quarta-feira, 13 de abril de 2011

Sou sua bolsa, não seu armário

O grande poeta Carlos Drummond de Andrade já mostrou em uma crônica, ainda em 1962, que a mulher carrega mesmo muita coisa na bolsa. Na história, o pertence esquecido em um banco de coletivo tinha de tudo: de lápis para cílios e escovinha até atadura adesiva e flanela para óculos. Da mulher dos anos 60 para a geração do século 21, a situação piora. Elas aderiram às bolsas tamanho GG para poder carregar tudo o que precisam ou que acreditam ser necessário. O resultado é que essa escolha pode gerar uma série de problemas para o corpo.
Especialistas apontam que o modelo que costuma ser o predileto de grande parte delas, as bolsas de uma alça para serem colocadas em um dos ombros, são as que causam mais danos à coluna e às articulações. Carregar a bolsa de um lado altera a simetria do corpo, gerando dores musculares no pescoço, nos ombros e no antebraço. “Aumenta ainda o risco de problemas posturais, nas articulações e principalmente na coluna”, explica a fisioterapeuta e coordenadora do curso de Ortopedia e Osteopatia da Faculdade Inspirar Luciana Lopes Costa.

E nem os membros inferiores ficam livres dos problemas. “São frequentes as queixas de dores no quadril e no joelho, já que as bolsas usadas de maneira incorreta provocam um desequilíbrio do peso gravitacional e o organismo tende a compensar esse problema afetando várias articulações”, afirma o médico ortopedista Márcio Kume, do Hospital Santa Cruz. Em alguns casos, as dores são tão fortes que exigem tratamento com medicamentos e fisioterapia.

Limpeza

Será que é preciso carregar tanta coisa assim? A recomendação dos especialistas, para evitar problemas, é fazer uma faxina na bolsa de vez em quando. “Pense bem o que você pode deixar em casa porque quanto menos objetos, melhor”, orienta Luciana. Se precisar carregar laptop, livros e agendas, o ideal é não distribuir em várias bolsas ou pastas, porque, no geral, você vai continuar carregando um peso excessivo. “Para isso, prefira uma mala de viagem, daquelas com rodinhas”, diz.

Para evitar dores desnecessárias, o ortopedista Kume sugere investir em bolsas que deixem os dois lados do corpo em equilíbrio. “O ideal é usar uma mochila pequena, já que ela divide o peso dos objetos entre os dois ombros, diminuindo o desgaste do corpo.”
Como o modelo mochila não faz muito a cabeça das mulheres, principalmente na hora de sair à noite, o médico ortopedista recomenda optar pelas bolsas com alças transversais, indicadas porque distribuem o peso entre o ombro direito e o lado esquerdo do quadril ou vice-versa. “Mochilas e bolsas transversais devem sempre ser usadas na altura do quadril. Acima ou abaixo disso, o efeito é danoso e pode gerar as temidas dores nas articulações”, explica Luciana.

Para quem não abre mão do modelo tradicional (a de um ombro só), ou mesmo para quem usa bolsas transversais, a dica é sempre revezar o uso entre os dois ombros a cada meia hora.

Já mãos e antebraços devem ficar sempre livres, porque as alças nessas regiões podem machucar o cotovelo e atrapalhar a circulação sanguínea na região. Além disso, com as mãos livres o equilíbrio é maior e, no caso de uma queda, facilitam a reação da pessoa.

Dores nos ombros nunca mais
“Você vai viajar para onde?” Segundo a fisioterapeuta Francine De Toni, esta é a pergunta que mais escuta quando está indo ou voltando do trabalho. O motivo é simples: há seis meses, ela cansou de sentir dores nos ombros e decidiu investir em uma mala de viagem com rodinhas para carregar objetos até seu consultório. “Todos os dias preciso levar notebook, máquina fotográfica e, eventualmente, alguns livros. Antes distribuía as coisas entre a bolsa e uma pasta e sentia muito desconforto. Agora, nem lembro que estou carregando todos esses objetos”, diz. E o hábito está conquistando adeptas. “Acho até que estou lançando moda”, conta, aos risos.

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