A iniciativa mudou a vida do pequeno Jonas Nunes Pequiar, que
aparece na foto ao lado da mãe Jessica Brenda Nunes da Silva Pequiar
( Foto: Reinaldo Jorge )
Olhares preconceituosos e curiosidade invasiva. É o que Jessica Brenda
Nunes da Silva Pequiar vivenciava quando saía com seu filho, Jonas Nunes
Pequiar, que nasceu com lábio bilateral, um tipo de fissura
labiopalatal. Em 29 de outubro de 2016, dia em que completou 1 ano de
idade, Jonas passou por sua primeira cirurgia de reconstrução através da
Operação Sorriso.
A iniciativa chegou à Fortaleza há 20 anos, e comemorará esse marco no
sábado (28). A partir das 8h, serão selecionados 30 pacientes para
receberem cirurgias gratuitas que serão realizadas entre 30 de outubro e
2 de novembro, no Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS).
Os procedimentos incluem operações regulares de lábio e palato, mas
trazem uma novidade em relação aos anos anteriores: o enxerto ósseo. É
um procedimento padrão para casos em que há falta de estrutura óssea
próxima à gengiva, em pacientes com idade a partir de sete anos que
possuem dentição mista, e será realizado pela Operação Sorriso na
capital cearense pela primeira vez.
A ação reúne 60 voluntários profissionais, do Brasil e de outros
países, incluindo cirurgiões, anestesistas, pediatras, enfermeiros,
dentistas, fonoaudiólogos e psicólogos. Será "um coro multidisciplinar",
como descreve Ana Stabel, diretora executiva da Operação Sorriso.
Para participar, basta comparecer à seleção no dia 28, levando
documentos de identificação do paciente e também do responsável, caso o
paciente seja menor de idade. No mesmo dia, os 70 pacientes operados no
ano passado poderão retornar para a consulta pós-operatória de 1 ano. Amparo
A iniciativa mudou a vida de Jonas Nunes Pequiar logo no começo. "Ano
passado, ele foi agraciado com uma das vagas para fazer a cirurgia. Ele
fechou os dois lados do lábio e levantou um pouco o nariz", explica
Jessica Brenda Nunes da Silva Pequiar, mãe do bebê. Com quase 2 anos de
idade, Jonas ainda precisa passar por outras cirurgias, dentre elas, a
de enxerto ósseo, que só poderá realizar mais tarde.
Até os 18 anos, ele continuará a ser acompanhado por um dentista e um
fonoaudiólogo do Hospital Infantil Albert Sabin. Apesar do longo
processo, Jessica descreve a experiência da primeira cirurgia como "algo
lindo".
"A equipe da Operação Sorriso é esplêndida. Eles estiveram comigo em
todos os momentos, foi incrível. Eles me deram suporte da hora em que eu
entrei no hospital até hoje. Eles ligam perguntando como está o Jonas,
como eu estou. Eu me senti muito amparada", relata Jessica.
A Operação é uma organização médica voluntária global que, neste ano,
junto ao Hospital Infantil Albert Sabin, zerou a fila de espera para
cirurgia de correção de fissura labial. "Com isso, podemos criar outros
polos de cirurgia dentro do Estado", diz a diretora executiva Ana
Stabel. (Colaborou Barbara Câmara)
Conheça as particularidades do tratamento de tumores em crianças
Por
Sidnei Epelman*
Os pequenos encaram desafios específicos na
luta contra o câncer (Ilustração: Maria Chiodi//Câncer infantil:
desafios em busca da cura/SAÚDE é Vital)
Poucas pessoas sabem, mas o câncer infantil
é mais agressivo e invasivo quando comparado aos tumores que acometem
os adultos. Na maioria dos casos, os sintomas são difíceis de ser
reconhecidos e facilmente confundidos com os de outras condições, o que
provoca atraso no diagnóstico. Logo, não é incomum se fazer a detecção
quando a doença já está disseminada.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca),
os tumores representam a primeira causa de morte por doença entre
crianças e jovens de 1 a 19 anos. Só em 2017 estima-se que ocorrerão
12,6 mil novos casos no Brasil.
O cenário pode soar desanimador, mas existe um lado positivo: pelo
mesmo motivo que o câncer infantil é agressivo, as chances de cura
também são altas. Isso acontece porque as doenças da infância, caso da
leucemia linfoide aguda (LLA), têm uma característica que as torna mais
responsivas a certos tratamentos. A LLA ataca os glóbulos brancos e faz
com que tais células se multipliquem mais rápido. Ora, são justamente as
células em constante proliferação que respondem melhor à quimioterapia.
O diagnóstico precoce também é importante, mas demanda que sejam
trabalhados outros fatores essenciais para alcançarmos um modelo de
saúde qualificado e favorável à cura do câncer. É o que mostrou um
estudo recente e do qual fiz parte publicado na revista científica The
Lancet Oncology. Do que falamos? De educação da comunidade, aumento no
número de profissionais capacitados, pesquisas relevantes no setor, uma
rede de conexão entre hospitais regionais, colaboração internacional e
acesso a diagnóstico e tratamentos precisos.
No Hospital Santa Marcelina, onde atuo em São Paulo, já foram atendidos, em parceria com a TUCCA,
mais de 2 900 crianças e adolescentes de todo o país desde 1998. Dos
286 casos de câncer diagnosticados na oncopediatria do hospital em 2016,
o tipo mais comum foi a LLA, representando 28,4% dos episódios.
Na sequência aparecem o retinoblastoma (um tumor ocular), ocupando
13,7%, e os tumores do sistema nervoso central, com 10,2%. Os linfomas
configuram 9% dos casos e, em números menores, vêm os tumores renais,
ósseos, sarcomas e o neuroblastoma.
Somente com a união de políticas e estratégias em prol do diagnóstico
precoce, do tratamento efetivo e da cura é que vamos prosperar na luta
contra o câncer infantil. *Sidnei Epelman é oncologista pediatra, diretor do Serviço de
Oncologia Pediátrica do Hospital Santa Marcelina (SP) e presidente da TUCCA (Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer)
Médica que pesquisa e dá aulas sobre o tema relata uma experiência pessoal que teve com a doença
Por
Por Suely Meireles Rezende*
O risco de embolia pulmonar grave
imediatamente após um voo aumenta com a duração da viagem e varia de
zero em voos com duração inferior a três horas a 4,8 eventos por milhão
em viagens com duração acima de 12 horas. (Nik Neves/SAÚDE é Vital)
Conhecer novos lugares, culturas diferentes… Enfim,
enriquecer social e culturalmente. Viajar é uma maravilha. Mas, como em
quase tudo na vida, o turismo também exige cuidados específicos para que
as coisas corram conforme o planejado, inclusive em relação à saúde.
Senti um dos efeitos colaterais de uma viagem longa de avião na
própria pele. Logo eu, que sou médica hematologista e trabalho na
conscientização de pacientes e estudantes de medicina sobre os perigos
da trombose, fui vítima de uma embolia pulmonar grave ao voltar de Lisboa. Mal desembarquei da aeronave e tive de ser socorrida pela equipe do Aeroporto Internacional de Guarulhos.
