quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Visão refeita

Tratamento do glaucoma ganha novo aliado com prótese minúscula que pode ser implantada no olho sem efeito colateral

Visão refeita
ESPERANÇA Alérgica ao colírio, Jeanete espera que a cirurgia reduza a pressão intraocular
Os pacientes brasileiros com glaucoma, considerada a principal causa de cegueira irreversível do mundo, acabam de ganhar mais uma opção no tratamento da doença: o implante de um microdispositivo dentro do olho, mais especificamente no canal de Schlemm, para estabilizar a pressão intraocular. A prótese funciona como um auxílio para o olho drenar o humor aquoso, um líquido transparente que tem como objetivo nutrir as estruturas internas do órgão. No caso das pessoas quem sofrem com glaucoma, essa drenagem não ocorre de maneira natural, o sistema entope, a pressão intraocular aumenta e com o tempo causa danos graves ao nervo óptico. Até então, os pacientes tinham três opções para o tratamento: colírios, que causam efeitos colaterais, cirurgias a laser, que não são de fácil acesso, ou a trabeculectomia, que, apesar de ter ótimo resultado, compromete a estrutura ocular.
Em compensação, o implante do microdispositivo, além de oferecer uma recuperação mais rápida, mantém a conjuntiva intacta para outros procedimentos. “É uma opção principalmente para pacientes com glaucoma primário de ângulo aberto (GPAA), de leve a moderado”, diz a oftalmologista Regina Cele. Embora possa ocorrer em crianças, o GPAA é a forma mais comum da doença e costuma se manifestar depois dos 40 anos. “O ideal é que seja feita junto com a cirurgia de catarata ou após, porque o resultado é melhor quando você tem a cirurgia combinada”. De acordo com a médica, é possível que o paciente receba mais de uma prótese. “Estudos americanos e europeus mostram que no implante da segunda prótese você tem uma redução bem significativa da pressão intraocular”, afirma.
Gabriel Reis
Sem colírio

A nova técnica é a esperança de Jeanete Dias Marques, 71 anos, que está de cirurgia marcada para os próximos dias. Há trinta anos a aposentada faz tratamento com colírios, mas sem sucesso. Além de ser alérgica ao medicamento e, por isso, sofrer com o olho vermelho e dores de cabeça diárias, a pressão do olho dela não diminuiu. “Estou bem esperançosa para a cirurgia, para não precisar mais usar o colírio”, diz ela. Em um estudo de caso realizado em 27 hospitais dos Estados Unidos, 73% dos pacientes que receberam a prótese puderam permanecer sem uso de medicação por pelo menos um ano, sendo que apenas 50% dos indivíduos que foram submetidos exclusivamente à cirurgia de glaucoma mantiveram-se sem o colírio, pelo mesmo período.
O dispositivo, já liberado pela Anvisa, só pode ser aplicado por cirurgiões que passaram por um treinamento, já que a técnica exige bastante precisão. O Istent é colocado por meio de um aparelho semelhante a uma caneta. O paciente é submetido a uma leva sedação e a anestesia tópica, sem o uso de agulha. A rápida recuperação exige no máximo uma semana de repouso. A cirurgia sai por cerca de R$ 6 mil.

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