segunda-feira, 30 de junho de 2014

Médicos questionam tratamento de esclerose múltipla à base de vitamina D

Professores, pesquisadores e representantes da Academia Brasileira de Neurologia afirmam que tratamento praticado por neurologistas como Cícero Galli Coimbra não tem evidência científica e pode colocar a saúde do paciente em risco

Marcella Centofanti, Rita Loiola e Vivian Carrer Elias
Cícero Galli Coimbra
Cícero Galli Coimbra: médico usa vitamina D para tratar pacientes com esclerose múltipla (Reprodução)
A esclerose múltipla é uma doença neurológica que desafia a medicina. Cerca 2,3 milhões de pessoas no mundo, dentre elas 35 000 brasileiros, sofrem dessa enfermidade, que é incurável e gera efeitos devastadores. De causa desconhecida, a doença se manifesta de uma hora para outra, quando o sistema imunológico ataca a mielina, substância que protege as fibras nervosas do cérebro, da medula espinal e do nervo óptico. A cada surto, as lesões formam áreas de cicatrização, ou escleroses, que causam danos irreversíveis e podem deixar sequelas como cegueira, paralisia, lapso de memória e dificuldades na fala e na deglutição. Os medicamentos usados para conter a moléstia não são 100% eficazes e podem proporcionar fortes efeitos adversos ao paciente.
Diante desse cenário, é comum — e compreensível — que portadores de esclerose múltipla entrem em uma busca constante por novos tratamentos e soluções milagrosas de cura. Dentre as novidades na seara científica estão os medicamentos orais, como o fingolimode e a teriflunomida — até pouco tempo, as únicas opções eram remédios injetáveis. No campo da especulação, a vitamina D é a bola da vez.
O mais notório defensor dessa teoria, no Brasil, é o neurologista Cícero Galli Coimbra, professor livre-docente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Coimbra afirma que a deficiência de vitamina D é a causa da esclerose múltipla, ao lado do stress emocional. Dessa forma, a doença poderia ser combatida com a reposição do nutriente, sem a necessidade de remédios.
Depois de pagar mil reais pela consulta (preço informado pela recepcionista da clínica), seus pacientes saem do consultório com três recomendações: ingerir doses cavalares de vitamina D, seguir uma dieta livre de alimentos ricos em cálcio e beber 2 litros de água por dia. "A atividade da doença desaparece em 95% dos casos, desde que não esteja num estágio muito avançado. Nos outros 5% o tratamento tem um efeito parcial, mas ainda assim significativo", garantiu o médico, em entrevista ao site de VEJA.
Falta de provas — Fácil de seguir, barato, livre dos efeitos adversos das drogas convencionais e com 95% de promessa de cura. O problema é que o tratamento sugerido por Coimbra não tem comprovação científica.
Há décadas a medicina reconhece que bons níveis de vitamina D no organismo ajudam a proteger os ossos. Nos últimos anos, estudos têm investigado outro benefício do nutriente: a capacidade de blindar o sistema imunológico. No caso da esclerose múltipla, a teoria ganhou força porque estimativas indicam que a condição é mais prevalente entre pessoas que moram em locais afastados da linha do Equador – e, portanto, menos expostas ao sol.

Em um primeiro momento, pesquisas sugeriram que a deficiência de vitamina D poderia enfraquecer as células de defesa do organismo e abrir as portas para uma série de doenças, da dor de garganta ao câncer. Revisões mais recentes, porém, apontam no caminho contrário: um sistema imune combalido é que teria dificuldade de produzir o nutriente (a vitamina D é fabricada pelo organismo, com o estímulo de banhos de sol).

Em dezembro do ano passado, o prestigioso periódico The Lancet publicou a mais completa revisão de estudos sobre os efeitos da vitamina D no organismo. O objetivo era reunir evidências científicas de que o nutriente poderia prevenir doenças cardiovasculares, diabetes, câncer ou esclerose múltipla.

Depois de analisar 462 artigos, os pesquisadores concluíram que a falta de vitamina D não é causa de um sistema imunológico fraco e, sim, sua consequência. Baixas doses do nutriente são resultado dos processos inflamatórios que acompanham muitas doenças, como a esclerose múltipla. Dessa forma, a vitamina D não interfere na prevenção ou tratamento de enfermidades crônicas.

"Não há evidências de que altas doses de vitamina D melhoram os sintomas da esclerose múltipla", diz Philippe Autier, coordenador do estudo e professor do Instituto Internacional de Pesquisa em Prevenção de Lyon, na França. "Usar altas doses do nutriente para tratar uma doença como a esclerose múltipla é perda de dinheiro. Além do mais, prescrever um medicamento sem ter a eficiência comprovada por estudos randomizados é uma péssima prática médica."

Consenso brasileiro — A conclusão foi a mesma em uma revisão de estudos publicada em fevereiro desde ano pela Academia Brasileira de Neurologia (ABN) para elaborar um consenso médico sobre o uso terapêutico da vitamina D em pacientes com esclerose múltipla.
De acordo com a neurologista Doralina Guimarães Brum, coordenadora do Departamento Científico de Neuroimunologia da ABN e professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp), os estudos que relacionam a vitamina D à esclerose múltipla, além de poucos, foram feitos com grupos pequenos de pessoas ou com modelos animais. Não existe nenhum trabalho amplo e de longo prazo com humanos para especificar qual seriam os efeitos diretos da vitamina D e as doses recomendadas.

"Adoraríamos ter um estudo com um grande número de pacientes de esclerose múltipla mostrando os efeitos da vitamina D no tratamento. No entanto, isso não existe e não é possível basear condutas médicas em especulações", diz Doralina.

O estudo da ABN estabeleceu que o uso de vitamina D como terapia única no combate à esclerose múltipla deve ser considerado experimental. Ou seja, se um médico quiser substituir o tratamento reconhecido pela entidade por um exclusivo à base de vitamina D, precisa fazer isso dentro de um estudo clínico, aprovado por um comitê de ética, com consentimento do paciente e de graça.

O documento estabelece também que doses consideradas seguras para a suplementação são de no máximo 10.000 unidades internacionais (UI) ao dia, até o nutriente alcançar, no sangue, uma taxa entre 40 ng/ml e 100 ng/ml, consideradas saudáveis. Doses superiores podem causar problemas graves, como insuficiência renal aguda e crônica.
E existe um agravante. "Parar de tomar o suplemento não significa que o nível de vitamina D no sangue voltará ao normal rapidamente. Há relatos de pessoas que demoraram um ano para voltar às taxas normais", alerta Dagoberto Callegaro, coordenador de neuroimunologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Prática suspeita — Médicos como Cícero Galli Coimbra contrariam o consenso. O neurologista da Unifesp receita doses superiores a 10.000 UI em substituição a remédios que comprovadamente ajudam a impedir novos surtos da doença. Ele nunca publicou uma pesquisa sobre esse tema e não tem nenhuma em andamento. Diz, inclusive, se recusar a fazer um estudo por ter certeza dos efeitos positivos da vitamina D à saúde e do malefício que o placebo poderia causar ao paciente, em uma análise comparativa.

O argumento é fraco, como explica o médico Tarso Adoni, coordenador científico do Departamento de Neuroepidemiologia da ABN: "Não é preciso usar placebo. Um estudo poderia comparar a vitamina D com os remédios tradicionais para a esclerose", diz ele. Mas antes disso, salienta Adoni, há outra questão: seria ético submeter pacientes a uma pesquisa com vitamina D, quando as evidências apontam cada vez mais que o nutriente não traz benefício nenhum ao doente?

A conduta de Cícero Galli Coimbra é repreendida por Reinaldo Ayer, coordenador do Centro de Bioética do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e professor de bioética da Universidade de São Paulo. "Um tratamento que não tem comprovação científica só deve ser aplicado em um contexto de pesquisa", diz. Segundo ele, o Cremesp deveria abrir uma sindicância para investigar casos como o de Cícero Galli Coimbra por possível infração ao Código de Ética Médica. Pelo regimento do órgão, a investigação correria em sigilo e poderia ser arquivada ou, em caso de condenação, resultar em desde uma advertência até a cassação do registro profissional, publicada em Diário Oficial.

