sábado, 31 de agosto de 2013

CRM denunciará suposta demissão de médicos no CE

Prefeitos de Canindé, Barbalha e Cascavel estariam planejando trocar médicos já contratados
Um novo episódio em torno do Programa Mais Médicos, do governo federal. Após denúncias de que profissionais já contratados estariam sendo demitidos para substituição por estrangeiros, entidades médicas do Ceará se manifestaram, ontem, repudiando a suposta ação e exigindo investigação. O presidente do Conselho Regional de Medicina do Ceará (Cremece), Ivan Moura Fé, informou que a entidade formalizará a denúncia à Promotoria de Defesa da Saúde Pública, do Ministério Público do Ceará (MP-CE). O Sindicato dos Médicos do Ceará (Simec) avisou que se manterá alerta aos fatos.

Em Fortaleza, 96 médicos participam de treinamento na Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE). Destes, 79 são cubanos Foto: Kiko Silva
Esse caso rodou o País, ontem, após reportagem na Folha de São Paulo. A matéria mostrava indícios de que prefeitos dos municípios cearenses de Canindé, Barbalha e Cascavel estariam planejando trocar os médicos já contratados (e em diversas cidades do Norte e Nordeste) por profissionais do Mais Médicos. O objetivo era, segundo a reportagem, garantir um maior corte dos gastos. Na matéria, supostos médicos aparecem como vítimas e até uma gestora pública reforça a ameaça: "entram cubanos, saem os daqui".

Na denúncia, uma profissional baiana afirma: "disseram que eu tinha que dar lugar a um cubano", diz a suposta médica demitida. Nas redes sociais, internautas desmentem esse fato, afirmam que a tal doutora teria quatro empregos e foi destituída por descumprimento de carga horária, e não por perseguição política e presença externa.

Muito foram os internautas que, nas redes sociais, também demonstraram apoio aos médicos estrangeiros, questionamentos a veracidade dessas denúncias de substituições. "Isso seria mais uma tentativa de golpe contra o Mais Médicos do que uma verdade", avalia uma militante social.

Investigação

Sobre essas questões, o Ministério da Saúde enviou nota alertando os gestores: municípios que se inscreveram no Mais Médicos são proibidos de demitir profissionais já contratados para substituí-los por participantes do programa do governo federal.

"Municípios que descumprirem a regra serão excluídos do programa, com remanejamento dos médicos participantes para outras cidades, e serão submetidos a auditoria do Ministério da Saúde", esclarece a nota. "Por enquanto, são só denúncias, mas não podemos deixar de considera-las", afirma Moura Fé.

"Apesar de não termos confirmações ainda, vamos encaminhar esses informes para que a Comissão de Fiscalização e o Ministério Público possam investigar. Mas, de antemão reafirmo que essas demissões são abusivas, ilegais", aponta o presidente do Conselho. Ele indaga os objetivos do programa: "o que foi anunciado é que a medida iria trazer mais médicos, e não substituir uns por outros", diz.

O Estado do Ceará conta, segundo dados de 2011 do Ministério da Saúde, com mais de 9.227 profissionais médicos (uma proporção de 1,5 por cada mil habitantes). Para a região, está prevista, na ação federal, 116 deles.

Para Wilames Freire Bezerra, presidente do Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) do Ceará, o fato é lamentável, gera desconfianças e temor. "Apesar de não concordar com essas supostas demissões, não quero acreditar que isso esteja acontecendo. Acho que os gestores não vão fazer uma irregularidade dessas logo em um momento em que todos os holofotes estão em cima do Mais Médicos. Torço para que as denúncias de substituições não se confirmem e novos fatos não apareçam", relata.

Ele conta ainda que os 116 profissionais previstos pela ação não dão conta da carência de profissionais, principalmente no Programa Saúde da Família (PSF). Segundo Freire, há uma demanda hoje de mais de mil profissionais, grande escassez.

Intrigado com o fato, o presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará (Simec), José Maria Melo, sai na defesa da categoria, repudia as supostas demissões.

"Tenho recebido ligações constantes de médicos temendo pelos empregos. Espero que essas demissões não se concretizem, sejam só boatos. Estamos alertas, vigilantes", diz. Em recente polêmica sobre as vaias aos cubanos, se explicou através de nota no jornal: "a palavra escravo não deveria ter sido utilizada, a intenção era denunciar má condições de trabalho. Todos os médicos são bem-vindos".

Prefeituras negam as acusações de destituições
O prefeito de Barbalha, José Leite, negou que estejam havendo demissões de profissionais por conta da adesão ao Mais Médicos. Segundo ele, estão sendo contratados mais profissionais por conta de uma ação movida por concursados, que estava sub judice desde 2006. A gestão estaria contratando 15 médicos, 15 dentistas e 15 enfermeiros. Até o momento, foram contratados apenas cinco médicos.

Para o Município, serão destinados dois profissionais do Mais Médicos, que irão atender duas áreas do Programa de Saúde da Família (PSF) que estavam descobertas, em Macaúba e Lagoa. Ao todo são 22 médicos que atuam no PSF, 12 pelo Programa de Melhoria da Qualidade da Atenção Básica, cinco concursados e cinco contratados.

Cascavel
Já em Cascavel, o procurador do município, Josinês Freitas, afirmou, em nota, que a informação divulgada sobre a possível demissão de médicos é "absolutamente leviana e jamais partiu oficialmente deste Órgão Público. O local hoje possui 19 equipes de PSF ativas, estando apenas duas equipes com carência de médicos. Com a vinda dos sete profissionais do Programa Mais Médico, o Município pretende criar mais cinco equipes". A reportagem tentou sucessivos contatos com Prefeitura de Canindé, mas não obteve retorno até o fechamento dessa edição.

IVNA GIRÃO/ELIZÂNGELA SANTOSREPÓRTERES

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Cientistas criam primeira interface para conectar cérebros humanos

Pesquisadores conseguiram estabelecer, pela primeira vez, uma interface cérebro-cérebro entre dois homens. Eles foram capazes de captar a atividade cerebral de um voluntário, transmitir o sinal via internet e usá-lo para controlar os movimentos da mão de outro homem

Universidade de Washinton
Um cientista da Universidade de Washington conseguiu transmitir seus sinais cerebrais pela internet até o outro lado do campus. Ali, o sinal fez com que outro pesquisador movesse sua mão (Universidade de Washington)
Pesquisadores da Universidade de Washington realizaram o que afirmam ser a primeira interface cérebro–cérebro entre dois seres humanos. Eles foram capazes de captar a atividade cerebral de um voluntário, transmitir o sinal via internet e usá-lo para controlar os movimentos da mão de outro homem. "A internet sempre foi uma maneira de conectar computadores e, agora, poderá ser uma maneira de conectar cérebros", afirma Andrea Stocco, professor de psicologia da Universidade de Washington, que teve sua mão controlada durante o experimento.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Direct Brain-to-Brain Communication in Humans: A Pilot Study

Quem fez: Rajesh Rao, Andrea Stocco, entre outros

Instituição: Universidade de Washington, EUA

Dados de amostragem: Dois voluntários humanos. Um deles teve a atividade elétrica de seu cérebro registrada por um aparelho de eletroencefalograma. O outro tinha um aparelho de estimulação magnética transcraniana em sua cabeça, capaz de estimular o seu cérebro e induzir movimentos.

Resultado: Por meio de uma conexão de internet, os sinais cerebrais captados no primeiro voluntário induziram movimentos na mão do segundo.
As interfaces cérebro-cérebro têm sido teorizadas já há algum tempo pelos pesquisadores, mas só começaram a sair do papel neste ano. Em fevereiro, o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis anunciou a primeira interface do tipo, ao transmitir sinais elétricos entre os neurônios de dois ratos: um localizado nos Estados Unidos e outro no Brasil. Dois meses depois, pesquisadores da Universidade Harvard demonstraram que era possível transmitir os sinais cerebrais de um homem para o cérebro de um rato, comandando os movimentos de sua cauda.
Os pesquisadores da Universidade de Washington afirmam, no entanto, que essa é a primeira vez que tal comunicação é realizada entre dois seres humanos. "Nós conseguimos plugar um cérebro ao computador mais complexo já estudado por qualquer cientista: outro cérebro humano", diz Chantel Prat, pesquisadora da Universidade de Washington que também participou do estudo.
Disparos mentais — Rajesh Rao é professor de ciência da computação na Universidade de Washington, e há mais de dez anos trabalha no desenvolvimento de interfaces cérebro-máquina. No dia 12 de agosto, ele estava sentado em seu laboratório usando um capacete com eletrodos ligados a uma máquina de eletroencefalograma, capaz de ler a atividade elétrica de seu cérebro.
Enquanto isso Andrea Stocco estava em seu laboratório — no outro extremo do campus universitário — vestindo uma touca de natação roxa que dava suporte a um aparelho de estimulação magnética transcraniana, capaz de estimular o cérebro e induzir uma resposta neural. Seu efeito normalmente depende da área onde ele é aplicado. Neste caso, o aparelho foi colocado diretamente sobre o córtex motor esquerdo, mais precisamente na área que controlava os movimentos de sua mão direita.
No videogame, o voluntário deveria acertar o míssil lançado por piratas antes que ele atingisse a cidade. O problema é que o botão para disparar seu canhão estava do outro lado da universidade
Em sua sala, Rao estava olhando para uma tela de computador onde deveria jogar um videogame bastante simples. No jogo, ele deveria impedir que uma cidade fosse atingida por uma série de mísseis disparados por navios piratas. Para isso, deveria acertá-los com balas de canhão, disparadas no momento exato em que os mísseis estivessem ao alcance. O jogo exigia que o disparo fosse realizado em um espaço de tempo pequeno, mas, fora isso, não exigia grande destreza técnica. O objetivo deveria ser facilmente atingido por Rao, não fosse por um pequeno problema: o botão que disparava o canhão não estava em seu teclado, mas no teclado do computador de Andrea Stocco, do outro lado da Universidade.
Durante o experimento, no momento em que o canhão deveria ser disparado, Rao imaginou mover a mão direita. Quase instantaneamente, Stocco moveu seu dedo indicador direito de forma involuntária para apertar a barra de espaço no teclado em sua frente, disparando o canhão, acertando o míssil, salvando a cidade e demonstrando o sucesso da interface. Stocco comparou a sensação do movimento involuntário de sua mão a um tique nervoso. O resultado está publicado no site da Universidade de Washington.
Controle mental — Rajesh Rao afirma que foi emocionante — e assustador — assistir a uma ação imaginária de seu cérebro ser traduzida em uma ação efetiva por outro corpo. Mesmo assim, esse ainda seria o primeiro passo no desenvolvimento das interfaces cérebro-cérebro entre humanos. "Este foi basicamente um fluxo unidirecional de informações do meu cérebro para o dele. O próximo passo é estabelecer uma conversa de duas mãos entre os dois cérebros".

