terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Número de transplante é o maior em 14 anos


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AGÊNCIA BRASIL
O grande desafio do ano é zerar a fila de espera por transplante de córnea, no Estado
O mês de janeiro de 2012 foi o melhor, desde 1998, tendo registrado 92 transplantes de órgãos

O ano começou bem, otimista. Deixou esperançoso quem espera por uma vida nova nas filas de transplantes. O mês de janeiro de 2012, segundo a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), foi o melhor, desde 1998, com o maior números de doações de órgãos. Foram 92 transplantes realizados; um recorde nos últimos 14 anos. São cerca de três doações por dia. Entre elas, quatro cirurgias de coração.

"Se continuarmos assim, podemos superar, facilmente, os números do ano passado. Ficamos felizes com o resultado", afirma a coordenadora da Central de Transplantes da Sesa, Eliana Barbosa. Em janeiro de 2011, foram 80 doações e 1.292 cirurgias, 107 a cada mês.

Tendo as doações de janeiro como base, fazendo uma projeção para o restante dos meses, o ano terminaria com 1.104 transplantes, número ainda bem abaixo da meta anual estipulada pela Sesa que é de 1.800, uma média de 150 por mês. Para melhorar ainda mais os índices, a estratégia seria, conforme a coordenadora, investir na educação e na capacitação dos profissionais para o máximo aproveitamento dos doares que chegam.

Desafios

"Queremos passar, ainda neste ano, para o montante de 19 mil doadores para cada um milhão de habitantes no Ceará. Antes trabalhávamos com 16. Estamos avançando mais e mais a cada mês", relata a coordenadora.

Entretanto, o grande desafio ainda é, segundo ela, tentar zerar a fila de córnea. Garantir que cada paciente não espere mais que um mês para ser beneficiado. Atualmente, o tempo de espera se posterga por até oito meses.

A mudança se deve também pelos estímulos dados com a Lei 9.434/97. Assim, há 15 anos, o cenário dos transplantes no Ceará começava a evoluir, virar política pública. A legislação permitiu que os brasileiros pudessem ser doadores de órgãos, bastando informar seu desejo aos familiares. Antes, o cidadão era obrigado a comparecer ao cartório e, desse modo, declarar a vontade. Em 1998, mesmo com a norma já em vigor, só existiam quatro centros transplantadores no Estado. Hoje, somam-se mais 29.

De 1998 a 2001, o Ceará transplantava coração, rins e córneas. A partir de 2003, passou a realizar também transplante de fígado. A diversificação e as inovações são um dos fatores decisivos nos recordes sucessivos de transplante dos últimos anos.

Fazendo uma retrospectiva dos números, já são cinco anos de recordes no Ceará. Enquanto no ano de 2006, a quantidade de transplantes foi de 446, em 2007, este número subiu para 654. Em 2008, um novo salto, com 739 transplantes realizados e, em 2009, a marca de 767 foi alcançada. O Estado ainda comemora por ser o primeiro do País em transplante de fígado.

Campanha

A Fundação Edson Queiroz levanta, desde 2003, a bandeira a favor da doação de órgãos no Ceará com o importante movimento Doe de Coração. Desde então, o número de doações não parou de crescer, o que demonstra que a campanha além de informar, contribui para a quebra de tabus relacionados à doação de órgãos em todo o Brasil.

A iniciativa foi reconhecida pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), em prêmio concedido à Fundação Edson Queiroz, na pessoa de sua vice-presidente, dona Yolanda Queiroz. Em sua 10ª edição, a ação continua tendo êxito para que, cada vez mais pessoas, que estão na fila de espera, possam ser beneficiadas.

SAIBA MAIS

Meses de janeiro:

1998 - 12 transplantes
1999 - 28 transplantes
2000 - 32 transplantes
2001 - 19 transplantes
2002 - 27 transplantes
2003 - 43 transplantes
2004 - 46 transplantes
2005 - 42 transplantes
2006 - 18 transplantes
2008 - 48 transplantes
2009 - 72 transplantes
2010 - 80 transplantes
2011 - 80 transplantes
2012 - 92 transplantes

IVNA GIRÃO
REPÓRTER

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Um passo contra o Alzheimer


Células-tronco pluripotentes são aquelas capazes de se transformar em qualquer outra célula do corpo humano. Pesquisadores americanos mostraram que através de um processo de indução dessas células é possível reproduzir em laboratório neurônios com mal de Alzheimer. Abre-se assim uma possibilidade de se analisar as alterações bioquímicas próprias da enfermidade e desenvolver técnicas de diagnóstico e tratamento

domingo, 29 de janeiro de 2012

Treinamento antimonotonia

O CrossFit, exercícios que combinam esportes olímpicos e treinamentos militares americanos, se alastra entre os brasileiros

