terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Casos de viroses lotam emergências na Capital-Ce

Já debilitados, pacientes se amontoam em filas enquanto esperam atendimento para viroses e dengueSem conforto, sentando em uma dura cadeira, Caio Nascimento, 6, toma soro na veia no Hospital Distrital Gonzaga Mota de Messejana para aliviar o mal-estar. Com dores no corpo, vômitos e muita indisposição, o garoto apresenta o diagnóstico da maioria dos 500 pacientes que diariamente procuram o pronto-socorro. Conforme a diretoria, mais que dobrou a demanda neste último mês. Entretanto, a situação da lotação não é exclusiva dos hospitais públicos, os privados estão trabalhando acima da capacidade.Reclamando da demora no atendimento no Hospital da Unimed, a secretária, Luana Amorim, 29, esperou mais de quatro horas para ser recebida por um médico a fim de tentar estabilizar a febre, segundo ela, de 39 graus do filho de apenas dois anos. Ela critica a superficialidade da consulta e do diagnóstico, a dificuldade em realizar exames e a falta de estrutura médica. "É quando a gente fica doente que percebe, na pele, a precariedade dos serviços de saúde tanto nas emergências públicas quanto nas privadas", critica a secretária.Confirmando a saturação, o gerente de emergência do Hospital da Unimed, em Fortaleza, George Alberto Saboia, afirma que fica difícil manter um mesmo padrão de qualidade com os corredores lotados. "Aumentamos, de dezembro para cá, com as viroses e os casos de dengue, 25% no número de atendimentos. São mais de 850 por dia. Se antes um médico atendia quatro doentes em uma hora, hoje tem que cuidar de oito ou mais. Fica inviável", ressalta. A reportagem tentou entrar no hospital, mas foi autorizada.Fora o estresse da espera, há também os riscos de se ficar muito tempo em uma emergência médica tendo que se expor à diversas outras doenças, afirma o direto clínico do "Gonzaguinha" de Messejana. Para ele, o ideal é que as pessoas tentem repousar em casa quando o quadro da doença não apresentar complicações, como febre alta, vômitos e dores muito persistentes. "Ficar em uma emergência não é muito bom, às vezes o paciente pode ficar mais doente ainda. Há que se ter cautela na decisão de vir ao hospital. Muitas viroses podem ser tratadas com repouso apenas. Entretanto, crianças e idosos precisam de atenção redobrada", frisa o diretor Silvio Carlos.CuidadosTemerosa de ficar doente como o pai, internado no Hospital "Gonzaguinha" de Messejana, a recepcionista, Fabiana Sousa, 29, evita entrar em contato com os internados e não tocar nas paredes e portas do pronto-socorro. "Vou acabar ficando doente também. A emergência está lotada, todo mundo passando mal e reclamando do atendimento ruim", afirma.A recepcionista aponta também a demora para realização e recebimento de exames de sangue; já eram 16 horas e ela ainda estava no aguardo de um teste feito às 11 horas. No começo da tarde de ontem mais de 60 esperavam atendimento na recepção. "É só um médico para esse mundo de gente", criticava o vendedor Paulo Alberto, 23.Para o diretor administrativo do Hospital da Criança, no Montese, João Bosco Luna, o mais complicado de toda essa "onda" de viroses é a dificuldade em fazer a triagem dos casos mais graves e daqueles que podem ser dengue. Por dia, a entidade atende mais 120 crianças, sendo, segundo ele, mais de 80% com sintomas de virose."No meio de todos esses casos temos que investigar individualmente os que podem se complicar a fim de tratá-los com mais atenção. Temos tido muitos doentes com dengue aqui", ressalta o diretor afirmando que, neste mês, houve aumento de 100% nas consultas. Ontem, 28 estavam hospitalizados. Fortaleza conta com 449 casos confirmados de dengue.Reclamações Lotação e espera"Cheguei à emergência eram 12 horas, já são 17 horas e nada de eu ser atendida aqui no Gonzaguinha da Messejana."Francisca Célia Souza34 anos Doméstica"Estou com muita dor de cabeça e vômito. A gente pensa que vai morrer e nunca mais vai ficar bom. Virose é muito ruim."Rogério Fernandes19 anos Vendedor"O pior é ter que enfrentar uma longa espera só pro médico olhar para a tua cara, não fazer um exame e pronto, acabou."Paulo Victor da Silva23 anos Vendedor .CONSTATAÇÃO-Diagnóstico para apontar casos gravesEm meio à tantos casos de virose, o diagnóstico mais preciso se faz importante para apontar quando o caso é uma simples gripe ou a dor no corpo aponta para a dengue, afirma a pneumologista e presidente da Sociedade Cearense de Pneumologia, Filadélfia Passos. "Estamos vivendo uma epidemia em Fortaleza de viroses. Todos os hospitais estão lotados e muita gente debilitada. Nem tudo é virose, pode ser dengue, daí ter que se fazer hemograma", ressalta.Para ela, há dois tipos principais de viroses atingindo a população: uma que mostra o sintoma de "moleza", dor no corpo e coriza e outra mais agressiva que apresenta diarreia e vômito. Conforme a pneumologista, os médicos têm que usar do bom sendo no diagnóstico e no tratamento. "Às vezes o vômito pode ser uma infecção estomacal. Entretanto, nos casos mais comuns de virose, os doentes costuma ficar bons em até quatro dias, caso tomem as devidas recomendações e mantenham repouso completo", frisa.InseguraA consultora de telemarketing, Dayciane Lima, 18, levou o filho de apenas quatro anos para a emergência hospitalar independente do quadro ser ou não de dengue. Entretanto, ela ficou insegura do médico que atendeu o garoto não o encaminhado para realizar exames de sangue. "Pela grande lotação, as consultas são muito rápidas, os especialista dizem as mesmas coisas, passam o remédio e mandam a gente voltar para a casa. E se for dengue mesmo?", questiona consultora.No casos dos três hospitais - da Criança, Unimed e "Gonzaguinha" de Messejana - os diretores afirmam ter controle sobre os possíveis casos de dengue, fazendo monitoramento e comunicando os casos à Secretaria Municipal de Saúde. Uma portaria do Ministério da Saúde obriga a notificação de casos graves e morte em até 24 horas.Para a pneumologista Filadélfia Passos, falta, entretanto, mais rigor e comprometimento dos hospitais. "A superlotação não devia ser desculpa para a superficialidade do atendimento, mas acaba sendo. A carga de trabalho dos médicos tem sido muito grande. Só eu atendi 40 pacientes em um dia", frisa.No caso da virose gástrica - mais comum no último mês - os principais sintomas são: vômito, diarreia (fezes líquidas com cheiro forte), febre, dores abdominais e dores de cabeça. Esses podem passar em até cinco dias.O tratamento é sintomático, ou seja, o médico prescreve medicamentos para amenizar os sintomas - antitérmicos, antieméticos (náuseas e vômitos) e reconstituidores da flora intestinal. É importante ainda o uso de soro para evitar desidratação. Para a prevenção, se faz necessário lavar as mãos, principalmente, após utilizar o banheiro e antes de se alimentar.

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