A embolia pulmonar é uma das manifestações da trombose venosa que
mais trazem risco à vida. Ela ocorre quando um coágulo, geralmente
formado nas veias dos membros inferiores, se desprende e se aloja nos
vasos pulmonares, obstruindo-os.
A imobilização prolongada das pernas, a posição sentada e o aperto
provocado pelos assentos de avião fazem o sangue nas veias dos membros
inferiores estagnarem. E essa alteração no fluxo sanguíneo é tida como a
principal causa da trombose venosa. Aliás, a tal trombose venosa,
quando relacionada à viagem, é conhecida como “síndrome da classe
econômica”.
Esse quadro é pouco falado no Brasil – e aí que reside o perigo. Um
estudo prospectivo observacional publicado em 2008 calculou que o risco
de embolia pulmonar grave imediatamente após um voo aumenta com a
duração da viagem e varia de zero em voos com duração inferior a três
horas a 4,8 eventos por milhão em viagens com duração acima de 12 horas.
O 13 de outubro é o Dia Mundial da Trombose e temos que aproveitar a
data para falar sobre os problemas decorrentes da doença e conscientizar
a população. Especificamente no caso da síndrome da classe econômica, a
maioria das companhias aéreas internacionais inclui, em sua revista de
bordo ou em vídeo, orientações a respeito da prevenção da trombose
venosa. Estou falando de recomendações de exercícios que devem ser
feitos durante a viagem, do estímulo à ingestão de líquidos. Só não vale
bebidas alcoólicas, que causam justamente o efeito contrário.
Infelizmente, no Brasil nenhuma das companhias aéreas nacionais com
trajetos acima de quatro horas apresentam em qualquer local informação
similar. Além disso, ao menos em minha experiência pessoal, a equipe
médica de atendimento do aeroporto não se mostrou preparada para
considerar o diagnóstico e muito menos para conduzir um tratamento
adequado.
Foi meu conhecimento médico que me permitiu analisar o quadro e
organizar a minha própria remoção para um hospital local, onde foi
confirmado o diagnóstico e iniciado o tratamento. Aqui é importante
lembrar que o serviço médico da operadora aeroportuária estatal está
incluso na taxa de embarque, que é paga por todos os passageiros.
Esta é uma situação particularmente preocupante, tendo em vista o
incremento do número de passageiros em viagens aéreas internacionais. De
acordo com dados do Ministério do Turismo,
mais de 10 milhões de passageiros desembarcaram de voos internacionais
no Brasil em 2016. Baseados nessa informação, temos uma dimensão de
quantas pessoas podem ter desenvolvido trombose venosa sintomática,
embolia pulmonar grave e embolia pulmonar fatal imediatamente após o
voo.
É fundamental que, no Dia Mundial da Trombose, disseminemos ao máximo
essas informações para que os nossos representantes na esfera
legislativa atentem para a situação e trabalhem em um projeto de lei que
torne obrigatória a inclusão das informações de prevenção e tratamento
desse problema em voos de duração superior a quatro horas.
Também é urgente a necessidade de capacitação das equipes médicas dos
aeroportos para o pronto atendimento e diagnóstico das diversas
manifestações da trombose venosa, em especial da embolia pulmonar. De
novo, estamos falando de uma condição potencialmente fatal.
Dessa maneira, todos teremos a garantia de que as únicas recordações de nossas viagens serão as felizes. *Médica hematologista, PhD em Hematologia pelo Imperial College London, Universidade de Londres e pós-doutora em Epidemiologia Clínica pela Universidade de Leiden, Países Baixos. Professora associada da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Membro do Conselho Diretor da International Society of Thrombosis and Haemostasis (ISTH) e coordenadora do ISTH Regional Training Center em Belo Horizonte.
Um macaco encontrado morto com o vírus dessa doença iniciou um plano emergencial de vacinação na capital. Fique por dentro
Por
Theo Ruprecht
O macaco encontrado morto com o vírus da febre amarela fez muitos paulistanos buscarem a vacina. (Foto: Saúde/SAÚDE é Vital)
A febre amarela
voltou a ganhar os holofotes graças a confirmação de que um macaco
encontrado morto no parque do Horto Florestal, na zona norte de São
Paulo, tinha o vírus. De lá para cá, milhares de paulistas que moram na região foram vacinados – e o governo estadual pretende imunizar pelo menos 1 milhão de habitantes dessa parte da cidade.
Por medidas de segurança, tanto o Horto Florestal quanto o parque da
Cantareira foram fechados. Outros macacos mortos estão sendo
investigados pelas autoridades.
Alguns postos das redondezas já estão disponibilizando vacinas contra
a febre amarela. Aí é uma questão de os moradores irem a esses
estabelecimentos e tomarem a dose.
O secretário estadual da saúde,
David Uip, reitera que não há motivo para pânico. Segundo ele, as
autoridades estão agindo rapidamente para minimizar qualquer risco de
espalhamento da doença e dificilmente o problema atingirá a capital como
um todo.
Vale ressaltar que o estado inteiro de São Paulo contabiliza 22 casos
e 10 mortes por febre amarela. E nenhum representa um “caso urbano” –
ou seja, transmitido dentro de grandes centros urbanos. Não há episódio
desses no estado desde 1942.
Eu devo me vacinar?
No momento, a recomendação é que as pessoas da região que nunca se vacinaram
busquem os postos de saúde para se proteger. E, claro, sempre é bom
adotar medidas contra os mosquitos transmissores da febre amarela.
Que bichos são esses? Eminentemente, o Haemagogus e Sabethes,
comuns em regiões rurais. Via de regra, eles picam um macaco infectado
e, aí, podem repassar a doença para os seres humanos que estão nos
arredores.
O famigerado Aedes aegypti, endêmico nas cidades grandes, também é
capaz de espalhar a doença, mas isso é menos comum. De qualquer forma,
evitar o acúmulo de água parada é, sim, uma ótima medida nesse momento.
Até porque também afasta dengue, zika e chikunungya.
E um recado: a vacina da febre amarela pode gerar efeitos colaterais,
embora isso seja raro. Até por isso, não é indicada para gestantes,
mulheres que estão amamentando, crianças com menos de 6 meses e pessoas
imunodeprimidas.
O ideal é conversar com um médico para ver se você se beneficiaria da
vacina. A orientação geral é a de que não há necessidade de tomá-la, a
não ser que você vá para uma região com risco de infecção. E um adendo: a
Organização Mundial da Saúde defende que apenas uma vacinação ao longo
da vida já garante proteção. E o governo brasileiro incorporou essa regra este ano.