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Teste pode ajudar a detectar Parkinson antes de os sintomas aparecerem

Pesquisa descobriu que baixos níveis de determinadas proteínas no fluido cerebrospinal estão associados à presença da doença

Técnica desenvolvida por pesquisadores permite visualizar caminhos que levam ao núcleo subtalâmico, pequena região do cérebro onde eletrodo é implantado para parar tremores relacionados ao Parkinson
Parkinson: Doença acontece quando a comunicação entre os neurônios é prejudicada pela falta de um neurotransmissor chamado dopamina (Thinkstock)
Pela primeira vez, uma pesquisa conseguiu identificar biomarcadores específicos para o Parkinson — ou seja, substâncias presentes no corpo de uma pessoa que acusam a existência de uma doença antes mesmo do surgimento dos primeiros sintomas. Segundo os autores do estudo, a descoberta pode levar a um teste que detecte a condição de forma mais precoce do que é feito atualmente, mudando tanto o diagnóstico da doença quanto o seu tratamento. Hoje, o Parkinson é diagnosticado com base em sintomas clínicos, como tremores nas mãos e lentidão nos movimentos.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Comparison of Cerebrospinal Fluid Levels of Tau and Aβ 1-42 in Alzheimer Disease and Frontotemporal Degeneration Using 2 Analytical Platforms​

Onde foi divulgada: periódico JAMA Neurology

Quem fez: David J. Irwin, Corey McMillan, Jon Toledo, Steven Arnold, Leslie Shaw, Li-San Wang, Vivianna Van Deerlin, Virginia Lee, John Trojanowski e Murray Grossman

Instituição: Universidade da Pensilvânia, Estados Unidos

Dados de amostragem: 102 pessoas com e sem doença de Parkinson

Resultado: Os níveis de determinadas proteínas no fluido cereborspinal de uma pessoa podem acusar a doença de Parkinson antes do surgimento dos primeiros sintomas.
A nova pesquisa foi desenvolvida na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e publicada neste mês na revista JAMA Neurology. As conclusões são as primeiras de um estudo que começou há cinco anos e que se chama Iniciativa de Marcadores da Progressão do Parkinson (PPMI, sigla em inglês).
Essa primeira etapa da pesquisa analisou o fluido cefalorraquidiano (líquido que protege o cérebro e a medula espinhal) de 102 pessoas. Dessas, 63 apresentavam um estágio inicial de Parkinson, mas não haviam começado a receber tratamento para a doença. O restante não apresentava a condição. Os pesquisadores observaram especialmente cinco proteínas nas amostras.
Mecanismo — De acordo com os resultados, pessoas com a fase inicial da doença apresentam níveis mais baixos das proteínas beta amiloide e alfa sinucleína em comparação com indivíduos saudáveis. Além disso, os participantes com Parkinson que tinham os problemas motores mais graves também foram aqueles que apresentaram os menores níveis das proteínas tau e alfa sinucleína. Por outro lado, as pessoas que apresentavam enrijecimento muscular apresentaram níveis muito baixos de beta amiloide.
A doença de Parkinson acontece quando a comunicação entre os neurônios é prejudicada pela falta de um neurotransmissor chamado dopamina. Ele torna os sinais enviados para os músculos mais fortes. Quando as células nervosas que produzem a dopamina começam a morrer, a comunicação é prejudicada e surgem sintomas como descoordenação motora, tremores, e movimento lento. Para os autores desse novo estudo, a degradação de determinadas proteínas pode ajudar na melhor compreensão sobre a doença.
Ainda segundo os pesquisadores, essas conclusões sugerem que, um dia, será possível detectar precocemente a doença de Parkinson e a sua progressão por meio de um teste que analise o fluido espinhal. Com isso, a equipe acredita que será possível desenvolver tratamentos que barrem o avanço dos sintomas o mais cedo possível, melhorando a qualidade de vida de pessoas com a doença.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Fenam atuará em duas frentes contra o Mais Médicos

Federação Nacional dos Médicos pediu investigação na Procuradoria Geral do Trabalho e entrou no STF contra medida provisória que criou o programa

Aretha Yarak, de Brasília
Médicos realizam protesto em Curitiba contra o Programa Mais Médicos e os vetos ao projeto de lei que regulamenta a medicina, conhecido como Ato Médico
Médicos realizam protesto em Curitiba contra o Programa Mais Médicos e os vetos ao projeto de lei que regulamenta a medicina, conhecido como Ato Médico (Daniel Castellano/Gazeta do Povo/Futurapress)
A Federação Nacional dos Médicos (Fenam) vai atuar em duas frentes contra o programa Mais Médicos. A entidade ajuizou, em parceria com a Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU), uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para revogar a medida provisória que criou o programa. A ação defende a autonomia universitária, uma vez que pela MP as universidades devem supervisionar os estrangeiros que não tiveram seu diploma revalidado.
A Fenam pediu também abertura de uma investigação trabalhista junto à Procuradoria Geral do Trabalho (PGT) nesta terça-feira. Entre os principais pontos de questionamento está o tipo de remuneração que será oferecida: uma bolsa de ensino, e não um salário dentro das normas das leis trabalhistas. 
“Estamos convocando o governo a fazer um concurso público. É preciso respeitar a lei”, diz Geraldo Ferreira Filho, presidente da Fenam. Junto ao pedido de investigação, a Fenam solicitou ainda o acesso ao acordo feito entre o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) – que está trazendo os médicos cubanos ao Brasil. Isso porque, até o momento, o acordo não foi repassado às entidades médicas.
Justiça – Apesar das derrotas que as entidades médicas vêm tendo na Justiça, Ferreira Filho afirmou que a discussão por melhores condições de saúde não deve parar. “Hoje, o único grupo organizado que enfrenta o governo é o dos médicos. E o governo passou a nos ver como os inimigos, seus adversários”, diz. Segundo ele, o país vive sua pior campanha política contra um grupo de profissionais. “O que importa é que a cidade que não tem médico deve sim ter um médico. Mas um médico, não um curandeiro, um médico improvisado ou o trabalho escravo.”

terça-feira, 27 de agosto de 2013

O nascimento da inteligência

Pesquisas revelam que fatores como amamentação, suplementação de vitamina D e até a obesidade dos pais terão impacto no nível do QI da criança do seu nascimento até o resto de sua vida

