sábado, 29 de abril de 2017

As doenças que vão desaparecer

Um esforço coordenado pela Organização Mundial de Saúde - com apoio de empresas, inclusive uma brasileira - pretende erradicar pelo menos três enfermidades até 2020

Crédito: Roberto Schmidt / AFP
ALVOS Grande parte das vítimas são crianças de países pobres da África (Crédito: Roberto Schmidt / AFP)
Durante décadas, algumas dezenas de doenças foram esquecidas pelo mundo. Apropriadamente chamadas de “doenças negligenciadas”, elas deixam sequelas, definitivas ou não, e em casos mais graves matam. Ainda há muitas assim fazendo vítimas no planeta, grande parte em países pobres da África, mas um esforço capitaneado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) deixará para os livros de história pelo menos três dessas enfermidades. Duas têm nomes estranhos e são pouquíssimo conhecidas: a bouba e a dracunculíase. A outra é a poliomielite. O mais recente gesto em direção à erradicação dessas doenças foi dado há duas semanas, quando a empresa farmacêutica EMS anunciou a doação do antibiótico azitromicina na forma oral para ser usado no combate à bouba. “É uma boa notícia, principalmente para as crianças que sofrem por causa da enfermidade e que podem ser completamente curadas com um único tratamento”, afirmou Dirk Engels, diretor do Departamento de Controle de Doenças Tropicais Negligenciadas da OMS. “Com esta doação, queremos envolver e incentivar os países onde a transmissão ainda está ocorrendo para erradicar a doença.”
AJUDA Sanchez, da EMS, diz que o primeiro lote doado de antibióticos terá 40 milhões de doses
AJUDA Sanchez, da EMS, diz que o primeiro lote doado de antibióticos terá 40 milhões de doses (Crédito:Roberto SCHMIDT/afp)
Uma dose só

A bouba é causada pela bactéria Treponema pallidum subespécie pertenue e se caracteriza por lesões de pele, nos ossos e nas cartilagens. Até 2012, seu tratamento se baseava em uma única dose de injeção intramuscular de penicilina benzatina. Naquele ano, porém, um estudo realizado na Papua Nova Guiné, na Oceania, mostrou que uma dose da forma oral de azitromicina também a curava. Bastaram seis meses para que a OMS formulasse uma estratégia de erradicação até 2020, que inclui a distribuição do remédio. “A expectativa é que apenas no primeiro ano de parceria com a Organização Mundial de Saúde a EMS forneça 40 milhões de comprimidos da azitromicina”, afirma Carlos Sanchez, presidente do Conselho de Administração do Grupo NC, do qual o laboratório é a principal empresa. “Estão previstos três anos de trabalho em conjunto.”
Até hoje a única doença erradicada é a varíola. O último caso registrado foi em 1980. A bouba será a primeira a ser erradicada por meio de antibiótico. A dracunculíase, a primeira provocada por um parasita a desaparecer. Ela causa lesões na pele e artrite. A polio, a exemplo da varíola, é causada por um vírus e pode ser prevenida com vacina. Em quase trinta anos, o número de casos foi reduzido em 99%. Apenas três países ainda registram transmissão do vírus: Afeganistão, Nigéria e Paquistão.
Perto do fim
As doenças em fasede erradicação
Bouba
• É causada pela bactéria Treponema pallidum subespécie pertenue
• Transmitida pelo contato com a pele de pessoa para pessoa
• Crianças entre 6 e 10 anos de idade são as principais vítimas
• Atinge a pele (provoca feridas) mas pode chegar aos ossos
• A detecção precoce pode evitar a desfiguração
Poliomielite
• Doença altamente infecciosa causada pelo vírus polio
• Invade o sistema nervoso e pode levar à paralisia
•Menores de 5 anos são os mais vulneráveis
• Não tem cura, mas é prevenida por vacina
• Desde 1988, o número de casos caiu 99%
Dracunculíase 
• Causada pelo parasita Dracunculus medinensi
• Deixa lesões na pele e artrite incapacitante
• A contaminação ocorre por água contaminada
• Não há cura
• Em 2016, 25 casos foram notificados no mundo
• Será a primeira doença provocada por parasita a ser erradicada

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