Em fevereiro, essa mudança ainda não havia acontecido por aqui. E foi
nessa época que a SAÚDE gravou uma entrevista com o infectologista
Jessé Alves, da Sociedade Brasileira de Infectologia, sobre os sintomas
da febre amarela e o que fazer para se proteger. Claro que, de lá para
cá, a situação mudou. Mas vale a pena rever para se resguardar:
Bichos mais
velhos também estão sujeitos ao declínio cerebral. Nosso colunista
explica essa história e no que ficar atento em casa
Por
Dr. Mário Marcondes
Alguns comportamentos do cachorro sinalizam que a cabeça dele não está legal. (Foto: GI/Getty Images)
O aumento da longevidade dos cães
observado nas últimas décadas fez com que algumas doenças típicas de
animais idosos se tornassem mais prevalentes na medicina veterinária. A
exemplo do que acontece em nós, humanos, problemas como diabetes,
insuficiência cardíaca e insuficiência renal são cada vez mais
frequentes nos velhinhos de quatro patas. Mas e o Alzheimer, que tanto
nos preocupa em função do envelhecimento da população? Será que algo
similar existe no mundo animal?
Pois saiba que cachorros podem sofrer com uma condição chamada
Síndrome da Disfunção Cognitiva (SDC), popularmente conhecida como
Alzheimer canino. Estudos recentes mostram que a incidência vem
aumentando, e sabemos que o envelhecimento constitui fator determinante
para o aparecimento e progressão da doença.
Uma pesquisa com 189 cães demonstrou há pouco que 28% dos animais
entre 11 e 12 anos de idade apresentavam algum sinal da síndrome. Entre
os cães com idades entre 15 e 16 anos o número de acometidos saltou para
68%!
E como reconhecer essa doença? Como identificar seus sinais? No mundo
animal, de fato, fica mais complicado detectar alterações já que nossos
amigos não se expressam falando. No entanto, os donos de cães idosos
podem ficar alertas para indícios importantes de mudança comportamental,
como urinar ou defecar em locais não habituais, portar-se de maneira
não usual ao interagir com outros bichos ou pessoas, tornar-se muito
agressivo ou, por outro lado, apático.
A qualidade do sono também pode ser afetada e o animal não raro
apresenta períodos mais prolongados de vigília ou sono. A desorientação
espacial, por sua vez, costuma vir acompanhada de dificuldade para
percorrer rotas conhecidas, distinguir a saída da casa ou prever a hora
da alimentação. Perda auditiva, redução da acuidade visual, olhar fixo e
diminuição da resposta a comandos aprendidos são outros sinais de
alteração neurológica correlacionados à síndrome.
Diante de suspeitas, a recomendação é
procurar um especialista. O diagnóstico é realizado por um neurologista
veterinário, que descartará outras condições por meio do exame clínico,
testes de sangue, tomografia e ressonância magnética, além da resposta
ao tratamento instituído.
Algumas medicações podem ser usadas para melhorar o impulso da
transmissão entre os neurônios, outras atuam aumentando a vasodilatação
cerebral (isto é, o aporte de sangue e nutrientes ao cérebro).
Costuma-se associar aos remédios uma dieta especial para retardar a
progressão do declínio neurológico. Alimentos ricos em antioxidantes,
como vitaminas E, C e do complexo B, a gordura ômega-3 e o aminoácido L-carnitina tendem a ingressar no cardápio.
Inclusive, pensando nesse nicho, a multinacional suíça Nestlé lançou
recentemente no Brasil uma ração específica para cães com alterações
neurológicas, a Proplan Neurologic Care, primeiro produto com essa
indicação no mercado pet mundial. Enriquecida com ácidos graxos de
cadeia média, oferecem uma fonte alternativa de energia para melhorar a
função cerebral. Segundo o fabricante, resultados de melhora de sintomas
neurológicos podem ser observados em até 90 dias do início da nova
dieta.
Nesse meio tempo, diante do crescimento das doenças
neurodegenerativas entre os bichos mais idosos, estudos têm sido
realizados com o objetivo de incrementar o diagnóstico e o tratamento.
Tudo para ampliar a qualidade de vida dos pets que entram ou entrarão na
terceira idade.
Estudo foi
atrás do que pessoas mais velhas e cheias de saúde têm em comum com
gente de 30 anos ou menos para descobrir as bases da longevidade
Por
Ana Carolina Leonardi (da Superinteressante)
Uma pesquisa foi atrás de alterações no corpo que fariam as pessoas viverem mais (Ilustração: Adams Carvalho/SAÚDE é Vital)
Como envelhecer com saúde?
Essa pergunta é tão importante quanto difícil de ser respondida.
Sabemos que estilo de vida é tão crucial quanto a genética, mas não o
quê, exatamente, faz a diferença entre uma velhice difícil e uma velhice
saudável.
Foi exatamente isso que um estudo sino-canadense
se propôs a investigar. Eles reuniram mais de mil voluntários chineses,
de 3 a 100 anos. Todos eles tinha uma coisa em comum: eram muito
saudáveis para sua faixa etária.
O que os cientistas queriam entender, especificamente, era o que os
idosos com a saúde acima da média tinham em comum com os voluntários
mais jovens que também eram supersaudáveis. E encontraram semelhanças
enormes no intestino deles: os quase centenários tinham a flora
intestinal (ou microbiota) quase idêntica a dos voluntários de 30 anos.
Vale lembrar que, no nosso intestino, carregamos a maior concentração
de micro-organismos encontrada no corpo humano. Esse conjunto de
bactérias é altamente personalizado e pode ter uma baita influência no
metabolismo e no bem-estar em geral
O que acontece é que, conforme envelhecemos, a diversidade da
microbiota diminui. Se há um desequilíbrio, bactérias oportunistas podem
ganhar espaço excessivo e provocar estragos.
O que o novo estudo descobriu é que essa queda na biodiversidade do
intestino não é obrigatória – e que a microbiota que se mantém tão
diversa quanto a de um corpo 60 anos mais jovem está fortemente
associada a uma saúde melhor para o corpo inteiro.
Como sempre, ainda falta entender se é uma questão de causa ou
consequência. Será que os idosos com um estilo de vida saudável vivem
melhor e, portanto, tem uma microbiota mais diversa? Ou então seria ao
contrário: as bactérias do intestino (que são tão essenciais) ajudam a
manter o corpo todo em melhor estado?
A resposta dessa pergunta é essencial para entender quão longe se
deve ir para alcançar as mesmas condições intestinais do idosos
supersaudáveis.
A opção mais simples, é claro, são mudanças na alimentação e probióticos,
mas tem médicos apostando tanto na importância do intestino para o
organismo que testam transplantes fecais para “reviver” a flora
intestinal de pessoas com problema de saúde. E você, aceitaria um
supercocô para melhorar seu organismo?
O dispositivo, apelidado de "pâncreas artificial", dá conforto aos pacientes afasta o risco de complicações, como hipoglicemia
Por
André Biernath
A empresa de tecnologia Medtronic acaba de lançar no Brasil o Sistema MiniMed 640G, uma espécie de pâncreas artificial concebido para pessoas com diabetes tipo 1. Ele faz a monitorização constante do organismo e libera doses de insulina, responsável por colocar o açúcar dentro das células — os portadores da condição não produzem esse hormônio.
Caso o aparelho perceba uma diminuição da glicemia, interrompe
automaticamente o funcionamento da bomba. Assim, evita que episódios de
hipoglicemia deem as caras e causem encrencas sérias. “O sistema está
mais indicado para crianças, gestantes,
pessoas com grande variação nas taxas ou quedas muito severas da
glicose e aquelas com problemas nas terminações nervosas”, lista o
endocrinologista Marcio Krakauer, da Sociedade Brasileira de Diabetes.