Monique Oliveira e Wilson Aquino
Uma safra de novos estudos realizados em todo o mundo está apresentando revelações surpreendentes sobre o processo de desenvolvimento da inteligência humana. As pesquisas apontam, pela primeira vez, fatores importantíssimos associados ainda à vida uterina e aos primeiros anos de vida que serão decisivos para a evolução do intelecto. Reunidos, esses trabalhos traçam o mais completo retrato científico do nascimento da inteligência.
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E se trata de um retrato belíssimo. Ele deixa claro o quanto essa habilidade depende de uma combinação complexa de circunstâncias para que atinja seu ápice na vida adulta. Condições que surgem antes mesmo da fecundação, como evidencia uma pesquisa realizada no Centro Médico Forest Baptist (Eua). O trabalho apontou que filhos de mães com Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 30 (já classificado como obesidade) têm maior chance de desenvolver limitações cognitivas. Eles manifestaram três pontos a menos de QI (quociente de inteligência) em relação aos nascidos de mulheres de peso normal. Ainda se estuda de que maneira o excesso de peso da mãe impacta a inteligência do filho, mas há algumas hipóteses. “O acúmulo de peso pode contribuir para um maior número de células anormais do sistema imunológico, capazes de atacar outras estruturas”, disse à ISTOÉ Jennifer Helderman, uma das autoras do estudo. “O mecanismo resulta em uma maior predisposição à inflamação, que poderia afetar o tecido neurológico da mãe e do feto”, especula.
Nas primeiras semanas após a fecundação, inicia-se uma etapa-chave: é quando começa a se formar o tubo neural, a estrutura que dará origem ao cérebro. Diversos trabalhos relacionam o sucesso desse processo à presença em concentração adequada de ácido fólico (vitamina B). Caso contrário, uma das extremidades do tubo não se fecha, originando, por exemplo, a anencefalia (ausência parcial do encéfalo e da calota craniana). “Pesquisas confiáveis apontam forte conexão entre déficit de ácido fólico e essa anomalia”, explica o médico Luiz Celso Villanova, chefe do setor de neurologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
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Outras duas substâncias despontam com igual importância para a formação da inteligência: o iodo e a vitamina D. Estudo da Universidade de Surrey, no Reino Unido, analisou as concentrações de iodo na urina de 1.040 mães em estágio inicial da gestação. Depois, aos filhos nascidos dessas gestantes foram administrados testes de inteligência aos 8 anos e de leitura, aos 9. As crianças com piores desempenhos foram as geradas por mães que apresentaram ingestão de iodo menores do que 150 mg por dia. “Sua deficiência em gestantes deve ser tratada como um assunto de saúde pública”, escreveram os autores da pesquisa. No Canadá, uma análise de vários trabalhos sobre o tema feito pela Universidade McGill concluiu que crianças nascidas de mães que receberam suplementação do composto na gravidez e após o nascimento tiveram QI entre 12 a 17 pontos mais alto do que as demais.
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ALIMENTOS
O neuropediatra Villanova alerta para a importância da suplementação de
alguns nutrientes como forma de garantir a formação correta das estruturas cerebrais
Igual influência apresenta a vitamina D, segundo pesquisas recentes. Pesquisadores do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Epidemiologia Ambiental de Barcelona, na Espanha, acompanharam 1.820 mães e verificaram que os filhos daquelas com níveis adequados do composto na gravidez tiveram melhor desempenho em testes de inteligência do que filhos de mães com déficit da substância. Embora os cientistas não apontem uma razão específica para a associação, explicam que a literatura científica é vasta quanto ao peso da vitamina na saúde geral do bebê. “Há diversos estudos demonstrando relação entre o composto e o desenvolvimento do sistema imunológico, por exemplo. É natural supor que exista impacto também no funcionamento cerebral”, afirmou à ISTOÉ a epidemiologista Eva Morales, autora do estudo.
Por volta da 20ª semana, estruturas indispensáveis para a boa comunicação entre os neurônios estão em formação. Entre elas os dentritos (projeções que permitem essa comunicação) e a bainha de mielina (que assegura a eficácia dessa interação). Grande parte da bainha é constituída de moléculas de DHA, um gênero de ácido ômega 3. Trata-se de um composto fabricado pelo corpo, mas uma suplementação é indicada. Ela pode ser feita por meio da alimentação pela mãe. Uma das melhores fontes são os peixes de água fria, como salmão e sardinha. Também é importante que a mulher aumente o consumo de proteínas, base para a produção dos neurotransmissores, as substâncias que levam a informação de um neurônio a outro.
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Da mesma forma que a ciência está identificando o que aumenta a chance de um QI mais elevado, as pesquisas começam a apontar o que, ainda na vida uterina, pode prejudicar o potencial intelectual. A poluição é um desses elementos. Estudo do Centro de Desenvolvimento do Cérebro, da Universidade de Colúmbia (Eua), revelou que a exposição a hidrocarbonetos aromáticos policíclicos – substâncias produzidas durante a queima incompleta de combustíveis – sofrida pelo feto fará com que a criança apresente cerca de quatro pontos a menos em testes de inteligência. A hipótese é que os poluentes atravessam a placenta e danificam o tecido cerebral do feto.
Outra constatação nesse sentido é a de que o estresse materno na gestação impacta negativamente a inteligência da criança. “Ele causa danos ao desenvolvimento do córtex pré-frontal”, explica o neurocientista Antonio Pereira, do Instituto do Cérebro, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. O cientista brasileiro se refere à área do cérebro associada ao processamento do raciocínio. “Se a mãe tiver uma gestação sem estresse, será melhor para o desenvolvimento cognitivo da criança.”
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Há ainda achados como o da Universidade de Colúmbia (Eua), segundo o qual crianças nascidas de 37 semanas apresentaram pior desempenho de leitura e matemática do que as nascidas de 41 semanas. A conclusão foi feita com base em uma análise de 138 mil crianças de escolas públicas de Nova York (Eua) e poderia ser explicada pelo fato de que o tempo maior dentro do útero favoreceria a formação de mais redes neurais por onde as informações trafegam e são armazenadas.
Quando nasce, cada neurônio da criança faz aproximadamente 2,5 mil sinapses – as conexões entre os neurônios por meio das quais as informações são passadas de um a outro. Esse número pode chegar a 15 mil aos 3 anos de idade. Para que isso ocorra é vital que outros fatores nutricionais e ambientais sejam respeitados. Afinal, eles proverão as condições necessárias para que essas conexões se multipliquem e neurônios não sejam descartados por falta de uso. “Após alguns meses depois do nascimento, o volume cerebral quadruplica”, explica Solange Jacob, coordenadora pedagógica da organização Pupa, que desenvolve atividades com pais e crianças para melhor desenvolver o intelecto infantil na primeira infância. “Aos 3 anos, uma criança já fez um quatrilhão de conexões cerebrais.”
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Neste mês, um importante estudo publicado na revista da Associação Médica Americana confirmou de forma contundente o papel da amamentação nessa construção do intelecto. “Mostramos uma conexão direta entre o aleitamento materno e a inteligência”, disse à ISTOÉ Mandy Belfort, professora de pediatria da Escola de Medicina de Harvard (Eua) e uma das líderes do estudo. Ela e sua equipe seguiram 1.312 bebês entre 1999 e 2010. Entre os principais achados, o grupo descobriu uma relação interessante. Nas crianças de 3 anos, a cada mês adicional de amamentação foi registrada uma média de 0,21 ponto a mais em testes de QI em comparação às que não tiveram o tempo extra. A mesma influência positiva permanece aos 7 anos, em que os participantes contabilizavam um acréscimo de 0,35 ponto em testes orais e 0,29 em exames não verbais.
No Brasil, um trabalho da PUC de Pelotas (RS) encontrou a mesma relação. Em 2002 e 2003, os cientistas acompanharam 616 bebês para avaliar a permanência e a frequência com que eram amamentados. Quando as crianças completavam 8 anos de idade, elas foram submetidas a testes de QI. “Os bebês que mamaram por mais de seis meses obtiveram desempenho 30% superior”, explica a pediatra Elaine Albernaz, responsável pela pesquisa. De acordo com o pediatra carioca Daniel Becker, do Instituto de Pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o benefício transcende o potencial de raciocínio. “O aleitamento contribui tanto para a inteligência do ponto de vista cognitivo como social e afetivo”, afirma.
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As explicações para o benefício não repousam somente em um mecanismo. Primeiro, há o estímulo do próprio contato entre mãe e filho. “Quando o bebê é amamentado, a mãe toca nele, olha e fala com ele. Esse vínculo é fundamental para o desenvolvimento cognitivo”, assegura a médica Elaine. Depois, há o impacto de substâncias presentes no leite materno que atuam na formação e no crescimento dos neurônios, como as gorduras e o ácido araquidônico.
Um trabalho da PUC do Rio Grande do Sul chama a atenção para a importância de cuidados especiais aos prematuros também no que diz respeito à cognição. Durante oito anos, os pesquisadores acompanharam 200 crianças nascidas prematuramente, mas não consideradas de risco (não apresentavam sequelas neurológicas). Apresentavam apenas baixo peso (menos de 2,5 quilos) ao nascer. Em teste de avaliação de inteligência aplicado quando elas chegaram aos 8 anos, manifestaram pontuações inferiores ao esperado. “Acreditamos que a questão está mais relacionada ao baixo peso de nascimento do que com a prematuridade. Isso é um aspecto associado à desnutrição intrauterina”, explicou a neurologista infantil Magda Nunes, professora de neurologia da Faculdade de Medicina da PUC/RS e autora do experimento. Em animais, a pesquisadora constatou que a falta de nutrientes corretos torna menor o hipocampo, estrutura do cérebro que participa do processamento de funções cognitivas e da memória.
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MAPA
O cientista Aron Barbey, dos Estados Unidos, investiga
como a inteligência emerge dos circuitos de neurônios
Informações desse gênero são alvo de investigação em todo o mundo. “Nosso desafio é estudar de que maneira a inteligência emerge de sistemas neurais e o estudo da arquitetura do cérebro ajuda a entender alguns padrões de pensamento e comportamento”, afirmou à ISTOÉ o pesquisador Aron Barbey, do Laboratório de Neurociência da Universidade de Illinois (Eua). O cientista é um dos mais respeitados estudiosos dos caminhos neuronais associados à cognição. Com base em seu conhecimento, também se coloca como um dos principais defensores de que o desenvolvimento inicial de habilidades como os raciocínios concreto e abstrato tem raízes em uma interação que une, entre outros elementos, uma boa nutrição cerebral, como se viu, herança genética e ambiente.
Na fundação desses pilares, está cada vez mais consolidado, por exemplo, o poder do afeto. “A criança deve ter pelo menos uma relação afetiva significativa para desenvolver a empatia, capacidade que vai determinar muitos aspectos do processamento cognitivo”, explica o médico e psicoterapeuta João Augusto Figueiró, fundador do Instituto de Zero a Seis, entidade que tem por objetivo estimular a consciência sobre a importância da primeira infância para o desenvolvimento do indivíduo. Nesse sentido, algo banal como o convívio com um animal de estimação ajuda muito. Uma revisão de 69 pesquisas realizadas por cientistas de várias instituições europeias mostrou que pela interação entre um bicho de estimação e crianças se verifica o desenvolvimento de habilidades importantes – respeito, confiança e empatia entre elas.
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Efeito oposto promove o uso de aparelhos como smartphones e tablets. Apesar do apelo educacional desses aparelhos, a Academia Americana de Pediatria recomendou recentemente que os pais não ofereçam esses recursos a seus filhos antes que eles completem 2 anos de idade. Num artigo intitulado “Crianças devem aprender da brincadeira – e não do monitor”, a entidade cita pesquisas que associam o uso de mídias eletrônicas a um pior desempenho da linguagem e ao atraso no desenvolvimento emocional, entre outros prejuízos.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

8 passos para secar a barriga

Não, não vamos falar de dietas milagrosas, mas de truques simples revelados por especialistas em nutrição. Claro que nem por isso você vai deixar de lado os exercícios e a alimentação balanceada - a dupla que combate a gordura pra valer por Carla Conte | foto Eduardo Svezia


1. BOTE OS DENTES PARA TRABALHAR
Mastigar bem faz toda a diferença nesse processo de enxugar a barriga. "Quanto mais você fracionar o alimento, mais fácil fica a digestão, o que evita aquele efeito estufa no abdômen", garante Marcella Amar, da clínica Essentiale, no Rio de Janeiro. "Se não mastigamos, há uma sobrecarga no estômago e um aporte maior de fluxo sanguíneo, o que distende essa região", completa a nutricionista e fitoterapeuta Vanderlí Marchiori, de São Paulo.

2. COMA MENOS E MAIS VEZES
Excesso de comida faz volume no estômago. Por isso, diminua o tamanho das refeições principais e faça pequenos lanches entre elas. "Procure também se alimentar sem pressa e em ambiente calmo. Quem come num piscar de olhos tende a engolir mais ar, o que também aumenta a barriga", afirma a nutróloga ortomolecular Tamara Mazaracki, do Rio de Janeiro.

3. PREFIRA OS ALIMENTOS DE FÁCIL DIGESTÃO
Alguns itens, como as frutas, os grãos integrais e as verduras, passam mais rapidamente pelo intestino e azeitam seu funcionamento. Já os de absorção lenta favorecem a fermentação, responsável pelo aspecto de barriga inchada. "Logo, evite comidas gordurosas, como queijos, carne vermelha, grão-de-bico, repolho, couve-flor e doces", recomenda a nutricionista Marcella.