Luciani Gomes

Assista ao vídeo e saiba mais sobre a modalidade :

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CRIATIVIDADE
Britto (acima) ensina aos alunos a atividade do dia. A aluna
Caty (abaixo) se diverte com as propostas inusitadas do treinador

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Achar modalidades mais criativas é uma preocupação constante na vida de quem está acostumado a malhar e precisa se manter motivado. Em algum momento, a atividade escolhida perde a graça e é preciso encontrar algo diferente. A mais recente inovação nessa área é o CrossFit, uma ginástica elaborada com base nos treinamentos do Exército e da Marinha dos Estados Unidos e de atletas olímpicos. No Brasil, o número de adeptos cresce e surgem academias especializadas na modalidade.

Um dos segredos da popularidade que o CrossFit está alcançando é o elemento surpresa. Nada de aparelhos ou séries fixas de exercícios. “O aluno sempre chega à aula sem saber o que vai acontecer”, explica o professor carioca Andrei Britto, 31 anos, coordenador da academia CrossFit Leblon. A diversão já começa na escolha do local, pois as atividades tanto podem acontecer na própria academia como ao ar livre, em casa e até na praia. O roteiro das aulas também muda a cada encontro. Plantar bananeira, correr na praia, saltar degraus, escalar e pular corda são alguns dos 300 exercícios que compõem o repertório de possibilidades do método. Eles serão selecionados de acordo com o preparo físico do aluno, que determina também a intensidade da aula. “Os exercícios podem até ser os mesmos para todas as faixas etárias, porém, com carga diferenciada”, explica o professor Britto.

Foi esse aspecto lúdico que atraiu o designer carioca Ricardo Prema, 32 anos, de Manaus, no Amazonas. “É como se fosse uma brincadeira com os amigos. Nada é mecânico”, diz. Ele treina entre três e quatro vezes por semana em uma praça da cidade e conta que é comum ser parado por crianças que, curiosas, querem participar da atividade. “Elas pedem para brincar também. Já me chamaram de super-herói em razão dos movimentos que faço”, diverte-se. Por causa do dinamismo impresso às aulas, não há como calcular a queima de calorias. Mas essa não é a meta principal de quem opta pela modalidade. O que os seus adeptos mais desejam é ganhar força e resistência. Nadador há três anos, o carioca Gian Filippo, 28 anos, recorreu a essa atividade justamente com o objetivo de equilibrar a rotina de exercícios e ganhar mais massa muscular. Com a prática, percebeu uma melhora até no desempenho na natação. “Estava um pouco estagnado e consegui evoluir”, diz Fillipo.

Por causa da inspiração militar, o esforço e o estímulo à superação aos praticantes do CrossFit são potentes. Foi isso o que atraiu a fisioterapeuta carioca Caty Milene Oliveira, 28 anos. Ela já praticava pilates e musculação, mas arrumou espaço na agenda para o CrossFit. “São exercícios simples, mas que exigem do corpo o que é preciso e com intensidade”, diz Caty, que chegou a carregar um colega nas costas durante uma caminhada na praia. Entretanto, ainda que os praticantes insistam que a modalidade não tem contraindicações, é necessário que o aluno e seu instrutor realmente prestem muita atenção aos limites do corpo. “Deve-se introduzir o treinamento de maneira lenta e progressiva. No caso de qualquer deficiência ou dificuldade, também é importante estar alerta para adaptar o treino às condições de cada um”, diz o médico paulistano Arnaldo José Hernandez, 56 anos, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte.

Os fãs do CrossFit também consideram-no a atividade completa. “Conseguimos aperfeiçoar diversas capacidades físicas, sem dar preferência a uma ou a outra, e trabalhar as várias funções do corpo”, afirma Joel Fridman, 36 anos, coordenador-técnico da academia paulistana CrossFit Brasil. Na visão do especialista Hernandez, porém, é aconselhável unir o CrossFit a outro esporte ou ginástica. “Pode ser uma corrida mais longa, natação ou ginástica localizada. A lógica de compor as qualidades treináveis do corpo, tais como força, agilidade e coordenação, de maneira equilibrada deve estar sempre presente”, diz o médico.