(Ilustração: Rodrigo Damati/SAÚDE é Vital)
Altos e baixos
Confira as taxas-limite de glicemia para se manter em segurança Hipoglicemia
Abaixo de 70 mg/dl Faixa normal
Entre 70 e 140 mg/dl Hiperglicemia
Acima de 140 mg/dl
Rio
- Aquele cheirinho indesejado nas axilas pode ser um sinal de doença de
pele. A bromidrose se instala no corpo quando há umidade gerada pelo
suor excessivo, causando condições favoráveis à proliferação de fungos e
bactérias. O problema, que atinge homens e mulheres, gera
constrangimento e deixa até marca nas roupas, mas a boa notícia é que
tem solução. Para eliminar de vez o mau cheiro há desde intervenções
cirúrgicas até aplicação de produtos farmacêuticos e dermatológicos. Suor excessivo
Arte O Dia
Segundo o médico cirurgião Ricardo Rocha, algumas
pessoas têm um desequilíbrio no sistema nervoso autônomo que provoca o
descontrole das glândulas sudoríparas, responsáveis pela produção do
suor. Embora o fluído seja inodoro, a persistência dessa condição
favorece a formação de colônias bacterianas nas áreas do corpo afetadas,
o que torna o mau odor um problema crônico, agravado muitas vezes por
fatores psicológicos, como a ansiedade.
"É uma daquelas questões
para a qual a ciência e a medicina têm solução, mas não descobriram a
causa. O problema é desencadeado por um gatilho, que não se sabe
exatamente o que é. O nervosismo não faz a pessoa começar a suar acima
do normal, mas faz ela não parar mais. É um ciclo vicioso", explicou.
Para
resolver o distúrbio, alguns pacientes recorrem à injeção da toxina
botulínica conhecida como Botox nas partes do corpo onde mais se
transpira. O tratamento custa entre R$ 2,5 mil a R$ 3 mil e precisa ser
feito repetido após um ano aproximadamente, pois perde o efeito à medida
em que o tempo passa.
"A substância inibe a ação das glândulas e o
paciente quase não transpira no lugar que fez a aplicação por mais ou
menos um ano", disse o médico.
Estudante de Publicidade e
Propaganda, David Mufarrej, 19 anos, sofria com o suor excessivo nas
axilas e optou por fazer o tratamento com Botox há cerca de um ano. Hoje
se prepara para fazer novamente o procedimento. "O que mais me
incomodava era a marca nas camisas. Tudo piorava em situações que eu
ficava nervoso ou ansioso. Mas o tratamento deu certo. Agora só passo
desodorante dermatológico", declarou David.
O uso de talco
antitranspirante, antibióticos, sabonetes e cremes antibacterianos
também ajuda a solucionar o problema. Ricardo Rocha ainda recomenda
banhos, reaplicação do desodorante e troca de roupa no meio do dia, para
evitar que fungos e bactérias se espalhem. "Em geral, não há efeitos
colaterais decorrentes desses tratamento mais convencionais, mas se
houver alguma reação alérgica pontual, é possível contê-la com produtos
diferenciados". CUIDADOS NA PUBERDADE
Integrante
da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Sílvia Rodrigues destaca
a incidência do mau cheiro em jovens, principalmente os que iniciam a
puberdade, fase em que há alta produção de hormônios. "O problema é mais
comum do que se imagina. Mas muitas vezes não é nem por causa do suor
ou do estágio da vida, e sim por conta de hábitos de higiene
inadequados. Tem gente que deixa de se secar bem depois do banho, por
exemplo. Os fungos se aproveitam disso". Os tratamentos para
adolescentes são os mesmos usados em adultos, de acordo com Sílvia.
"Pessoas
que têm familiares com esse problema são propensas a desenvolvê-lo, mas
nada impede que ele surja sem que haja histórico familiar", afirmou
Rocha.
Os pelos podem ser os vilões no combate ao mau cheiro, pois
acumulam a umidade do suor e da água do banho. Desta forma, eles se
tornam um ambiente fértil para fungos e bactérias se reproduzirem. Por
isso, a depilação é necessária como parte do tratamento nos casos de
pessoas com grande volume de pelos no corpo. O cuidado deve ser
redobrado ainda mais em regiões onde o clima combina calor e umidade,
pois o ambiente favorece ainda mais o suor.
Ao contrário do que
muitos pensam, a bromidrose é transmissível, pois os agentes causadores
bactérias e fungospodem aderir à superfícies dos tecidos que entram em
contato com a pessoa infectada.
"É importante detectar e tratar o
mau cheiro porque ele pode ser passado de pessoa para pessoa, quando
ocorre compartilhamento de peças de roupa, por exemplo. Se isso
acontecer, a pessoa que pega também precisa se tratar com um
profissional", esclareceu o médico Ricardo. O estudante David Mufarej sofria com o suor e optou pelo botox
Divulgação
Cirurgia impede transpiração, mas existe efeito colateral
Aquele
cheirinho indesejado nas axilas pode ser um sinal de doença de pele. A
bromidrose se instala no corpo quando há umidade gerada pelo suor
excessivo, causando condições favoráveis à proliferação de fungos e
bactérias. O problema, que atinge homens e mulheres, gera
constrangimento e deixa até marca nas roupas, mas a boa notícia é que
tem solução. Para eliminar de vez o mau cheiro há desde intervenções
cirúrgicas até aplicação de produtos farmacêuticos e dermatológicos.
Segundo
o médico cirurgião Ricardo Rocha, algumas pessoas têm um desequilíbrio
no sistema nervoso autônomo que provoca o descontrole das glândulas
sudoríparas, responsáveis pela produção do suor. Embora o fluído seja
inodoro, a persistência dessa condição favorece a formação de colônias
bacterianas nas áreas do corpo afetadas, o que torna o mau odor um
problema crônico, agravado muitas vezes por fatores psicológicos, como a
ansiedade.
"É uma daquelas questões para a qual a ciência e a
medicina têm solução, mas não descobriram a causa. O problema é
desencadeado por um gatilho, que não se sabe exatamente o que é. O
nervosismo não faz a pessoa começar a suar acima do normal, mas faz ela
não parar mais. É um ciclo vicioso", explicou.
Para resolver o
distúrbio, alguns pacientes recorrem à injeção da toxina botulínica
conhecida como Botox nas partes do corpo onde mais se transpira. O
tratamento custa entre R$ 2,5 mil a R$ 3 mil e precisa ser feito
repetido após um ano aproximadamente, pois perde o efeito à medida em
que o tempo passa.
"A substância inibe a ação das glândulas e o
paciente quase não transpira no lugar que fez a aplicação por mais ou
menos um ano", disse o médico.
Estudante de Publicidade e
Propaganda, David Mufarrej, 19 anos, sofria com o suor excessivo nas
axilas e optou por fazer o tratamento com Botox há cerca de um ano. Hoje
se prepara para fazer novamente o procedimento. "O que mais me
incomodava era a marca nas camisas. Tudo piorava em situações que eu
ficava nervoso ou ansioso. Mas o tratamento deu certo. Agora só passo
desodorante dermatológico", declarou David.
