terça-feira, 27 de março de 2012

Alzheimer é a nova causa do ator Carlinhos Moreno

O ator Carlos Moreno é o garoto-propaganda mais famoso do Brasil: estrelou por 30 anos as campanhas publicitárias da marca Bombril.

Agora, aos 58, está em nova campanha: divulgar a Abraz, a Associação Brasileira de Alzheimer, que conheceu há quase dez anos, quando sua mãe foi diagnosticada com a doença.


Isadora Brant/Folhapress
O ator Carlos Moreno em seu apartamento em São Paulo
O ator Carlos Moreno em seu apartamento em São Paulo

"Por muito tempo eu usufruí dos grupos de apoio da Abraz. Agora, virei diretor de divulgação. Para mim, é um jeito bacana de fazer trabalho voluntário", conta à Folha, na entrevista que deu em seu apartamento, em São Paulo.

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Folha - Qual foi sua reação quando soube que sua mãe tinha Alzheimer?
Carlos Moreno - Foi um baixo-astral, um abalo total. Eu tinha visto um documentário que mostrava pacientes no último estágio, terrível, e achei que, em um mês, ela estaria nessa situação.

Mas há dez anos ela está no estágio inicial. Ela tem 88 anos e, tirando o Alzheimer, a saúde é ótima.

Ela sabe que tem a doença?
Essa questão de contar ou não ao paciente que ele tem Alzheimer é muito complicada. Para alguns pode ajudar, se a pessoa se dispõe a colaborar com o tratamento.

No caso da minha mãe, optamos por não contar, chegamos à conclusão de que não ajudaria. Falamos que ela precisava tomar um remédio para a memória. Ela começou o tratamento e não largou.

O que os remédios fazem?
Retardam o avanço da doença. O Alzheimer ainda não tem cura, mas tem alguns tratamentos, especialmente se você percebe no início.

Muitas vezes, quando a pessoa finalmente recebe o diagnóstico, a família faz uma retrospectiva e aí vem aquela culpa: "Nossa, como não percebi?". Uma das coisas que queremos fazer na Abraz é alertar a população sobre a importância do diagnóstico precoce.

Muitas pessoas acham que, como não tem cura, não adianta saber precocemente...
Para mim essas pessoas estão completamente erradas. Quanto mais cedo você descobre, mais chance tem de melhorar qualidade de vida da pessoa, manter sua autonomia e sua identidade.

Perder a identidade é o mais triste, mas eu acho que o paciente é o que menos sofre, porque não tem noção do que está acontecendo. Duro é para a família, para quem cuida, isso pode desestruturar totalmente uma vida.

Aconteceu com você?
Particularmente, a nossa situação é muito boa, eu e minha irmã somos solteiros, meu pai é vivo, tenho como bancar uma "infra" etc. Mas, nos grupos de apoio, você vê gente que perde a vida social, compromete o trabalho, porque não tem com quem deixar a mãe ou o pai doente.

Essa situação é cada vez mais comum. Queremos que o Alzheimer seja reconhecido como uma epidemia. No Ministério da Saúde a avaliação é de que temos entre 600 e 800 mil doentes, mas a Abraz calcula que o Brasil deve ter aproximadamente 1,5 milhão de pessoas com Alzheimer.

Por que essa diferença?
Tem todos os problemas da saúde pública no Brasil, mas também as famílias não querem expor o paciente, sei de muita gente rica, esclarecida, que esconde que tem um doente em casa.

Vergonha da doença?
Existe preconceito, sim.

Não temos uma cultura de respeito aos idosos. Agora que o mercado percebeu que pode ter algum lucro com eles, os velhos começam a ter mais visibilidade. Mas o que mostram é o idoso feliz, saudável, saltitante. Quem não se encaixa não entra. Quem pode lucrar com uma pessoa com Alzheimer? Só os laboratórios.

Uma coisa que todo mundo faz, e sou contra, é comparar o paciente com um bebê. Você infantiliza a pessoa, desrespeita, não preserva a dignidade do doente.

A verdade é que as pessoas sabem muito pouco sobre o Alzheimer. Eu mesmo faço mea-culpa, não sabia nada a respeito até o diagnóstico de minha mãe.

A culpa também atrapalha o tratamento?
Atrapalha o cuidador. Às vezes, quem cuida resiste a procurar ajuda: "Imagine se eu vou sair e tomar um chope e deixar minha mãe doente com alguém...". Também entra o tipo de relação que teve antes com o paciente, se foi boa, ruim.

E o que é uma relação com a pessoa já doente?
É muito louco. Você tem que acreditar que existem outros meios de se comunicar além da linguagem verbal. É o toque, o carinho, o olhar. Tem que acreditar que há troca, comunicação.

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