terça-feira, 5 de abril de 2011

Chikv, a nova Ameaça

Os brasileiros têm agora um novo motivo para combater o Aedes aegypti. Descobriu-se que o mosquito é o tramissor de mais um vírus, além do da dengue: o Chikungunya – que, no dialeto lo­­cal africano, onde a doença foi descrita, significa andar curvado, de­­vido às dores articulares ocasionadas. O alerta é feito pelo infectologista Stefan Cunha Ujvari, especialista do Hospital Oswaldo Cruz de São Paulo, no livro Pandemia – A humanidade em risco, que está sendo lançado no país. Segundo Stefan – que também é autor de A história da humanidade contada pelo vírus –, o Brasil apresenta todas as condições para uma pandemia por Chikungunya, vírus que também é transmitido pelo Aedes aegypti. A taxa de mortalidade da doença é menor, se comparada com a dengue, mas as dores são debilitantes e o risco de contaminação é alto – em Lamu, cidade litorânea do Quênia, o chikv, como ficou conhecido, contaminou 75% da população. O infectologista Stefan Ujvari falou à Gazeta do Povo sobre o risco de uma nova pandemia no país. Nos dois últimos anos, o número de casos de dengue cresceu de forma acentuada no país. É uma questão de sazonalidade da doença (ocasionada por questões climáticas favoráveis à reprodução do Aedes) ou estamos falhando na prevenção? É o preço que pagamos pela acentuada urbanização secundária à elevação populacional do planeta. A urbanização, associada ao lixo industrial que coleta água de chuva, favorece a proliferação do Aedes. Aliado a isso, temos os períodos chuvosos, que também auxiliam na reprodução do mosquito. Não é porque falhamos, mas as campanhas de esclarecimento devem permanecer acentuadas. Em Pandemias: a humanidade em risco, o senhor fala de um vírus, também transmitido pelo Aedes aegypti, que pode causar uma pandemia no país. Que vírus é esse e qual pode ser a proporção do problema se ele realmente chegar ao país? É o vírus Chikungunya, que, desde 2004, está se alastrando pelos países banhados pelo Oceano Índico. É transmitido pelo Aedes, e viajantes podem se infectar e retornar ao Brasil. Se tivermos adoecidos no nosso território, eles podem ser picados pelo nosso Aedes e transferir o vírus para nossos mosquitos que, por sua vez, o levarão a outras pessoas, nascendo assim uma nova epidemia. Isso ocorreu em uma cidade pequena ao nordeste da Itália, onde um turista indiano, em viagem, foi picado pelos mosquitos da localidade e iniciou-se uma epidemia pelo Chikungunya. Seus sintomas são parecidos aos da dengue, po­­rém, não causam mortalidade semelhante, mas um quadro de dor nas juntas extremamente importante, que impossibilita as tarefas diárias do paciente por dias. Quais são as reais chances de o Brasil enfrentar uma pandemia por Chikungunya? No ano passado foram três pacientes diagnosticados com a doença que se infectaram em viagens à Índia e à Indonésia. Não conseguimos quantificar o risco, mas ele existe. Essa é a maior ameaça epidemiológica para o país, ou há outras que o senhor considera mais perigosas? Sim, é uma das maiores ameaças. A outra decorre do vírus do Nilo Ocidental que chegou aos EUA, em 1999, que está presente em aves. Esses animais transferem o vírus ao mosquito Culex, que, por sua vez, o transferem pela picada a novas aves. Caso o homem seja picado pelo mosquito, pode adoecer. O problema é que as aves migratórias estão levando o vírus para o Sul do continente. Em 2002, já estava nas ilhas do Caribe e América Central. E, em 2005, chegou à Colômbia e à Venezuela. Há quatro anos foram descritos casos de aves e cavalos acometidos na Argentina. A evolução de algumas doenças, como a tuberculose e a aids, que se tornam resistentes aos medicamentos em uso, estão entre os maiores riscos à humanidade? A tuberculose sim. Países do Leste Europeu, Ásia e África descrevem números alarmantes de casos com tuberculose resistente aos medicamentos convencionais, o que necessita de drogas mais tóxicas para o tratamento e por tempo muito mais prolongado. O problema mais sério está em formas de tuberculose descritas, primeiramente na África do Sul e que são resistentes a quase todos os medicamentos disponíveis. Pouco tem se falado ultimamente da gripe suína, mas ela ainda é um mal que pode trazer muitos incômodos? Ela não, mas inúmeros outros tipos de influenza que podem surgir a qualquer momento. Isso porque domesticamos um número exagerado de porcos em contato com aves e aglomerados humanos pelo planeta. Isso torna possível vírus de espécies diferentes invadirem, ao mesmo tempo, os porcos e, por combinação do material genético, formar um vírus novo. O exemplo da gripe suína poderá se repetir, principalmente com o crescimento exponencial das criações de porcos e aves. Em seus livros, o senhor costuma privilegiar o relato histórico sobre as doenças. Qual é a importância de conhecer a história das infecções para poder controlá-las? Muitas vezes aprendemos com o passado. Por exemplo, o pânico da gripe suína foi semelhante ao da gripe espanhola. Por isso, poderíamos esperar tal comportamento humano. Por exemplo, em 1918 relatavam que o governo estaria omitindo o número real dos casos, que havia cidades com enterros em valas coletivas, esgotavam medicamentos nas farmácias. A história da suína foi parecida e o governo até retirou o medicamento antiviral das farmácias para que não esgotasse nas mãos de quem não tomaria.

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