
O desafio atual dos especialistas é selecionar os óvulos, os espermatozoides e o embrião (para que ele tenha maiores chances de se grudar à parede do útero, possibilitando a evolução da gravidez). No que se refere ao embrião, um dos recursos mais recentes é uma incubadora onde eles ficam guardados desde a fecundação até o momento de ser transferidos para o útero. Com uma câmera acoplada, o equipamento grava e transmite imagens em diversos planos, uma espécie de big brother. “Isso permite acompanhar seu ritmo de desenvolvimento sem a necessidade de tirá-lo da incubadora para observação”, diz o ginecologista Carlos Petta, chefe da área de medicina reprodutiva do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Poupá-lo da manipulação feita a cada oito horas para ser avaliado é um ponto positivo. “É uma proteção à sua integridade que evita, por exemplo, mudanças de temperatura”, diz o ginecologista Bruno Scheffer, da Clínica IBRRA, de Belo Horizonte (MG).
Na opinião de médicos espanhóis do Instituto Valenciano de Infertilidade, um dos centros de referência mundiais no tratamento da infertilidade e o pioneiro no desenvolvimento e utilização da incubadora, a técnica pode elevar em até 20% as chances de gravidez em cada transferência de embrião – em novembro do ano passado, o instituto anunciou o nascimento do primeiro bebê concebido com o auxílio do método. Além de evitar a manipulação do embrião, a possibilidade de acompanhá-lo até o quinto dia

Essas novas ferramentas estão levando a uma revisão nos critérios para descartar embriões. “Muitas vezes, os que têm o melhor formato não são os que apresentam o melhor ritmo de desenvolvimento, o que é um critério importante para a escolha”, diz o especialista em reprodução assistida Paulo Olmos, do Projeto Alfa, em São Paulo. Para aprofundar essas análises, estão em andamento estudos do chamado metaboloma do embrião. Trata-se da análise de proteínas e gases encontrados no meio de cultura (um caldo de substâncias) em que ele fica mergulhado. Dependendo das substâncias ali presentes, o desenvolvimento é considerado normal ou não. No Brasil, testes desse tipo já são realizados na Universidade Estadual de Campinas. Aliás, o preparo

Orientado por esses princípios, o especialista Francisco Colucci, de Campos, no Rio de Janeiro, anunciou na semana passada o nascimento de Maria Vitória, o primeiro bebê brasileiro nascido por meio de uma técnica conhecida há duas décadas, porém pouco usada no Brasil, a Invo. Colucci recolheu o óvulo e o espermatozoide e colocou-os em uma cápsula no fundo da vagina da mãe. Três dias depois, ela foi retirada para avaliar quantos embriões haviam se formado. A técnica tem baixo custo e é adequada para mulheres jovens com problemas tubáreos (como no caso de laqueadura) e casais com óvulos e espermatozoides de boa qualidade.Uma das aplicações mais importantes desses métodos de triagem é a redução das gestações múltiplas. “É uma preocupação cada vez maior”, diz o ginecologista Edson Borges, da Clínica Fertility, de São Paulo. Isso se faz limitando o número de embriões transferidos para o útero por tentativa. Países como a Dinamarca e a Suécia, por exemplo, concluíram que é mais econômico para o governo custear sucessivos tratamentos de fertilização in vitro com a transferência de um único embrião para a mesma mulher do que custear a internação de gêmeos, trigêmeos ou quadrigêmeos nascidos prematuramente em UTIs. No Brasil, uma norma do Conselho Federal de Medicina estabeleceu regras para o número de embriões a ser transferidos (depende da idade da mulher).
A preservação da fertilidade feminina é mais um tema que ganha espaço. E

No mundo, cresce o número de mulheres saudáveis com idade inferior a 35 anos que estão recorrendo à vitrificação para ter filhos mais tarde. “É um benefício do qual elas já podem usufruir se forem bem orientadas”, diz Artur Dzik. A eficiência da técnica é também um alento para pacientes em terapia contra o câncer (o tratamento pode criar problemas de infertilidade). “O fato de conservar os óvulos garante a possibilidade de ter um filho após a terapia. É uma esperança que também ajuda na recuperação”,

O conhecimento das origens da infertilidade masculina também avança. Em uma das frentes de pesquisa, o desenvolvimento de um equipamento que aumenta 6,6 mil vezes o tamanho de um espermatozoide está permitindo o exame do gameta masculino com maior precisão. É o chamado SuperIcsi. E isso também está levando os especialistas a rever alguns critérios de escolha. Um dos parâmetros usados nos dias atuais é verificar a presença de vacúolos na cabeça do espermatozoide. Vacúolos são gotas de material genético contendo proteínas que podem prejudicar a capacidade reprodutiva do espermatozoide. “Isso não podia ser visto pelo método que existia anteriormente, que ampliava 400 vezes o espermatozóide

Além disso, cientistas da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, criaram um método que revela se as instruções genéticas armazenadas pelo espermatozoide estão intactas ou danificadas. Depois de estudar as células reprodutivas de 50 homens, o pesquisador Gabor Huszar constatou que aquelas que mantinham seu DNA intacto responderam de maneira diferente das que têm algum dano ao ser mergulhadas em uma solução contendo ácido hialurônico (substância do nosso organismo que preenche os espaços entre as células). “Nosso método é comparável à seleção natural realizada pelo óvulo, que só permite a entrada de espermatozoides com bom material genético”, disse Huszar, que liderou o trabalho publicado no “Journal of Andrology”.
Muitos outros aspectos interessantes estão na mira da ciência. A pesquisadora Mylene Yao, da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, por exemplo, desenvolveu um modelo matemático para prever as chances de êxito na segunda tentativa de FIV. “Usamos 10 a 15 informações clínicas para fazer a estimativa”, disse ela à ISTOÉ. A cientista está deixando seu cargo de docente na universidade. Ela quer se dedicar a uma companhia que fundou com a intenção de fabricar o programa de computador desenvolvido por ela, para fazer esse cálculo e, dessa maneira, torná-lo disponível aos especialistas.
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