Estudos recentes revelam que o ganho de peso está também relacionado a um desequilíbrio entre os micróbios que habitam nossos intestinos, como mostra reportagem de VEJA desta semana
Adriana Dias Lopes

(Istockphoto/RF)
A relação entre bactérias e obesidade começou a ser estudada em meados dos anos 2000, quando o microbiologista Fredrik Bäckhed, da Universidade Washington, em Saint Louis, observou que camundongos criados em ambientes estéreis, ou seja, com pouco contato com bactérias, tendiam a ser mais magros em relação às cobaias que se expunham aos microrganismos. Bäckhed fez então um transplante da flora intestinal entre os animais. Por meio de cápsulas, os ratos magros receberam as bactérias presentes nos intestinos dos ratos gordos, e vice-versa. O resultado foi surpreendente: os magros ganharam peso e os gordos emagreceram. No início do ano, um estudo da Universidade Yale, nos Estados Unidos, ajudou a detalhar quais micróbios estão associados à obesidade. A flora intestinal é composta de 100 trilhões de bactérias, divididas em duas principais classes: firmicutes e bacteroidetes. As primeiras são mais resistentes à ação do sistema imunológico. As segundas, além de mais vulneráveis, estimulam as células de defesa a produzir substâncias anti-inflamatórias. Um organismo saudável contém os dois tipos em quantidades semelhantes. Por meio de biópsias intestinais feitas nas cobaias de laboratório, os pesquisadores de Yale mostraram que os ratos obesos apresentam uma quantidade maior de bactérias da família das firmicutes.
O mais recente Congresso Europeu de Diabetes, realizado há um mês em Berlim, na Alemanha, trouxe ainda mais novidades. Pesquisadores do Centro Médico Acadêmico de Amsterdã, na Holanda, um dos principais centros de referência nos estudos sobre microbiologia, apresentaram os resultados de estudos sobre o assunto conduzidos em seres humanos. Nove homens com excesso de peso, portadores de diabetes tipo 2 e com a flora intestinal desregulada, receberam bactérias de nove homens magros e com os intestinos em equilíbrio. Outros nove voluntários, também acima do peso, serviram de grupo de controle. Depois de seis semanas, os voluntários do primeiro grupo perderam cerca de 4 quilos, mantendo os hábitos de vida inalterados. Os outros não sofreram mudanças. Os organismos que emagreceram também melhoraram a sensibilidade à insulina, o hormônio responsável por transportar glicose às células. Não houve mais intervenções. Um ano depois, porém, os homens que emagreceram retomaram o peso inicial. “Os resultados sugerem que o tratamento com bactérias deverá ser contínuo”, diz o endocrinologista Eliaschewitz.

Pioneirismo - Bäckhed: testes em ratos


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