Ameaça ao paciente — Além dos riscos inerentes ao uso de superdosagens de vitamina D, o tratamento exclusivo da esclerose múltipla com a substância pode trazer mais um prejuízo sério: a pessoa deixa de fazer uso dos medicamentos que comprovadamente ajudam a conter a doença, o que pode aumentar o risco de novos surtos. "Os remédios convencionais podem não ser 100% eficazes, mas têm respaldo científico", diz Jefferson Becker, neurologista da Faculdade de Medicina da PUC do Rio Grande do Sul e do Comitê Brasileiro de Tratamento e Pesquisa em Esclerose Múltipla.
Atualmente, o tratamento da doença inclui o uso de medicamentos imunossupressores ou imunomoduladores, usados para prevenir novos surtos. Nem todos os pacientes com esclerose múltipla, porém, precisam tomá-los durante a vida toda: existem casos em que a condição é pouco agressiva e fases em que ela deixa de evoluir.

Esse é um dos motivos, segundo os médicos, que levam pacientes a acreditar no tratamento com vitamina D. "As doenças autoimunes são muito heterogêneas, entram em atividade ou param de agir de repente. Então o paciente pode atribuir à vitamina D uma característica que é da evolução natural da enfermidade", afirma Tarso Adoni. Outra razão é o efeito placebo — a pessoa crê que está recebendo uma terapia eficaz e, por isso, sente uma melhora.

"Por que com todos os medicamentos seguimos rígidos protocolos e com a vitamina D há esse uso irresponsável?", pergunta Doralina Guimarães Brum, da ABN. "Normas éticas e científicas foram criadas para que não se repita a história de atrocidades médicas que a humanidade já sofreu."

domingo, 29 de junho de 2014

Governo amplia incentivo fiscal para remédios

Benefício alcança cerca de 170 substâncias usadas na fabricação de medicamentos de tarja vermelha ou preta

Mediamentos: Governo inclui novas substâncias na lista de incentivo fiscal, entre elas amoxicilina
Mediamentos: Governo inclui novas substâncias na lista de incentivo fiscal, entre elas amoxicilina (Medioimages/Thinkstock)
O governo federal publicou nesta sexta-feira no Diário Oficial da União um decreto que amplia a lista de substâncias usadas na fabricação de medicamentos que poderão ser beneficiadas com o regime especial de utilização do crédito presumido de PIS/Pasep e Cofins. A atualização da lista, que não acontecia desde 2007, ocorre a cerca de três meses das eleições.
O incentivo fiscal contempla cerca de 170 substâncias relacionadas a remédios de tarja vermelha ou preta — até então, cerca de 1.500 substâncias constavam na lista de isenção. Oito delas são utilizadas em medicamentos para nutrição parenteral e hemodiálise, por exemplo. Também há itens usados no combate de diabetes, como cloridrato de metformina; no combate de infecções, como amoxicilina; no controle do câncer de mama, como o pertuzumabe, e no de leucemia, como o nilotinibe; o antidepressivo imipramina; e vacinas, como a que protege contra gripe, tétano e meningite.
Segundo as regras do regime especial, cabe à Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos o monitoramento das empresas contempladas com o benefício para "assegurar a efetiva repercussão da redução da carga tributária nos preços e a manutenção dos preços dos medicamentos por períodos de, no mínimo, doze meses".
(Com Estadão Conteúdo)

sábado, 28 de junho de 2014

A batalha do glúten

Milhares de pessoas em todo o mundo estão tirando o nutriente da alimentação na esperança de emagrecer e ter mais saúde. Mas a dieta causa enorme controvérsia na comunidade científica

