sábado, 26 de março de 2016

Incidência de tuberculose teve redução discreta no Estado -Ce

Especialistas dizem que a redução na taxa de incidência não pode ser comemorada por que o percentual de cura caiu
Levi de Fretas/Renato Bezerra - Repórteres
O abandono é preocupante, por gerar resistência medicamentosa no paciente, sendo um dos atuais focos do enfrentamento à doença no Estado ( Foto: Alex Costa )
O Estado do Ceará teve um declínio nos casos de tuberculose durante 14 anos. Enquanto que em 2001 a taxa de incidência para cada grupo de 100 mil habitantes era de 46,1, em 2015, embora com dados ainda preliminares, a taxa reduziu para 38,4 casos. As informações constam no boletim epidemiológico da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), divulgado no último dia 22 de março.
Apesar da discreta melhora, não há o que comemorar, por enquanto, se levada em consideração a piora das taxas de cura registrada em dez anos. Em 2004, 73,2% dos acometidos pela doença conseguiram se curar, mas este percentual caiu para 59,2% em 2014.
Dados preliminares de 2015 revelam uma taxa ainda menor, de 20,5%. Vale ressaltar que a meta recomendada pela Organização Pan-Americana da Saúde / Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) é de 85%.
Abandono
Outro dado preocupante é o da taxa de abandono do tratamento, que em 2015 ficou em 8,7%, enquanto o recomendado pela OPAS/OMS é abaixo de 5%. Neste mesmo ano, 209 pessoas morreram no Estado vítimas da tuberculose, de acordo com o boletim epidemiológico.
"A taxa de cura é baixa e há um alto índice de abandono, então a mortalidade aumenta. O que ocorre é que se trata de uma doença curável, de tratamento gratuito, mas que pela não adesão ao tratamento, evolui para óbito", explica a coordenadora do Programa de Tuberculose do Estado, Sheila Santiago.
O abandono, segundo a médica, é preocupante, por gerar uma resistência medicamentosa no paciente, sendo um dos atuais focos de trabalho no enfrentamento à doença no Estado. "O tratamento é de seis meses com medicação diária. Mesmo que melhorem os sintomas, deve-se continuar com a medicação até a cura. Muitas vezes, no segundo, terceiro, quarto mês, com a melhoria dos sintomas, é uma tendência nossa deixar a medicação, achar que está bom, e aí mora o perigo de ficar resistente ao medicamento", explica.
Outro foco no trabalho de enfrentamento à doença, diz Sheila Santiago, é a identificação do sintomático respiratório, considerada a pessoa com tosse há mais de três semanas, e que geralmente é confundida com gripe ou tosse alérgica e, portanto, não sendo valorizada.
A especialista orienta, estando com este perfil, que a pessoa procura uma unidade de saúde para realização do exame. No caso de constatação, o tratamento é inteiramente gratuito, realizado na rede básica de saúde, com os medicamentos necessários sendo disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Na média nacional
De acordo com a especialista, a taxa de 38,4 casos para 100 mil habitantes, registrada em 2015, se refere ao número de casos confirmados e está dentro da média nacional. Contudo, segundo explica, existem, ainda, os não detectados, ou seja, pessoas doentes sem que estejam notificados pela unidade de saúde, e que podem estar transmitindo o vírus. "O Ceará tem boa detecção, mas é preciso que todos os municípios tenham esse foco na detecção precoce em busca de sintomático respiratório", destaca.
Ainda conforme Sheila Santiago, a educação sanitária e a informação são as melhores formas de prevenção. "O sol do Ceará é excelente meio de matar o bacilo. Temos que ter o hábito de abrir a janela. Ao tossir e espirrar, cobrir, além de investigar todos que tiveram contato com os sintomáticos respiratórios. São maneiras de biosegurança administrativa que servem de prevenção.
Mas a maior prevenção é a informação. Ainda é uma doença com muito preconceito, algumas pessoas não se acham, não se colocam em pauta de discussão, apesar de ser uma doença antiga, tem uma discriminação. Ela precisa ser socializada, conversada, para que a população não se envergonhe de ter ou conviver com tuberculose", avalia.
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