Um exame que mede a densidade do osso da bacia e outros métodos para
prever o risco de tumores e flagrar o câncer em fase muito inicial
Ilustração: Sandro Castelli
Incansáveis, cientistas mundo afora vivem no encalço de pistas que
levem ao tumor de mama. Não à toa. Esse é o tipo de câncer mais comum
entre as mulheres e a segunda maior causa de morte, entre elas, em todo o
planeta. A investigação árdua, que não costuma desprezar nenhum indício
de perigo, agora aponta o osso da bacia como mais um parâmetro para
avaliar a suscetibilidade à doença.
Os desbravadores desse caminho promissor são daUniversidade do
Arizona, nos Estados Unidos. Durante oito anos, eles avaliaram a
densidade óssea de cerca de 10 mil voluntárias na pós-menopausa. E
constataram que as donas de ossos extremamente fortes corriam um risco
25% maior de adoecer. Ou seja, se por um lado até poderiam comemorar a
ausência de osteoporose, por outro precisariam ficar ainda mais alertas
para o risco do câncer em sua fase silenciosa, isto é, quando não dá
sinais visíveis nem é palpável.
A essa altura, você deve estar traçando a seguinte linha de raciocínio:
se o cálcio deixa os ossos duros de roer e se é verdade que um
esqueleto em dia pode até predispor à doença, não seria melhor abolir o
leite, o queijo e outros alimentos ricos no mineral? Mude o rumo do seu
pensamento já! "O mecanismo em discussão é o da retenção de cálcio, e
não o da ingestão", tranquiliza Makdissi. "É bom lembrar que a atividade
física também fortalece os ossos e jamais será acusada de causar a
doença", frisa a radiologista Suzan Goldman, da Universidade Federal de
São Paulo, a Unifesp.
Outra coisa que pode causar confusão nessa história é o fato de os
exames preventivos de imagem muitas vezes mencionarem a expressão
microcalcificações nos resultados. Sim, as tais microcalcificações nas
mamas podem ser o prenúncio de um câncer lá longe - nem sempre, mas
podem. No entanto, elas não têm relação com a densidade óssea.
Quando fazer exames?
"É essencial que todas as mulheres acima de 40 anos se submetam a uma
mamografia uma vez por ano. Ela é o principal exame para detectar a
doença", destaca a mastologista Maira Caleffi, presidente da Federação
Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama, a
Femama. Jovens com alto risco devem iniciar esse controle mais cedo, a
partir dos 30. “Quem tem parentes de primeiro grau com a doença deveria,
em alguns casos, fazer um teste genético para avaliar seus riscos",
sugere a médica. "Aquelas que fazem reposição hormonal há mais de cinco
anos, as que tomam anticoncepcional, as que menstruaram pela primeira
vez antes dos 12 ou tiveram menopausa tardia e, por isso, ficaram mais
tempo expostas à ação do hormônio estrogênio também integram o grupo de
risco e não devem se descuidar", alerta o oncologista Auro del Giglio,
do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Em caso de qualquer alteração ser encontrada, torna-se fundamental
discutir as possibilidades de intervenção com o médico. Alguns tipos de
calcificação não devem preocupar. Outros precisam de acompanhamento
semestral até se ter certeza de que não há nada de ruim por trás das
partículas de cálcio aglomeradas. Quando o risco de ser encrenca é alto,
alguns especialistas preferem tirar a lesão. Uma medida radical, a
mastectomia profilática, consiste na retirada das mamas e na colocação
de próteses.
Quando os exames flagram de fato um câncer, não se deve perder tempo.
"Enquanto o tumor tiver até 1 centímetro, a possibilidade de cura é
enorme e os procedimentos, mais simples. Depois disso, a chance de
sobrevida começa a diminuir, e a doença vai exigir tratamentos mais
agressivos, como a quimioterapia", avisa Maira Caleffi. Examinar e
investigar, portanto, são palavras de ordem para prevenir e, se for o
caso, arrancar o mal do peito.
Opções para o futuro
Duas novas apostas para o diagnóstico são experimentadas nos Estados
Unidos. A primeira é um aparelho chamado Z-Tech Scan. Cientistas do
Medical College of Georgia já o testaram com sucesso em mulheres de 40 a
50 anos. O método consiste na colocação de eletrodos em volta de cada
mama para obter a imagem. "Sua vantagem é dispensar a radiação e a
compressão dos seios, que sempre gera reclamações", diz a SAÚDE uma das
pesquisadoras, Charlene Weathers. A outra técnica é o CT Scan, a popular
tomografia computadorizada, que está sendo usada na Universidade da
Califórnia para checar a saúde mamária. "Ela fornece imagens que
possibilitam uma avaliação muito precisa, mesmo em casos de mama densa
ou presença de calcificações", comenta John Boone, que acompanha os
testes para medir a eficácia do tomógrafo na luta para prevenir a
doença.