Cilene Pereira, Mariana Brugger e Mônica Tarantino*
Basta um teste rápido para identificar a nova febre mundial no que diz respeito a regimes de emagrecimento. Uma conversa no trabalho, com os amigos, na academia e com certeza você ouvirá que alguém está fazendo, fez ou pretende fazer a dieta do glúten. Retirar o nutriente do cardápio tornou-se a solução mais propagada do momento para perder peso e ter mais saúde. A recomendação contagiou o Brasil, os Estados Unidos, a Europa. Os números de um mercado em franca expansão confirmam a crescente popularidade desse movimento. Nos Estados Unidos, por exemplo, a previsão é de que o consumo de produtos sem glúten salte de US$ 2,6 bilhões, em 2010, para US$ 5 bilhões em 2015. No Brasil, não há estimativas exatas, mas proliferam pelo País restaurantes com opções glúten-free no menu, e mercados, como o Santa Luzia, em São Paulo, reservam prateleiras para os artigos sem a substância. A reboque dessa onda está a exclusão da lactose, o açúcar do leite (leia mais sobre o assunto à pág.70).
GLUTEN-01-IE.jpg
"Como tenho prazer em comer, sofri com a retirada do glúten. Mas me fez
muito bem. Perdi 17 quilos e regularizei meus níveis de colesterol"
Rubens Araújo, empresário, de São Paulo
O glúten é uma proteína existente no interior dos grãos. Nas plantas, cumpre a função de guardar nitrogênio e carbono para a germinação das sementes. Não tem calorias ou função importante no organismo. Sua vantagem é ter se tornado imprescindível na panificação. Por suas características, acrescenta viscosidade e elasticidade às massas e pães.
Deixar de consumi-lo significa riscar do prato sua principal fonte, o trigo, e outros cereais em que também está presente em menor quantidade, como a cevada, o centeio, o malte e a aveia. Em substituição, a orientação é usar outras fontes de carboidratos, como a farinha de mandioca, arroz e tubérculos como o inhame.
01.jpg
EFEITOS COLATERAIS
Os defensores da exclusão argumentam, em primeiro lugar, que a troca elimina eventuais desconfortos abdominais provocados pela substância. “O glúten é uma proteína grande e de difícil digestão. Ele altera a bioquímica do intestino, pode levar à diarreia e constipação e prejudica a absorção de nutrientes”, diz a farmacêutica e nutricionista funcional Lucyanna Kalluf, do Natunutry Núcleo de Nutrição e Clínica Personalizada, em São Paulo.
A endocrinologista Júlia Gouvea, de São Paulo, também recomenda a retirada do glúten da alimentação. “Pesquisas provam que o nível de inflamação do organismo – maior nos obesos e se eleva por reação ao glúten e à lactose – aumenta a predisposição à manifestação de problemas cardiovasculares e de doenças autoimunes, entre elas a diabetes tipo 1”, diz. Tirar o nutriente, para ambas as especialistas, equivale a remover um fardo do metabolismo, que passa a trabalhar mais rapidamente.
GLUTEN-02-IE.jpg
ESCOLHAS
Renata (acima) é celíaca e não pode consumir a proteína.
Seu namorado, Gustavo, procura ingerir alimentos sem a
substância, mas sem radicalismo. A médica Júlia (abaixo)
afirma que glúten e lactose causam inflamação
GLUTEN-03-IE.jpg
Os relatos de quem aderiu à vida sem glúten corroboram essas afirmações. O empresário de moda Rubens Araújo, por exemplo, começou uma dieta sem glúten e sem lactose após um check-up revelar colesterol elevado e alto risco de diabetes. “Estranhei a retirada do glúten porque adoro comer. Mas a mudança regularizou meus índices de risco”, diz. Ele emagreceu mais de 17 quilos em seis meses. “Os exames de Araújo revelaram intolerância ao glúten e à lactose. Retirar esses alimentos restaurou o equilíbrio no intestino e melhorou seu metabolismo”, diz a nutricionista Lucyanna.
A ciência concorda que o glúten não é uma substância completamente inofensiva. Ele não pode ser consumido de forma alguma por portadores de doença celíaca. Nesses indivíduos, a ingestão do composto ocasiona uma reação autoimune que com o tempo produz danos na mucosa do intestino delgado, causa má absorção de nutrientes e pode levar a uma grande variedade de sintomas, como diarreia, distensão abdominal e perda de peso.
Um dos argumentos que embalam a onda glúten-free é a afirmação de que há indivíduos que não teriam a doença celíaca ou alergia ao trigo (neste caso, o corpo produz anticorpos específicos contra o glúten), mas uma sensibilidade à proteína. “Sensibilidade ao glúten é uma condição mais recentemente identificada que imita muitos dos sintomas de doença celíaca, mas é menos grave e não causa dano intestinal. Temos muito a aprender sobre ela”, disse à ISTOÉ o cientista Alessio Fasano, do Centro de Pesquisa Celíaca e Tratamento do Hospital Geral de Massachusetts, nos Estados Unidos. “Meus estudos revelaram uma nítida diferença entre o mecanismo molecular da doença celíaca e o da sensibilidade ao glúten. Agora, trabalho para achar uma substância que sirva de marcador para diagnosticar a sensibilidade ao glúten”, afirmou. Fasano e a escritora científica Susie Flaherty acabam de lançar o livro “Gluten Freedom”, ainda sem tradução. Para ele, quem tem sensibilidade à proteína de fato se beneficia com a sua retirada.
GLUTEN-04-IE.jpg
VARIEDADE
Patrícia não entrou na onda. Fez reeducação
alimentar e emagreceu comendo de tudo
SERVE PARA QUEM?
Aqui, porém, começam os problemas apontados pelos críticos dessa estratégia. “As únicas pessoas para quem a retirada do glúten é recomendada são os celíacos”, afirma a endocrinologista Cintia Cercato, do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. “E eles somam apenas 1% da população”, complementa.
Há também uma grande controvérsia no meio científico em relação à tal sensibilidade ao glúten. Recentemente, Peter Gibson, da Monash University, o mesmo pesquisador que em 2011 publicou artigo sobre o assunto, surpreendeu seus pares com a divulgação do resultado de outras duas pesquisas, dessa vez feitas com mais rigor, mostrando que a sensibilidade existe, mas não é tão comum, e que, na verdade, o responsável pelos sintomas de desconforto não seria o glúten, mas um tipo específico de carboidrato conhecido como FODMAPs. “Pessoas sem doença celíaca, mas com desconforto abdominal, podem se beneficiar com a redução do consumo de alimentos com trigo, mas isso está sendo atribuído incorretamente ao glúten”, afirmou o cientista à ISTOÉ. “Nossos estudos não identificaram qualquer evidência de que a proteína seja a responsável pelos sintomas. As 37 pessoas estudadas melhoraram quando foi diminuída a quantidade de FODMAPs. Isso não significa que todos os indivíduos que pensam ser sensíveis ao glúten não o sejam, mas isso é muito incomum, para dizer o mínimo”, disse à ISTOÉ. O cientista Alessio Fasano contesta. “A intolerância alimentar, geralmente envolvendo o açúcar dos alimentos e os FODMAPS, é muito diferente de sensibilidade ao glúten. É como comparar maçãs e laranjas”, diz. “No entanto, pode ser que eles agravem o quadro clínico da sensibilidade ao glúten”, afirma.
03.jpg
Outra ponderação contra a dieta é que ela priva o organismo de uma boa parte de carboidratos, fonte importante de energia. Sem ela, o corpo pode acabar recorrendo às fontes da gordura e da proteína para obter o combustível de que necessita. “Quebrar a proteína da gordura, por exemplo, para transformá-la em energia tem um custo alto para o organismo”, afirma o pediatra Mauro Fisberg, de São Paulo, também especialista em nutrição. Há um gasto metabólico desnecessário aplicado para essa função.
CONTA DE CALORIAS
Os críticos também argumentam que o emagrecimento resultante da dieta advém da redução do consumo de alimentos calóricos nos quais há a presença do glúten, como os pães e as pizzas. “Muitas vezes essas são as fontes de vulnerabilidade para que a pessoa engorde”, diz a nutricionista Beatriz Rique, da Clínica Ivo Pitanguy, do Rio de Janeiro. A especialista lembra a história de uma paciente que entrou na onda glúten-free e acabou engordando porque passou a comer tanto quanto antes, mas dessa vez produtos sem o ingrediente. “E o pão sem glúten tem calorias semelhantes aos integrais e francês”, complementa o médico pós-graduado em nutrologia João Curvo, do Rio de Janeiro. “A tapioca, muito usada para substituir o pão, não emagrece”, diz.
A administradora de empresas carioca Patrícia Dias, 32 anos, preferiu seguir essa linha de pensamento a aderir à moda sem glúten da qual muitas de suas amigas viraram seguidoras. “Perguntei à minha nutricionista se valia a pena tirá-lo”, lembra. “Ela me disse que se não tivesse doença celíaca ou intolerância não era o caso de fazer isso.” Com uma dieta personalizada, ela emagreceu. “E comendo de tudo”, ressalta.
GLUTEN-05-IE.jpg
CRÍTICA
O especialista Fisberg diz que a retirada do glúten e da lactose da alimentação
sem necessidade pode causar prejuízos ao organismo
Diante de tanta controvérsia, há quem prefira ficar no meio-termo. O publicitário Gustavo Negrini, de São Paulo, que trabalha com marketing na área da nutrição, decidiu evitar o glúten há cerca de cinco anos, quando começou a ler a respeito para organizar um evento no setor, a feira Gluten Free, que ocorrerá em agosto. “Não tenho problema algum com o glúten, mas sinto a digestão mais leve e fico mais disposto quando escolho alimentos sem o nutriente”, afirma. Hoje, Negrini diz que só não resiste à tentação de estar diante de um pão caseiro assado na hora, como ocorreu no final de semana, em uma pousada em São Carlos do Pinhal (SP). Sua namorada, a chef Renata Macena, colabora para mantê-lo afastado do nutriente. Celíaca, ela cria pães e doces sem glúten. “Dá para viver muito bem. É só aprender a escolher.”
A onda sem lactose
Na esteira da moda glúten-free surgiu também a dieta sem lactose, o açúcar do leite. Portanto, a recomendação é não consumir leite, ou, se beber, ingerir os produtos que não contenham a substância. E milhares de pessoas no mundo estão fazendo isso. O raciocínio é parecido com o aplicado para justificar a retirada do glúten da alimentação. A lactose também provocaria intolerância em muita gente, sendo responsável por sintomas desconfortáveis, como diarreia, inchaço e dor abdominal.
Há de fato uma condição de saúde caracterizada pela intolerância à lactose. O composto é metabolizado no organismo pela enzima lactase. O problema é que com o passar dos anos sua produção diminui, o que, consequentemente, reduz a quebra da lactose. Esse processo pode resultar no surgimento dos sintomas. Além disso, há algumas circunstâncias transitórias, como intoxicações alimentares, e a presença de enfermidades como a doença de Crohn que também prejudicam a fabricação da enzima, facilitando o acúmulo de lactose no organismo.
A primeira crítica a esse modismo é que a intolerância ao composto estaria sendo superdiagnosticada, embora existam testes que forneçam uma resposta concreta. E, por conta disso, muita gente estaria desnecessariamente prescindindo de um alimento essencial para a saúde. “O leite tem alto valor nutricional”, explica o pediatra Mauro Fisberg. Sua proteína participa de processos do crescimento, da síntese de outras proteínas e hormônios e também alguns relacionados à imunidade. “Além disso, é a melhor fonte de cálcio, ajudando no fortalecimento ósseo”, diz a endocrinologista Cintia Cercato. Na opinião dos especialistas contrários à exclusão da lactose, a suplementação de cálcio feita por meio de comprimidos não apresenta os mesmos benefícios proporcionados pela ingestão do mineral por meio da alimentação.
Eles ponderam ainda que, também a exemplo do glúten, as opções sem lactose costumam ser mais caras, o que pode afastar o indivíduo do consumo. No entanto, é importante ressaltar que os derivados lácteos possuem os mesmos benefícios do leite, mas com menor teor de lactose (o açúcar acaba sendo quebrado durante o processo de fabricação). Por isso, podem servir de boa alternativa para quem não consome o leite em sua forma natural.
04.jpg
Foto: Kelsen Fernandes/Agência Istoé, Airam asil, Calebe Simões – Agência Istoé, Bruno Poppe; Gabriel Chirastelli
* Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br), Mariana Brugger (marianabrugger@istoe.com.br) e Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br)

