Mais uma suspeita de H1N1 na Meac-Ceará

Levi Costa Figueiredo lamenta a morte da irmã Ezi pela gripe. "Ela era uma irmã e uma mãe para todos nós", afirma ao lado da mulher e do filho

FOTO: LUCAS DE MENEZES

Mais um caso suspeito de A (H1N1), a chamada gripe A, está sendo investigado pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). Trata-se de uma mulher de 59 anos que deu entrada ontem, na Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac), com todos os sintomas clínicos da doença.

O Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen) colheu material, mas ainda não divulgou o resultado. Enquanto isso, a mulher segue internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) materno da unidade, que está isolada, no mesmo local onde está internada a vítima de gripe A de Beberibe.

De acordo com Carlos Augusto Alencar Júnior, diretor da Meac, a mulher de 59 anos, que coincidentemente tem o mesmo nome da outra paciente, Maria do Socorro, chegou com um quadro mais favorável que as duas gestantes, inclusive, não está entubada, mas precisa de suporte respiratório. No seu caso, a vantagem é que, como os profissionais de saúde suspeitaram da doença precocemente, se for confirmado que trata-se de gripe A, as chances de evolução positiva são maiores.

Alguns possíveis complicadores é que a paciente foi tabagista, tem certo sobrepeso e problemas de refluxo. "A gente espera que a evolução seja boa. Pode ser que ela nem esteja com H1N1, de repente é só uma doença pulmonar", previne o médico.

O especialista explica que, no caso de confirmação da doença, o tratamento é feito com Tamiflu - antiviral recomendado no combate à Influenza A. "É como qualquer gripe. O problema é que, na H1N1, as repercussões podem ser maiores". O diretor da Meac esclarece que o medicamento diminui os riscos, mas a cura vem com o tempo e com o suporte de vida das pacientes.

A jovem de Beberibe, que estava grávida, não apresentou alterações, mas o seu estado continua grave. "Ela continua usando drogas, ainda está entubada. Do ponto de vista respiratório, continua grave, mas não apresenta insuficiência renal", destaca Alencar Júnior. Já o bebê, acrescenta o médio, está bem, evoluindo cada vez melhor. "Não existem motivos para acreditarmos que ele venha a ter uma evolução desfavorável", tranquiliza.

A Meac possui quatro leitos de UTI materno, que estão isolados com a vítima de H1N1 de Beberibe e a mulher de 59 anos com suspeita da doença, 21 leitos de UTI neo-natal e 30 leitos de médio risco. Em média, a unidade realiza 400 partos por mês.

Bloqueio

Um dia após o enterro de Ezi Costa Figueiredo, 27, a primeira vítima de gripe A do Ceará e a segunda do País neste ano, a rotina na Rua Antônio Reis, no bairro Jangurussu, continuava a mesma. São tantos parentes morando na mesma rua, que a tia de Ezi, a dona de casa Lúcia Tavares, teve dificuldade de contar.

Na casa de número 320, onde vivia com o companheiro, dois filhos e o filho de um irmão que criava, tudo permanecia praticamente como ela deixou. A casa é formada por dois quartos, um banheiro e uma cozinha. Tudo muito simples, sem enfeites, quadros ou fotos. Apesar disso, era lá onde todos os dias os irmãos costumavam tomar o café da manhã, sempre juntos.

"Ela era uma irmã e uma mãe para todos nós. Era uma pessoa tão legal, que se tornava até besta, o pessoal se aproveitava dela. Quando amanhecia o dia eu pulava para lá, tomava café da manhã, almoçava, tudo com ela", relata Levi Costa Figueiredo, 20, irmão de Ezi e pai do menino de um ano e seis meses que ela criava. Como tinha contato diário com a irmã, Levi confessa ter medo de ter pegue a gripe. "A gente fica com medo, porque é uma doença muito grave", diz.

A dona de casa Regina Gomes Duarte, 42, que mora em frente à casa, declara que nunca mais terá uma vizinha como Ezi. "A gente era muito amiga, cozinhava juntas, conversava. Ela era uma pessoa excelente, não tinha raiva de ninguém, era na dela, caseira, só saia de casa para a igreja. Uma menina tão legal, não merecia o sofrimento todo que passou", lamenta Regina.

Sesa afirma que irá apoiar a aquisição de insumos

O titular da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), Arruda Bastos, esteve, na manhã de ontem, em Beberibe, e garantiu ao prefeito do município, Odivar Facó, que irá apoiar na aquisição de insumos. Disse ainda que liberou mais medicamentos para tratar da Influenza A no município.

Juraci Jesuíno da Silva, secretário de Saúde de Beberibe, e a coordenadora do departamento de Vigilância em Saúde, Kirley Barroso, informaram que uma enfermaria do hospital do município foi reservada para receber pacientes com gripe. Afirmam ainda que a secretaria realizou uma busca ativa de sintomáticos respiratórios no distrito de Sucatinga, onde reside a paciente internada na Meac. Foi colhido o material de 13 pessoas, mas nenhuma com sintomas graves.

Prevenção

A Sesa alerta que, mesmo para quem foi vacinado, a prevenção é a melhor atitude para evitar a gripe. O alerta maior é para as gestantes, que, pelo próprio estado fisiológico da gravidez, estão predispostas a ter complicações da doença. Isso se deve à diminuição da expansão pulmonar causada pela compressão do diafragma, o que resulta na dificuldade respiratória, e à redução da resposta imunológica.

Portanto, mulheres grávidas que manifestem sinais de síndrome gripal deverão procurar atendimento médico o mais rápido possível. Além disso, devem evitar partilhar alimentos, copos, aperto de mãos, abraço e beijo.

PROTAGONISTA
"Era uma relação de mãe e filho", diz irmão de Ezi

Ainda atônito com a morte de Ezi Costa Figueiredo, 27, seu irmão, o piscineiro Paulo Costa Figueiredo, 25, comentou a relação que tinha com ela. "É inexplicável. Não era relação de irmão, era de mãe e filho. O que ela precisava, eu fazia, e o que eu precisava, se fosse para o meu bem, ela também fazia", destaca. Sua indignação maior não era por ter perdido a irmã, porque, segundo afirma, "quando Deus quer não tem jeito", mas pela forma como ela foi tratada no Frotinha de Messejana, com total descaso. "Eles viram que ela estava mal, cuspindo sangue e mesmo assim mandaram que ela voltasse para casa", frisa.

Paulo costa Figueiredo
Irmão de Ezi

LUANA LIMA
REPÓRTER