Flagra no tumor
Teste genético
Em casos específicos de alto risco familiar, o especialista pode
solicitar um teste de sangue para checar se os genes BRCA 1 e 2 são
perfeitos. "Eles são responsáveis por reparar o material genético, o DNA
das células", explica o oncologista Auro del Giglio. Em outras
palavras, consertam falhas, suprimindo ordens para a multiplicação
desenfreada típica de uma célula maligna. "Quem tem duas familiares que
ficaram doentes com menos de 50 anos deve se submeter ao exame", opina
Maira Caleffi . "Ou basta ter uma mulher na família que teve o câncer
nas duas mamas ou, ainda, em uma mama e nos ovários." Último alerta:
homens também podem ser vítimas de câncer de mama, embora neles isso
seja raro. Portanto, parentes do sexo masculino com a doença também
levam à sugestão do teste genético.
Ressonância magnética
Aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária há poucos meses,
o aparelho Mammotome MRI acaba de chegar ao Brasil, trazido pela
empresa Johnson & Johnson. "Trata-se de um exame de imagem ideal
para detectar tumores em mulheres que têm um tecido da mama muito denso
ou próteses", explica Suzan Goldman. Também permite uma técnica de
biópsia minimamente invasiva. Muitas vezes, esse procedimento evita a
cirurgia aberta ou a facilita, localizando e determinando a extensão do
tumor de forma muito precisa. Porém, ainda há poucos profissionais aptos
a fazer essa ressonância no país. Por ser mais sensível que a
mamografia e o ultrassom, não raro apresenta resultados
falsos-positivos. Então, só é indicada em casos específicos. Nos Estados
Unidos, no entanto, a Sociedade Americana de Câncer já a recomenda como
método de diagnóstico de rotina.
Mamografia
Insubstituível, ela ainda é a número 1 no rastreamento do mal. Por meio
da compressão dos seios, emite raios X para vasculhar o tecido mamário
em busca de alterações mínimas. Um dos avanços recentes é a versão
digital. Mas, cá entre nós, tanto ela quanto o método convencional
fornecem resultados satisfatórios. "Os demais exames ajudam no
diagnóstico, mas a mamografia anual é que não pode faltar", garante
Maira Caleffi . Lembre-se: qualquer recurso de imagem depende da
interpretação de um radiologista experiente. Procure um centro de
diagnóstico cadastrado no Colégio Brasileiro de Radiologia, que
regulamenta a atividade (www.cbr.org.br).
Ultrassonografia
O médico se vale de um aparelho que emite ondas sonoras, conduzidas com
o auxílio de um gel, que voltam e formam imagens em um computador. Elas
são capazes de entregar anomalias. "A técnica é eficaz para diferenciar
um nódulo sólido de um cisto. Ou seja, é um exame complementar da
mamografia", esclarece Maira Caleffi . "A mamografia, feita em mamas
densas ou com próteses, costuma confundir o especialista em 20% dos
casos. Aí, o ultrassom entra em cena para evitar enganos", completa
Suzan Goldman.
Biópsia
Há casos em que nenhum exame de imagem afirma com clareza se é mesmo um
tumor de mama. Aí não tem outro jeito a não ser colher uma amostra do
tecido suspeito para análise em laboratório. "Atualmente, é possível
fazer a coleta por meio de uma agulha fina", tranquiliza Suzan Goldman.
Se o resultado é positivo, a retirada do tumor é obrigatória.
Cistos, nódulos e calcificações
Muita gente, ao ler um desses termos no resultado de um exame de
imagem, fica sem entender nada. É o seu caso? Vamos à tradução:
Cisto
É uma alteração inofensiva do tecido, preenchida por líquido. Em apenas alguns casos, precisa ser drenado.
Nódulo
É uma formação sólida que, na maioria das vezes, é benigna, mas, sim, pode ser um câncer.
Calcificação
Pode ser comparada ao dedo-duro de um tumor, mas nem sempre sua
presença acusa a doença. "As células mamárias produzem leite e, para
isso, precisam de cálcio", explica a mastologista Fabiana Makdissi. "Em
algumas mulheres, o mineral se esparrama no tecido uniformemente, sem
provocar alarme. O problema é quando ele se acumula de um jeito
estranho, irregular. Aí, possivelmente, ele está grudado em uma
cicatriz, em um cisto ou, sim, em um tumor."