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Regresso à vida

O tratamento cada vez mais sofisticado durante e depois do coma permite que um número maior de pacientes retome suas atividades cotidianas após a experiência

Cilene Pereira, Mariana Brugger e Mônica Tarantino*
IstoE_AtletaComa_640.jpg
Conheça a história do ex-atleta Marcelo Didier, que ficou 15 dias em coma após um acidente de automóvel. 
Na segunda-feira 16, o mundo foi surpreendido com uma ótima notícia. Os médicos responsáveis pelo atendimento do ex-piloto alemão de Fórmula 1 Michael Schumacher anunciaram que ele finalmente começou a sair do coma – estado no qual se encontrava desde 29 de dezembro do ano passado, quando sofreu um traumatismo craniano após bater a cabeça em uma pedra quando esquiava nos Alpes franceses. O heptacampeão mundial já responde a estímulos sonoros, principalmente quando ouve a voz da mulher, Corinna, dos filhos e dos médicos. Ele reage por meio de gestos com a cabeça e, aparentemente, é capaz de enxergar também. A evolução positiva permitiu que Schumacher deixasse o hospital onde estava internado, em Grenoble, na França, e fosse transferido para uma clínica de reabilitação em Lausanne, na Suíça. Não é possível dizer ainda quais serão seus progressos daqui para a frente, mas a torcida por “Schumi”, como ele é carinhosamente chamado, é grande. “Fique bem logo, Schumi”, escreveu em seu Twitter o jogador de futebol Lukas Podolski, integrante da seleção alemã e amigo pessoal do piloto.
10.jpg
O caso de Schumacher é o exemplo mais famoso e recente dos resultados de um tratamento cada vez mais eficaz oferecido pela medicina a pacientes que entram em coma. Até pouco tempo atrás, indivíduos nas mesmas condições que o ex-piloto tinham prognóstico ruim. Hoje, felizmente, multiplicam-se os relatos de pessoas que regressam à vida depois de acidentes traumáticos. E muitas delas voltam em condições de retomar o cotidiano de forma plena, como ilustram as histórias contadas ao longo desta reportagem.
COMA-01-IE-2326.jpg
RECUPERAÇÃO
Schumacher começa a sair do coma. Já responde a estímulos
sonoros, principalmente à voz da mulher, Corinna
O primeiro avanço decisivo que contribuiu para que isso fosse possível foi o melhor entendimento do que é o coma. A palavra vem do grego kóme, que significa sono profundo. E é exatamente isso o que acontece. O coma se caracteriza por um rebaixamento do nível de consciência, que varia de acordo com a causa que o originou. Há uma escala para medir sua gravidade, chamada de Escala de Glasgow. Ela vai de 3 a 15. Quanto menor, pior o estado do paciente.
01.jpg
O processo do coma consiste, na verdade, em um mecanismo de defesa do próprio organismo para desacelerar o metabolismo cerebral e dar uma chance ao corpo para se recuperar da agressão. E elas são diversas. “Entre as causas do coma estão traumatismos cranioencefálicos, tumores cerebrais, acidentes vasculares cerebrais, uso de substâncias tóxicas, sedativos, alterações das funções hepáticas e renal e até da glicemia”, explica a médica intensivista Viviane Cordeiro Veiga, da UTI Neurológica do Hospital Beneficência Portuguesa, de São Paulo.
O tratamento se dá em duas frentes. A primeira é preservar imediatamente o cérebro – o que foi feito, por exemplo, assim que o piloto Schumacher deu entrada no hospital francês. “Durante a fase aguda são tomadas medidas de proteção para reduzir ainda mais a atividade do órgão e, consequentemente, suas necessidades metabólicas e de aporte sanguíneo”, afirma o neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho, diretor do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer, no Rio de Janeiro. “Com isso, evita-se ou reduz-se o aparecimento de lesões secundárias, decorrentes de má oxigenação e da elevação da pressão intracraniana, entre outros fatores.”
02.jpg
As intervenções nesse sentido são realizadas com o auxílio de recursos sofisticados. Um deles é a hipotermia. Por meio de um colchão térmico, baixa-se a temperatura corporal do paciente, o que reduz ainda mais o metabolismo, contribuindo para a preservação das células. Ao mesmo tempo, todo o comportamento fisiológico é acompanhado com ferramentas precisas. Cateteres monitoram a pressão intracraniana, a temperatura e o fluxo sanguíneo cerebral e até a eventual presença de substâncias cujos níveis podem indicar o surgimento de lesões.
Exames de imagem, como os aplicados em Schumacher, também são usados para que os médicos tenham informações mais claras da evolução do quadro. “O diagnóstico feito pela ressonância magnética nos auxilia na identificação de lesões importantes”, diz o neurocirurgião Paulo Henrique Aguiar, presidente da Academia Brasileira de Neurocirurgia e diretor-técnico de neurocirurgia do Hospital Santa Paula, de São Paulo. Outro equipamento, o Doppler transcraniano, oferece um retrato do fluxo sanguíneo.
03.jpg
Simultaneamente, trata-se a origem do problema que levou ao coma. “Podemos recorrer ao uso de drogas que dissolvem coágulos dentro de artérias cerebrais em vítimas de determinados tipos de acidente vascular cerebral isquêmico”, explica o médico intensivista Fábio Guimarães de Miranda, coordenador do Centro de Terapia Intensiva do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer.
O uso de todos esses recursos impulsiona os casos de sucesso no tratamento, como a história do jovem Marcelo Didier, de volta à vida após um grave acidente de carro (leia mais na pág. 82). “As ferramentas de que dispomos estão permitindo a melhora do prognóstico de pacientes com doenças neurológicas agudas”, afirma a médica Gisele Sampaio Silva, coordenadora-médica do Programa de Neurologia do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. De fato, de acordo com o neurologista Antonio Falcão, coordenador do curso de terapia intensiva neurológica da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, os progressos são visíveis. Em especial, no que diz respeito aos pacientes que entraram em coma após traumatismo craniano. “Nos últimos dez anos está havendo redução da mortalidade desses doentes”, assegura.
04.jpg
O regresso ao nível normal de consciência é algo que irá acontecer dependendo do sucesso no tratamento do problema que originou o coma, de sua profundidade e também do atendimento prestado durante sua instalação. Há, porém, alguns indicativos que dão pistas de quem terá melhor ou pior prognóstico. “Jovens saudáveis, pacientes vítimas de traumatismos cerebrais e aqueles em coma secundário a intoxicação medicamentosa têm chance maior de boa recuperação do que idosos e portadores de outras doenças graves associadas, como enfermidades cardíacas e pulmonares”, explica o intensivista Miranda. Conta também o condicionamento físico do paciente. Na opinião do neurologista brasileiro Felipe Fregni, diretor do Centro de Neuromodulação do Hospital de Reabilitação Spaulding, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, o campeão Schumacher, por exemplo, tem seu histórico a seu favor. “Sua recuperação certamente será auxiliada pelo fato de ele ter sido esportista, de ter mantido uma vida ativa mesmo depois da aposentadoria e de ainda ser relativamente novo”, afirmou.
05.jpg
Outro fator importante para estimar o futuro dos pacientes é o tempo de permanência em coma. “Quanto maior o tempo, maior a probabilidade de existirem lesões graves com repercussão funcional após o despertar”, diz o médico Daniel da Cruz Bezerra, coordenador da Neurologia do Hospital Pró-Cardíaco, do Rio de Janeiro. Alguns testes são realizados para medir a capacidade do paciente de interagir com o ambiente. Entre eles está a resposta a estímulos sonoros ou dolorosos. E o critério para determinar que ele realmente deixou o coma é poder dar uma resposta clara e consciente às instruções externas.
Mas ter um pouco mais de certeza de quais pacientes apresentam, de fato, potencial para se recuperar – em especial aqueles com danos severos – é um dos aspectos que mais inquieta os médicos. Pesquisadores da Universidade de Liége, na Bélgica, apresentaram recentemente uma solução promissora. Em um artigo publicado na revista científica “The Lancet”, uma das mais respeitadas do mundo, descreveram uma experiência na qual demonstraram que o exame de imagem de tomografia por emissão de pósitron, o PET, prevê com 74% de eficácia a extensão da recuperação de um paciente em coma grave ao longo do ano seguinte. “Vimos que esse exame pode revelar um grau de evolução que não é visível nos testes convencionais. Isso pode contribuir substancialmente na identificação de pacientes graves com potencial para uma recuperação de longo prazo”, afirmou o médico Steven Laureys, coordenador do estudo. Foram analisadas as respostas de 126 pacientes com lesões cerebrais importantes. Um terço dos 36 doentes diagnosticados como “não responsivos” pelos testes tradicionais, na verdade, manifestavam atividade cerebral consistente com a presença de alguma consciência, o que os habilitava com mais força a uma evolução positiva.
06.jpg
Uma revolução importante no socorro aos doentes se deu na compreensão e maior atenção justamente ao período em que eles começam a deixar o estado de coma em direção à vida normal. “Os pacientes começam a acordar aos poucos quando se restabelecem das lesões. Levam dias para voltar a falar, recuperar os movimentos, a noção do que se passou”, diz o neurologista Eduardo Mutarelli, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Foi dessa maneira que acordou a missionária Bianca Heiderich, do Rio de Janeiro, que nem sequer se lembrava de seu nome (leia mais na pág. 85).
Recentemente, tornou-se consenso que esses pacientes se beneficiam muito do auxílio multiprofissional para que, gradativamente, retomem funções cerebrais eventualmente perdidas ou limitadas por causa dos traumas sofridos. A partir dessa constatação, começaram a surgir no mundo equipes formadas com esse objetivo. Um dos centros que contam com esse apoio é o Hospital Samaritano, em São Paulo. Lá, um time formado por neuropsicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos, entre outros especialistas, presta o atendimento necessário. “Temos, inclusive, oftalmologista especialista em trauma”, informa o médico Renato Anghinah, coordenador do Centro de Atenção e Reabilitação em Trauma Cranioencefálico e do Núcleo de Neurologia do hospital paulistano. Foi com esse auxílio que o jovem Vinícius Jeronymo conseguiu retomar a vida e as aulas de dança após um mês em coma (leia mais na pág. 86).
07.jpg
Um dos alvos de maior preocupação é devolver as habilidades cognitivas aos pacientes. “O mais difícil é recuperar os processos cerebrais, como fazer uma operação matemática ou entender o significado de conceitos abstratos”, afirma o neurologista Felipe Fregni, de Harvard. No entanto, ter de volta a capacidade de memória e de raciocínio é fundamental para retornar, por exemplo, à carreira profissional. Por isso, o investimento para melhorar essa capacidade é grande. “Trabalhamos muito para conseguir manter a reserva cognitiva do paciente por meio do uso de técnicas especiais”, afirma o neurocirurgião Jorge Pagura, chefe do Departamento de Neurociência da Faculdade de Medicina do ABC, em São Paulo, e médico do Hospital São Luiz, de São Paulo.
08.jpg
De acordo com o especialista, a ciência promete aumentar o arsenal de ferramentas. Um dos caminhos em teste é o uso da estimulação elétrica dos neurônios. O método vem sendo aplicado com sucesso no tratamento de algumas enfermidades cerebrais. O objetivo é fazer com que haja o reequilíbrio do funcionamento elétrico das regiões associadas à memória e ao raciocínio. Há outras alternativas também. “Hoje estamos tentando usar outras técnicas para acelerar novas conexões no cérebro. Entre elas, aparelhos de realidade virtual e de medicamentos”, informa o médico Felipe Fregni.
09.jpg
Colaborou Raul Montenegro
Fotos: Pedro Dias/Ag. Istoé; Paul Gilham/Getty Images, Adriano Machado; Eduardo Xappia/Ag. Istoé, Gabriel Chiarastelli; Airam Asli/Ag. Istoé; Guilherme Pupo
* Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br), Mariana Brugger (marianabrugger@istoe.com.br), Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br)