O uso de talco
antitranspirante, antibióticos, sabonetes e cremes antibacterianos
também ajuda a solucionar o problema. Ricardo Rocha ainda recomenda
banhos, reaplicação do desodorante e troca de roupa no meio do dia, para
evitar que fungos e bactérias se espalhem. "Em geral, não há efeitos
colaterais decorrentes desses tratamento mais convencionais, mas se
houver alguma reação alérgica pontual, é possível contê-la com produtos
diferenciados".
*Reportagem do estagiário Gustavo Côrtes, sob supervisão de Angélica Fernandes
Medicamento recém-liberado pela Anvisa reforça o arsenal de recursos para combater tumores no pulmão e na bexiga
Por
Vand Vieira
Sistema imune ocupa agora um lugar de
destaque no tratamento do câncer (Ilustração: Sattu//Aprovado novo
tratamento contra dois tipos agressivos de câncer/SAÚDE é Vital)
Considerada pela Sociedade Americana de Oncologia Clínica como o maior avanço contra o câncer
em 2017, a imunoterapia é a aposta da farmacêutica Roche no controle de
casos em que a doença acomete o sistema respiratório ou o urinário. Seu
novo lançamento no Brasil – o remédio atezolizumabe – segue os
princípios dessa nova forma de combater a doença, ajudando o próprio
organismo a detectar e agredir as células cancerosas em vez de tentar
atacar o tumor diretamente.
Aprovada esta semana pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária,
a molécula da vez é indicada para os seguintes cânceres: carcinoma
urotelial, que afeta a região da bexiga, e o CPNPC, que se desenvolve a
partir de células específicas do pulmão. Em ambos os quadros, a droga –
aplicada na veia – só entra em cena se o paciente não responder bem a
alternativas como a quimioterapia.
Em um dos estudos que justificaram sua liberação, o tratamento foi
colocado à prova em 1 225 pacientes de várias partes do mundo. O aumento
da média de sobrevida entre esses voluntários foi de aproximadamente
13,8 meses – o equivalente a 4,2 meses a mais do que o registrado com a
quimioterapia.
Tal eficiência foi comprovada frente a tumores avançados, que se
espalharam para outras áreas. É algo digno de nota, em especial se
considerarmos que o subtipo de câncer de pulmão tratável com o
atezolizumabe representa até 85% dos diagnósticos de sua categoria.
Mais: é difícil de identificar o tal CPNPC precocemente. Afinal, ele
ganha espaço lentamente e, via de regra, seus sintomas demoram a se
manifestar. Fora que tosse, dor no peito, rouquidão e por aí vai são
comumente negligenciados.
A questão, agora, é discutir o acesso desse e de outros imunoterápicos para a população como um todo. Hoje, nenhum deles está disponível na rede pública.
Manifesto
reúne as principais medidas que devem ser adotadas a fim de garantir o
bem-estar dos mais de 60 milhões de brasileiros com até 19 anos
Por
Vand Vieira
Saúde das crianças e dos adolescentes é de
responsabilidade dos pais e do Estado (Foto: IS//7 pontos mais
importantes para a saúde de crianças e adolescentes/iStock)
Crise econômica. Poucas vezes se falou tanto sobre esse assunto quanto agora. E é com base nesses debates acalorados que a Sociedade Brasileira de Pediatria acaba de divulgar tópicos que seus membros consideram fundamentais para o desenvolvimento de crianças e adolescentes.
O posicionamento alerta para o impacto do cenário atual no bem-estar
dos brasileirinhos, além de sugerir melhorias em campos como direitos
humanos, segurança pública e relações familiares. Abaixo, listamos as
que estão diretamente ligadas à saúde. Confira:
1. Na rede pública, a quantidade de leitos de internação deve ser suficiente para atender à demanda de crianças e adolescentes.
2. Medicamentos e outros insumos essenciais para um bom atendimento
em hospitais, postos de saúde e afins precisam estar à disposição.
3. Pais ou responsáveis têm de manter o calendário de vacinação dos filhos em dia.
4. Pediatras são os protagonistas da assistência a crianças e adolescentes.
5. Amamentação, alimentação saudável, atividade física e outros bons
hábitos devem ser incentivados por meio de campanhas de conscientização,
criação de espaços e suporte profissional.
6. Questões de segurança infantojuvenil precisam estar entre as prioridades para evitar mortes, acidentes, traumas e exploração.
7. Ao ver televisão ou navegar na internet, crianças e adolescentes
devem ser protegidos de conteúdos sexuais, violentos ou impróprios.
O que achou desses tópicos? Dê sua opinião!
Até 12% dos casos desse problema psiquiátrico poderiam ser prevenidos com um pouco de atividade física por semana
Por
Lucas Agrela (Exame.com)
Pode ser tênis, caminhada, corrida... O
importante é se exercitar por pelo menos uma hora na semana (Foto: Alex
Silva/A2 Estúdio)
Pesquisadores do Reino Unido, Austrália e Noruega
concluíram que uma hora de exercício por semana é o mínimo necessário
para evitar que você desenvolva depressão.
O estudo analisou dados
da população norueguesa de um amplo levantamento conduzido entre os
anos de 1984 e 1997. O objetivo era avaliar a relação entre a atividade
física e problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão.
Antes desse trabalho, já se sabia que o exercício minimizava os
efeitos negativos da depressão. Mas esse estudo liga a atividade à
prevenção dessa condição. E, de quebra, oferece uma estimativa do mínimo
necessário para colher esses frutos.
Segundo o levantamento, 12% dos casos de melancolia profunda poderiam
ser evitados se todas os voluntários suassem a camisa por ao menos uma
hora na semana. E outra coisa bacana: pelo visto, mesmo intensidades
leves já dão conta do recado.
Para conduzir o estudo, foram analisados dados de 33 908 mil pessoas
sem registros prévios de problemas de saúde mental. Elas foram
observadas, em média, por 11 anos.
Este conteúdo foi publicado originalmente no site da Exame.com
Metade dos internados em instituições
públicas e privadas com infecção generalizada morre. Por que o Brasil
não consegue controlar a sepse?
RAFAEL CISCATI
Quando Tancredo Neves morreu, em abril de 1985, os jornais informaram que o presidente sofrera “um processo infeccioso abdominal”. Por 38 dias, o país acompanhou apreensivo a trajetória de deterioração da saúde do presidente, que nem sequer chegara a tomar posse – de como suas dores abdominais evoluíram para um quadro de insuficiência renal e cardíaca. Tancredo morreu no dia 21. Ele foi uma das muitas vítimas ilustres da sepse, antigamente chamada septicemia e popularmente conhecida como infecção generalizada. Mais de 30 anos depois, o mal que matou Tancredo ainda é o que mais mata nas UTIs
brasileiras. Segundo uma nova pesquisa feita em todo o país, o problema
afeta, de maneira similar, instituições públicas e particulares – e
mais de 20% delas não contam com estrutura mínima para tratar
adequadamente dos doentes.
