sábado, 16 de fevereiro de 2013

Uma arquitetura que salva crianças

Novos hospitais pediátricos investem em inovações de design que ajudam no tratamento, como prova a ciência médica

Monique Oliveira
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INTERAÇÃO
No jardim do Chicago Children's Hospital a luz
muda de cor quando alguém se aproxima
Um novo hospital inaugurado recentemente em Orlando, na Flórida, nos Estados Unidos, está sendo apontado como a mais nova referência mundial de design para hospitais pediátricos. O Nemour Children’s Hospital dispõe, por exemplo, de amplos jardins dotados de um sistema que permite a troca de cores de iluminação e de sons na medida em que o paciente se aproxima, áreas verdes no teto, tevês com internet que as crianças podem acessar e espaços especiais para as famílias, com home theaters e sofás mais confortáveis. Os quartos também são espaçosos e pintados com cores que tornam o lugar mais aconchegante. A área de serviços conta com uma concierge, uma figura importada da indústria hoteleira, sempre disposta a atender mesmo aos pedidos mais sofisticados. “O intuito é criar um ambiente de hospitalidade e familiaridade”, disse à ISTOÉ o arquiteto Mike Cluff, diretor do projeto.
A instituição é o exemplo mais bem-acabado de uma tendência que se consolida e cujo objetivo é tornar a internação de crianças um período o menos doloroso possível. Além do Nemour, um dos grandes destaques nessa área é o Chicago Children’s Hospital, em Chicago (Eua). Lá, um andar inteiro foi reservado para ser um jardim. O projeto inclui dúzias de bambus também equipados com um sistema moderno de iluminação, que possibilita a mudança de cor à medida que as pessoas passam por eles. Outra proposta são bancos de madeira com aparelhos que emitem sons de animais, assim como as árvores com equipamentos que simulam sons de pássaros e folhas balançando ao vento. Esse tipo de inovação foi desenvolvido obedecendo cuidados com a segurança. “O desafio foi fazer com que o ambiente fosse interativo, mas que dispensasse o toque, minimizando a proliferação de germes”, disse à ISTOÉ a arquiteta Mickoung Kim, responsável pelo projeto.
Espaços como esses têm como fundamentação os resultados de estudos de uma área da ciência médica denominada design-evidência, dedicada a avaliar o impacto do ambiente para a saúde. Há sólidas provas de que ele tem influência nisso. Uma das primeiras pesquisas foi feita na Universidade de Delaware (Eua). Os cientistas analisaram a recuperação de pacientes submetidos a uma cirurgia e concluíram que aqueles colocados próximos a janelas ou de quadros com paisagens tiveram alta um dia antes do que os que ficaram em outros lugares.
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CONFORTO
Na Flórida, projeto selecionou cores para tornar
ambientes aconchegantes e há lugares para as famílias
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Outro trabalho, da Universidade de Pittsburgh (Eua) provou que pacientes mais expostos a luz do sol tinham menos estresse e dor (tomaram 22% menos analgésicos). Uma revisão de mais de 600 pesquisas na área feita pelo Center for Health Design, entidade referência internacional nesse campo, não deixou dúvidas sobre o papel da arquitetura na recuperação dos doentes. “Ela reduz o estresse dos profissionais, melhorando seu desempenho, aumenta a segurança para o paciente, diminui o estresse do doente e de sua família e melhora a recuperação do indivíduo internado”, escreveram os autores.
Há benefícios também para a adesão ao tratamento. Nesses novos hospitais infantis, por exemplo, a tendência é colocar no mesmo andar consultórios e laboratórios de exames de uma especialidade. Além disso, os quartos dispõem de acomodações para mães e pais. “Isso comprovadamente faz com que haja um maior engajamento na terapia”, explica Jennifer Cartland, do Children’s Hospital.
A adoção de intervenções desse gênero não parece necessariamente encarecer o custo das construções. Uma série de artigos publicados no “Hastings Center Report”, instituição americana sem fins lucrativos que estuda o setor, mostrou que os incrementos não oneram tanto o orçamento dos hospitais. “As melhorias que fizemos baseadas em design-evidência corresponderam a apenas 2,5% de um projeto que custou US$ 150 milhões”, escreveu a arquiteta Cheryl Herbert, responsável pelo projeto do Dublin Methodist Hospital (Eua).
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O Brasil começa a entrar nessa tendência. “É crescente a preocupação em ampliar ambientes e adequá-los às necessidades dos pacientes”, diz Lauro Miquelin, diretor da empresa L+M Gets, especializada em projetos arquitetônicos para hospitais. A reforma do Hospital Menino Jesus, por exemplo, administrado pelo Hospital Sírio-Libanês, priorizou as demandas infantis e de seus familiares. Além de ampliar espaços, introduziu a identificação dos andares por animais e cores.

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