quinta-feira, 7 de junho de 2012

OMS alerta para casos de gonorreia resistente

Sete países já relataram casos da doença em que o antibiótico cefalosporina, última opção de tratamento, não foi eficaz

Bactéria 'Neisseria gonorreae': Austrália, França, Japão, Noruega, Suécia e Grã-Bretanha registraram casos de resistência ao antibiótico cefalosporina, última opção de tratamento disponível Bactéria 'Neisseria gonorreae': Austrália, França, Japão, Noruega, Suécia e Grã-Bretanha registraram casos de resistência ao antibiótico cefalosporina, última opção de tratamento disponível (Thinkstock)
Milhares de pacientes com gonorreia podem ficar sem opções de tratamento. De acordo com um alerta publicado nesta quarta-feira pela Organização Mundial de Saúde (OMS), sete países já relataram casos de resistência ao antibiótico cefalosporina – a última opção de terapia disponível hoje. Estima-se que anualmente 106 milhões de pessoas se infectem com gonorreia, uma doença transmitida sexualmente.

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GONORREIA
Doença sexualmente transmissível causada pela bactéria Neisseria gonorreae, organismo que infecta o revestimento mucoso da uretra, do colo uterino, do reto e da garganta ou da membrana ocular. Ela pode causar infertilidade tanto no homem como na mulher, aumentar o risco de infecção pelo HIV, aborto espontâneo. Casos de infecção severa no olho ocorrem de 30% a 50% dos recém-nascidos de mulheres com gonorreia não tratada, problema que pode levar à cegueira. O tratamento é feito com o uso de antibióticos.
Até o momento, os países que registraram os casos de resistência são Austrália, França, Japão, Noruega, Suécia e Grã-Bretanha. "A gonorreia está se tornando um grave desafio de saúde pública, devido à alta incidência de infecções e redução nas opções de tratamento", diz Manjula Lusti-Narasimhan, do Departamento de Saúde Reprodutiva e Pesquisa da OMS. "Os dados disponíveis mostram apenas a ponta do iceberg. Sem um monitoramento adequado, não saberemos a extensão da resistência da gonorreia. Sem pesquisa de novos agentes antibacterianos, pode não haver tratamento eficaz em um curto prazo."
Medicação – Entre as novas orientações publicadas nesta quarta-feira pela OMS está a necessidade de um monitoramento mais apurado de quais antibióticos são usados no tratamento da doença. O órgão pede ainda que sejam realizadas mais pesquisas sobre possíveis tratamentos alternativos para infecções pela bactéria gonococo – causadora da gonorreia.
"Estamos muito preocupados com relatos recentes de falha no tratamento com a última opção disponível, a classe de antibióticos cefalosporina. Isso porque não existe nenhuma outra nova terapia em desenvolvimento", diz Lusti-Narasimhan. "Se as infecções por gonococo se tornarem não tratáveis, as implicações para a saúde serão significativas."

O especialista responde

David Uip
Infectologista e diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas

"O alerta da OMS é preocupante. No Brasil não existe o hábito de se fazer rotineiramente a cultura, pesquisa direta e o antibiograma em casos de gonorreia. Assim, o paciente é medicado apenas com o diagnóstico clínico, o que nos impede de saber qual o tipo de antibiótico que, de fato, vai ser sensível ou eficaz em cada caso. Acredito que, a partir de agora, isso venha a se tornar algo obrigatório, para que se faça um rastreamento mais condizente desses casos de resistência. É importante lembrar ainda que no Brasil os casos de gonorreia e outras DSTs vêm aumentando a cada ano."

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