domingo, 16 de outubro de 2011

Nova chance para os pulmões

Procedimento aumenta a capacidade respiratória de portadores de enfisema, doença que costuma atingir os fumantes

Mônica Tarantino

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Uma nova modalidade de tratamento está chegando ao País para aliviar os sin­tomas dos portadores de enfisema grave, uma doença crônica que progressivamente debilita a capacidade respiratória e prejudica a qualidade de vida. Vinte por cento da po­pulação mundial acima de 65 anos convive com o problema, a maioria fumante (o tabagismo é o mais importante fator de risco).

A enfermidade deteriora os alvéolos, estruturas pulmonares que realizam as trocas gasosas com o sangue. Isso torna mais lenta e difícil a eliminação do ar contido no órgão. Com o tempo, os pulmões ficam cada vez mais dilatados, o que aumenta a falta de ar e o cansaço. A técnica que agora começa a ser usada no Brasil é feita para murchar a parte do pulmão mais atingida pela doença. Dessa maneira, cria-se mais espaço no tórax para o órgão se expandir durante a inspiração.

O método consiste na colocação de pequenas válvulas nos canais que levam o ar até os pulmões, os brônquios. A missão desses dispositivos, feitos de silicone e nitinol (uma liga de níquel e titânio), é desviar o ar inspirado para as áreas do órgão menos atingidas pelo enfisema. “Quando a pessoa inspira, a válvula se fecha e impede que o ar entre nas regiões comprometidas. Quando a pessoa expira, a válvula se abre para permitir também o escape do ar contido nessas áreas”, explica o médico e pesquisador Hugo Goulart de Oliveira, Chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde o dispositivo foi testado e aprimorado por nove anos. O tratamento foi avaliado em outros seis países. Atualmente, a técnica está disponível em mais de 20 países na Ásia e Europa.

Até agora, pacientes em estado grave eram tratados com remédios broncodilatadores, reabilitação respiratória e cilindros de oxigênio para dar mais fôlego àqueles que muitas vezes não conseguem sequer levantar da cama. Nos casos severos, as alternativas eram a internação para ventilação artificial ou o transplante. Havia uma terceira possibilidade, que era a cirurgia de redução de volume pulmonar. “Porém ela tem alto risco de mortalidade”, diz o pneumologista Oliveira. Por essa razão, nos Estados Unidos, menos de 100 operações desse tipo são feitas por ano.

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OPÇÃO
Rey usará válvulas para ter fôlego e ficar independente do cilindro de oxigênio

Diante desse quadro, a colocação das válvulas é uma luz no fim do túnel. “Elas não curam o enfisema, mas melhoram imensamente a qualidade de vida de doentes bem selecionados”, diz o cirurgião torácico Luis Carlos Losso, do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcellos, de São Paulo, um dos hospitais paulistanos de primeira linha que começam a realizar o procedimento. Uma das condições é que a enfermidade não tenha acometido gravemente todo o pulmão. Bem indicada, a técnica proporciona a recuperação de até 25% da capacidade respiratória.

O aposentado carioca Oscar Taubkin, 73 anos, é um dos 64 brasileiros submetidos ao novo método na fase em que sua realização era supervisionada pela equipe gaúcha. Ele recebeu três válvulas no pulmão direito. “Eu não conseguia mais sair de casa”, conta. “Dois dias depois de pôr as válvulas, fui a uma churrascaria e no mesmo mês viajei à Europa.” O procedimento de Taubkin foi pago pelo convênio, mas isso ainda não é regra.

A nova opção para os pacientes de enfisema por enquanto não está disponível na rede pública e tem custo elevado. “O que se espera é que o governo faça as contas e entenda que vale a pena pagar pelas válvulas para reduzir as internações e complicações”, diz o paulistano Arnaldo Salgueiro Rey, 47 anos, que passará pelo procedimento esta semana. Para tratar seu enfisema, surgido há 14 anos em consequência de uma deficiên­cia genética rara, ele toma medicamentos, usa oxigênio e fez redução pulmonar. “As válvulas me ajudarão a viver mais livre, sem carregar um equipamento para respirar”, diz Rey.

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