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Dilma sanciona lei que obriga plano a trocar médico que deixou convênio

Pelo texto, clientes deverão ser avisados com 30 dias de antecedência.
Lei publicada no 'Diário Oficial' entrará em vigor daqui a seis meses.

Do G1, em Brasília
A presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que obriga os planos de saúde a substituir médicos que deixaram de atender pelo convênio. Além de recontratar outro profissional com a mesma especialidade, o plano deverá avisar seus clientes sobre a troca com 30 dias de antecedência. A regra entrará em vigor daqui a seis meses.
O texto sancionado sem vetos foi publicado na edição desta quarta-feira (25) no "Diário Oficial da União". O projeto de lei teve votação no Congresso finalizada em abril.
Texto traz ainda regras sobre valores cobrados pelos médicos para os serviços prestados
A lei também torna obrigatória a existência de um contrato dos planos de saúde com os médicos, hospitais e clínicas credenciados, detalhando os valores para cada serviço prestado. Profissionais empregados pelos planos e estabelecimentos de saúde pertencentes ao próprio plano não precisarão desse contrato.
O texto define ainda que o contrato entre os médicos e as operadoras deverá estipular critérios sobre o reajuste anual dos valores cobrados pelos procedimentos. Caso os reajustes não sejam feitos até o final de março, os novos valores da prestação do serviço serão fixados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Decisão da Justiça
Apesar de a regra entrar em vigor somente no fim deste ano, a Justiça já tem obrigado as empresas a seguir o procedimento de comunicar os clientes sobre descredenciamentos. Em 2012, uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que as operadoras de planos de saúde são obrigadas a informar individualmente aos segurados sobre descredenciamento de hospitais e médicos.
A Justiça julgou procedente um pedido de indenização de uma família que, ao levar um parente cardíaco à emergência de um hospital em São Paulo, foi informada no local que a instituição não era mais credenciada no plano de saúde. A família tinha escolhido o hospital justamente por já ter sido atendida no local em ocasiões anteriores.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Desenvolvimento de 'olhos biônicos' abre novos horizontes para cegos

Sistema tem óculos de sol, microcâmera e aparelho que trata dados visuais.
Ele permite a cegos ter percepção de 'formas e contrastes luminosos'.

