domingo, 24 de abril de 2016

Oito países registram transmissão sexual do zika

Pesquisa da USP em macacos do Ceará aponta para um dos motivos da rápida disseminação do zika pelas Américas

Mosquito Aedes aegypti, transmissor da Dengue
Argentina, Chile, Estados Unidos, França, Itália, Nova Zelândia, Peru e Portugal têm evidência desse tipo de transmissão porque registraram casos autóctones da doença sem ter, em seu território, a presença do mosquito transmissor(Paulo Whitaker/Reuters)
A transmissão sexual do zika já foi notificada em oito países. Segundo um boletim da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado na quinta-feira (21), Argentina, Chile, Estados Unidos, França, Itália, Nova Zelândia, Peru e Portugal têm evidência desse tipo de transmissão porque registraram casos autóctones da doença sem ter, em seu território, a presença do mosquito transmissor.
Ainda segundo a OMS, seis países tiveram aumento de casos de microcefalia associados à doença: Brasil, Colômbia, Cabo Verde, Polinésia Francesa, Martinica e Panamá. Desde 2007, quando o primeiro surto do vírus foi documentado, 66 países tiveram registro de zika. Destes, 42 nações notificaram casos de transmissão do zika a partir de 2015, quando a doença foi identificada pela primeira vez nas Américas.

Zika em macacos no Ceará - Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) encontraram, pela primeira vez fora do continente africano, macacos infectados pelo vírus zika no Ceará. A descoberta, publicada recentemente no periódico científico bioRxiv, indica que a doença se espalha com mais facilidade e pode ser mais difícil de ser contida do que se imaginava.
"Esse é um achado que nos deixou muito preocupados porque mostra que o zika veio para ficar. Assim como no caso da febre amarela, o vírus tem um ciclo não só em humanos, mas também em animais silvestres, que podem tornar-se um reservatório. É por isso que, no caso da febre amarela, mesmo com a vacina, a gente nunca conseguiu erradicar o vírus, porque ele fica circulando entre os primatas. Isso não acontece com a dengue, por exemplo", explica Edison Luiz Durigon, professor titular do departamento de microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e um dos coordenadores do estudo.
Os macacos infectados pelo vírus foram encontrados em diferentes regiões do Ceará entre os meses de julho e novembro do ano passado. Na ocasião, cientistas do ICB-USP e do Instituto Pasteur estavam no local capturando saguis e macacos-prego para um estudo sobre a raiva.
"Resolvemos testá-los também para o zika e, para nossa surpresa, 29% das amostras deram positivas, todas elas de macacos capturados em áreas onde há notificação de zika e ocorrência de microcefalia", diz o pesquisador, um dos integrantes da Rede Zika, força-tarefa de cientistas paulistas criada no ano passado, com auxílio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), para estudar o vírus.
Na pesquisa, 24 primatas (15 saguis e 9 macacos-prego), provenientes tanto na região costeira do Ceará quanto das áreas de caatinga e de floresta, foram testados para zika com a técnica PCR em tempo real. Destes, sete estavam com infectados: quatro saguis e três macacos-prego. Todos os animais capturados tinham com domésticos ou viviam próximos aos humanos Após passarem pelo exame, os macacos tiveram um microchip implantado e foram devolvidos ao hábitat natural.
"Estes não são macacos completamente silvestres, eles costumam ir às casas das pessoas para buscar comida e ali podem ser contaminados, voltando para o ambiente selvagem levando o vírus e, inclusive, infectando outros tipos de Aedes. Por enquanto, é o humano que está provocando a infecção do macaco, mas daqui a pouco pode ser o contrário", afirma Durigon.
Esta descoberta pode apontar para um dos motivos de o zika ter se disseminado tão rápido pelas Américas. Em menos de dois anos, a doença já foi identificada em 35 países do continente, enquanto a dengue levou décadas para se espalhar na mesma amplitude. A dengue, no entanto, é incapaz de infectar macacos e, portanto, não tem o chamado reservatório em animais silvestres.
"O que acontece com os vírus é que, para eles se multiplicarem em um organismo, precisam que as células de um indivíduo tenham um receptor. Eles só conseguem infectar as células que são permissivas a eles. Mesmo se um mosquito positivo para a dengue picar o macaco, não consegue infectá-lo porque não há esse receptor nas células. Já no caso da zika, descobrimos que sim", diz o pesquisador da USP.
Embora a infecção por zika já tivesse sido detectada em macacos da África, os cientistas se surpreenderam porque os primatas do novo e velho mundo, como são classificados, têm estruturas genéticas e suscetibilidade a doenças diferentes. Não havia, portanto, a obrigatoriedade de um primata do continente americano ser suscetível à infecção por zika.
Com o achado, os pesquisadores pretendem retornar ao Ceará em meados de maio para fazer exames em mais macacos e tentar recapturar alguns dos animais já testados para que eles sejam estudados de forma mais aprofundada.
(Com Estadão Conteúdo)

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