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sábado, 28 de janeiro de 2012

A ciência do otimismo

Pesquisas mostram que 80% das pessoas têm uma tendência natural para o comportamento positivo. E que ele protege de doenças, alimenta a autoestima e até melhora relacionamentos

Rachel Costa

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2012 mal começou e já carrega uma série de prognósticos preocupantes. A crise econômica mundial não deve arrefecer e, na Europa, a situação dos países da zona do euro está cada vez pior. O crescimento projetado para o Brasil é bem menor que o registrado nos últimos tempos e há até quem acredite, lançando mão de um calendário maia, que este será o derradeiro ano da nossa existência sobre o planeta. Nada animador. Apesar dos tons acinzentados dessas previsões, boa parte dos brasileiros entrou o ano imerso em boas expectativas. Basta checar os números recém-divulgados do Barômetro Global do Otimismo, uma pesquisa mundial que mede a presença desse sentimento pelo mundo, para constatar que a onda “pra frente Brasil” toma conta do País: 74% da população acredita que, sim, apesar de todas as sinalizações pessimistas, 2012 será melhor que 2011. E nem adianta evocar a crise mundial ou desfiar dados negativos da economia, pois 60% dos entrevistados estão confiantes de que os próximos 12 meses serão um período de prosperidade econômica.

De um lado a expectativa, de outro, a realidade. A aparente disparidade entre esses dois ângulos, acredite, não é um erro de cálculo. Pelo contrário, é uma elaborada estratégia do nosso cérebro para nos fazer seguir adiante. A artimanha atende pelo nome de “viés otimista” – a tendência dos nossos neurônios de pender para o otimismo ao projetar o futuro. A boa notícia é que esse modus operandi não é exclusividade de alguns poucos. Estima-se que essa seja a dinâmica cerebral de 80% das pessoas. E os impactos do otimismo, comprova a ciência, vão bem além de sonhar com um futuro melhor. Ele aumenta a autoestima, facilita os relacionamentos, movimenta a economia e faz bem à saúde.

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“Estou mais madura na relação e escolhi
alguém dentro do perfil que eu queria”

OTIMISTA NO AMOR
Gisela Rao, que após dois casamentos frustrados não teve medo de
encarar um novo matrimônio e se prepara para subir ao altar com Beto

Intrigada com a tendência do cérebro humano de enxergar o amanhã como uma grande promessa, a neurocientista Tali Sharot, da University College London, no Reino Unido, dedicou-se a compreender o fenômeno e descobriu que há uma certa dose de conveniência no nosso comportamento. “Não é que não pensemos em coisas ruins para o futuro, mas sim que nossos neurônios são eficientes ao armazenar as expectativas boas, mas falham ao incorporar informações ligadas às expectativas ruins”, disse à ISTOÉ. Como resultado dessa equação desequilibrada, pendemos para o otimismo. Parece difícil acreditar? “Experimente projetar quantos anos você viverá”, provoca a cientista. “A maior parte das pessoas superestima a expectativa de vida em 20 anos ou mais” (entre os brasileiros, por exemplo, a expectativa de vida é de 73 anos). Da mesma forma, é difícil alguém se casar achando que vai se separar, embora 40% das uniões no Brasil terminem na primeira década.

Tali foi além e mapeou o que ocorria no cérebro durante a elaboração dos pensamentos positivos. Quando eles ocorrem, há uma queda na atividade do córtex pré-frontal, região responsável por monitorar a diferença entre a realidade e o que imaginamos para o futuro. Quanto maior o grau de otimismo, menor a atividade nessa área, gerando o fenômeno descrito pela pesquisadora. Tudo isso é um mecanismo de autoproteção. “Entre os animais, somos os únicos que temos a noção de finitude”, diz o neurocientista Antônio Pereira, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. “Ter ciência dessa condição poderia nos impedir de realizar projetos futuros, em especial aqueles de longo prazo.” Assim, durante a evolução, nosso cérebro aprendeu a esperar sempre mais do amanhã. A falha desse mecanismo, para Tali, vem acompanhada dos quadros de depressão – que estariam representados justamente por aqueles 20% de pessoas em que não se observa o “viés otimista”.

