Erradicada no Brasil desde 1990, a
doença pode voltar ao País devido à baixa cobertura vacinal. Há a ideia
de que ela não seja mais perigo. É um erro grave
Cilene Pereira
Depois
da febre amarela, a poliomielite, sem casos registrados no Brasil desde
1990 e erradicada das Américas quatro anos depois, pode voltar ao País.
Na semana passada, o Ministério da Saúde anunciou que 312 cidades, 44
em São Paulo, apresentaram alto risco para o surgimento de casos,
significando que ao menos 800 mil crianças estão sob ameaça de contrair o
vírus causador da doença. A polio pode apresentar sintomas que vão
desde febre, náuseas e vômito até paralisia, insuficiência respiratória e
levar à morte. Desastre para a saúde A Organização Mundial de Saúde recomenda que a cobetura vacinal
contra a polio seja superior a 95%. O panorama brasileiro está longe
disso. Em 2017, 22 estados não atingiram a cobertura mínima. Na Bahia,
15% dos municípios imunizaram menos da metade das crianças. “É uma
situação muito grave”, afirma Carla Domingues, coordenadora do Programa
de Imunizações do Ministério da Saúde. “Um estado com esses indicadores
tem toda a condição de voltar a registrar a transmissão da doença no
nosso País. Será um desastre para a saúde como um todo.” Por causa da
urgência, a campanha nacional de vacinação deve ter seu início
antecipado de setembro para agosto. Na semana passada, a Procuradoria
Federal dos Direitos do Cidadão solicitou ao Ministério da Saúde
informações sobre o problema. O órgão quer saber suas causas e as
providências que estão sendo tomadas.
Vários fatores explicam a situação. As vacinas estão disponíveis na
rede pública, mas questões como o horário de funcionamento dificultam a
ida das crianças aos postos. A maioria abre em horário comercial, quando
boa parte dos pais está no trabalho. Aliado a isso, cresce a ideia de
que a doença não é mais perigo. É um equívoco registrado entre a
população e profissionais de saúde. “Não podemos deixar que a situação
avance. Não se pode desvalorizar a prevenção”, afirma a médica Isabella
Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações. Na opinião
da especialista, é preciso rever o acesso aos postos e fazer com que a
população entenda que cada um tem sua responsabilidade. “É preciso ser
pró-ativo”, diz. O caso da polio evidencia um problema amplo que ocorre
no Brasil em relação à vacinação. O País apresenta baixa cobertura para
todas as vacinas infantis — em 2017, 26% dos 5.570 municípios não
atingiram a cobertura recomendada — e registra casos de sarampo (leia
quadro), doença que também estava sob controle. AÇÃO A médica Isabella alerta: não se pode descuidar da prevenção (Crédito:Fábio Motta)Sarampo de volta
Nos seis primeiros meses de 2018, o Brasil registrou 1.891 casos
suspeitos de sarampo, com 472 confirmações. Do total, sete casos foram
notificados no Rio Grande do Sul. O restante, no Amazonas e em Roraima. O
vírus chegou à região Norte com a chegada maciça de venezuelanos em
busca de oportunidades, fugindo da crise que devasta o país vizinho.
Porém, encontrou por aqui boas condições de disseminação, uma vez que a
cobertura vacinal também está abaixo do que o recomendado. Segundo o
Ministério da Saúde, a cobertura para a segunda dose do imunizante em
2017 foi de 71%. No ano anterior, foi de 79%.
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