segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Zika pode provocar alteração neurológica até a idade escolar, dizem médicos

Atraso intelectual ou perda auditiva poderão ser associados à infecção
Estadão Conteúdo
Mulheres que tiveram suspeita ou confirmação de zika durante a gestação devem ter seus filhos monitorados
Microcefalia e graves problemas oculares podem não ser as únicas consequências do zika vírus em crianças infectadas na barriga da mãe. Com o avanço de casos no Brasil, especialistas passaram a afirmar que, no futuro, outros prejuízos neurológicos, como atraso intelectual ou perda auditiva, poderão ser associados à infecção e detectados somente no início da vida escolar.
O diagnóstico, no entanto, só poderá ser feito com propriedade se os bebês nascidos de meados do ano passado para cá, quando teve início a epidemia no País, receberem acompanhamento médico rotineiro. Especialistas ouvidos pelo Estado afirmam que todas as crianças de mulheres que tiveram suspeita ou confirmação de zika durante a gestação devem ter seus filhos monitorados, independentemente de quadros associados de microcefalia.
 "Isso é essencial, porque algumas alterações neurológicas podem ser detectadas futuramente apenas, como dificuldades de leitura e de aprendizado. Dar assistência às mulheres infectadas não quer dizer acompanhá-las até o parto, mas até que seus filhos cheguem à escola", diz o infectologista Jean Gorinchteyn, do Instituto Emílio Ribas.
A expectativa de que outros problemas de saúde possam ser relacionados ao zika vírus no futuro é explicada pela sua "semelhança" com algumas doenças também perigosas para gestantes como a rubéola, a toxoplasmose e a citomegalovirose. Todas podem provocar desde quadros de microcefalia a perda progressiva da visão, surdez e diferentes graus de atraso intelectual.
"Você pode apostar que vamos ter milhares de crianças com perímetro encefálico normal e que vão ter manifestações de atraso relacionadas ao zika, caso se confirme que o vírus segue mesmo o padrão dessas outras infecções. A criança pode não conseguir aprender a ler, por exemplo. E o quadro inicialmente ser de dislexia, de déficit de atenção", diz o médico geneticista da Apae-SP, Theoharis Efcarpidis.
Temor
Até o surgimento do zika, rubéola e toxoplasmose eram as doenças mais temidas por grávidas, apesar de mais facilmente controladas. A primeira tem vacina e a segunda pode ser evitada com hábitos simples, como ingerir alimentos bem cozidos. Mas, se infectadas, as gestantes podem transmitir essas doenças aos bebês, com consequências para o resto da vida.
Foi o que aconteceu de forma silenciosa com a enfermeira Carina Galvão do Nascimento, de 46 anos. Ela teve uma gravidez tranquila e deu à luz sua primeira filha em março de 2002 sem qualquer problema aparente. Mas, quando Catarina começou a engatinhar, a mãe reparou que havia algo errado com a visão da filha. "Ela tinha muita dificuldade para se locomover e ficava muito perto da TV", diz.
Preocupada, a enfermeira foi atrás de respostas e descobriu que Catarina tinha uma cicatriz no fundo dos olhos, provocada por uma lesão na retina. Segundo o médico oftalmologista que deu o diagnóstico, a causa foi uma infecção que Carina contraiu durante a gravidez, a toxoplasmose. "Eu tinha um cachorro na época, mas não se sabe se foi transmitida por ele, por carne crua ou por contato com algum gato. O fato é que só descobri que tive a doença depois que minha filha já havia nascido."
Com 13 anos, mesmo com dificuldades para enxergar, Catarina frequenta a escola e, segundo a mãe, é "a primeira aluna da sala". "Ela é um dos meus orgulhos. Chegou a usar lupa para conseguir copiar os escritos da lousa, mas hoje leva uma vida normal."

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