Se não acreditasse que o mundo seria diferente, certamente o designer carioca Flávio Deslandes, 39 anos, teria abandonado, em 1995, o ousado projeto que lhe ocupava a cabeça: construir bicicletas de bambu. “Ouvi de professores que era loucura, que não iria dar certo”, diz. Afinal, ele havia escolhido um material tido como de segunda linha (o bambu) e um produto com pouco glamour (à época, usar bike como meio de transporte era associado à falta de dinheiro). Mesmo assim, Deslandes seguiu na empreitada e, em 2000, sua bicicleta de bambu estava à venda na Dinamarca, país onde foi morar. Desde então, a ideia vem recebendo vários prêmios de design e ganhando fama mundial como uma alternativa ecológica para o transporte. “O otimismo nos faz assumir riscos e, com isso, avançar”, avalia o psiquiatra Irismar Reis de Oliveira, da Universidade Federal da Bahia.

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“Ouvi de professores que era loucura, que não iria
dar certo, mas eu acreditava na ideia e resolvi tentar”

OTIMISTA EMPREENDEDOR
Flávio Deslandes, empresário que fabrica bicicletas de bambus premiadas no mundo inteiro

Parte dessa força motriz capaz de alterar até o funcionamento de nossos cérebros está guardada em nossos genes. Alguns deles controlam o transporte de serotonina, neurotransmissor que tem, entre outras, a função de regular o humor e o comportamento das pessoas. Já era de conhecimento dos cientistas que falhas nesse gene aumentavam as chances de depressão após eventos negativos. Um passo além, porém, foi dado por pesquisadores da Universidade de Essex, no Reino Unido, que descobriram outra alteração no mesmo gene 5-HTTLPR, que faz as pessoas enxergar melhor as coisas boas – literalmente. No experimento, 97 voluntários buscavam por um ponto em meio a imagens que podiam ter conteúdo positivo, negativo ou neutro. Quem tinha a alteração, demorava mais para encontrar o ponto nas imagens com remissão a coisas ruins e era mais rápido nas cenas positivas. “Como se tivessem uma espécie de aversão às imagens negativas”, compara Elaine Fox, coordenadora da pesquisa. Agora, os cientistas buscam outros mecanismos genéticos que expliquem por que algumas pessoas são naturalmente otimistas. “Não existe um único gene do otimismo”, afirmou Elaine à ISTOÉ. “O 5-HTTLPR é apenas um que conseguimos descrever o funcionamento.”

Enquanto esse quebra-cabeça biológico não é decifrado, outra aposta é na criação de métodos para ensinar o otimismo. O expoente dessa busca é o americano Martin Seligman, pai da psicologia positiva, disciplina criada por ele na década de 1980. Incomodado pela profusão dos estudos sobre doenças mentais na psicologia, Seligman se propôs a abandonar a patologia e pesquisar o lado bom da vida. Otimista nato, ele dedicou seus últimos 30 anos a enumerar os benefícios do comportamento positivo. Em suas pesquisas, os políticos otimistas ganham mais eleições, os estudantes otimistas têm melhores notas e os atletas otimistas vencem mais competições. E, para desespero dos pessimistas, a falta do gene do otimismo não é desculpa. É possível alterar o comportamento de uma pessoa para torná-la mais otimista, garante a psicologia positiva. “Otimismo é crer que as situações ruins são temporárias”, define Daniela Barbieri, presidente da Associação de Psicologia Positiva da América Latina. “É possível aprender a ter essa reação por meio da identificação e do monitoramento do pensamento negativo”, esclarece. A fórmula é simples. Antes de decretar que não vai dar certo, pense se não há alternativas menos aterrorizantes.

Quem é otimista faz naturalmente esse movimento. Para a maioria dos brasileiros, por exemplo, o Congresso é formado por uma corja de ladrões e a única solução seria a prisão coletiva. Essa, porém, nunca foi a solução antevista pelo publicitário mineiro Fernando Barreto, 39 anos, um otimista político de carteirinha. “Não acreditar na validade do sistema democrático é o mesmo que desistir dele”, afirma. “O que precisamos é fazê-lo evoluir e, para isso, a gente precisa acreditar nele.” Em vez de gastar o tempo falando mal dos deputados e senadores em mesas de bar, Barreto reuniu dois amigos e foi pensar ferramentas que permitissem aos cidadãos monitorar seus representantes. Na frente do computador, inventaram o Vote na Web, plataforma por meio da qual é possível acompanhar o trabalho dos legisladores – como votam e o que propõem. “Ouvimos muito a frase ‘brasileiro não gosta de política, isso não vai dar certo’”, diz. De ideia de maluco a iniciativa louvada pela Organização das Nações Unidas foram menos de três anos.