France Presse
Imagem de arquivo mostra Elias Konstantopoulos usando óculos que possibilitam um "olhar biônico" no laboratório do Centro de Reabilitação e Pesquisa Lions Vision, em Baltimore, nos Estados Unidos (Foto: Jim Watson/AFP)Imagem de arquivo mostra Elias Konstantopoulos usando óculos que possibilitam um "olhar biônico" no laboratório do Centro de Reabilitação e Pesquisa Lions Vision, em Baltimore, nos Estados Unidos (Foto: Jim Watson/AFP)
Os "olhos biônicos", sistemas eletrônicos implantados diretamente na retina, deixaram de ser ficção científica e já estão ajudando os cegos de todo o mundo a recuperar parcialmente a visão. Graças a este sistema, as pessoas cegas percebem novamente "formas e contrastes luminosos, objetos de médio porte" e podem, inclusive, ler "cartas e palavras em tamanho grande", explicou o médico francês José-Alain Sahel.
"Não se trata de uma visão natural, mas de uma percepção visual útil", segundo este especialista que chefia o Instituto da Visão em Paris, um centro de pesquisas do hospital oftalmológico Quinze-Vingts. Atualmente, uma centena de pessoas no mundo usa 'retinas artificiais', criadas por três empresas diferentes de Estados Unidos, Alemanha e França.
"Minha vida mudou", explica um paciente francês operado por Sahel e que teve implantado um sistema Argus II, da empresa americana Second Sight. "Quando uso este sistema nos olhos, ele vira indispensável. Eu o uso o dia todo e as baterias acabam", conta o paciente em um vídeo do fabricante.
O sistema é formado por óculos de sol, equipados com uma microcâmera, um aparelho eletrônico que trata os dados visuais captados pela câmera e um sistema que os transmite para o implante ocular. Mediante impulsos elétricos, o implante estimula artificialmente retinas afetadas por retinose pigmentar, uma doença genética e degenerativa.
Na Europa e nos Estados Unidos, 86 pessoas usam o sistema Argus II, vendido por 115.000 euros, segundo Grégoire Cosendai, vice-presidente europeu da Second Sight.
Novos caminhos de pesquisa
Embora este sistema tenha aberto o caminho, o especialista francês José-Alain Sahel está trabalhando em outro sistema similar chamado Iris, em colaboração com a start-up Pixium Vision. Até agora, cinco pacientes receberam este olho eletrônico fabricado na França "com resultados animadores", segundo o especialista.
Outra fabricante, a alemã Retina Implant, está começando a comercializar na Europa seu próprio sistema de implantes que funciona sem câmera externa. Neste caso, o implante, situado abaixo da retina, capta diretamente a imagem e estimula o olho. Os 40 cegos que utilizam o sistema, vendido por 100.000 euros, veem "diferentes matizes de cinza", explica o presidente da empresa, Walter G. Wrobel.
A vantagem é que "o chip-câmera eletrônica se move com o olho, não há câmara externa, e a sensação visual é estável e corresponde à visão real", segundo Wrobel. As três companhias confiam agora na expansão deste mercado. "Na Europa e nos Estados Unidos há entre 350.000 e 400.000 pessoas que sofrem de retinose pigmentar", segundo o presidente da Pixium.
Além disso, os implantes também poderiam ajudar as pessoas que sofrem de degeneração macular associada à idade (DMAE). Em paralelo, a pesquisa médica está explorando duas novas vias, a terapia genética - com a modificação direta dos genes que causam a doença - e a terapia celular, que consiste em injetar células-tronco na retina para substituir células defeituosas.
São duas alternativas que podem ser "complementares" aos implantes eletrônicos, segundo Gérard Dupeyron, chefe do serviço de oftalmologia do hospital francês de Nimes. Na Universidade Johns Hopkins de Baltimore (Estados Unidos), a pesquisadora argentina Valeria Canto-Soler tinha se especializado na pesquisa de células-tronco aplicada às doenças da retina. "A pesquisa avança a um ritmo incrivelmente rápido. O que há alguns anos achávamos que era impossível agora é realidade", explicou.

sábado, 21 de junho de 2014

Mutações em um mesmo gene previnem doenças cardíacas

Novas pesquisas descobrem que alterações no gene APOC3 mantêm níveis de triglicérides baixos e reduzem risco de infarto a longo prazo

Mutação genética: estudo identifica alterações capazes de evitar ataque cardíaco
Mutação genética: estudo identifica alterações capazes de evitar ataque cardíaco (Thinkstock)
Cientistas identificaram mutações que ocorrem em um mesmo gene e que são capazes de proteger a saúde cardíaca de uma pessoa. De acordo com esses especialistas, quatro alterações no gene APOC3 fazem com que os níveis de triglicérides, um tipo de gordura presente no sangue, permaneçam baixos, podendo reduzir em quase 40% as chances de um ataque cardíaco.
As descobertas fazem parte de dois estudos diferentes – um feito na Universidade de Copenhague, na Dinamarca, e o outro no Hospital Geral de Massachusetts, que faz parte da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Ambos foram publicados na edição desta semana da revista The New England Journal of Medicine.
Os autores das pesquisas acreditam que as conclusões podem ajudar no desenvolvimento de medicamentos que imitem os efeitos dessas mutações genéticas e que, portanto, possam ser usados para prevenir doenças cardíacas. Remédios assim seriam uma alternativa, ou complemento, ao uso da estatina, medicamento que ajuda a controlar os níveis de colesterol no sangue.
Pesquisas — O estudo feito no Hospital Geral de Massachusetts analisou o DNA de 3.700 pessoas e encontrou pelo menos uma mutação no gene APOC3 em um em cada 150 indivíduos. Os pesquisadores descobriram que, em média, participantes com alguma dessas alterações genéticas tinham níveis de triglicérides 39% menores do que aqueles sem a mutação. Essas pessoas também apresentaram níveis de HDL, o colesterol ‘bom’, 22% mais elevados e taxas de LDL, o colesterol ‘ruim’, 16% mais baixas.
A pesquisa dinamarquesa acompanhou mais de 75.000 indivíduos ao longo de 34 anos e descobriu que aqueles que apresentavam mutações no gene APOC3 tinham níveis de triglicérides 44% mais baixos. Eles também tiveram uma chance 36% menor de sofrer um ataque cardíaco ao longo do estudo.
Em entrevista ao jornal The New York Times, o médico Daniel Rader, diretor de Medicina Preventiva Cardiovascular da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, disse que os estudos representam uma boa notícia nessa área. Segundo ele, alguns pacientes que recebem estatina continuam em risco para doenças cardíacas pois apresentam níveis elevados de triglicérides. “Nós estávamos buscando por algo além das estatinas. Após darmos altas doses de estatina ao paciente, o que mais podemos fazer? Essencialmente, nada”, afirmou.


Novas medidas que afastam doenças do coração

1 de 8

Pílula de tomate

Pesquisadores descobriram um novo benefício do tomate. O fruto está sendo usado como matéria-prima para a fabricação de um suplemento alimentar chamado Ateronon, que ajuda a prevenir doenças cardiovasculares. As pílulas, vendidas na Inglaterra, são feitas a base de licopeno, substância responsável pela cor avermelhada do tomate e de propriedades antioxidantes, ou seja, capazes de retardar o envelhecimento celular. Segundo os pesquisadores, o Ateronon pode melhorar a função das células do endotélio (camada interna dos vasos sanguíneos) em até 50%, aumentando a flexibilidade dos vasos.
 
 

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Remédio para artrite faz crescer cabelo – e muito – em homem careca

Em estudo nos Estados Unidos, tratamento reverteu calvície em paciente com alopecia universal

Calvície: o problema atinge cerca de 85% dos homens acima dos 65 anos
Calvície: o problema atinge cerca de 85% dos homens acima dos 65 anos (Thinkstock)
Pesquisadores da Universidade Yale, nos Estados Unidos, podem ter descoberto um uso off label (isto é, fora da indicação original da bula) para um remédio indicado para artrite reumatoide: um tratamento contra a calvície. Em um estudo publicado online nesta quinta-feira no periódico Journal of Investigative Dermatology, os cientistas mostraram que a droga citrato de tofacitinibe fez crescer fios — e muitos — em um paciente de 25 anos completamente careca.
Trata-se do primeiro caso de tratamento bem sucedido relatado na medicina para alopecia universal, forma extrema da alopecia areata, distúrbio autoimune que promove queda de cabelo. O remédio fez crescer fios não apenas na cabeça do paciente, mas em regiões como sobrancelha, cílio e axila.
Reprodução/VEJA
Em oito meses, tratamento restaurou os cabelos em paciente de 25 anos com psoríase e alopecia universal
"O resultado é exatamente o que a gente esperava", afirma Brett A. King, professor assistente de dermatologia da Escola de Medicina da Universidade Yale e autor da pesquisa. "Trata-se de um grande passo no tratamento de pessoas com essa doença (alopecia universal). Embora seja apenas um caso, nós prevíamos o sucesso do tratamento com base no que sabíamos sobre a doença e o remédio. Acreditamos que os mesmos resultados se repetirão em outros pacientes, e pretendemos tentar."
Além de alopecia universal, o paciente tinha psoríase, uma condição autoimune que causa placas avermelhadas na pele. King decidiu tratar as duas enfermidades com citrato de tofacitinibe, um remédio para artrite reumatoide aprovado em 2012 pela Food and Drug Administration (FDA), agência que regula medicamentos nos Estados Unidos — no Brasil, o medicamento aguarda análise na fila de espera da Anvisa.
O citrato de tofacitinibe já havia se mostrado eficiente no combate à psoríase e, em estudo com camundongos, revertido alopecia areata. "Não há boas opções para tratar alopecia universal. O que existia de melhor na ciência parecia ser essa abordagem, e funcionou", diz King. ​Em oito meses de tratamento, o cabelo do paciente cresceu totalmente, e não houve relatos de efeitos colaterais. Segundo King, a droga parece impedir o sistema imunológico de atacar os folículos capilares, consequentemente estimulando o crescimento dos fios.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Anvisa suspende lote de Omeprazol