A sepse ocorre quando o organismo reage de maneira exagerada a uma infecção que não consegue combater. Há casos em que o problema inicial parece banal – como uma infecção urinária. Na tentativa de expulsar o invasor – ou quando a pessoa não recebe o tratamento adequado
–, o corpo dá início a um processo inflamatório violento que acaba por
comprometer seu próprio funcionamento. Se diagnosticada ainda nos
estágios iniciais, a sepse pode ser controlada. Mas não é esse o destino
da maioria das pessoas que, no Brasil, sofre com a doença.
Segundo
um levantamento organizado por pesquisadores da Universidade Federal
de São Paulo (Unifesp) e do Instituto Latino Americano de Sepse (Ilas),
ao menos 30% dos leitos de UTIs no país são ocupados por pacientes com a
doença. Desses, 56% acabam morrendo. Dos 420 mil casos tratados por
ano, 230 mil terminam em morte. É muito: nos Estados Unidos, por
exemplo, 29% dos doentes com sepse morrem. “É um problema mais fatal que
infarto do miocárdio”, diz Flávia Machado, professora da Unifesp e uma das coordenadoras do novo estudo.
Fatal e, até agora, pouco compreendido. O levantamento organizado por Flávia, publicado na revista científica The Lancet,
foi o primeiro a apontar, de maneira acurada, qual o alcance da sepse
no Brasil. Para fazer isso, os pesquisadores dividiram o país em 40
regiões. Coletaram os dados de 15% das UTIs em cada uma dessas regiões
até chegar ao número de 230 instituições participantes. Eram UTIs
públicas e privadas, com perfis econômicos variados. O esforço resultou
na amostra mais representativa já examinada sobre o assunto no país:
“Nos trabalhamos anteriores, acabavam participando somente as melhores
unidades”, diz Flávia. Esses estudos com instituições-modelo criavam um
retrato enganoso e apontavam que cerca de 40% dos pacientes com sepse
morriam – e não os 56% descobertos. Flávia constatou, ainda, que o
problema afeta, igualmente, instituições públicas e privadas. Nas
públicas, 56% dos pacientes morrem. Nas privadas, 55%.
Os números ruins do Brasil são resultado de uma combinação infeliz de fatores que, dentro e fora das UTIs, atrasam o início do tratamento
e comprometem seus resultados. Dentro das UTIs, pesa contra os
pacientes a infraestrutura inadequada de muitas instituições. Os dados
coletados por Flávia demonstram que elas estão mal preparadas para
oferecer aos doentes cuidados básicos – como acesso aos antibióticos
adequados e a outros itens simples, como soro fisiológico. A equipe de
pesquisadores elaborou uma lista com oito desses itens e práticas
importantes para o tratamento de sepse para avaliar a qualidade da infraestrutura oferecida
pelas UTIs. Em 23% delas, faltavam dois ou mais dos itens essenciais.
Eram instituições de “baixo recurso”, na classificação dos
pesquisadores. “E estar internado em uma UTI de baixo recurso aumenta as
chances de o paciente morrer”, diz Flávia. É esse o destino de 66% dos
pacientes internados com sepse nesse tipo de UTI.
Fora
das UTIs, a falta de informação sobre a doença aumenta a letalidade do
problema. De acordo com uma pesquisa Datafolha feita em parceria com o
Ilas em março deste ano, 86% dos brasileiros jamais ouviram falar sobre
sepse e não são capazes de reconhecer os sintomas da doença. São sinais
como confusão mental, tontura, febre e sonolência, acompanhados por uma infecção.
O resultado é que as pessoas demoram a procurar ajuda. Educar a
população é importante porque, ao contrário do que comumente se pensa,
quase metade dos casos de sepse começa fora do ambiente hospitalar: 40% dos pacientes desenvolvem o problema em casa.
Dos outros 60%, mais da metade desenvolve durante o atendimento de emergência ou durante a internação no hospital. Daí, vão para a UTI. “São casos que derivam de infecções por bactérias
resistentes, presentes nesses ambientes”, diz Jorge Salluh, professor
da Universidade Federal do Rio de Janeiro, do Instituto D’Or e
especialista em medicina intensiva, que não participou da pesquisa. “A
sepse é um problema que chama a atenção na UTI, porque é onde as pessoas
morrem. Mas ele começa fora.” Nessas situações, é importante que a
equipe do hospital esteja pronta para agir com presteza. O problema é
que também lhe falta preparo: uma pesquisa feita pelo Ilas em 2010, com
917 médicos, concluiu que somente 27,3% deles eram capazes de
diagnosticar a sepse. E que 44% não estavam preparados para diagnosticar
a sepse grave, uma evolução do problema. Isso retarda o início do
tratamento – e reduz as chances de sobrevivência. Do grupo acompanhado
pelos pesquisadores da Unifesp, somente 53% dos pacientes receberam o
antibiótico adequado já na primeira hora de manifestação da doença – uma
prática considerada básica. Sinal de que o diagnóstico
demorou a ser feito: “Em média, os hospitais levam seis horas para
reconhecer que aquele paciente internado desenvolveu sepse”, diz Flávia.
Há
maneiras de reverter esse quadro: “Nós temos bons exemplos, no Brasil,
de hospitais que foram capazes de reduzir a mortalidade. E que podem
servir de modelo”, diz Flávia. Outro estudo organizado por ela, e
publicado ainda neste ano, mostrou que, por vezes, bastam intervenções
simples. Flávia acompanhou um conjunto de 63 UTIs (25 públicas e 38
privadas) por quatro anos, enquanto elas implementavam programas de
melhoria de qualidade. Ao fim desse período, 58% das instituições
particulares tinham se tornado capazes de oferecer os antibióticos
essenciais ao tratamento dos pacientes – e haviam reduzido a mortalidade
de 47,6% para 27,2%. Nas instituições públicas, o resultado não foi tão
bom – somente 15,7% delas, ao final dos quatro anos, eram capazes de
oferecer esses antibióticos. Não houve redução significativa da
mortalidade.
A
percepção política do problema também parece mudar. No começo deste
ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a sepse como um
problema global. Foi um passo importante: esse reconhecimento significa
que a entidade passará a cobrar de seus países-membros políticas
públicas específicas para a sepse para tratar do problema e informar
melhor suas populações. “É preciso que se crie, para a sepse, a mesma
cultura que se criou em torno do infarto do miocárdio”, diz Salluh.
“Todo mundo sabe que as chances de uma pessoa que sofreu um infarto
sobreviver aumentam se ela for atendida precocemente. O mesmo vale para a
sepse.”
Para saber, alguns dos estudos citados:
*
The epidemiology of sepsis in Brazilian intensive care units (the
Sepsis PREvalence Assessment Database, SPREAD): an observational study * Two decades of mortality trends among patients with severe sepsis: a comparative meta-analysis * Survey on physicians’ knowledge of sepsis: do they recognize it promptly? * Quality
improvement initiatives in sepsis in an emerging country: does the
institution’s main source of Income Influence the results? An analysis
of 21,103 patients
Machismo e preconceito devem ser esquecidos quando o assunto é o combate ao câncer
O Dia
Rio
- Vamos ter hoje, leitor, um papo de homem para homem. Leitoras são
bem-vindas na nossa prosa, mas a coluna se propõe a abordar um tema que
tem a ver com os homens. E o machismo precisa ficar de fora da conversa.