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“Sem otimismo você não sobrevive ao
tratamento. Ele é doloroso e exige muito”

OTIMISTA NA DOENÇA
Carla Mannino, que passou por dois anos de quimioterapia e
radioterapia para tratar um câncer de mama diagnosticado em 2006

Se o otimismo de uma pessoa ou de um pequeno grupo já é capaz de gerar iniciativas interessantes, como é o caso do Vote na Web, o que não dizer do comportamento positivo generalizado? Quando centenas, milhares de pessoas acreditam que algo vai dar certo, dá certo? A resposta, de acordo com um grupo de pesquisadores da Universidade de Miami, nos Estados Unidos, é sim. Para chegar a essa conclusão, eles realizaram um estudo pioneiro em que cruzaram índices de recuperação econômica e otimismo da população nos Estados Unidos. Quando havia mais otimismo, a recuperação acontecia de forma mais rápida. “O resultado nos surpreendeu. Estamos planejando agora um estudo para avaliar se o mesmo mecanismo pode ser aplicado às empresas”, disse à ISTOÉ Alok Kumar, coordenador do trabalho. Laure Castelnau, diretora-executiva de marketing e novos negócios do Ibope Inteligência – responsável por levantar os dados brasileiros para o Barômetro Global do Otimismo –, explica que esse é o motivo do interesse em se medir o otimismo da população. “É uma medição da expectativa. Ele mostra o que as pessoas esperam em relação aos preços, à educação e ao crescimento econômico”, diz.
Um bom exemplo de aposta no otimismo coletivo é o Fórum Social Mundial. Nascido em solo brasileiro, na cidade de Porto Alegre, em 2000, desde então, o evento reúne, anualmente, milhares de manifestantes embalados pelo lema de que “um outro mundo é possível” para debater propostas relacionadas ao bem coletivo. Um dos criadores do modelo é o político e ativista Chico Whitaker, 80 anos, “um otimista social”, como ele mesmo gosta de se definir. O conceito, explica, usa em contrapartida ao otimista individual. Enquanto este se move pela confiança em si e pela ambição, aquele tira forças da confiança no outro e da esperança. “Não é uma visão Poliana”, faz questão de justificar, numa analogia à personagem da literatura juvenil imortalizada pelo “jogo do contente” (estratégia por ela inventada para sempre ver o lado bom das situações ruins). “Mudar o mundo é ‘dificilérrimo’, mas, apesar disso, é preciso continuar.” Pode parecer utópico, mas, se a ciência mostrou a influência do otimismo de um povo na recuperação econômica de um país, por que esse mesmo fator não poderia impactar na desigualdade social?

E não é só fora de casa que o clima otimista ajuda. Entre quatro paredes, pensar positivo também traz ganhos. Para o psicólogo Tal Ben-Shahar, que se tornou famoso por lotar salas de aula na Universidade Harvard (EUA) para ensinar psicologia positiva, o otimista faz bem ao seu entorno. “Para o otimista, estar em uma relação é uma forma de se sentir mais forte diante dos problemas”, disse Ben-Shahar à ISTOÉ. Enxergando o companheiro como aliado, e não como inimigo, a situação doméstica fica harmoniosa. “O otimista dá mais apoio ao companheiro e isso ajuda a resolver os conflitos de um modo mais construtivo e menos violento”, disse à ISTOÉ Sanjay Srivastava, pesquisador do laboratório de personalidade e dinâmica social da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos. Isso não necessariamente os faz se divorciar menos, mas encarar com desenvoltura novas relações.

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“O que precisamos é fazer o sistema democrático evoluir e,
para isso, a gente deve acreditar nele, não desistir nunca”

OTIMISTA POLÍTICO
Fernando Barreto, publicitário que, com amigos, resolveu criar
uma ferramenta para acompanhar o trabalho dos congressistas

Que o diga a blogueira e escritora paulista Gisela Rao, 47 anos. Feliz como se fosse subir ao altar pela primeira vez, ela se prepara para consumar o terceiro casamento, em março, com o representante comercial Beto Lima, 33 anos. “É diferente, estou mais madura na relação”, diz. Desta vez, garante, o futuro marido é “do seu número”. “Escolhi alguém dentro do perfil que eu queria. Nos outros casamentos não tinha essa mesma clareza.” Após ouvir uma entrevista de Gisela sobre seu livro “Não Comi, não Rezei, mas me Amei” (Editora Matrix), Lima resolveu procurá-la. Foi amor à primeira vista. Em três meses estavam noivos e de casamento marcado. Os fantasmas dos relacionamentos passados, garante a escritora, não assombram a felicidade que transborda do casal atualmente.