Fabricante informou à agência que embalagem que deveria apresentar cápsulas de 10 miligramas continha pílulas de 20 miligramas

Anvisa: Suspensão vale apenas para o lote 0909108 do Omeprazol
Anvisa: Suspensão vale apenas para o lote 0909108 do Omeprazol (Medioimages/Thinkstock)
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou nesta terça-feira a suspensão do lote 0909108 do medicamento Omeprazol 10 mg, com 14 cápsulas. Segundo a agência, o fabricante, o Laboratório Teuto Brasileiro S.A, informou que o medicamento apresenta cápsulas de 20 miligramas, em vez de 10 miligramas, conforme indicado na embalagem.
O Omeprazol é indicado para tratar certas condições em que ocorra muita produção de ácido no estômago, como úlcera gástrica e refluxo gastroesofágico. A empresa já informou à agência ter iniciado o recolhimento voluntário desse lote do medicamento.
(Com Estadão Conteúdo)

terça-feira, 17 de junho de 2014

Com 14 pessoas com 6 dedos, família do DF planeja 'arraiá dos hexas'

Mutação foi herdada de advogado que ajudou a fundar Clube do Choro.
Família se diz orgulhosa e elege Hulk, Oscar e David Luiz seus preferidos.

Raquel Morais Do G1 DF
Mãos com seis dedos; característica é comum em 14 integrantes de uma mesma família no DF (Foto: Vianey Bentes/TV Globo)Mãos com 6 dedos; característica é comum a 14 integrantes de família no DF (Foto: Vianey Bentes/TV Globo)
O início da Copa do Mundo reforçou em uma família de Brasília o orgulho por uma característica que a torna bastante peculiar: dos 24 membros, 14 nasceram com seis dedos nas mãos e nos pés. Apaixonados por futebol, eles decidiram organizar uma festa junina embalada pelo torneio para o mesmo dia em que a seleção brasileira enfrenta Camarões no Estádio Nacional Mané Garrincha. "Nós já somos hexa. O Brasil é que precisa correr atrás de nós", brinca a aposentada Silvia Santos.
Ter dedos a mais não nos afeta
em nada, é uma coisa maravilhosa. Para nós, é uma diferença que
é qualidade. O estranho é quem não tem. Aqui, quando vai nascer bebê e fazem ultrassonografia,
a pergunta não é se é homem
ou mulher. Queremos saber se
tem cinco ou seis dedos"
Silvia Santos,
aposentada que tem 6 dedos em cada mão
A característica, que a família considera “charmosa”, deve inspirar camisetas para comemorar os jogos do Brasil durante a Copa. A festa, que acontece no final da tarde da próxima segunda-feira (23) em um condomínio de Águas Claras, foi batizada de "Arraiá dos Hexas". Brincalhões, os familiares dizem que os "pentas" também serão convidados porque representam o número atual de títulos mundiais da seleção brasileira.
A ideia é que todos usem camisetas com estampas bordadas com a figura de uma mão com seis dedos na tarde da próxima segunda e, de alguma forma, transmitam juntos boas energias para o time de Neymar.

O nome do atacante, no entanto, nem aparece na lista dos jogadores preferidos da família de flamenguistas. As lembranças imediatas e bastante eufóricas são Oscar, Hulk e David Luiz. “E eu também gosto do Fred, viu?”, confessa a dona de casa Silvana, mãe de Maria Morena, de 8 anos.
O primeiro da família a apresentar polidactilia – mutação genética que leva uma pessoa a nascer com dedos a mais – foi o patriarca, Francisco de Assis Carvalho da Silva, pai de Silvana. Advogado e músico, ele ajudou a fundar o Clube do Choro de Brasília e sempre viu na situação um motivo de honra. Por causa disso, ganhou o apelido de "Six". Dos cinco filhos, quatro herdaram a característica.
 
"A gente encara isso com muita naturalidade, acho que até pela forma como meu pai lidava. Aqui em casa, quem tem cinco dedos é que tem complexo. Funciona ao contrário", explica Silvia. "Tenho três filhos, e só o mais velho [Eduardo] é que não tem. Quando levei minha filha para tirar os do pé, porque para colocar sandalinha complicava um pouco, Dudu pediu para guardar para colocar na mãozinha dele. Ele tinha 5 anos e se sentia excluído."

A filha, Ana Carolina, lembra que na infância chegou a se sentir desconfortável com a característica que tanto agradava o irmão depois de ouvir piadinhas de que a mão dela se parecia com a de um extraterrestre. Sem traumas, a técnica em programação hoje se diverte ao ver a cena entre a mãe e o irmão se repetir com o filho do meio, João Pedro, de 5 anos.

"Dos meus três filhos, só o mais velho, Bernardo, nasceu com seis dedos. Então nosso problema é esse, porque o João [Pedro] sempre quer ter seis, como eu e o Bernardo. Ele vê e quer ser igual a nós", ri. “Como ele nos pega como referência, acaba usando o dedo do meio para apontar as coisas, quando na verdade nós usamos o que seria nosso indicador.”

Apesar das “excentricidades”, a família garante que o membro sobressalente não atrapalha nenhuma atividade. A diferença fica mais evidente na hora de posicioná-los para fazer coisas mais precisas, como, por exemplo, escrever - em vez de o lápis e a caneta ficarem entre o polegar o indicador, eles dividem a mão com dois dedos de um lado e quatro do outro.
Integrantes de uma mesma família, que possuem seis dedos em cada mão; característica é comum a 14 membros do grupo (Foto: Vianey Bentes/TV Globo)Família no DF que tem 6 dedos em cada mão; característica é comum a 14 membros do grupo (Foto: Vianey Bentes/TV Globo)
E, para evitar que esses momentos causem constrangimento às crianças como os ocorridos com Ana Carolina na infância, as mães buscam ajuda nas próprias escolas. Caçula de Six, Silvana conta que a filha, Maria Morena, sempre relata que os coleguinhas insistem para ver a mão dela.

"Em todo começo de ano eu aviso a professora que ela tem seis dedos, mas que consegue fazer tudo normalmente. Ela consegue cortar com tesoura sem dificuldade alguma, consegue escrever. Então, peço que a trate sem diferenças, porque isso não é um problema", explica.
A pequena Maria Morena sonha em aprender a tocar piano e acredita que pode levar vantagem por ter dedos a mais. "Eu acho bem mais legal ser assim, consigo pegar mais coisas, tenho mais possibilidades", diz. "Só não gosto quando as pessoas ficam querendo toda hora ver e ficar contando. Eu falo para eles 'vocês têm cinco, e eu seis'. Acho estranho olhar as mãos deles e ver que eles têm menos."
Também mãe de duas crianças com polidactilia e neta do músico, a veterinária Mariana afirma que as conversas com a coordenação renderam até um novo método para ensinar as diferenças entre as pessoas. Na sala de Pedro, de 12 anos, já não é mais consenso que todos têm dez dedos nas mãos e nos pés.

