segunda-feira, 27 de julho de 2015

13,8% dos remédios usados contra câncer estão em falta no DF

Secretaria de Saúde diz que realiza mutirão para comprar medicamentos.
Há casos de pacientes que passaram semanas sem fazer quimioterapia.

Raquel Morais Do G1 DF
VEJA REMÉDIOS EM FALTA NO DISTRITO FEDERAL
Quimioterápicos Indicações
Rituximabe 1. Linfoma não-Hodgkin
Citarabina 1. Leucemias agudas
Bleomicina 1. Linfoma de Hodgkin
2. Câncer de testículo
Carboplatina 1. Câncer de pulmão
2. Câncer de mama
3. Câncer no útero
4. Câncer de cabeça e pescoço
5. Câncer de bexiga
Tamoxifeno 1. Câncer de mama
Topotecana 1. Câncer de ovário
2. Câncer de pulmão
Gentacibina 1. Câncer de pâncreas
2. Câncer de pulmão
3. Câncer de mama
4. Câncer de ovário
Melfalano 1. Mieloma múltiplo
Fonte: Secretaria de Saúde do DF
Nove dos 65 medicamentos usados pela rede pública no tratamento contra câncer têm estoques zerados no Distrito Federal. Quatro deles estão em falta desde o segundo semestre do ano passado. A Secretaria de Saúde afirmou que deu início a um mutirão para adquirir remédios e que a medida deve sanar o problema. Não há prazo para o reabastecimento.
De acordo com a pasta, as medicações Rituximabe (50 ml), Citarabina e Bleomicina estão em falta desde outubro do ano passado. O estoque de Rituximabe (10 ml) acabou em novembro de 2014. As doses de Carboplatina terminaram em março, e as de Tamoxifeno, em maio. Já Topotecana, Gencitabina e Melfalano estão indisponíveis desde junho (veja mais na tabela).
Os nove se somam a outros 62 remédios indisponíveis na rede. Na lista constam ainda antibióticos contra toxoplasmose, sífilis, tétano, tuberculose e infecções no coração, além de um tipo de Ritalina – usado contra déficit de atenção e hiperatividade. A secretaria afirma que o vazio nas prateleiras está relacionado a dívidas com fornecedores herdadas da gestão anterior e alegações dos laboratórios de escassez de matéria-prima e diz não faltar dinheiro para a compra de medicamentos.
O oncologista Sandro José Martins afirma que, via de regra, não há tratamento que seja insubstituível. Mas, segundo ele, troca das medicações, no entanto, interfere de modo imprevisível sobre o resultado final para o paciente, porque já não se sabe mais qual a chance de dar certo.
"A quimioterapia do câncer é uma modalidade de tratamento que requer o uso diligente de medicamentos: na hora certa, na dose certa, para o paciente certo. Falha em observar qualquer uma destas condições interfere de modo desconhecido com a segurança e eficácia do tratamento", explica.
A preocupação passou a fazer parte da rotina do técnico em informática Israel Cardoso dos Santos, que conta que a mãe luta contra um câncer nos ovários desde 2013. Sem o medicamento Gencitabina na rede, a idosa de 69 anos está há três semanas sem fazer quimioterapia.
“Não avisam antes. Na hora que chega para consultar é que avisam que está faltando o remédio, mandam de volta para casa”, afirma. “Eu me sinto péssimo, quantos anos minha mãe contribuiu para o INSS e hoje aposentada não tem direito [a tratamento?] A gente fica constrangido.”
Santos diz ainda que a mãe desenvolveu depressão por causa da doença e ficou pior depois que o medicamento ficou indisponível na rede. “Ela está preocupada com isso. E eu fico com medo de perdâ-la, corro para cá, corro para lá, fico angustiado.”
Relatório médico aponta falta do medicamento Gencitabina, usado em quimioterapia no tratamento contra câncer (Foto: Israel Cardoso dos Santos/Arquivo Pessoal)Relatório médico aponta falta do medicamento Gencitabina, usado em quimioterapia no tratamento contra câncer (Foto: Israel Cardoso dos Santos/Arquivo Pessoal)
O oncologista afirma que situações do tipo causam "muito sofrimento" ao doente e aos familiares, atrapalhando a terapia. "Qualquer condição estranha ao tratamento que possa interferir na sua continuidade como previsto – exemplo: falta de medicamentos, autorizações de convênio atrasadas, dificuldades pessoais e econômicas – causam enorme frustração, sensação de impotência e medo – emoções que prejudicam sobremaneira o paciente."
Dados da pasta mostram que, entre 1º de janeiro e 15 de julho, o DF recebeu 336 notificações judiciais para fornecimento de remédios. Os principais medicamentos oncológicos solicitados por meio de demandas judiciais são o Bortezomibe, a Abiraterona e o Fingolimode.
Tratamento
A secretaria não respondeu o número de pessoas atualmente em tratamento contra câncer na rede pública. Os tipos mais comuns em homens são próstata, cólon e reto e traqueia, brônquio e pulmão, enquanto mulheres são atingidas em maior frequência na mama, cólon e reto e no colo do útero.
O tratamento é oferecido em oito hospitais: da Criança, Base, regionais de Taguatinga , Asa Norte, Sobradinho, Gama e Ceilândia, além do Materno Infantil. As consultas são marcadas pela central de regulação. A rede oferece quimioterapia e radioterapia.

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