Não só metaforicamente o otimismo faz bem ao coração. Está comprovado: acreditar no amanhã protege de doenças cardiovasculares. Em um estudo feito pela Universidade de Michigan (EUA), um ponto a mais de otimismo, em uma escala que variava de zero a 16, representava 9% a menos de chance de ter um infarto. Quem é mais otimista abraça de forma mais contundente suas obrigações de paciente. Toma a medicação de forma controlada e adere às dietas alimentares sem reclamar. Além do sistema cardiovascular, a imunidade também melhora. “Avaliando um grupo de 124 estudantes, observamos que, quando estavam mais otimistas que o usual, o sistema imunológico respondia de forma mais consistente”, explicou à ISTOÉ a cientista Suzanne Segerstrom, da Universidade de Kentucky, nos Estados Unidos.

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“Mudar o mundo é ‘dificilérrimo’, mas,
apesar disso, é preciso continuar”

OTIMISTA SOCIAL
Chico Whitaker, um dos fundadores do Fórum Social
Mundial, acredita que é possível melhorar a sociedade

Por isso muitas equipes de saúde focam seus trabalhos em fazer com que os pacientes de enfermidades graves enfrentem com otimismo os tratamentos aos quais devem se submeter. “Os estudos apontam para uma relação entre estresse, depressão e progressão da doença”, diz Carla Mannino, especialista em psico-oncologia da CliniOnco, em Porto Alegre. Foi com lenços na cabeça, orações e esperança que a aposentada gaúcha Mara Fátima Parassolo, 56 anos, superou os quase dois anos de radioterapia e quimioterapia para extirpar um câncer de mama. Ela recebeu o diagnóstico no dia 4 de julho de 2006. “Na hora desabei, mas no dia seguinte percebi que eu precisava me erguer e partir para a segunda etapa, que era me tratar.” Quando soube que teria de fazer uma quimioterapia “daquelas que o cabelo cai”, não titubeou. Foi ao salão e passou máquina zero na mesma hora. “Sem otimismo você não sobrevive ao tratamento. Ele é doloroso e exige muito do paciente.”

Como tudo na vida, todavia, excesso de otimismo também faz mal. É inegável que na sociedade contemporânea há uma pressão social muitas vezes exacerbada exigindo que as pessoas enxerguem sempre o lado bom da vida, sejam felizes e não sofram. “No esforço de evitar o sofrimento o ser humano já fez muita tolice”, alerta o filósofo Paulo Vaz, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O risco de se tornar um otimista patológico é superestimar as expectativas positivas. A economista Manju Puri, da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, afirma que a falta de avaliação de riscos deixa essas pessoas muito expostas. “Quem tem esse perfil pensa que não é preciso poupar dinheiro e que a economia vai sempre estar melhor”, afirma. O resultado disso é que, por excesso de confiança, a pessoa não se previne. “O pessimismo também tem seus benefícios, ele nos protege de desapontamentos”, avalia a psicóloga Kate Sweeny, da Universidade da Califórnia (EUA), autora de um artigo em que defende o comedimento nas doses diárias de otimismo. Por isso, acredite no otimismo. Mas, como tudo na vida, use com moderação.

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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Garota de 17 anos desenvolve técnica para combater o câncer

Os dias em que o diagnóstico de câncer era considerado uma sentença de morte estão ficando cada vez mais perto de serem encarados como um passado obscuro.

A nova técnica desenvolvida por uma

estudante de 17 anos pode ser mais um passo nesse sentido. Angela Zhang, aluna da Monta Vista High School, nos Estados Unidos, acaba de ganhar uma bolsa no valor de US$ 100 mil e o primeiro lugar no Siemens Competition Math, Science & Technology, por ter projetado uma abordagem que combina o uso de nanopartículas compostas por ouro e óxido de ferro, combinadas a um medicamento à base da substância salinomicina.

Uma vez que as nanopartículas se prendam às células tumorais, a equipe médica realiza uma série de ressonâncias magnéticas para localizar o câncer e com o uso de luz infravermelha aquece e derrete essas partículas, liberando a salinomicina diretamente nas células cancerígenas. A técnica traz a grande vantagem com relação aos demais tipos de tratamento de poder eliminar as células defeituosas de dentro para fora e reduzir os efeitos colaterais da quimio e da radioterapia, bem como permitir o acompanhamento em tempo real de como está sendo a eficácia da terapia.

