segunda-feira, 11 de abril de 2016

Período chuvoso ocasiona proliferação de várias doenças

Aglomeração humana, condições inadequadas de saneamento e alta infestação de roedores estão entre as causas
Thatiany Nascimento - Repórter
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Lixo espalhado por locais como canais são responsáveis pela proliferação de ratos ( FOTO: JOSÉ LEOMAR )
A intensificação das chuvas favorece de forma sazonal a proliferação de doenças específicas como as de transmissão vetorial, as respiratórias e as de transmissão hídrica. O alerta é antigo, mas os problemas se repetem todo ano. Um exemplo são as enchentes que voltaram a ser vivenciadas de forma acentuada, sobretudo, pelas comunidades ribeirinhas em Fortaleza. Médicos ressaltam que os males afetam de forma acentuada moradores de áreas precárias, mas alertam para a vulnerabilidade de toda a população aos riscos dada a alta capacidade de propagação das patologias.
Grande aglomeração populacional, condições inadequadas de saneamento e alta infestação de roedores infectados. O cenário ideal para a propagação da leptospirose repete-se em várias áreas urbanizadas do Ceará e, principalmente, na Capital. Este ano, conforme o último boletim de Doenças de Notificação Compulsória divulgado pela Secretaria da Saúde (Sesa), no dia 5 deste mês, foram registrados cinco casos da doenças e dois óbitos em decorrência da patologia.
Em 2014, conforme dados do Ministério da Saúde, foram confirmados 49 ocorrências e seis mortes. Já no ano passado, o registro foi de 28 episódios com dois óbitos. O infectologista Anastácio Queiroz explica que a leptospirose é causada por uma bactéria presente na urina do rato que se espalha pelas águas de enchentes e esgotos e entra na pele - lesionada ou não - das pessoas que têm contato com estas águas.
Musculatura
De acordo com o médico, a doença atinge a musculatura, mas pode afetar de forma comprometedora rins, fígado e pulmão. Nos casos mais severos - onde há registro de óbitos- que, conforme o Ministério da Saúde, atingem cerca de 10% da população afetada, geralmente há insuficiência renal. "Às vezes, a pessoa começa com dor no corpo e o quadro se agrava rapidamente. Por isso, dois dias de retardo do diagnóstico é muito grave".
Exames de sangue são usados para diagnosticar a doença que tem, dentre os sinais, a manifestação de olhos amarelados e pele um pouco avermelhada, além das dores musculares. Anastácio lembra que o contato com esta água não se dá somente no caso de residências que são afetadas pelas cheias, mas também nos alagamentos nas ruas, quando os pedestres tentam atravessar.
O uso de botas e sapatos de borracha é aconselhado pelo infectologista e presidente da Associação Brasileira de Infectologia, Érico Arruda, para tentar garantir uma mínima proteção para o contato com águas deste tipo. Além disso, o médico indica que as pessoas que necessitam limpar as residências invadidas pela cheia façam uso de água sanitária para desinfetar os ambientes e reduzir os riscos.
Érico também ressalta que ao entrar em contato com as águas contaminadas das enchentes e dos alagamentos, há risco de contração de enterites, que é uma espécie de inflamação na mucosa do intestino delgado que causa infecção. "As pessoas às vezes banham-se nessas águas e até engolem. Ou tentam atravessar os alagamentos e, de alguma forma, essa água fica em contato com a boca. Isto pode gerar infecção intestinal mais séria".
O infectologista lembra também que, em alguns casos, as pessoas que precisam sair de seus domicílios acabam se aglomerando em áreas comuns como ginásios, escolas e abrigos. Isto, segundo ele, em geral, é feito em condições hidrossanitárias aquém das necessárias, e favorece a transmissão de doenças respiratórias como a influenza ou doenças bacterianas como a meningite menigocócica. Este ano, o Ceará já registrou cinco casos da meningite menigocócica e dois óbitos.
Ocorrência de hepatite do tipo A, que é uma doença, segundo o infectologista, causada pelo vírus A (VHA) e de transmissão fecal-oral, por contato entre indivíduos ou por meio de água ou alimentos contaminados pelo vírus, também pode se acentuar nesse período. "A existência da vacina tem reduzido a prevalência dessa doença. Mas ainda boa parte da população tenta consumir alimentos contaminados", explica.
Bactéria
Em situação de ocorrência mais rara, mas com casos registrados no Ceará, há a doença chamada melioidose que também tem relação estreita com a quadra chuvosa. Conforme explica o médico, a patologia é causada por uma bactéria chamada "Burkholderia pseudomallei", encontrada em solo e água contaminados. "Os casos acontecem quando reservatórios naturais enchem e as pessoas vão tomar banho nesses locais contaminados pelas enxurradas. Falamos que esses reservatório são densamente colonizado pelas bactérias. E esta é uma doença peculiar do Ceará". O médico orienta que a população deve "evitar ao máximo entrar em contato com as águas e se precisarem fazer que procurem se higienizar após o contato".

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