sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Os outros danos da hipertensão

Pesquisa revela que mesmo pressões limítrofes, logo acima de 120 por 80 milímetros de mércurio, podem afetar a chamada “substância branca” do cérebro
Mariana Scoz
Além do acidente vascular cerebral (AVC), o aumento da hipertensão arterial pode causar outros danos ao cérebro. Estudos recentes mostram que o efeito pode ser ainda mais silencioso e mostrar sinais em longo prazo. Uma pesquisa da Universidade da Califórnia, publicada na revista Lancet Neurology, descobriu que mesmo pressões limítrofes, logo acima de 120 por 80 milímetros de mércurio (mmHG), afetam a chamada “substância branca” do cérebro e causam demência vascular.
A neurologista e professora da Universidade Federal do Paraná Viviane Flumignan Zétola explica que os médicos passaram a prestar atenção nessa porção desconhecida do cérebro somente com o avanço da tecnologia. “A ressonância magnética começou a detectar lesões na substância branca em pacientes que não tinham os fatores de risco clássicos, mas apresentavam uma limitação cognitiva”, diz.
A hipertensão é um dos fatores ligados a esses danos cerebrais, que não são exclusividade de idosos. “Por exemplo, pacientes com enxaqueca também podem apresentar lesões na chamada ‘white matter’, mas não se sabe se isso é um sinal ou uma consequência desta condição, o que ainda desafia os neurologistas”, explica.
Estreitamento
Por muito tempo, as pessoas acreditavam que uma pressão de até 140 por 90 mmHg era considerada normal, mas novas pesquisas revelam que esses valores já são preocupantes. O cardiologista da Unidade de Hipertensão do Instituto do Coração da Universidade de São Paulo (USP) Dante Giorgi afirma que a cada 20 mmHg além de 115 na pressão máxima dobra o risco da pessoa ter um enfarte ou derrame. “Entre 112 e 135, a frequência ainda é baixa, mas, a partir de 140 por 90, já é recomendado o tratamento”, diz.
As principais doenças estão relacionadas ao estreitamento dos vasos. O rim, por ser muito vascularizado, sofre diversas consequências. “As alterações da função renal também são reflexos, podendo levar à insuficiência renal no decorrer dos anos, mas sempre de forma silenciosa”, diz o cardiologista do Hospital Costantini Everton Dombeck.
A visão também é afetada, explica o nefrologista e professor da UFPR Rogério Andrade Mulinari. “As artérias do fundo do olho são bastante similares às do cérebro e coração. Além disso, podem ocorrer alterações vasculares nos membros inferiores”, afirma. Os médicos concordam que é necessário aferir a pressão com certa frequência, variando de três meses a um ano, dependendo dos fatores de risco. Segundo os especialistas, uma boa atitude é adquirir aparelhos de medição eletrônicos, desde que eles tenham selos de aprovação de órgãos responsáveis.

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