O experimento foi um sucesso quase absoluto quando testado em ratos, mas deve demorar um tempo até ser aplicado em seres humanos. A garota prodígio trabalha nesse projeto desde os 15 anos, tendo dedicado quase mil horas a ele. Desde um pouco antes disso, Angela já lia artigos de pós-doutorado em bioengenharia e revelava o sonho de ser pesquisadora no laboratório da Universidade de Stanford.

Ela ganhou por dois anos consecutivos o Intel International Science & Engineering Fair ( 2010 e 2011) e uma viagem para participar da Taiwan International Science Fair concedido pelo Centro Nacional de Taiwan de Educação Científica. Apesar do talento precoce para as ciências, a adolescente ainda encontra tempo para jogar golfe e tocar piano.

Mas a verdade é que a comunidade científica e as pessoas que sofrem com câncer já ficarão muito felizes se ela for um Tiger Woods ou um Tom Jobim da bioengenharia.

Crenças exterminadoras

Brânquias de arraia para curar câncer e chifre de rinoceronte para combater ressaca são crendices asiáticas que colocam em risco a sobrevivência de algumas das mais belas espécies animais

André Julião

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FÉ CEGA
Apesar de não haver comprovação científica, asiáticos retalham arraias
crentes de que as brânquias do animal reforçam o sistema imunológico

Os rinocerontes torcem para que o Vietnã adote uma rigorosa lei seca. Isso porque os moradores do país acreditam que o chifre do bicho em pó é um eficiente remédio contra a ressaca. Crenças desse tipo são responsáveis pela ameaça de extinção de diversas espécies animais e têm um novo alvo: as arraias gigantes. Na semana passada, as organizações Shark Savers e WildAid divulgaram um relatório em que alertam para o risco de duas espécies desse animal desaparecerem. A pesca foi intensificada nos últimos dez anos para a comercialização das brânquias – estruturas responsáveis pela filtragem da água – que, secas, podem valer até US$ 500 por quilo. Apesar de não haver nenhuma comprovação científica dos benefícios de ingerir essas partes, alguns asiáticos acreditam que comê-las fortalece o sistema imunológico, melhora a circulação, e trata dores de garganta, catapora, problemas de rim, câncer e ajuda até casais com problemas de fertilidade.

Curiosamente, a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) não reconhece nenhum valor farmacológico nas brânquias de arraia. “Entrevistamos praticantes e eles não conseguiram localizar nenhuma referência nos textos mais usados da medicina oriental. Alguns admitiram que esse ingrediente não tem efeito algum”, disse à ISTOÉ Michael Skoletsky, diretor-executivo da Shark Savers. A explicação para a demanda maior pode estar numa tática comum em qualquer mercado. “Todo consumidor sabe que a efetividade do marketing pode superar a do produto”, diz Skoletsky. Ele acredita que falsas afirmações de que a ingestão das brânquias fortalece o sistema imunológico uniram-se ao temor por epidemias, como as gripes suína e aviária. O resultado foi o surgimento de uma “necessidade” pelo produto.

Animais de diversas partes do mundo estão à beira da extinção por conta da crença de cura dos asiáticos. Entre eles estão os tigres-de-bengala, que têm seus ossos e testículos reduzidos a pó. Ursos são mantidos em cativeiro para a retirada da bile, líquido produzido pelo fígado, que, alguns asiáticos acreditam, teria o poder de curar uma série de doenças. E os chifres de rinoceronte, além de considerados suvenires caros, são usados como se fossem capazes de dar fim a males que vão da ressaca ao câncer. Essa parte do animal é composta de queratina, mesmo elemento que compõe cabelos e unhas – ou seja, não traz nenhum benefício à saúde. A crescente demanda fez com que 2011 tenha sido o ano com o recorde de matança de rinocerontes na África do Sul – 448. Em 2007, foram 13. “Certamente, o aumento da riqueza no Vietnã e na China tem um papel importante nesse quadro”, disse à ISTOÉ Richard Thomas, porta-voz da organização Traffic, que monitora o mercado de animais selvagens. É mais um exemplo de que inteligência e bom-senso são duas coisas que o dinheiro ainda não consegue comprar.

