segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Consultório dos estupros

Médico de Florianópolis é preso por abusar sexualmente de pacientes durante consultas. Segundo denúncia, crimes acontecem há pelo menos oito anos e envolvem mais de 50 vítimas

Camila Brandalise (camila@istoe.com.br)
Desde terça-feira 16, o telefone de H. V., 34 anos, não para de tocar. No mesmo dia em que o médico nutrólogo Omar César Ferreira de Castro foi preso em Florianópolis, acusado de ter estuprado 14 mulheres, ela se mobilizou para encontrar mais vítimas e instruí-las a, como ela já havia feito, denunciar os abusos sexuais sofridos durante as consultas. Mais de 50 mulheres a procuraram para relatar todo tipo de situação: comentários constrangedores, beijos forçados, pedidos de sexo oral e estupro após dopagem. Algumas situações datam de oito anos atrás. No caso de H., Castro teve ações semelhantes às relatadas por outras pacientes. Se posicionava de pé, atrás da mulher, para apalpar o pescoço e examinar a tireóide e os gânglios. Em seguida, apalpava os seios das pacientes e aproximava cada vez mais seu corpo ao delas. Na saída do consultório, outra aproximação forçada. Após registrar boletim de ocorrência, H. foi chamada para depor e se viu em outra situação constrangedora. “A mulher que tomou meu depoimento me questionou sobre a roupa que eu estava vestindo, sobre o fato de eu ter dado sinal de que queria a aproximação e ainda me aconselhou a não seguir adiante com a denúncia. Fiquei revoltada e decidi investigar por conta própria”, diz. Alguns dias depois, voltou ao consultório com um gravador. “Ele se aproximou de novo, fez comentários como ‘sua boca é gostosa’, e tentou me beijar. Depois disso, fui à delegacia pela segunda vez.”
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PRISÃO
O nutrólogo Omar César Ferreira de Castro no momento em que foi detido, na terça-feira 16
A primeira denúncia com uma prova contundente contra Castro foi feita no início de 2015. Uma servidora pública de 30 anos disse ter tomado um copo de água oferecido pelo médico e, depois, teve uma única lembrança da consulta: ela em uma maca, tentando empurrar Castro enquanto ele segurava uma camisinha. Dias depois, voltou ao consultório e, gravando a conversa, perguntou o que havia acontecido. “Tu não lembra? A gente transou duas vezes e foi bem gostoso”, respondeu ele. Com a gravação, um inquérito foi aberto, mas ficou parado até o depoimento de H. V. e uma mudança de delegado responsável, para então ser retomado. No total, eram 14 boletins de ocorrência contra o nutrólogo, motivando o Ministério Público a denunciar Castro à Justiça, que acatou o pedido. Preso provisoriamente, ele ficará detido até o dia 16 de março, data do fim das investigações.
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VÍTIMA
Paciente estuprada por médico gravou a confissão do crime e entregou à polícia
Dois dias após a prisão, outras 18 mulheres registraram boletins de ocorrência. Com a campanha de H. V. para encontrar mais vítimas, esse número deve aumentar nos próximos dias. “Queremos que a prisão temporária, de 30 dias, se torne preventiva. Nosso medo é de ele ficar solto e fugir.” Esse temor vem, principalmente, porque há uma lembrança recente de impunidade em um caso muito similar, o do ex-médico Roger Abdelmassih, preso em 2014 e condenado a 278 anos por estuprar 39 pacientes mulheres. Antes, Abdelmassih ficou três anos foragido no Paraguai enquanto as vítimas clamavam por sua condenação. Procurado pela reportagem, o advogado de Castro, Alceu Oliveira Pinto Júnior, disse que não vai se manifestar sobre o processo a pedido da família. O Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina (CRM-SC) abriu uma sindicância para apurar as acusações e, em 30 dias, decidirá se haverá um processo contra o nutrólogo para cassação do registro profissional.
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Fotos: Betina Humeres/Agência RBS/Folhapress

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