as pacientes realizem um exame de sangue para descobrir se apresentam pré-disposição genética para desenvolver trombose antes de administrarem um contraceptivo oral. “No caso dessas mulheres, o mais indicado é que utilizem outros métodos, como o dispositivo intrauterino, ou pílulas com composição hormonal diferente”, diz Ricardo. Se os anticoncepcionais por si só podem aumentar em 5 vezes o risco de trombose, algumas mutações genéticas podem elevar este risco entre 35 e 180 vezes. A principal delas, que gera consequências mais graves, é chamada de Fator V de Leiden – acredita-se que até 30% dos pacientes com trombose venosa profunda ou embolismo pulmonar possuem esta mutação.
No entanto, mesmo quando exames identificam que há pré-disposição genética, não se está livre do problema. Diz Sérgio Podgaec, ginecologista e obstetra do Hospital Albert Einstein, de São Paulo: “O importante é conversar com o médico, contar sobre seus hábitos e histórico de saúde e ficar atento aos sintomas que possam aparecer durante o período de adaptação do início da pílula, como enxaquecas”.
É por esse motivo que a escolha do método contraceptivo deve ser individualizada e tratada com os médicos. Jamais ser uma iniciativa só da paciente. Juliana, de Botucatu, afirmou que em nenhum momento os ginecologistas com quem se consultou durante o período que tomava o anticoncepcional discutiram com ela sobre os riscos de trombose. Hoje, a jovem ainda apresenta pequenas alterações na visão e toma anticoagulantes. As pílulas deixaram de fazer parte do seu dia a dia.