segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Nova terapia gênica pode oferecer tratamento mais eficaz contra o glaucoma

Pesquisa brasileira consegue reduzir o processo de morte celular e controlar evolução da doença degenerativa

Aretha Yarak, de Águas de Lindóia
O glaucoma, uma doença ainda sem cura, é a terceira causa de cegueira no Brasil
O glaucoma, uma doença ainda sem cura, é a terceira causa de cegueira no Brasil (Thinkstock)
O glaucoma, segunda principal causa de cegueira do mundo, pode ter um tratamento mais eficaz dentro de alguns anos. De acordo com pesquisa apresentada durante a Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE), em Águas de Lindóia (SP), uma nova técnica de terapia genética proporciona um importante efeito neuroprotetor às células da retina – o que impediria, assim, a evolução da doença.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o glaucoma atinge até 2% da população mundial acima dos 40 anos. A doença é a terceira causa de cegueira no Brasil e pode ser causada por condições como diabetes, lesões oculares e hereditariedade. A doença não tem cura. O tratamento do glaucoma é feito com o uso contínuo de colírio diário. “Essa terapia tem uma adesão complicada, porque o paciente aplica corretamente o colírio na fase crítica. Mas, com o passar do tempo, ele começa a descuidar do tratamento”, diz a biomédica Hilda Petrs Silva, uma das coordenadoras do estudo e pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Gene - Na nova terapia, ainda em fases clínicas de estudo, a equipe passou a analisar os fatores de transcrição que estavam envolvidos no processo de morte da célula ganglionar. Pela facilidade de acesso, os estudos foram conduzidos nas células da retina – usada como um modelo de sistema nervoso. Descobriu-se, então, que um gene chamado MAX, que deveria estar no núcleo celular, aparecia no citoplasma quando a célula era induzida à morte. Quando a morte celular era bloqueada, o gene se mantinha no interior do núcleo. “Chegamos a conclusão, então, de que esse fator de transcrição poderia ter um papel importante no processo de morte celular”, diz Hilda.
Para averiguar a tese, a pesquisadora usou um modelo de vetor viral (adenovírus) para conseguir levar o gene MAX às células ganglionares estudadas in vitro. Na sequência, os testes foram feitos em quarenta ratos com glaucoma agudo induzido. A técnica foi eficiente para salvar de 45% a 55% das células locais – sem o tratamento, a morte celular era de 80% a 90%. “Uma vantagem do gene MAX sobre os demais é que ele não está associado com formações tumorais”, diz Hilda. Pesquisas preliminares, pelo contrário, apontam que esse gene está relacionado com a redução do efeito proliferativo das células cancerígenas. Sem efeito colateral registrado durante os cinco anos de pesquisas, a terapia tem o gene inserido no olho por injeção intravítrea.
Um segundo modelo, similar ao do gene MAX, também segue em estudo paralelo. “Como os protocolos já foram estabelecidos durante as fases iniciais de estudo do MAX, agora queremos testar também outros modelos”, diz Hilda. A pesquisa com a proteína CHIP, que está relacionada com a formação de novas proteínas dentro da célula, ainda está em fases preliminares de estudo. “Nossos próximos passos agora são determinar de que modo essa neuroproteção acontece e dar início a testes em modelos maiores para podermos chegar aos testes em humanos”, diz Hilda

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