4. CAPRICHE NAS FIBRAS, MAS SEM EXAGERO

Elas ajudam o intestino a funcionar, o que elimina aquele aspecto de abdômen estufado. E estão presentes nas frutas, nas hortaliças e nos produtos integrais, como granola, aveia e linhaça. Mas exagerar na dose pode ter o efeito contrário, provocando cólicas e inchaço. "Para facilitar a eliminação do excesso, é importante beber bastante líquido durante o dia", sugere Vanderli Marchiori.
5. TROQUE OS REFINADOS POR INTEGRAIS
Deixe de lado o pão, o arroz, a farinha e a massa convencional e opte pelas versões integrais. De novo, além de terem mais fibras e ajudarem o intestino a funcionar melhor, esses alimentos baixam o índice glicêmico, o que evita a produção excessiva de insulina, hormônio que estimula o organismo a estocar gordura.

6. MANEIRE NO SALGADO
Evite alimentos muito condimentados e/ou salgados. Excesso de sódio provoca retenção hídrica, responsável pelo aspecto de inchaço no corpo -- inclusive na barriga, claro. "Os condimentos irritam o intestino e aumentam a formação de gases", explica Tamara Mazaracki. Portanto, olho vivo nos vilões: azeitonas, anchovas, salgadinhos em geral, picles, carne seca, defumados e embutidos (salame, presunto, bacon), queijos salgados e muito temperados (gorgonzola, parmesão, roquefort), catchup e molhos prontos para saladas.

7. BEBA ÁGUA, MUITA ÁGUA

Pelo menos dois litros ao longo do dia, mas não durante as refeições, o que dificulta a digestão e favorece a fermentação - e o aumento do volume abdominal. Os líquidos, como água, chás e sucos, além de ajudarem a regular o intestino, permitem também a eliminação do sal. Quanto mais se bebe, mais diluído fica o sódio e mais facilmente ele vai embora com a urina. Mas bebidas gasosas ficam fora dessa, pois dilatam a barriga. "Alimentos ricos em potássio (caso das frutas e dos legumes) são outros que contribuem nessa tarefa de expulsar o sal que ficou sobrando", completa Tamara

8. DÊ UMA CHANCE PARA A GORDURA DO BEM
Já está provado que alguns tipos, como a mono e a poliinsaturada -- em doses moderadas, bem entendido --, agem contra os pneuzinhos, principalmente no abdômen. Além disso, elas são capazes de baixar o índice glicêmico da refeição, o que reduz a produção de insulina -- ela de novo! Por isso, abra espaço no seu cardápio para o azeite de oliva, o abacate e as frutas oleaginosas, como a castanha-do-pará e a amêndoa.

domingo, 25 de agosto de 2013

Cubanos defendem envio de parte do salário a Raúl Castro

Eles receberão entre 2.500 reais a 4.000 reais mensais. A diferença entre o salário e o teto de 10 000 reais será enviada pelo Brasil ao governo cubano

Laryssa Borges, de Brasília
Médicos cubanos chegam à Recife para integrar o programa do governo federal.
Médicos cubanos chegam ao Brasil para integrar o programa do governo federal. ( Matheus Brito/ Estadão Conteúdo )
Explorados pelo regime de Raúl Castro, 206 médicos cubanos desembarcaram neste sábado em Brasília e no Recife para atuar no Programa Mais Médicos, do governo federal. Com forte discurso ideológico, os profissionais defenderam as assimetrias da parceria entre Brasil e Cuba – até 75% dos salários pagos a eles podem ser remetidos diretamente à ilha dos Castro – e afirmaram que, apesar das críticas, esperam poder ajudar municípios mais carentes e sem qualquer assistência básica. Alguns médicos desembarcaram chorando e foram amparados por autoridades locais.
De acordo com o secretário-adjunto da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Fernando Menezes, os salários dos cubanos não serão de 10 000 reais, como os dos demais médicos que se inscreveram no programa do governo, e vão variar entre 2.500 reais a 4.000 reais mensais, conforme as condições dos municípios onde os profissionais serão alocados. A diferença entre o salário e o teto de 10 000 reais será enviada pelo Brasil ao governo cubano.
Em Brasília, uma aeronave da Companhia Cubana de Aviación aterrissou às 18h41 na capital com 176 profissionais a bordo. Neste domingo, outros 50 médicos chegarão a Salvador, 78 em Fortaleza e 66 no Recife.
Com pouca fluência em português, os médicos desembarcaram de jalecos e com bandeiras de papel do Brasil e Cuba nas mãos. “Amor e solidariedade não têm preço. Não viemos para competir, viemos para trabalhar juntos. Esperamos apoio de todo o povo”, disse o médico Alexander del Toro. Médicos com mais de 20 anos de profissão empunharam discurso político em favor do golpe comandado por Fidel Castro.
“Cuba é um país pobre, não tem muitos recursos humanos, mas tem muita formação do ponto de vista humano. O dinheiro para nós fica em segundo lugar. Vamos ter o suficiente para ficar no Brasil. O resto vai para Cuba, para hospitais, para as pessoas que estão precisando”, afirmou Rodolfo García, formado há 26 anos.
“Vivemos com o coração muito grande para oferecer ao povo brasileiro. Não importa dinheiro ou outra coisa. Todos nós temos salário garantido em nossa pátria”, completou Ángel Lemes Dominguez. Morador de Villa Clara, onde estão os restos mortais daquele que ele classificou como “comandante Guevara”, o médico endossou o discurso político dos demais profissionais e afirmou que o confisco de parte de seu salário total pelo governo cubano “não é uma questão de preocupação”. “Tem colegas nossos em Cuba trabalhando o dobro para que a gente possa colaborar com outros povos. Concordo plenamente com qualquer coisa que possa aportar saúde”, disse.
“Cuba deu os cursos para vir para cá, nos selecionou e viemos para dar saúde e solidariedade para todos os brasileiros e ajudar a elevar a qualidade de saúde”, resumiu Crenia Rodríguez Gamoneda, de 32 anos. Formada há 10 anos, já trabalhou como médica também para o governo de Hugo Chávez, na Venezuela. Ex-médica na Bolívia, Yaiceo Perea, com especialização em Medicina Geral e Integral, disse que, mesmo com dificuldades no atendimento médico aos bolivianos, cumpre suas atividades como uma espécie de “missão de governo”. “Esperamos que o povo brasileiro nos respeite”, declarou, emocionada.
No aeroporto Juscelino Kubitscheck, em Brasília, um pequeno grupo de 25 pessoas, favorável à importação de médicos da ilha, reforçou o caráter político do programa do governo Dilma Rousseff, gritando palavras de ordem contra os Estados Unidos. Cartazes de boas vindas, com a estampa da estrela do PT, deram o tom da manifestação. Médicos brasileiros formados em território cubano, cujos diplomas ainda estão pendentes de validação, aproveitaram para tentar angariar apoio à parceria entre Brasil e Cuba. Estampas de Che Guevara, bandeiras petistas, da Venezuela e de Cuba e faixas com referências à União Nacional dos Estudantes (UNE), à União da Juventude Socialista (UJS) e à Central de Movimentos Populares foram colocadas diante do desembarque internacional do aeroporto.
Com uma braçadeira com a bandeira da Venezuela e um broche com símbolos cubanos, o médico brasileiro Wesley Caçador Soares, de 29 anos, defendeu a capacidade técnica dos profissionais importados da ilha socialista e disse que as críticas em relação à importação dos cubanos é resultado de um debate “dogmático” e “ideológico”. Formado em Cuba e com um tênis da Nike, coube a Soares o papel principal na organização de gritos de guerra contra os Estados Unidos e o Conselho Federal de Medicina: “Cuba, sim, yankees não. Viva (sic) Fidel e a revolução. Brasil, Cuba, América Central, a luta socialista é internacional”, dizia o grupo de estudantes e médicos que recepcionou os cubanos em Brasília.

Novo medicamento se mostra eficaz para tratar doenças inflamatórias intestinais

Dois estudos concluíram que nova droga pode ajudar pacientes com doença de Crohn ou colite ulcerativa que não responderam às terapias convencionais

Apendicite: a condição é causada pela inflamação da bolsa em forma de verme que sai da primeira porção do intestino grosso (à esq.)
Doença inflamatória intestinal: Laboratório japonês desenvolveu nova droga que pode ajudar a tratar doença de Crohn e colite ulcerativa (Thinkstock)
Os resultados finais de dois testes clínicos envolvendo um novo medicamento mostraram que ele é eficaz em tratar a doença de Crohn e a colite ulcerativa, as duas principais formas de doenças inflamatórias intestinais. De acordo com os estudos, o tratamento pode ajudar pacientes que não responderam às terapias convencionais sem oferecer efeitos adversos graves. As pesquisas foram publicadas nesta quarta-feira na revista The New England Journal of Medicine.
A doença de Crohn e a colite ulcerativa se caracterizam por um quadro crônico de inflamação no intestino. As causas dessas duas condições, porém, ainda são desconhecidas. Sabe-se que as células do sistema imunológico presentes no intestino de pacientes com esses problemas liberam citocinas, um tipo de proteína responsável por desencadear a inflamação, causando danos nos tecidos dos intestinos grosso e delgado e provocando diarreia.

