A medicina investe na criação de adesivos que imunizam contra doenças ou tratam males como a diabetes. Eles permitem ação rápida e prometem menos efeitos colaterais. No Brasil, a última novidade é um produto que controla os sintomas do Parkinson
Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br)
Asubstituição
de pílulas ou injeções por adesivos ganha destaque na prevenção e
combate às doenças. Mais conhecida por ser uma alternativa de
administração de anticoncepcionais ou de substâncias para ajudar a parar
de fumar, por exemplo, a opção está sendo estudada para ministrar
vacinas e combater males como a diabetes. No Brasil, a última novidade
nesse campo foi a chegada do primeiro tratamento transdérmico para a
doença de Parkinson, enfermidade neurodegenerativa caracterizada por
tremores e dificuldades de movimentos.
Chamado de Neupro e fabricado pela UCB
Pharma, o adesivo é o único do mundo com esta indicação e está
disponível em mais de 40 países. Ele deve ser colocado sobre a pele (dos
ombros, dos braços ou do abdome). O produto libera ao longo de 24 horas
a rotigotina, composto absorvido pela cútis e cuja função é agir sobre
os receptores de dopamina, substância envolvida no processamento dos
movimentos e que, na doença de Parkinson, encontra-se em quantidade
desequilibrada. “A liberação contínua do remédio é uma vantagem”,
explica a neurologista Roberta Saba, da Universidade Federal de São
Paulo.
A ideia é a de que, dessa forma, os
sintomas seriam controlados de maneira mais uniforme. Outra
característica apontada pelos defensores do tratamento é o fato de, por
ser absorvida através da pele e cair direto na corrente sanguínea, a
rotigotina não passaria pelo trato gastrointestinal, como ocorre com as
pílulas. “Muitos remédios por via oral são agressivos para o sistema
gástrico”, afirma o neurologista Delson José da Silva, membro da
Academia Brasileira de Neurologia e chefe da Unidade de Neurologia e
Neurocirurgia do Hospital das Clínicas de Goiás. “O adesivo proporciona
melhor alívio dos sintomas com menos efeitos colaterais.” No entanto, há
especialistas com outra opinião. “A via oral ainda é o consenso nos
remédios de Parkinson porque é a mais fácil de administrar e tem maior
absorção”, diz o neurocirurgião Cláudio Fernandes Corrêa, presidente do
Instituto SIMBIDOR, que realiza o Simpósio Brasileiro e Encontro
Internacional sobre Dor.
Apesar das controvérsias, a busca por
opções do gênero contra a doença continua pelo mundo. Na Coréia do Sul,
pesquisadores da Universidade Nacional de Seul desenvolvem um adesivo
que utiliza nanopartículas de sílica ativadas por calor. Elas monitoram a
atividade muscular, aumentando ou diminuindo a liberação da rotigotina
de acordo com a necessidade. Segundo os cientistas, o modelo seria
muito apropriado para tratar a doença de Parkinson porque os tremores
que a caracterizam não são constantes.
SÓ QUANDO PRECISA
Zhen Gu é um dos criadores de adesivo que libera insulina
de acordo com a necessidade
Nos Estados Unidos, foi criado um adesivo
com capacidade semelhante, dirigido ao tratamento da diabetes. Ele tem
duas funções: primeiro detecta o aumento do nível de açúcar no sangue,
característico da doença. Em seguida, para regularizar a taxa glicêmica,
libera doses de insulina. O hormônio é o responsável pela passagem do
açúcar do sangue para dentro das células.
De formato quadrado, com menos de um
centímetro de área, o adesivo é coberto com cerca de cem microagulhas
que possuem, em seu interior, cargas microscópicas de insulina e enzimas
sensíveis à glicose. “Criamos uma alternativa contra a diabetes que
funciona rapidamente e é fácil de usar”, disse Zhen Gu, um dos
envolvidos no desenvolvimento do adesivo. Os testes feitos em cobaias
cujos resultados foram divulgados na última semana mostraram que o
tratamento manteve baixo o nível de glicemia dos animais por mais de
nove horas.
A tecnologia empregada no novo adesivo é
vista com otimismo pelos especialistas. “Quando a insulina é injetada de
modo tradicional, há um pico na sua concentração”, explica o
endocrinologista Adolpho Milech, professor da Universidade Federal do
Rio de Janeiro. “E depois que ela passa pelo fígado, ocorre uma queda
brusca na sua quantidade. Neste novo modelo a liberação é pequena, mas
sustentada.”
Mais adiantados estão os estudos para a
fabricação de vacinas em forma de adesivos. Cientistas da Universidade
King’s College, de Londres, desenvolveram um produto repleto de
microagulhas que perfuram a pele, injetando as substâncias ativas das
vacinas. Não há a dor da injeção. Ele é feito de silicone e tem o
tamanho de uma moeda de um centavo. Como o adesivo mantém sua
efetividade à temperatura ambiente, a técnica foi considerada
revolucionária, já que um dos maiores problemas de saúde pública é levar
os remédios e vacinas a países que não possuem infraestrutura de
armazenamento. “Mostramos que é possível manter a eficácia de uma vacina
tradicional usando as microagulhas”, explicou a pesquisadora Linda
Klavinskis, do Departamento de Imunologia de King’s College.
Para quem sofre de enxaqueca, há um adesivo
eletrônico, aprovado pelo FDA, órgão americano de controle de drogas e
alimentos. Ele utiliza cargas elétricas para liberar sumatriptano,
princípio ativo que já se encontra no Brasil em comprimidos e em spray
nasal. “Há um estímulo elétrico, mas é tão leve que a pessoa não sente
nada”, explica a neurologista Célia Aparecida Roesler, membro da
Sociedade Internacional de Cefaleia. O remédio ainda não chegou ao País.
Fotos: Dae-Hyeong Kim / Nature Nanotechnology; Courtesy of Zhen Gu, PhD; divulgação
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