Prefeitos de Canindé, Barbalha e Cascavel estariam planejando trocar médicos já contratados
Um
novo episódio em torno do Programa Mais Médicos, do governo federal.
Após denúncias de que profissionais já contratados estariam sendo
demitidos para substituição por estrangeiros, entidades médicas do Ceará
se manifestaram, ontem, repudiando a suposta ação e exigindo
investigação. O presidente do Conselho Regional de Medicina do Ceará
(Cremece), Ivan Moura Fé, informou que a entidade formalizará a denúncia
à Promotoria de Defesa da Saúde Pública, do Ministério Público do Ceará
(MP-CE). O Sindicato dos Médicos do Ceará (Simec) avisou que se manterá
alerta aos fatos.
Em
Fortaleza, 96 médicos participam de treinamento na Escola de Saúde
Pública do Ceará (ESP-CE). Destes, 79 são cubanos Foto: Kiko Silva
Esse
caso rodou o País, ontem, após reportagem na Folha de São Paulo. A
matéria mostrava indícios de que prefeitos dos municípios cearenses de
Canindé, Barbalha e Cascavel estariam planejando trocar os médicos já
contratados (e em diversas cidades do Norte e Nordeste) por
profissionais do Mais Médicos. O objetivo era, segundo a reportagem,
garantir um maior corte dos gastos. Na matéria, supostos médicos
aparecem como vítimas e até uma gestora pública reforça a ameaça:
"entram cubanos, saem os daqui".
Na denúncia, uma profissional
baiana afirma: "disseram que eu tinha que dar lugar a um cubano", diz a
suposta médica demitida. Nas redes sociais, internautas desmentem esse
fato, afirmam que a tal doutora teria quatro empregos e foi destituída
por descumprimento de carga horária, e não por perseguição política e
presença externa.
Muito foram os internautas que, nas redes
sociais, também demonstraram apoio aos médicos estrangeiros,
questionamentos a veracidade dessas denúncias de substituições. "Isso
seria mais uma tentativa de golpe contra o Mais Médicos do que uma
verdade", avalia uma militante social.
Investigação
Sobre
essas questões, o Ministério da Saúde enviou nota alertando os
gestores: municípios que se inscreveram no Mais Médicos são proibidos de
demitir profissionais já contratados para substituí-los por
participantes do programa do governo federal.
"Municípios que
descumprirem a regra serão excluídos do programa, com remanejamento dos
médicos participantes para outras cidades, e serão submetidos a
auditoria do Ministério da Saúde", esclarece a nota. "Por enquanto, são
só denúncias, mas não podemos deixar de considera-las", afirma Moura Fé.
"Apesar
de não termos confirmações ainda, vamos encaminhar esses informes para
que a Comissão de Fiscalização e o Ministério Público possam investigar.
Mas, de antemão reafirmo que essas demissões são abusivas, ilegais",
aponta o presidente do Conselho. Ele indaga os objetivos do programa: "o
que foi anunciado é que a medida iria trazer mais médicos, e não
substituir uns por outros", diz.
O Estado do Ceará conta, segundo
dados de 2011 do Ministério da Saúde, com mais de 9.227 profissionais
médicos (uma proporção de 1,5 por cada mil habitantes). Para a região,
está prevista, na ação federal, 116 deles.
Para Wilames Freire
Bezerra, presidente do Conselho Nacional das Secretarias Municipais de
Saúde (Conasems) do Ceará, o fato é lamentável, gera desconfianças e
temor. "Apesar de não concordar com essas supostas demissões, não quero
acreditar que isso esteja acontecendo. Acho que os gestores não vão
fazer uma irregularidade dessas logo em um momento em que todos os
holofotes estão em cima do Mais Médicos. Torço para que as denúncias de
substituições não se confirmem e novos fatos não apareçam", relata.
Ele
conta ainda que os 116 profissionais previstos pela ação não dão conta
da carência de profissionais, principalmente no Programa Saúde da
Família (PSF). Segundo Freire, há uma demanda hoje de mais de mil
profissionais, grande escassez.
Intrigado com o fato, o
presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará (Simec), José Maria Melo,
sai na defesa da categoria, repudia as supostas demissões.
"Tenho
recebido ligações constantes de médicos temendo pelos empregos. Espero
que essas demissões não se concretizem, sejam só boatos. Estamos
alertas, vigilantes", diz. Em recente polêmica sobre as vaias aos
cubanos, se explicou através de nota no jornal: "a palavra escravo não
deveria ter sido utilizada, a intenção era denunciar má condições de
trabalho. Todos os médicos são bem-vindos".
Prefeituras negam as acusações de destituições
O
prefeito de Barbalha, José Leite, negou que estejam havendo demissões
de profissionais por conta da adesão ao Mais Médicos. Segundo ele, estão
sendo contratados mais profissionais por conta de uma ação movida por
concursados, que estava sub judice desde 2006. A gestão estaria
contratando 15 médicos, 15 dentistas e 15 enfermeiros. Até o momento,
foram contratados apenas cinco médicos.
Para o Município, serão
destinados dois profissionais do Mais Médicos, que irão atender duas
áreas do Programa de Saúde da Família (PSF) que estavam descobertas, em
Macaúba e Lagoa. Ao todo são 22 médicos que atuam no PSF, 12 pelo
Programa de Melhoria da Qualidade da Atenção Básica, cinco concursados e
cinco contratados.
Cascavel
Já em
Cascavel, o procurador do município, Josinês Freitas, afirmou, em nota,
que a informação divulgada sobre a possível demissão de médicos é
"absolutamente leviana e jamais partiu oficialmente deste Órgão Público.
O local hoje possui 19 equipes de PSF ativas, estando apenas duas
equipes com carência de médicos. Com a vinda dos sete profissionais do
Programa Mais Médico, o Município pretende criar mais cinco equipes". A
reportagem tentou sucessivos contatos com Prefeitura de Canindé, mas não
obteve retorno até o fechamento dessa edição.
IVNA GIRÃO/ELIZÂNGELA SANTOSREPÓRTERES
sábado, 31 de agosto de 2013
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