Saiba mais

COLITE ULCERATIVA
A doença é uma inflamação do revestimento interno do cólon (intestino grosso) ou do reto. Os sintomas mais comuns são diarreia, cólicas abdominais e sangramento retal.
DOENÇA DE CROHN
A condição é um processo de inflamação e ulceração que ocorre nas camadas profundas da parede intestinal. Entre os principais sintomas estão dor no abdome (muitas vezes no lado inferior direito), diarreia, perda de peso e, ocasionalmente, sangramento.
A terapia testada nos dois estudos envolve o vedolizumab, uma molécula desenvolvida pelo laboratório japonês Takeda. A substância, administrada via intravenosa, age atacando justamente essas células do sistema imunológico do intestino.
As duas pesquisas avaliaram a eficácia do medicamento no tratamento de cada uma dessas duas doenças. Juntos, os estudos envolveram cerca de 3.000 pessoas de 39 países diferentes com idades entre 18 e 80 anos. Parte delas sofria de doença de Crohn e o restante, colite ulcerativa.
Segundo os responsáveis pelos estudos, o tratamento é direcionado, não afetando outras regiões do corpo, o que limita o risco de efeitos adversos mais graves. As terapias convencionais frequentemente provocam perda de peso, náuseas ou dores de cabeça, além de enfraquecerem o sistema imunológico do paciente, aumentando a exposição a infecções.
“Os dois estudos mostraram resultados altamente encorajadores para pacientes que sofrem de doença de Crohn ou de colite ulcerativa moderadas ou graves que não responderam a tratamentos convencionais, como esteroides e drogas imunossupressoras, por exemplo”, diz William Sandborn, diretor do Centro de Doenças Inflamatórias Intestinais da Universidade da Califórnia em San Diego, Estados Unidos, que coordenou uma das pesquisas. “Essas novas descobertas potencialmente vão levar a um novo tratamento que melhorará a qualidade de vida dos pacientes.”
O laboratório Takeda informou que vai submeter a droga à aprovação do Food and Drug Administration (FDA) e da European Medicines Agency (EMA), agências reguladoras dos Estados Unidos e da Europa, respectivamente. Por enquanto, ela não está disponível para uso clínico.
(Com agência France-Presse)

sábado, 24 de agosto de 2013

Associação Médica Brasileira entra no STF contra importação de médicos

AMB entrou com um pedido de Ação Direta de Inconstitucionalidade contra a Medida Provisória que deu início ao programa Mais Médicos

Médicos
Associação Médica Brasileira argumenta que o programa Mais Médicos não apresenta urgência e não justifica uma Medida Provisória (Thinkstock)
A Associação Médica Brasileira entrou nesta sexta-feira com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a decisão do governo brasileiro de importar médicos estrangeiros sem a revalidação de diploma. O pedido busca suspender a Medida Provisória 621, o decreto 8.040 e a portaria 1.369 de 8 de julho de 2013 — que instituem o programa Mais Médicos — por violarem a constituição brasileira.
A AMB argumenta que o programa não poderia ter sido apresentado na forma de uma Medida Provisória, pois ele não apresenta urgência — uma das evidências disso seria que ele inclui mudanças nos cursos de medicina que terão efeitos somente a partir de 2021. "Trata-se de nítida manobra político-eleitoral, uma vez que se aproveita do clamor público oriundo das ruas para impor uma medida inócua e populista, que não enfrenta os reais problemas do sistema público de saúde", afirma a AMB em documento divulgado nesta sexta-feira.
Dois tipos de medicina — A Associação afirma que a dispensa de revalidação do diploma obtido em outros países coloca a população em risco e cria dois tipos diferentes de medicina. A primeira seria formada pelos médicos que poderão exercer a profissão livremente em todo o território nacional. "A segunda composta pelos intercambistas do Programa Mais Médicos, que terão seu direito ao exercício profissional limitado a determinada região, com qualidade duvidosa para atender a população que depende do Sistema Único de Saúde (SUS), já que não terão seus conhecimentos avaliados", afirma o documento, que também acusa a MP 621 de estabelecer uma burla à legislação trabalhista, promovendo um regime de escravidão moderno.

Defensoria ajuíza 100 ações sobre saúde contra o governo

Como não consegue no Estado alguns tratamentos, parte da população acaba acionando a Justiça
Após mais de dois anos na espera para ser submetido a uma cirurgia no Hospital Geral de Fortaleza (HGF), o aposentado Reginaldo Fernandes Madeira, 45, precisou acionar a Justiça para tentar conseguir que o governo do Estado custeie todas as despesas com o procedimento em alguma unidade que tenha condições de realizar a cirurgia.

Em muitos casos, pacientes passam anos nas filas de espera nas unidades do Estado aguardando a chance de passar por procedimentos. Diariamente, a Defensoria Pública informa que recebe ações com esse teor FOTO: JOSÉ LEOMAR

Assim como Reginaldo, pelo menos 100 processos desse tipo foram submetidos na Justiça pelo Núcleo de Defesa da Saúde da Defensoria Pública Geral do Estado desde fevereiro deste ano. Do total de ações ajuizadas pelo órgão, cerca de 30% são para solicitar o custeio de cirurgia.

"Diariamente, chegam pessoas no Núcleo para reclamar do tempo na fila de espera e solicitar o custeio de cirurgia. E em 95% dos casos, as liminares são concedidas pela Justiça. Como os procedimentos cirúrgicos costumam ser de alta complexidade, a maioria dos requerimentos é para o governo do Estado pagar", explica o defensor público Dani Esdras Cavalcante.

Mesmo com uma decisão judicial que intimou a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) a pagar pela cirurgia de Reginaldo, ele denunciou que o órgão descumpre a determinação, enquanto o aposentado perde a visão, devido às lesões causadas por uma complicação chamada de Retinopatia Diabética.

Tratamento

De acordo com o defensor Dani Esdras, é comum o governo do Estado não cumprir a decisão judicial nesses casos. A Sesa, no entanto, alegou, por meio de nota, que a rede pública do Ceará não é capaz de fazer o tratamento de Reginaldo e desmentiu a denúncia feita pelo aposentado. O órgão informou que o caso do paciente já foi encaminhado para Tratamento Fora de Domicílio (TFD) e falta somente o agendamento da cirurgia.

"Além de custear as despesas do paciente, também são pagas as despesas de passagem e hospedagem do acompanhante durante o tempo de todo o tratamento. A Secretaria da Saúde do Estado fez o encaminhamento para hospital público fora do Estado e está aguardando o agendamento do procedimento cirúrgico", declarou em nota.

Reginaldo é portador de diabetes, e a doença, desde 2010, compromete a visão do aposentado. Esse problema fez o ex-entregador de uma panificadora ser aposentado por invalidez. Atualmente, ele não enxerga com o olho direito, e o esquerdo está com a visão bastante comprometida.

"Meu caso é de urgência. Estou quase ficando cego. Isso é um absurdo. Mesmo com o governo do Estado sendo obrigado a pagar minha cirurgia, ele não faz isso. Tenho apenas 45 anos e já sou aposentado por invalidez. E isso aconteceu porque a cirurgia não foi realizada quando ainda havia tempo para evitar o pior", lamentou Reginaldo.

Em 2012, ele procurou a Defensoria Pública, e o órgão acionou a Justiça, obtendo a liminar já em março deste ano. Diante do descumprimento, um multa diária de R$ 1.000 passou a ser cobrada do governo. A partir do dia 17 de junho, o valor foi dobrado. Devido ao problema, a Defensoria Pública chegou até entrar com uma petição no último dia 15 de agosto pedindo o bloqueio dos recursos da Secretaria da Saúde do Estado.

Prazo

Com a justificativa da Sesa, o defensor público Dani Esdras esclareceu, porém, que a multa gerada pelo prazo descumprido no caso de Reginaldo pode ser perdoada caso a Justiça ache necessário. "Se a Justiça entender que o prazo de dez dias dado por ela não foi suficiente, já que o governo do Estado precisou acionar um hospital público fora do Ceará, a dívida pode ser perdoada".

ALAN BARROSREPÓRTER

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Capital prepara projetos ligados à saúde do idoso-Ce

Durante evento, ontem, foi anunciada criação de um posto de saúde, além do Caminhão Idoso Saudável
O atendimento adequado e rápido na rede de saúde é, hoje, um dos principais desafios para grande parte das cerca de 250 mil idosos de Fortaleza. As dificuldades de acesso a consultas e exames torna-se ainda mais acentuada quando hospitais e postos de saúde não possuem condições de oferecer, de forma prioritária, o tratamento necessário à terceira idade.

Parte dos cerca de 250 mil idosos de Fortaleza enfrenta dificuldades no acesso a tratamentos médicos, consultas e exames FOTO: WALESKA SANTIAGO
Duas iniciativas, entretanto, prometem reduzir tais gargalos no próximo ano. De acordo com a Coordenadoria do Idoso da Capital, em 2014 devem ser implantados os projetos Posto de Saúde Amigo do Idoso e Caminhão Idoso Saudável.

Durante o I Encontro Cearense Multidisciplinar em Saúde para o Idoso, realizado ontem em Fortaleza, Sérgio Gomes, titular da pasta, afirmou que os dois programas aguardam aprovação do Município, mas que a expectativa é implementá-los na primeira metade da gestão.

Nos Centros de Saúde da Família, a proposta é que, cada unidade possua um sistema eletrônico pelo qual será possível acompanhar os prontuários dos idosos de toda a cidade, principalmente da periferia. Os dados devem ser atualizados em tempo real, a partir do trabalho em campo feito por agentes de saúde nas comunidades.

Atividades

Segundo o coordenador, todo o material exigido para o projeto já está pronto, faltando apenas o consentimento da Prefeitura para iniciar atividades. "Estamos enviando o projeto agora, e as expectativas são muito boas", destaca Gomes. Ele explica que, após a autorização, os profissionais receberão treinamento para fazer abordagens mais humanizadas e, ainda, identificar os idosos que sofrem agressões por parte de familiares.

No próximo ano, também deve começar a circular o Caminhão Idoso Saudável, iniciativa que levará aos bairros da Capital atendimento médico itinerante. Sérgio Gomes afirma que o veículo funcionará diariamente e visitará comunidades para oferecer consultas e procedimentos à população da terceira idade. A unidade contará com médico, enfermeiro e nutricionista.

Diariamente, o caminhão poderá atender até 100 idosos e, ao longo do ano, haverá capacidade de chegar a 92 mil. Segundo Gomes, o projeto "está para ser aprovado", e a Coordenadoria tenta a aquisição de recursos juntamente ao governo federal.

Para Júlia Barros, assistente social do Lar Torres de Melo, instituição que há mais de 100 anos cuida de idosos na Capital, as políticas públicas voltadas para a saúde da terceira idade, incluindo o combate à violência, são, atualmente, algumas das principais demandas na cidade.

VANESSA MADEIRAREPÓRTER

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Padilha assina convênio internacional para contratar 4 mil médicos cubanos

Primeiro grupo, de 400 profissionais, chegará no próximo final de semana.
Cubanos vão para cidades não escolhidas por aprovados no Mais Médicos.

