domingo, 5 de junho de 2011

Surto de bactéria coloca hospitais alemães além do limite

Os hospitais da Alemanha estão tendo dificuldades para lidar com o enorme fluxo de vítimas da bactéria E.coli, disse o ministro da saúde, Daniel Bahr, no domingo, enquanto os cientistas continuam intrigados com a bactéria mortal que já matou 19 pessoas e infectou 1.700 em toda a Europa.

Os hospitais de Hamburgo, epicentro do surto que começou há três semanas, têm dispensado pacientes com doenças menos graves para poder atender às pessoas atingidas por uma cepa rara e extremamente tóxica da bactéria Escherichia coli (E. coli).

"Estamos enfrentando uma situação tensa em relação aos cuidados com os pacientes", disse Bahr ao jornal "Bild am Sonntag", no domingo. Ele acrescentou que hospitais fora de Hamburgo podem ser utilizados para compensar a "falta de leitos" na segunda maior cidade da Alemanha.

Um porta-voz do hospital Regio Clinics, o maior hospital particular do Estado de Schleswig-Holstein, que fica perto de Hamburgo, disse que a crise estava usando os recursos até o limite.

Ele disse ainda que "cirurgias para doenças não fatais estão sendo remarcadas. No entanto, parece que a situação está melhorando, já que agora temos apenas 60 pacientes que precisam ficar isolados, comparados com os 109 na sexta-feira."

GRUPOS

O Hospital Universitário de Hamburg-Eppendorf (UKE), que a Folha visitou anteontem (3), centraliza o atendimento aos casos mais graves da região.

É uma situação que nunca confrontamos no passado", conta Jörg Debatin, diretor do UKE.
"É muito difícil fazer qualquer tipo de previsão quanto à epidemiologia. No fim de semana passado, vimos uma diminuição de infectados, só para sermos surpreendidos com um novo pico há alguns dias", afirma.

De acordo com Carolina Vila-Nova, enviada especial da Folha a Hamburgo, o hospital passou a dividir os pacientes em grupos, segundo a gravidade do quadro clínico. Dos cerca de 700 casos confirmados, o UKE acompanha entre 200 e 250.

O caso mais preocupante é o de 105 pessoas que desenvolveram a chamada síndrome hemolítico-urêmica, ou HUS, apresentando danos renais e neurológicos severos (como falência dos rins e ataques epilépticos) considerados irreversíveis.

Um terço está em unidades de tratamento intensivo e total isolamento. Respiram com a ajuda de aparelhos ou estão em coma. Um segundo grupo, com diarreia sanguínea e outras complicações, tem condições de internamento tradicionais, com diálises e transfusões.

Um terceiro grupo está em casa e tem a evolução da doença monitorada diariamente. O monitoramento é essencial: Hamburgo teve o caso trágico do paciente liberado por uma clínica e que morreu dias depois, em casa.

BIOGÁS

Em busca da origem do surto, cientistas estão seguindo uma série de teorias sobre onde a cepa da bactéria E.coli pode ter surgido.

Especialistas disseram ao jornal "Welt am Sonntag" que ela pode ter se espalhado a partir de uma unidade de biogás. Durante o processo de fermentação de biogás, frequentemente novas bactérias se desenvolvem.

"Elas se cruzam e se fundem", disse Bern Schottdorf. "Até agora não foi pesquisado o que acontece depois disso."

RESTAURANTE

O proprietário de um restaurante alemão cuja comida pode ter sido contaminada pela bactéria disse neste sábado que ficou devastado ao saber que muitos de seus clientes foram infectados.

Registrado na Europa, o surto da bactéria E. coli já causou 19 mortes até o momento.

"Foi como um golpe na cabeça quando eu ouvi a notícia", disse Joachim Berger em entrevista na cozinha de seu restaurante, em Lüebeck, a 60 quilômetros da cidade de Hamburgo, epicentro da doença.

"Nós fizemos todos daqui fazerem exames e tudo foi desinfetado. Eu mesmo paguei pelos exames, porque segurança é importante para os nossos clientes e funcionários", disse.

O jornal "Lübecker Nachrichten" noticiou que cientistas haviam identificado o restaurante local como um possível foco, de onde a bactéria foi transmitida após a morte de uma pessoa e o adoecimento de 17, incluindo um grupo de fiscais tributários alemães, turistas dinamarqueses e uma criança do sul da Alemanha.

"O restaurante não tem culpa nenhuma, mas é possível que a cadeia de fornecedores possa ajudar a determinar como o germe patogênico entrou em circulação", declarou o microbiólogo Werner Solbach, da Clínica Universitária de Lübeck, ao jornal.

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