domingo, 20 de outubro de 2013

Quem dança seus males espanta

“Não é só chegar e dançar. Também não é apenas um exercício físico. Dançar é colocar o coração em harmonia com a música e sentir o contato com a alma.” A explicação de Miriam Galeano, bailarina e professora de flamenco do Instituto Flamenco Brasileiro de Arte e Cultura, mostra que a dança não se restringe a uma opção de atividade física para quem não gosta de academia. Além de tonificar os músculos e dar mais flexibilidade, ela faz com que o corpo crie conexões com os outros e consigo mesmo. Além disso, arriscar alguns passos faz com que as aulas transformem-se em momentos de relaxamento e, até mesmo, de terapia, completa Shara Kadosh, psicóloga e professora da escola de dança do ventre Kadosh Arte e Movimento.
São essas qualidades que têm atraí­­do cada vez mais gente às aulas de dança. “Ultimamente tenho visto que, não sei se por causa da vida agitada, do estresse ou do trabalho, as pessoas querem se desconectar do mundo e se conectar com a música”, explica Miriam. Quando chega à aula, com os problemas rondando a cabeça, a administradora Rúbia Mora dos Santos não permite que as preocupações tomem conta. Ela sabe que depois dos 90 minutos as dificuldades não parecerão mais tão intransponíveis. “Durante a aula, você não consegue pensar em outra coisa senão nos passos, no ritmo, no movimento. É uma válvula de escape, porque você acaba exteriorizando os sentimentos”, conta Rúbia.
Da euforia ao relaxamento, a importância da música
Antes mesmo dos movimentos se iniciarem, a música está presente. Seja qual canção estiver tocando, as alunas de flamenco não parecem mais estar na sala de aula, mas talvez em alguma calle (rua) da Andalucía. “Cada música traz uma sensação e um sentimento diferente, e varia muito para cada pessoa. Uma música acelerada, por exemplo, pode causar uma sensação de euforia, alegria, tensão ou um sentimento de relaxamento. Depende muito do estado de ânimo da pessoa naquele momento”, explica Miriam Galeano, do Instituto Flamenco Brasileiro de Arte e Cultura. “Uma aula falada não é tão boa quanto uma aula que você pode usar a música. Aqui temos o hábito de ter música ao vivo, o que também muda a percepção, deixa mais real”, explica Shara Kadosh.
A busca pela perfeita sincronia com o colega, o respeito aos movimentos e a convivência são etapas da dança que contribuem com as transformações individuais. “Ao longo do curso, percebemos as mudanças nos alunos. Eles ficam mais espontâneos, menos tímidos e fazem amigos. Vi alunos chegando sérios, sem permitir uma abertura, e saindo bem mais tranquilos”, relata Shara.
A professora do curso de dança da Faculdade de Artes do Paraná e co-criadora do Fórum de Dança de Curitiba, Marila Velloso, explica que os detalhes dos movimentos, como o toque e o olhar, fazem a diferença. “Nas danças de salão, ao pegar no braço de alguém, ou na dança circular, você sente a presença do companheiro ao lado, forma-se um vínculo, um contato visual que gera uma relação mais íntima”, comenta.
Para Walmir Secchi, proprietário do Centro de Dança Latina, as danças de salão têm forte conotação de resgate de si. “É o momento para interagir consigo mesmo e, conhecendo a si mesmo, passa a conhecer o outro”, comenta Secchi.
A alegria da era disco - Escondida em um pequeno estúdio na Rua Alferes Ângelo Sampaio, no bairro do Batel, a Disco Dance Company mantém viva a alegria das discotecas, com muitos alunos prontos para saírem do século 21 e voltarem à década de 1970. Há dois anos, duas vezes por semana, o empresário Marcel Luiz Bubniak dança, especialmente a disco, por recomendação médica. Tive um enfarte há três anos e meu médico me indicou a dança porque sou muito ansioso, aqui eu consigo esquecer de tudo. Ela faz o papel da acupuntura, da terapia. Estou bem desde que comecei a dançar, conta. Quem trouxe o administrador Marcos Carvalho pela primeira vez à aula de disco foi a esposa, a bancária Diocélia Carvalho, mas quem o manteve nas aulas nos últimos cinco anos foi a alegria. Sinto uma satisfação em vir dançar. Você esquece o mundo, esquece o trabalho e conseguimos formar uma turma muito legal. Nos reunimos sempre, conta Marcos que, inclusive, vai à caráter para a aula, com calça boca de sino e camisa estampada de bolinha; Após um enfarte, há três anos, o empresário Marcel Luiz Bubniak buscou na dança disco uma forma de reduzir a ansiedadeHugo Harada / Gazeta do Povo

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