Fabiano Costa Do G1, em Brasília
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, assinou nesta quarta-feira (21) termo de cooperação com a Organização Panamericana de Saúde (Opas) para contratar coletivamente médicos de Cuba para atuar no Brasil. O acordo prevê, até o final do ano, a chegada de 4 mil médicos cubanos.
Na primeira etapa do convênio, informou o ministro, desembarcarão no país no próximo final de semana 400 profissionais cubanos. Eles serão alocados em parte dos 701 municípios que não foram escolhidos por nenhum dos profissionais brasileiros ou estrangeiros aprovados na primeira fase do programa Mais Médicos, destinado a levar profissionais de medicina para cidades carentes de assistência no interior do país. Desses 701 municípios, 84% estão nas regiões Norte e Nordeste.
Info Mais Médicos V5 6.8 (Foto: Editoria de Arte/G1)
Ao contrário dos brasileiros e estrangeiros que se inscreveram no Mais Médicos, os cubanos não poderão escolher os municípios para onde serão enviados. De acordo com o ministro da Saúde, todos os cubanos têm residência médica em medicina da família e, dos 400 que chegarão no final de semana, 30% têm pós-graduação em outras especialidades.
Padilha disse que, pelo acordo, o governo brasileiro pagará à Opas, o valor equivalente à remuneração dos demais profissionais contratados pelo Mais Médicos (R$ 10 mil), e a organização repassará esse dinheiro para o governo cubano. O valor total do acordo com a Opas é de R$ 511 milhões até fevereiro de 2014, informou Padilha.
O ministro afirmou não ter conhecimento sobre quanto dos R$ 10 mil ficará com os médicos e quanto irá para o governo cubano. Ele disse que não cabe ao governo brasileiro fazer esse questionamento. O representante da Opas no Brasil, Joaquín Molina, presente à entrevista coletiva concedida nesta quarta no Ministério da Saúde, disse que também não sabia informar.
Também serão fornecidos aos cubanos os demais benefícios oferecidos a aprovados no Mais Médicos (auxílio-moradia e alimentação), pagos pelas prefeituras.
A partir do dia 26, os médicos cubanos participarão, ao lado dos profissionais brasileiros e estrangeiros selecionados pelo Mais Médicos, de uma avaliação de três semanas em universidades públicas. De acordo com Padilha, somente os profissionais aprovados por essas universidades serão encaminhados aos municípios.
O ministro da Saúde informou que o segundo grupo de cubanos (2 mil) chegará ao Brasil em 4 de outubro para participarem da segunda rodada de avaliações. A data foi escolhida para coindicir com o período em que serão avaliados nas universidades os profissionais brasileiros e estrangeiros do Mais Médicos. O último grupo de cubanos (1,6 mil) deverá chegar até o final de novembro.
De acordo com o representante da Opas, os médicos cubanos poderão optar por trazer as famílias para o Brasil, mas serão os responsáveis pelas tratativas para obtenção de visto de saída dos parentes.
Em maio, antes de o governo lançar o programa Mais Médicos, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, havia anunciado a negociação de um acordo para contratações de médicos de Cuba. Na ocasião, Patriota falou em 6 mil cubanos.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Hospitais veem com desconfiança perdão de dívidas

Projeto concede moratória de débitos federais para entidades filantrópicas. O problema é que a maior parte do endividamento é com o sistema financeiro
  Rosana Félix Com dívidas que já batem na casa dos R$ 15 bilhões, os hospitais filantrópicos de todo o país estão apreensivos com o Projeto de Lei (PL) n.º 5.813/2013, que tramita em regime de urgência na Câmara dos Deputados. A proposta prevê uma moratória de 15 anos para dívidas acumuladas com a União, que representam apenas 29% do montante total. A maior parte dos débitos (44%) é devida ao sistema financeiro, entretanto o projeto não apresenta solução a esse problema e tampouco trata de novas formas de financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS), que é apontado como o principal impasse do setor.
Para o presidente da Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Paraná (Femipa), Luiz Soares Koury, não é justo beneficiar apenas as entidades endividadas com o governo federal. “Esse projeto resolve apenas a situação com a União, mas a origem do problema é o mesmo, o subfinanciamento do SUS”, afirma. O PL foi proposto em maio pelo governo federal, após a presidente Dilma Rousseff ter vetado um projeto semelhante. O texto prevê a possibilidade de remissão total das dívidas, desde que a entidade passe a pagar em dia todos os tributos correntes. A cada real pago, será descontado um real da dívida. “Não fica claro se haverá algum tipo de saldo devedor após esses 15 anos”, diz Koury. Outra contrapartida é que as entidades terão de cumprir metas quantitativas e qualitativas de atendimento do SUS.
SUS
Prefeitura de Curitiba renegocia pendências financeiras com hospitais
Além da dificuldade financeira crônica causada pelo subfinanciamento do SUS, os hospitais de Curitiba enfrentaram uma dificuldade adicional em 2012: falta de pagamento da prefeitura. De acordo com o secretário municipal da Saúde, Adriano Massuda, a gestão anterior deixou uma dívida de quase R$ 102 milhões com hospitais e fornecedores.
O secretário ressaltou que 64% da dívida já foi paga, mas o restante tem sido negociado com cada hospital. “O pagamento está sendo feito de acordo com o fôlego de cada instituição.” Segundo ele, isso não pode servir de desculpa para falhas no atendimento do SUS. “Estamos pagando em dia, não temos nenhum valor atrasado em 2013.” Massuda ressaltou que a secretaria está fazendo redução de custos administrativos e buscando ampliação da receita. A maioria dos hospitais consultados pela reportagem não relatou problemas por causa de débitos não pagos pela prefeitura, mas o Hospital São Vicente reclama da demora no pagamento de uma dívida de R$ 1,2 milhão. “Querem pagar em 12 prestações mensais. Mas o hospital gastou o dinheiro de uma só vez, para atender os pacientes do SUS. Se houve erro, não cabe ao hospital arcar com as consequências”, criticou o diretor da instituição, Marcial Ribeiro.
Regras
O projeto institui o programa de fortalecimento das entidades filantrópicas e sem fins lucrativos que atuam na área da saúde (ProSUS). Conheça os principais pontos:
A quem se destina
• Hospitais que tenham dívida consolidada com a União igual ou superior a 20% de sua receita bruta de 2012;
• Hospitais cujas dívidas com a União, somadas às dívidas com instituições financeiras privadas, seja igual ou superior a 50% de suas receitas brutas em 2012.
Requisitos
• Ampliação dos serviços ambulatoriais e de internação destinados ao SUS;
• Apresentação das dívidas;
• Apresentação de plano que comprove a capacidade de manter as atividades e ao mesmo tempo manter em dia o pagamento dos tributos correntes.
Benefícios
• Moratória de 180 meses para as dívidas contraídas com a União;
• Remissão das dívidas, caso seja feito o pagamento em dia dos tributos correntes, na proporção de um para um (um real perdoado para cada real pago).
R$ 15 bilhões é o valor da dívida dos hospitais filantrópicos. Na mensagem encaminhada à Câmara, o Ministério da Fazenda trabalha com uma dívida de R$ 13,2 bilhões, que implicaria renúncia fiscal no mesmo montante, a ser diluída no orçamento federal de 2014 e dos anos seguintes.
O presidente da Femipa critica a resistência do governo em mudar as formas de reembolso dos serviços do SUS. “Com uma política de remuneração insuficiente, daqui a pouco teremos o mesmo problema de endividamento.” Segundo dados da Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas, de cada R$ 100 de despesa das entidades com o SUS, o governo paga em torno de R$ 65.
Impacto
O Hospital Evangélico é um dos que pode se beneficiar com o PL 5.813/13. Segundo dados da Fazenda Nacional, a dívida da instituição com a União é de R$ 60,6 milhões. 6O diretor-geral do Evangélico, Jurandir Marcondes Ribas Filho, diz que a renegociação é fundamental para os hospitais continuarem o atendimento público. “Os filantrópicos são os grandes sustentadores do SUS. Dos nossos atendimentos, 90% é SUS, e como a remuneração não é adequada, contraímos dívidas.”
Já o Hospital Cajuru e a Santa Casa não se enquadram no projeto. “Não sei dizer se felizmente ou infelizmente, mas não temos dívidas com a União, só com bancos comerciais e por isso não fomos contemplados”, explica Álvaro Quintas, diretor de Saúde do Grupo Marista, que administra os dois hospitais. “Mas nem adianta fazer esse programa sem mexer na forma de financiamento”, acrescenta.
Governo eleva bônus de incentivo de 26% para 50%
No começo deste mês, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, assinou uma portaria que prevê reajuste nos valores dos incentivos pagos aos hospitais contratualizados, atendendo a uma reivindicação do setor. O porcentual, que desde 2006 estava estacionado em 26%, passará a ser de 50%.
De acordo com Álvaro Quintas, diretor de Saúde do Grupo Marista, essa foi uma resposta aos protestos feitos em todo o país em junho. “A agilidade com que o governo está discutindo o projeto na Câmara e esse reajuste é uma tentativa de responder ao descontentamento que as ruas mostraram com a falta de investimentos em saúde”, avalia.
Entretanto, as entidades ainda esperam mais do governo. Segundo Quintas, é preciso pagar 100% de incentivo para equilibrar todas as despesas. “Entendemos que o governo não quer aumentar a tabela de reajuste do SUS, e prefere pagar o incentivo, que só é feito mediante o cumprimento das metas. Isso garante a qualidade do sistema, mas é preciso pagar 100%. Não há outro jeito de as instituições quitarem as dívidas e investirem na atualização tecnológica e na melhoria da infraestrutura.”
Dívidas privadas
Outra reivindicação do setor é o refinanciamento das dívidas com bancos privados. De acordo com Luiz Soares Koury, presidente da Femipa, o governo federal deveria criar uma linha especial de financiamento subsidiado no BNDES. “O governo poderia permitir a transferência das dívidas com os bancos privados para bancos estatais com taxas de juros mais adequadas para a atividade.”

