sexta-feira, 12 de agosto de 2016

O caso recente de uma garota internada em Botucatu assustou as brasileiras. Ninguém está livre de sofrer do problema

Recentemente, o relato amplamente divulgado de Juliana Bardella, universitária de Botucatu de 22 anos, sobre os 15 dias (três deles na UTI) internada em um hospital por conta de uma trombose venosa cerebral assustou as brasileiras. O motivo? A jovem alegou que a causa da doença foi o uso prolongado da pílula anticoncepcional, pois há cinco anos ela tomava um contraceptivo oral de nova geração — justamente o tipo que pode provocar mais efeitos colaterais.
Há dois meses, Juliana começou a sentir uma dor de cabeça que, aos poucos, foi evoluindo até ela precisar ir ao pronto-socorro. Após ser diagnosticada com enxaqueca e tratada com medicamentos, Juliana voltou pra casa. Dois dias depois, contudo, acordou sem conseguir comandar sua perna e mão direita e também com grande dificuldade para realizar funções simples do cotidiano, como enviar mensagens pelo celular e ir ao banheiro. A jovem foi socorrida por amigas e levada a um hospital de São Paulo pelos pais, onde realizou uma ressonância que revelou o diagnóstico –não era apenas uma enxaqueca.
Pois as pílulas anticoncepcionais aumentam, sim, os riscos de desenvolver trombose, principalmente entre aquelas que têm histórico familiar da doença, fumam e sofrem de enxaqueca. Um estudo publicado no ano passado no periódico científico The BMJ revelou que as pílulas modernas, que surgiram a partir da década de 90, são as que oferecem maior risco para as mulheres. O fato é que, enquanto os anticoncepcionais orais mais antigos são compostos apenas pelo derivado da progesterona, a nova geração de contraceptivos é composta por uma combinação de derivados de dois hormônios: progesterona e estrogênio. Essa combinação, sobretudo com novas gerações de progesterona (principalmente as compostas com drospirenona, desogestrel, gestodeno e ciproterona), é que é responsável pelo risco maior.
O fato é que os contraceptivos orais afetam o sistema circulatório da mulher, aumentando a dilatação dos vasos e a viscosidade do sangue. Como resultado, é possível que se formem coágulos nas veias profundas, localizadas no interior dos músculos. É mais comum que isso ocorra nas pernas, mas é também possível que o problema surja nos pulmões e até no cérebro, onde pode haver um acidente vascular cerebral (AVC).
O imunologista Ricardo de Oliveira, da RDO Diagnósticos, em São Paulo, defende que as pacientes realizem um exame de sangue para descobrir se apresentam pré-disposição genética para desenvolver trombose antes de administrarem um contraceptivo oral. “No caso dessas mulheres, o mais indicado é que utilizem outros métodos, como o dispositivo intrauterino, ou pílulas com composição hormonal diferente”, diz Ricardo. Se os anticoncepcionais por si só podem aumentar em 5 vezes o risco de trombose, algumas mutações genéticas podem elevar este risco entre 35 e 180 vezes. A principal delas, que gera consequências mais graves, é chamada de Fator V de Leiden – acredita-se que até 30% dos pacientes com trombose venosa profunda ou embolismo pulmonar possuem esta mutação.
No entanto, mesmo quando exames identificam que há pré-disposição genética, não se está livre do problema. Diz Sérgio Podgaec, ginecologista e obstetra do Hospital Albert Einstein, de São Paulo: “O importante é conversar com o médico, contar sobre seus hábitos e histórico de saúde e ficar atento aos sintomas que possam aparecer durante o período de adaptação do início da pílula, como enxaquecas”.
É por esse motivo que a escolha do método contraceptivo deve ser individualizada e tratada com os médicos. Jamais ser uma iniciativa só da paciente. Juliana, de Botucatu, afirmou que em nenhum momento os ginecologistas com quem se consultou durante o período que tomava o anticoncepcional discutiram com ela sobre os riscos de trombose. Hoje, a jovem ainda apresenta pequenas alterações na visão e toma anticoagulantes. As pílulas deixaram de fazer parte do seu dia a dia.

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