O preconceito, também. No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais
comum entre os homens; fica atrás apenas do câncer de pele não
melanoma. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estimou 61.200 casos
novos de câncer de próstata em 2016.
O toque retal não vai dizer se você é mais ou menos homem
Divulgação
Homens a partir dos 45 anos com histórico familiar
e com 50 anos ou mais devem procurar o urologista. O profissional vai
solicitar alguns exames como dosagem sanguínea do antígeno prostático
específico (PSA) e ultrassonografia das vias urinárias e próstata. A
Sociedade Brasileira de Urologia recomenda ainda que esses homens
realizem o toque retal, um exame simples e que dura poucos minutos. O
médico, por meio desse procedimento, pode notar alterações na próstata,
como aumento do volume, nódulos e modificações na consistência da
glândula. Deixar de fazer esse exame pode custar caro. O toque retal não
vai dizer se você é mais ou menos homem que o sujeito que está ao seu
lado. E o urologista será capaz de orientá-lo para realizar exames mais
conclusivos, por exemplo, a biópsia da próstata.
O câncer da
próstata tem cura quando descoberto precocemente. Nem sempre o exame de
sangue PSA é capaz de fechar um diagnóstico. Os tratamentos propostos
variam: vão desde o acompanhamento da doença sem qualquer medicação por
um tempo até a cirurgia ou o uso da radioterapia e outros medicamentos. E
nas últimas décadas se avançou muito, aumentando ainda mais a chance de
cura.
O mais importante, especialmente no Brasil, ainda é
vencermos o preconceito dos homens procurarem o urologista. Infelizmente
ainda são comuns os casos de câncer da próstata que chegam aos
hospitais em estágios avançados, sem necessidade. O que podemos fazer
para mudar essa realidade? Falar abertamente, como ocorre na campanha
Novembro Azul, sobre uma questão que não tem nada a ver com sexualidade,
e salvar vidas. Quem assina o artigo é o dr. Carlos Eduardo, cardiologista
Ao menor sinal de rejeição ou diante de
um mero descontentamento, homens estão matando suas mulheres como nunca
se viu no Brasil — e, em alguns casos, assassinam também os filhos e se
suicidam
TIROS NA MADRUGADAO
casal Cláudia e Cristian: ela insistia para que o marido tomasse a
medicação necessária; ele a matou a tiros e se suicidou (Crédito:
Divulgação)
Antonio Carlos Prado
“Diz que eu não sou homem, diz agora que eu não sou homem,
quem aqui não é homem?”, berrou diversas vezes André Luis Santos para
Mizaelly Mirelly da Silva, uma jovem de vinte e dois anos. “Vo… cê não…
é… ho… mem”, balbuciou Mizaelly com a frase entrecortada pela
dificuldade de respirar ao estar sendo estrangulada. Seriam as suas
últimas palavras. Morreu. O algoz foi seu namorado. Ao constatar que o
corpo da parceira já estava inerte, André matou também o filho de sete
meses. Fugiu. Foi preso pela polícia de São Paulo, onde o crime
aconteceu. E confessou: “estrangulei porque eu não queria esse filho e
ela não abortou”. O caso se deu no bairro do Jaguaré, predominantemente
de classe média.
Um sofisticado condomínio no elegante bairro paulistano de Perdizes
se transformou em palco de outro trágico e desesperador espetáculo de
passionalismo na fria e garoenta madrugada do último domingo. O delegado
de polícia Cristian Sant’Ana Lanfredi, em licença médica de seu cargo
na Assembleia Legislativa de São Paulo devido a um severo quadro de
depressão, saiu de seu apartamento com a filhinha de seis anos no colo e
foi ao apartamento vizinho onde mora o padrinho da menina. Pediu então
para que cuidasse da garota, alegando que sua mulher, a juíza do
Trabalho Cláudia Zerati, acabara de abandonar o casamento, saíra do
prédio e ele precisava localizá-la. A afilhada, assim que se viu em
segurança, relatou outra história: sua mãe e seu pai haviam discutido
muito porque ele se recusava a tomar a medicação antidepressiva
prescrita pelo médico. Era tal o nervosismo da criança, que o padrinho
pressentiu o pior. Desceu à garagem para conferir se os dois carros do
casal estavam lá — e estavam. Chamou então o zelador, foram ao
apartamento de Cristian e, coração na garganta, abriram a porta que
estava destrancada: horror, sangue, morte. Segundo a polícia, Cristian
matou a esposa com um tiro na testa e, na sequência, suicidou-se também
com um tiro, disparado no lado direito da cabeça. Um dos relógios do
apartamento marcava seis horas da manhã. ESTÚPIDA EPIDEMIA PURA PERVERSÃO O
parceiro de Mizaelly a mandava falar “diga que não sou homem” enquanto a
estrangulava. Ao vê-la inerte, matou o filho de sete meses
A cidade de São Paulo, a casa do Jaguaré e o condomínio das Perdizes
são apenas um fechar de foco sobre um Brasil no qual se instaura e se
espalha uma nova, estúpida, triste e psicótica epidemia — a epidemia da
passionalidade. Em todo o País, nos últimos doze meses, estatísticas do
Ministério da Justiça apontam que duas mil e oitocentas mulheres foram
assassinadas por seus companheiros, numa questão de gênero, o chamado
feminicídio. De volta a São Paulo, onde quatro mortes de mulheres
aconteceram enquanto a polícia dava os primeiros passos na investigação
do crime do condomínio já citado, estima-se que um feminicídio ocorra a
cada quatro dias — setenta concentrados nos últimos meses, entre eles o
que vitimou a auxiliar de enfermagem Nathalia dos Santos Silva. O
criminoso fugiu.
Crimes passionais sempre aconteceram, e uma de suas motivações
prevalentes é o ciúme — ou seja, o tolo ditado de que “o ciúme é o
perfume do amor” pode até ser verdadeiro, mas desde que tal sentimento
se mantenha num contorno de racionalidade. Fora disso não há fragrância,
há cheiro de pólvora, vela e caixão. O que ocorre nos dias atuais, no
entanto, é que o assassino mata a mulher, mata os filhos e, algumas
vezes, se suicida, extinguindo da face da Terra o seu núcleo familiar —
deixando-se claro que a maioria ainda prefere fugir. Mergulhando na
mente dos que se matam após o crime, é como se fossem absurdas Medeias
pelo avesso: na tragédia grega, a clássica personagem assassina os
filhos para punir Jasão (que pretende abandoná-la), deixando nele a dor
da perda das crianças. Quanto aos homens-Medeia do presente, eles punem a
mulher, matando-a; punem os filhos, matando-os; e, paradoxalmente punem
a si próprios, suicidando-se.