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Hidroterapia



A água é uma excelente alternativa no tratamento de quadros pós-traumáticos, pós-cirúrgicos ou de dores. Quando o corpo entra em contato com a água, inúmeras alterações e principalmente adaptações acontecem. O processo de imersão ativa, inicialmente, o sistema nervoso central com o objetivo de regular a temperatura corporal. Algumas propriedades da água como a densidade, força de empuxo ou flutuação, pressão hidrostática e viscosidade ativam outros sistemas como o muscular e cardiovascular para que se adaptem ao meio e percebam as inúmeras possibilidades de atividades que podem ser realizadas naquele ambiente.
Os principais beneficiados são os pacientes que estão em fase de recuperação e não podem sofrer sobrecarga nas articulações e nos músculos e nem fazer descarga de peso, ou seja, apoiar o membro inferior no chão. No ambiente aquático esta descarga é permitida, principalmente, por causa da redução do peso que acontece quando o corpo está imerso. Por exemplo, se a água estiver até a altura do esterno (osso que interliga as costelas) ocorrerá a absorção de 90% do peso corporal. Para atletas é uma excelente alternativa de tratamento, pois o repouso total, em muitos casos, pode levar a um quadro de fraqueza muscular. Num adequado programa de reabilitação aquática, atletas e pacientes encontram motivação na água aquecida onde podem realizar exercícios de resistência muscular e cardiovascular, sem interferir no processo de recuperação.
Não só os atletas podem usufruir desta terapia; indivíduos com algum tipo de lesão, fratura, quadro degenerativo, problemas neurológicos, respiratórios e ortopédicos também. A água leva ao relaxamento proporcionado pela temperatura do ambiente, diminui as queixas de sono e o estado de ansiedade e melhora a consciência, controle corporal, assim como o equilíbrio e coordenação motora. Por isso, essa terapia estimula o sistema circulatório, melhora a amplitude dos movimentos articulares e auxilia no fortalecimento muscular.
Um estudo recente, realizado pelo Grupo de Pesquisa Sobre Hidroterapia em Doenças Crônicas, da Universidade Adventista de São Paulo, demonstrou que a prática de hidroterapia, duas vezes na semana, por um período de 2 meses, reduziu as queixas de sono e melhorou a qualidade de vida em termos de fadiga, disposição e intensidade da dor de pacientes com fibromialgia.
A hidroterapia como parte do processo de reabilitação, deve ser realizada em uma piscina adaptada e preparada para esta finalidade. É importante que a piscina tenha um fácil acesso, através de rampas e uma profundidade variada para atender toda demanda de tratamento. A temperatura da água também é fundamental e deve ser mantida entre 28º e 30º para proporcionar, corretamente, os benefícios acima citados.
Os exercícios devem ser orientados por um fisioterapeuta, que após uma detalhada avaliação, escolherá o melhor protocolo para um tratamento de sucesso.
Saiba mais: Silva KM, Tucano SJ, Kümpel C, Castro AA, Porto EF. Effect of hydrotherapy on quality of life, functional capacity and sleep quality in patients with fibromyalgia. Rev Bras Reumatol. 2012 Dec;52(6):851-7.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Suplementos vitamínicos: você não precisa deles

A febre por suplementos vitamínicos é injustificada. Na maioria das vezes, a alimentação diária dá conta do recado. E doses exageradas de vitaminas podem desequilibrar o organismo e causar problemas que vão de cálculos renais a um risco maior de desenvolver câncer

Aretha Yarak
Suplemento vitamínico: ingestão acima do recomendado pode causar prejuízos no organismo
Suplemento vitamínico: ingestão acima do recomendado pode causar prejuízos no organismo (Thinkstock)
Em 1970, o Nobel de Química Linus Pauling publicou o livro Vitamin C and the Common Cold (Vitamina C e a Gripe Comum, em tradução livre). Na obra, Pauling dava uma solução mágica para erradicar a gripe do planeta: a ingestão diária de 3.000 miligramas de vitamina C — cerca de 50 vezes o recomendado. Mas o britânico não acreditava que a vitamina apenas prevenia a gripe. Segundo ele, ela também curava o câncer. Irritada, a comunidade científica apresentou dezenas de pesquisas — anteriores ao livro e feitas na sequência dele — para provar que Pauling estava enganado: a vitamina C não previne a gripe ou cura o câncer e, em excesso, pode trazer prejuízos ao organismo. No recém-lançado Do You Believe in Magic (Você acredita em mágica?, sem edição em português), o pediatra americano Paul A. Offit, chefe da Divisão de Doenças Infecciosas do Children’s Hospital of Philadelphia, compila uma série de pesquisas científicas que demonstram que a crença no poder da suplementação de vitaminas não se justifica. "Se não há indicação médica, você não está fazendo nada além de produzir uma urina mais cara."

Tipos de vitamina

VITAMINA A
Presente nas células nervosas da retina, também encarregada de manter a pele, o revestimento dos pulmões, o intestino e o trato urinário em bom estado. Fontes: carne de fígado, vegetais de folhas verdes, ovos e produtos lácteos.
VITAMINA D
Armazenada no fígado, promove a absorção de cálcio e fósforo do intestino — assim, necessária para a manutenção dos ossos. Fonte: leite e cereais enriquecidos, gema de ovo, peixes magros, exposição direta ao sol.
VITAMINA E
Protege as células contra lesões provocadas pelos radicais livres. A deficiência dessa vitamina é rara em crianças mais velhas e em adultos. Fonte: óleo vegetal, gérmen de trigo, verduras, gema de ovo, margarina e legumes.
VITAMINA K
Necessária para a síntese das proteínas que ajudam a controlar as hemorragias e, por isso, para a coagulação normal do sangue. Fonte: vegetais de folha verde, soja e óleos vegetais.
VITAMINAS DO COMPLEXO B
Fundamentais para o metabolismo de carboidratos e aminoácidos, funcionamento normal dos nervos e do coração, formação dos glóbulos vermelhos e síntese do DNA. Fonte: cereais integrais, carne, nozes, legumes, batatas, queijo, fígado, peixe, ovos e leite.
VITAMINA C
Ou ácido ascórbico é essencial para a formação de ossos e do tecido conjuntivo. Também ajuda na absorção de ferro e na cura de queimaduras e feridas. Fonte: cítricos, tomates, batatas, couves e pimentões verdes
* Fonte: Manual Merck
O problema é que a pesquisa de Pauling, mesmo refutada, deu origem a uma crença de que os suplementos de vitaminas são uma boa ideia para evitar doenças e prevenir o envelhecimento. Tanto que, de acordo com o IMS Health Institute, que fornece dados para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de junho de 2008 a junho de 2009 foram vendidos mais de 6,1 milhões de suplementos vitamínicos. Quatro anos depois, as vendas saltaram para mais de 7,6 milhões — um crescimento de 25%. O aumento é um reflexo dessa mentalidade em relação às vitaminas, cujas qualidades antioxidantes — capazes de combater os temidos radicais livres e, por isso, afastar cânceres e evitar o envelhecimento — são encaradas como milagres, assim como no tempo de Linus Pauling. Não há, no entanto, nos cursos de medicina das instituições mais conceituadas do planeta nenhuma cadeira que comprove - ou ensine -a indicação de vitaminas, sem existência de uma carência, como algo benéfico à saúde.
"As pessoas procuram um forma simples de ficarem saudáveis e não envelhecer. Mas não existe fórmula mágica", afirma a dermatologista Lucia Mandel, colunista do site de VEJA. "A melhor forma de obter vitamina D, por exemplo, é tomar sol." Celso Cukier, nutrólogo do Hospital Albert Einstein, é categórico quanto ao uso de suplementos sem que exista uma carência nutricional. "Não há nenhuma evidência científica de que a suplementação vitamínica traga algum benefício em casos em que não haja uma deficiência nutritiva", diz. "E alguns casos, como a ingestão de vitamina A por tempo prolongado sem necessidade, pode levar a uma cirrose."
Desperdício — Paul Offit prova com facilidade que o uso exagerado de vitamínicos é um desperdício: o corpo é treinado para expulsar o excesso de vitaminas, que são eliminadas pela urina. Não que as vitaminas sejam algo ruim. Elas são essenciais para a manutenção da vida, sendo usadas pelo organismo durante a transformação do alimento em energia. Mas, como apenas quantidades bem pequenas são necessárias, dificilmente uma pessoa que segue uma dieta variada irá sofrer carência de algum tipo. Divididas entre as lipossolúveis (solúveis em gordura) e as hidrossolúveis (em água), a maior parte das vitaminas não é armazenada pelo corpo — por isso, devem ser consumidas em intervalos regulares.
De acordo com especialistas em nutrição, mesmo aquelas pessoas que acreditam não ter uma alimentação ideal estão, em geral, ingerindo as vitaminas das quais precisam. "Pense no escorbuto, uma doença causada pela carência de vitamina C. Os índices são baixos, não se encontram aleatoriamente pessoas com o problema pela rua", diz Offit. Para o especialista, tanta propaganda em torno das vitaminas faz com que as pessoas exagerem. Como há a crença de que algo bom em excesso não faz mal, ingerem-se indiscriminadamente suplementos vitamínicos sem orientação médica. "Na verdade, a primeira opção deveria ser uma mudança na dieta."
Segundo Celso Cukier, do Einstein, o médico americano tem razão. "Os alimentos — verduras, legumes, laticínios — são mais eficientes em fornecer as vitaminas que o corpo precisa do que as formas sintéticas."
Por que pode fazer mal — Quando as vitaminas são consumidas acima da quantidade recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), há riscos que vão do surgimento de pedras nos rins a um aumento nos índices de mortalidade. No caso da vitamina C, por exemplo, é indicada a ingestão de 90 miligramas ao dia para homens e 75 para mulheres (ambos acima dos 19 anos) — uma laranja tem cerca de 50 miligramas, e mesmo quem não bebe suco de laranja encontrará a vitamina em alimentos que vão do tomate à couve. Exceder esse limite, no entanto, pode levar à formação de cálculo renal.
Em alguns casos, o resultado pode ser mais grave. Em 2004, pesquisadores da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, revisaram 14 estudos que envolviam mais de 170.000 pessoas que faziam a ingestão de vitaminas A, C, E e betacaroteno (pigmento antioxidante, fonte indireta de vitamina A) para prevenir cânceres intestinais. Ao fim do estudo, descobriu-se que as vitaminas não tiveram nenhum papel protetor. "Pelo contrário, elas aparentam aumentar a mortalidade geral", escreveram os autores. Em uma avaliação dos sete melhores estudos dentro dos 14 selecionados, viu-se que as taxas de mortalidade eram 6% mais altas entre aquelas pessoas que tomavam as vitaminas.
Em outra pesquisa de 2005, cientistas da Escola de Medicina Johns Hopkins, nos Estados Unidos, encontraram um aumento nos índices de mortalidade relacionada com a ingestão de vitamina E. O Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos observou, em 2007, que dentre os 11.000 homens estudados em um levantamento, aqueles que tomavam multivitamínicos tinham duas vezes mais riscos de morrer de câncer de próstata. "Esses problemas todos ocorrem porque o exagero leva ao desequilíbrio do processo de oxidação", diz Vannucchi.
A guerra contra os radicais livres é justa, mas pode ter ido longe demais. São os radicais livres os protagonistas no processo biológico de envelhecimento — pessoas que comem muitas frutas e verduras têm altos índices de antioxidantes e, assim, menos radicais livres e uma saúde melhor. A lógica, então, parece simples: se eu garantir uma quantidade enorme de vitaminas (que funcionam como antioxidantes) serei mais saudável. "O problema é que o exagero de qualquer coisa é prejudicial, e as pessoas precisam compreender isso", diz Hélio Vannucchi, professor do Departamento de Clínica Médica da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto.
Quem pode — Há, no entanto, alguns grupos para quem os suplementos vitamínicos são indicados. Pessoas com dieta vegana, que não comem nada de origem animal, precisam fazer a reposição da vitamina B12. Gestantes devem ficar atentas à suplementação de ácido fólico (uma vitamina do complexo B) — a falta dessa substância pode causar um problema no feto chamado de espinha bífida. Recém-nascidos que são exclusivamente amamentados e não tomam sol também podem precisar de reposição de vitamina D.
Atletas com carga pesada de treinamento precisam de avaliação médica, uma vez que o metabolismo mais acelerado pode exigir uma quantidade maior de vitaminas do que aquelas encontradas na alimentação. "Mas é essencial que tudo isso seja feita com orientação médica, e que a pessoa faça a ingestão apenas da vitamina que necessita, não de um multivitamínico qualquer", diz Offit. Ou seja, optar por um suplemento por conta própria e "engolir as cápsulas de vitamina todos os dias é algo um tanto inútil."
Mercado — No Brasil, nos Estados Unidos e na Europa, as vitaminas com concentração dentro do limite diário recomendado são vendidas como produtos alimentares. Assim, podem ser compradas livremente, sem necessidade de receita médica ou da presença de algum tipo de alerta de saúde na embalagem. "Essa é uma área que deveria ser melhor regulamentada, nos padrões dos remédios. Assim, seria possível evitar a sua banalização", diz Offit. Segundo dados apresentados em seu livro, a alteração na legislação não interessa a forte indústria por trás das vitaminas: em 2010, o setor arrecadou 28 bilhões de dólares — 4,4% a mais que no ano anterior. "É tudo uma questão política."