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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Hanseníase deixa Crato em alerta

Em 2011, houve 52 casos da doença no Município, que agora realiza uma campanha contra a enfermidade

Crato Apenas no primeiro mês do ano, já foram diagnosticados, neste Município, quatro casos de hanseníase. O Município já recebeu a classificação de hiper endêmico. Para o Ministério da Saúde, a cidade é prioridade, devido ao alto índice da doença. As autoridades municipais de saúde estão preocupadas com a proliferação da doença. Em todo o Ceará, segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado, existem 2.149 casos de pessoas em tratamento da doença. Para tentar diminuir a transmissão e o número de casos, a Secretária de Saúde do Município Crato está realizando, até o próximo dia 27, a Semana Municipal de Combate a Hanseníase. O órgão espera notificar possíveis casos ainda ocultos.

Em Juazeiro do Norte, de acordo com o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (MORHAN), 89 pacientes estão recebendo tratamento contra a doença. Em janeiro de 2010 havia 75 pessoas recebendo tratamento. O órgão desenvolve constantemente ações de busca ativa dos casos.

Na cidade, a Secretaria de Saúde Municipal iniciou um processo de descentralização das ações para atenção básica, que também desenvolve o Programa de Hanseníase e Tuberculose. A medida visa capacitar os profissionais de nível superior que atuam nas equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF), que podem identificar a doença e o devido tratamento já na fase inicial.

A hanseníase é uma doença causada pela bactéria "mycobacterium leprae", cuja principal fonte de infecção é o homem, o qual a transmite a enfermidade principalmente pelas vias aéreas superiores. A doença acomete a pele e os nervos do doente, e existe um tempo longo entre o contágio e o aparecimento dos primeiros sintomas, podendo variar de dois até mais de dez anos.

A Semana de Combate a Hanseníase em Crato está oferecendo, nas salas de espera dos Postos de Saúde da Família (PSF), palestras de conscientização sobre os sintomas da hanseníase. A Secretaria também está realizando o treinamento para todos os 207 agentes se saúde, dos quais 185 já receberam instruções de como alertar a população para os sintomas da enfermidade.

Nas visitas aos domicílios, os agentes de saúde orientam e encaminham as pessoas que apresentam suspeitas da doença para os PSFs. Diariamente, cada unidade de saúde está realizando os exames necessários para diagnosticar a doença.

Ao todo, na cidade, 56 pessoas estão recebendo o tratamento contra a hanseníase. Quando o paciente apresenta resultado positivo para a doença, a Secretária de Saúde disponibiliza gratuitamente a medicação necessária ao paciente para o tratamento, que pode ser feito no período de seis meses a um ano. Os remédios são repassados pelo Ministério da Saúde.

Casos

Em 2011, o Município registrou 52 casos, sendo que 34 foram do tipo multi bacilares, que é a forma mais agressiva da doença e costuma ter tempo de diagnóstico tardio. Os outros 18 foram do tipo paucibacilares, que é a forma inicial da hanseníase, para a qual geralmente exige tratamento de apenas seis meses. A Secretaria de Saúde Municipal estima que, em 2013, haja um aumento de 5% do número de pessoas com hanseníase, em relação aos dados de 2012.

Segundo a coordenadora da hanseníase em Crato, Tereza Cristina Brito Cabral, é preciso quebrar o preconceito que ainda existe com a doença e levar as pessoas a procurar equipe médica logo que aparecerem os sintomas. "O que a gente pretende é controlar a hanseníase e diminuir o numero de casos. Essa ainda é uma doença cheia de preconceitos. Por isso, é importante que as pessoas procurem os postos de saúde ao observarem os primeiros sintomas", diz.

A hanseníase pode causar deformidades físicas. Os sintomas mais aparentes são manchas brancas indolores pelo corpo. Porém, a doença tem cura e as deformidades podem ser evitadas com o diagnóstico na fase inicial da doença e consequentemente com o tratamento correto.

Ao diagnosticar a positividade do caso, toda a família do paciente deve receber acompanhamento da equipe de saúde, realizar os exames para conter a cadeia de transmissão. Praticamente em todos os bairros do Crato há casos confirmados de hanseníase e a Secretaria de Saúde acredita que podem haver mais pessoas com a doença, ainda sem a notificação.

Mais informações

Secretaria de Saúde do Crato

Rua 7 de Setembro S/N

Telefone: (88) 3586.8000

MORHAN Juazeiro

Telefone: (88) 3572.1464

YAÇANÃ NEPONUCENA
REPÓRTER