segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Doe de coração: modelo a seguir


A promoção da doação é um dos pilares que sustentam o programa de transplantes e que contribuíram para que ele se tornasse referência ( Foto: Yago Albuquerque )
Desde o primeiro transplante realizado - de rins, ainda na década de 70 - até as recentes cirurgias de Clodoaldo, Marly e José Cardoso, o Ceará construiu uma trajetória de êxito na área e se tornou modelo para outros estados no Brasil. Em seu último Registro Brasileiro de Transplantes, relativo ao período de janeiro a setembro de 2016, a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) coloca o Estado entre as unidades da federação que mais fizeram procedimentos e com as melhores taxas de doadores.
A promoção da doação de órgãos é um dos pilares que sustentam o programa estadual de transplantes e que contribuíram para que ele se tornasse referência. É preciso esclarecer a população, quebrando mitos e estigmas, e incentivá-la a doar. Nesse sentido, Eliana Barbosa, coordenadora da Central de Transplantes do Ceará, destaca o papel de ações em prol do tema, a exemplo da campanha "Doe de Coração", promovida pela Fundação Edson Queiroz.
Consolidação
A mobilização foi criada com a proposta de, por meio da informação, levar o debate sobre a doação de órgãos à sociedade e estimular a solidariedade. Em 2003, ano de sua primeira edição, o Ceará começava a se consolidar no cenário nacional. Naquele ano, segundo dados da ABTO, o Estado contabilizava 424 transplantes e uma taxa de 7,0 doadores por milhão de população, a quinta maior do País.
Hoje, o número de procedimentos realizados ao ano é quase cinco vezes superior, progredindo continuamente, e o índice de doadores chega a 25,8 por milhão de população.
"A campanha Doe de Coração é fundamental para o nosso Estado e que faz diferença. No Ceará, é um dos grandes fatores que contribuem para o crescimento ano a ano", salienta Eliana. "Sempre que ela é realizada, percebemos que sensibiliza a população ", acrescenta.
Neste ano, a mobilização chegará à 15ª edição. As ações duram o ano inteiro, mas se concentram em setembro, mês no qual se celebra o Dia Nacional da Doação de Órgãos. O objetivo é sensibilizar a população a partir de eventos em hospitais, clínicas e empresas, e também da divulgação de dados e histórias sobre transplantes nas mídias impressa, televisiva e digital.
Em 2009, a campanha foi reconhecida pela Associação Brasileira de Transplantes (ABTO) com o Troféu Amigo do Transplante, concedido a iniciativas de importante papel para o aumento do número de transplantes no País.
Desde então, a mobilização entrou para o calendário da Campanha Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos desenvolvida pela entidade.
"A mídia tem papel importante na sensibilização da população. Sempre que a mídia repercute as doações de órgãos e os transplantes de alguma forma, isso sensibiliza famílias e equipes", salienta Tainá Veras, membro da diretoria da ABTO e professora do curso de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Diálogo
A campanha incentiva o diálogo sobre a doação e o transplante, que deve ser ampliado e contínuo. Eliana Barbosa defende que, com a ajuda de mobilizações, a população possa trazer a discussão para o âmbito familiar. "É um desafio, porque falar de doação é falar de morte. Embora seja a única coisa certa em nossa vida, é um tema que não se debate na sociedade", diz.
Por isso, segundo ela, é preciso que se comunique em vida o interesse em tornar doador, para que, se um dia for necessário, as famílias saibam qual é o desejo prévio de cada parente.
"É importante que se converse, que esse tema seja discutido para que a família possa tomar uma decisão baseada num desejo do seu ente querido", afirma a coordenadora da Central. "A partir desse gesto da doação nós enaltecemos valores de reciprocidade, de solidariedade e de cidadania", completa.
Informe-se
Como ser doador de órgãos?
É preciso apenas comunicar à família, pois ela será responsável por autorizar a doação. Não é necessário deixar nada por escrito.
Quem pode ser doador?
A doação dependerá da idade, da causa da morte e do tipo sanguíneo do possível doador. A única restrição absoluta à doação envolve pessoas soropositivas ou portadoras de doenças infecciosas ativas.
Quando é possível doar?
Pode-se doar rins, parte do fígado e da medula óssea ainda em vida. Os outros órgãos só podem ser doados em caso de morte encefálica, quando a família permite o procedimento.
O que é a morte encefálica?
É a parada definitiva e irreversível das funções do encéfalo (cérebro e tronco cerebral). Equivale clinicamente à morte. É diagnosticada a partir de um protocolo médico estabelecido na Resolução nº 1480/97 do Conselho Federal de Medicina.
O que acontece após a doação?
Os órgãos são captados por equipes de cirurgiões e transportados até os locais de transplante. Por lei, o corpo do doador deve ser inteiramente reconstituído e devolvido à família

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