domingo, 18 de agosto de 2013

Mais cuidado para o coração feminino

Para conter a escalada de mortes por problemas cardíacos entre as mulheres, médicos adotarão padrões mais rigorosos de avaliação de risco

Mônica Tarantino

O coração da brasileira será alvo de cuidados mais intensos. Neste semestre, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) adotará diretrizes mais rígidas para prevenir na população feminina a aterosclerose (formação de placas que podem levar à obstrução da passagem do sangue nas artérias) e os problemas cardiovasculares a ela associados, como o infarto. “Usaremos métodos mais sensíveis para diagnosticar com precisão os riscos de infarto, insuficiência cardíaca e de acidentes vasculares cerebrais na mulher”, afirma Raul Dias dos Santos, diretor da Unidade Clínica de Lípides do Instituto do Coração (InCor), de São Paulo, e um dos autores das novas regras que serão apresentadas aos médicos no próximo congresso da SBC, em setembro.
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REABILITAÇÃO
Jaine, 52 anos, optou por fazer exercícios monitorados por uma
cardiologista em vez de cirurgia para recuperar o coração
Na origem dessa reformulação estão índices preocupantes. Se na década de 1960 a cada dez mortes por infarto, nove eram homens, hoje essa proporção subiu. De cada dez óbitos, quatro são de mulheres. Por uma associação de fatores que inclui desde a possibilidade de ter sintomas diferenciados do infarto (dores nas costas e náuseas, por exemplo) até a busca tardia de atendimento emergencial (por maior tolerância à dor ou desconhecimento dos riscos e sintomas) e a probabilidade de ser mal avaliada, as chances de uma mulher morrer de infarto acabam sendo 50% maiores do que as de um homem da mesma idade. “A mulher é subdiagnosticada. E uma das causas disso é a incapacidade de os médicos de detectar os sinais da doença cardiovascular na população feminina na emergência”, afirma Dias dos Santos. Foi o que aconteceu com Cinara Albert, 41 anos, de Porto Alegre. Ela tinha 35 anos quando sofreu um infarto. “Senti uma dor na barriga”, conta. Atendida em um hospital público, sua pressão foi considerada normal e ela foi liberada. Preocupada, ligou para um amigo e pediu para ser levada ao Hospital Mãe de Deus. “Lá constataram que eu havia infartado.”
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PREVENÇÃO
Lidia, 41 anos, sofre de arritmia e toma remédios. Como sua mãe também
era cardíaca, ela submete o filho Gabriel, 8 anos, a testes de colesterol
Diante dessa realidade, os novos paradigmas serão mais severos. Hoje, as mulheres que alcançam 10% de chance de ter um infarto ou acidente vascular cerebral nos próximos dez anos são enquadradas pela maioria dos médicos na categoria de risco moderado. Esses riscos são calculados com a ajuda de uma escala que avalia a presença de fatores de risco como taxas de colesterol, pressão arterial, peso, idade e histórico familiar. Até agora, quem não supera 10% nesse escore costuma sair da consulta com indicações para baixar o colesterol com dieta, fazer atividade física e parar de fumar se tiver o hábito.
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NEGLIGÊNCIA
Cinara, 41 anos, infartou aos 35. Foi a dois hospitais até ser
diagnosticada corretamente e receber tratamento
Pela nova cartilha, esse grupo passará a ser visto como de alto risco e deverá ser tratado com medidas mais agressivas. Aquelas que convivem com dois ou mais fatores de risco precisarão reduzir rapidamente as taxas da fração ruim do colesterol, o LDL, e garantir que não fique além do limite máximo de 100 mg/dL de sangue. Para quem já teve infarto, o limite do LDL é de 70 mg/dL de sangue. Antes, pertenciam à categoria de risco elevado as mulheres que somavam 20% de probabilidade de infartar ou de ter derrame nos próximos dez anos. Com as alterações, a proporção de mulheres brasileiras em situação de alto risco para doenças cardiovasculares passa de 10% para 30%. “As mulheres e os médicos precisam entender que é um mito que elas não infartam. Necessitam incorporar a ideia de que devem fazer check-up cardiológico assim como vão ao ginecologista”, afirma o médico Roberto Kalil Filho, diretor do Instituto do Coração de São Paulo.
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A mudança a ser implantada é baseada nas recomendações adotadas em 2011 pela Associação Americana do Coração. Elas determinam, por exemplo, que a avaliação do risco de diabetes integre o pacote de testes. Fora de controle, a doença aumenta a fragilidade dos vasos sanguíneos e o potencial inflamatório, acelerando a progressão dos problemas cardíacos. “Estamos melhorando as formas de conferir o risco ao considerar a diabetes e também um marcador de risco de alta sensibilidade, a proteína C-reativa, cujo nível é detectado por exames de sangue. Por esse teste, vimos que muitas mulheres antes identificadas como risco intermediário deveriam ser classificadas no patamar superior”, disse à ISTOÉ a cardiologista Nieca Goldberg, da Associação Americana do Coração. A ação dessa proteína aumenta a oxidação do colesterol e seu efeito ruim sobre os vasos.
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Algumas mulheres já estão atentas aos cuidados com seu coração. “Com os exercícios supervisionados por uma cardiologista, estou conseguindo fortalecer o coração e eliminar os sintomas de forte pressão no peito que sentia”, diz a engenheira Jaine Isensee, 52 anos, do Rio de Janeiro. Após sentir sintomas no trabalho, ela iniciou uma maratona de exames que detectou uma artéria totalmente entupida. Teve indicação de cirurgia ou reabilitação e optou pela segunda. “Bem indicado e monitorado, o exercício aumenta a circulação colateral do coração e melhora a irrigação”, atesta a cardiologista do esporte Isa Bragança, da Clínica Cardiomex, do Rio de Janeiro. A arquiteta Lidia Mie, 40 anos, de São Paulo, também não se descuida da prevenção. “Minha mãe tinha arritmia. Tomo remédios. E meu filho Gabriel, 8 anos, já se previne”, afirma.
Fotos: Masao Goto Filho /Ag. Isto É; Gabriel Chiarastelli;  Marcos Nagelstein

sábado, 17 de agosto de 2013

Vacina contra a dengue já pode ser testada em humanos

A Anvisa autorizou o início dos testes. A expectativa dos pesquisadores brasileiros é que ela esteja disponível para a população daqui a cinco anos.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária autorizou o início de testes em seres humanos de uma vacina contra a dengue. A expectativa dos pesquisadores brasileiros é que ela esteja disponível para a população daqui a cinco anos.
Há oito anos, o Instituto Butantan está desenvolvendo a vacina contra a dengue em parceria com o Instituto Nacional de Saúde Norte-Americano. Ela já foi testada em animais e em seres humanos nos Estados Unidos.
E, nesta sexta-feira, a Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária - autorizou o início dos testes nos brasileiros.
Trezentos voluntários vão receber a vacina experimental em São Paulo e em Ribeirão Preto, no interior paulista - a cidade vem registrando muitos casos da doença nos últimos anos. Um grupo vai tomar duas doses, com intervalo de seis meses. O outro, apenas uma dose. Os voluntários serão acompanhados por equipes médicas que já estão sendo treinadas.
Segundo o diretor do Instituto Butantan, os testes feitos até aqui já mostraram que a vacina não provocou efeitos tóxicos nas pessoas.
“Ela induz, ou seja, faz anticorpo e esse anticorpo inibe o vírus, ou seja, funciona muito bem. Existe uma corrida cientifica mundial buscando uma vacina pra dengue e tem 2,5 bilhões de populações em risco”, apontou Jorge Kalil, diretor Instituto Butantan.
A expectativa do Instituto Butantan é de ter os primeiros resultados até 2015. E, aí, começar a última fase de teste, em vários lugares do Brasil, e incluindo crianças e adolescentes.
“Incluiremos um número muito grande de voluntários, que é justamente pra obter dados que permitam solicitar o registro da vacina. Pra essa vacina, em particular, a expectativa de dar errado, é muito pequena”, ressaltou Alexsander Precioso, pesquisador Instituto Butantan.
Segundo o Instituto Butantan, a vacina protege contra os quatro tipos de vírus da dengue.