É inevitável que se indague a interlocutores e aos botões da nossa
própria alma o que leva uma pessoa bem sucedida profissionalmente,
família consolidada e situação financeira estável, a cometer homicídio
seguido de suícidio. O que move as mãos para o gesto extremo e criminoso
de matar? E a naturalidade da indagação vem do vício em considerar,
numa imaginária escala de risco para esse tipo de comportamento, que a
probabilidade de sua ocorrência esteja mais ligada a indivíduos em
condições de vida simples e que não escalaram sequer a metade da
pirâmide social. A resposta, quem nos dá, é a dura realidade, na medida
em que apresenta aos nossos olhos tantos cadáveres de mulheres — e,
eventualmente, de suas crianças. Tudo isso se deve à passionalidade que
anda à flor da pele, à passionalidade que cega e vê numa rosa vermelha,
por exemplo, não uma rosa vermelha, mas, sim, uma hemorragia. Vê no
corpo da mulher que trai ou que parte não mais um corpo animado, mas,
sim, um aboslutamentente nada.
No Rio de Janeiro, amigos e familiares do engenheiro Nabor Coutinho
de Oliveira Júnior podiam esperar tudo na vida, menos que ele matasse a
sua mulher, Lais Khouri. Pois ele a matou, e matou os dois filhos e se
suicidou. A esposa morreu com facadas; as crianças a golpes de martelo;
ele saltou do décimo oitavo andar do condomínio de altíssimo luxo em que
a família morava na Barra da Tijuca. Faca, martelo, mergulho no ar,
isso é mais que violência, é mais que a suprema irritabilidade a vazar
pelos poros, é mais… não sei que nome dar. A sociedade está psicótica.
E, caso após caso, a surpresa vem incomodar. O empresário Oscar Augusto
Ferrão Filho, um dos sócios dos estacionamentos da Rede Park, atendeu
mecanicamente o telefone que tocava, porque é assim que todos nós,
acostumados a falar ao telefone, o atendemos. Veio a voz de seu irmão
João Alberto. Veio a bomba atômica do terror e do macabro: “acabei de
matar a minha mulher, a Renata, e agora vou me matar”. Um assessor da
empresa correu à cobertura em que João Alberto morava no bairro
paulistano do Itaim. Com certeza, gostaria de jamais ter visto o que
viu: Renata estava tombada no closet com um tiro na cabeça; no andar de
cima, na piscina, boiava, também já sem vida, o corpo do empresário. Em
Recife, no bairro do Rosarinho (classe média alta), um namorado não
aceitou na semana passada a separação amorosa e matou com crueldade a
companheira (nomes preservados pela polícia). A não aceitação do final
da vida a dois, aliás, vem sendo também motivo de crime, ao lado do
ciúme, pagamento de pensão alimentícia e disputa pela guarda de filhos. A MORTE PELO TELEFONE João Alberto telefonou para o irmão: “Acabei de matar a Renata (no detalhe), e agora vou me suicidar.” Na cobertura em que moravam, um corpo tombou no closet, o outro, na piscinaPaís do feminicídio
Foi esse último fator, por exemplo, que disparou a ira e o revolver
com que o PM Maurício Gama fulminou a ex-mulher Celina Mascarenha, na
presença do filho. Quando o garoto lhe perguntou o porquê, ele respondeu
com ironia e sarcasmo: “é para a mamãe descansar um pouco”. Há, no
passado, dois episódios de passionalismo e irracionalidade que
alimentaram até a mídia internacional: Doca Street matou a modelo Angela
Diniz porque ela o traiu com outra mulher, e o cantor Lindomar Castilho
assassinou a sua esposa Eliane de Grammont, porque ela já não o queria
como marido. Existe, no entanto, um traço comum envolvendo esses
delitos, independentemente de época ou gerações. Em todos eles, o homem
feminicista é extremamente narcisista, coisifica a parceira e a
transforma em sua propriedade. Não é incomum esse homem não estar nem aí
para a mulher, enquanto ela permanece ao seu lado, mas desesperar-se e
tornar-se violento se surgir uma ameaça de rompimento. Quando essa
mulher, antes dominada e transformada em coisa (espelho narcísico do
companheiro, pela psicanálise), cogita despedir-se da relação, o homem
portador de tal transtorno vê sua “cristaleira de narcisismo” virar
cacos. Não suporta isso, não crê que esses cacos se colarão novamente. E
então mata na esperança de conseguir voltar a ser, ele mesmo, o seu
espelho. O que está em jogo é prepotência e arrogância. Há no País uma
estatística de tirar o ar: cerca de trinta por cento das mulheres
assassinadas morreram nas frias mãos de seus parceiros.
Qual a solução para isso tudo? É difícil. Desensandecer uma sociedade
e desarraigar essa espécie de comportamento não é o mesmo que tocar
meia dúzia de malucos que tomam banho nus em um chafariz público. Mas,
pelo menos, sabe-se qual não é a solução — e isso já é muita coisa. No
Brasil, decretos e leis brotam do nada e não resolvem, igualmente, nada.
A Lei Maria da Penha e a criação do termo feminicídio, por si só, não
mudaram e nem mudarão o quadro de passionalidade. Demagogicamente Dilma
Roussef criou essa expressão, e daí? O número de mulheres agredidas e
mortas só fez aumentar exponencialmente, chegando ao seu auge nas
últimas semanas e, infelizmente, sinalizando que seguirá crescendo. O
temperamento humano (um dos fatores genéticos que compõem a
personalidade) não muda por decreto. Homens portadores de transtorno da
personalidade narcísica não deixarão de ter baixíssimo limiar de
tolerância ao verem negado, por uma mulher, o menor de seus carpichos.
Com certeza, é hora de reabrir o clássico Raízes do Brasil, de Sérgio
Buarque de Hollanda. Ele definiu e explicou porque a “cordialidade
brasileira” é passional, e, assim sendo, pode explodir para o bem ou
para o mal. Loucamente estamos vivendo na segunda alternativa. Que o
diga a dor eterna dos parentes das mulheres assassinadas, dos parentes
dos filhos assassinados, e dos parentes dos assassinos suicidas. TRAGÉDIA NA BARRA DA TIJUCA O
engenheiro Nabor e seus dois filhos: ele assassinou as crianças a
golpes de martelo, matou a esposa a facadas e saltou do décimo oitavo
andar do prédio onde moravam
Dentro dos contornos da violência a massacrar o gênero feminino pelo
único fato de ele ser feminino, embora no caso a seguir não se possa
falar direitamente em passionalismo porque isso implica idade adulta, é
estarrecedor o que se viu em Goiânia na semana passada. Um garoto de
treze anos matou a facadas uma adolescente de catorze, sua vizinha e
colega de escola. É influência dos tantos episódios de crimes
passionais? O menino fez o que fez porque psiquiatricamente é portador
de transtorno de conduta (indicativo de psicopatia na vida adulta)? É de
tudo um pouco. À polícia ele disse que assassinou Tamires Paula de
Almeida e carregava a mórbida intenção de “acabar com mais duas”. Disse
ainda: “foi para ver de luto a sala de aula”. Agora prepare a cabeça, o
coração e o estômago: “matei Tamires porque mulheres são mais fracas”.
Brasil, é muita dor. Com reportagem de Thais Skodowski