“O legal é que a gente viu uma mudança na escola também. A professora do Pedro parou de falar que, juntas, as mãos formam uma dezena, porque para ele não funcionava. Agora, ela diz que há pessoas diferentes; loiras, morenas, ruivas, de olhos azuis, verdes e castanhos, e que isso é assim mesmo, é normal", comemora a veterinária.

Para ela, as crianças dificilmente se sentirão envergonhadas pela condição, já que é natural dentro da família. Mariana afirma ainda que, fora da escola, é difícil as pessoas notarem que ela ou os filhos têm seis dedos. O mais novo, Arthur, de 1 ano e 5 meses, apresenta a mutação genética apenas nos pés.
Mulher com seis dedos nas mãos, característica de  família no DF (Foto: Vianey Bentes/TV Globo)Mulher com 6 dedos nas mãos, característica de família
no DF (Foto: Vianey Bentes/TV Globo)
Festa e futebol
Brincalhões, os familiares decidiram juntar as comidas típicas de junho à passagem da seleção brasileira pela cidade para realizar o Arraiá dos Hexas e convidar os familiares que são “pentas”.

Vestidos de verde, amarelo e azul, os “hexas” afirmam confiar no desempenho da seleção brasileira ao longo do Mundial e se dizem felizes com a realização do evento no Brasil. Eles não ignoram as outras necessidades do país, que pautaram protestos desde junho do ano passado, mas acreditam que seria pior não levar a taça desta vez. 

“O gasto já foi gigantesco, e agora não consigo nem imaginar a reação das pessoas se a gente ainda não fosse campeão. Tem mesmo coisa a mudar, mas a gente não pode fechar os olhos para como é bonito isso tudo. Não é legal ver a interação entre tanta gente diferente, uma interação bonita? Você ver que, na porta do estádio, as torcidas se cumprimentam, a rivalidade é só em campo. Ou, então, ver os japoneses limpando o estádio [após perder para a Costa do Marfim na Arena Pernambuco por 2 a 1, no primeiro dia da Copa], aprender com os outros. É legal sentir esse clima, ver a cidade colorida”, pondera a aposentada Silvia.
Entre 3% e 5% dos bebês
nascem com algum defeito congênito, e os dedos a mais são
a alteração mais recorrente
O filho mais novo dela, João, de 15 anos, é goleiro e conta que teve essa mesma sensação ao ver suíços e equatorianos se divertirem antes do início da primeira partida do Grupo E e da própria estreia do Mané Garrincha no Mundial, no último domingo. Ele foi o único membro da família a se programar para assistir partidas do torneio no Mané Garrincha e afirma que adorou a experiência.

A irmã Ana Carolina e a prima Mariana escolheram não ir ao estádio por causa dos filhos pequenos. “A Catarina tem só 4 meses, é muito pequena. Fico com medo tanto pela possibilidade de manifestação quanto pelo cansaço dela. E é normal criança ficar inquieta. Eu acabaria não aproveitando. É melhor me privar de ir agora, pelo nosso conforto”, disse ao G1.

Alteração genética
De acordo com a coordenadora de Doenças Raras da Secretaria de Saúde, Maria Terezinha de Oliveira Cardoso, a polidactilia é a mais frequente entre as malformações. "Não temos dados sobre o DF, mas o que é possível dizer é que entre 3% e 5% dos bebês nascem com algum defeito congênito, e que os dedos a mais são os mais recorrentes", disse.
A gente encara isso com muita naturalidade, acho que até pela forma como meu pai lidava. Aqui em casa, quem tem 5 dedos é
que tem complexo. Funciona ao contrário. Tenho três filhos, e só o mais velho [Eduardo] é que não tem. Quando levei minha filha para tirar os do pé, porque para colocar sandalinha complicava um pouco, Dudu pediu para guardar para colocar na mãozinha dele. Ele
tinha 5 anos e se sentia excluído"
Silvia Santos,
integrante da 'família hexa'
A alteração genética está ligada à hereditariedade e, ao contrário do que muitas pessoas acreditam, não há fatores externos que possam desencadeá-la. O mais comum é que a pessoa nasça com apenas um dedo a mais em cada membro, mas há casos em que a mutação vem acompanhada de lábio leporino ou de doenças no coração.

Embora geralmente os dedos a mais funcionem bem, a cirurgia para extraí-los costuma ser recomendada. O tratamento é oferecido pela rede pública do DF, mas a mudança não chega nem a ser cogitada pela família.

Refutando a ideia de “defeito”, a aposentada Silvia afirma que a característica realmente dá muito orgulho aos hexas. Ela diz ainda que recebeu de um médico uma proposta para passar por mapeamento genético, mas que recusou por medo de que os filhos ficassem complexados sem necessidade.

"Ter dedos a mais não nos afeta em nada, é uma coisa maravilhosa. Para nós, é uma diferença que é qualidade. O estranho é quem não tem. Aqui, quando vai nascer bebê e fazem ultrassonografia, a pergunta não é se é homem ou mulher. Queremos saber se tem cinco ou seis dedos", brinca.

Filho mais novo de Silvia, João afirma que os dedos a mais o ajudam bastante como goleiro. O garoto de 15 anos contou com a ajuda da mãe para improvisar as luvas: eles compraram dois pares, um de boa qualidade e outro mais simples. No que era melhor, fizeram furos para poder acomodar o membro sobressalente e depois costuraram um dedo recortado do par de luvas de qualidade inferior.

Heptacampeão sai do coma

O ex-piloto alemão de F1 também deixou o hospital onde estava internado, da cidade de Grenoble, na França

dd
Schumi esquiava com o filho e três amigos, em Méribel,onde tem residência. O impacto da batida quebrou o capacete do ex-piloto
FOTO: REUTERS
O heptacampeão mundial de F-1, o alemão Michael Schumacher, não está mais em coma e deixou o Centro Hospitalar Universitário de Grenoble, na França, onde estava internado. A informação foi divulgada, ontem, pela porta-voz do ex-piloto, Sabina Kehm, num comunicado.
"Michael deixou o CHU Grenoble para continuar sua longa fase de reabilitação. Ele não está mais em coma", informou o comunicado, sem divulgar para onde "Schumi"foi transferido e nem revelar detalhes sobre o real estado de saúde do heptacampeão mundial de F-1.
Nessa nota, a família, agradece médicos, enfermeiros e terapeutas que trataram o alemão no hospital, além dos socorristas que o atenderam no local do acidente e fãs que enviaram pensamentos positivos a Michael.
"Schumi" estava internado desde 29/12/2013, quando bateu a cabeça contra uma pedra enquanto esquiava na estação Méribel, também na França. Desde então ele ficou em coma induzido. No dia 30/01/2014, os médicos iniciaram a fase de despertar o alemão progressivamente desse coma induzido.
Detalhes
Schumacher estava esquiando com o filho Mick, 14, e três amigos, em Méribel, onde tem residência. O impacto da batida quebrou o capacete do ex-piloto. A justiça francesa encerrou em 17/02 a investigação do acidente por considerar que "nenhuma infração foi cometida".
Os investigadores analisaram uma câmera que Schumacher levava presa no capacete. A procuradoria ouviu a porta-voz do ex-piloto e o filho dele.
Durante o período que "Schumi" esteve internado, a porta-voz pediu à imprensa que deixasse a família e médicos em paz para dar sequência ao tratamento do alemão em virtude dos boatos noticiados.
Michael Schumacher é o piloto com mais títulos mundiais na história da F-1 - sete entre os anos de 1994 e 2004-, e venceu 91 provas em sua carreira.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Cientistas britânicos prometem tratamento dentário sem brocas

Os pesquisadores acreditam que eletricidade pode ser usada para fortalecer um dente ao forçar minerais para dentro da camada do esmalte dentário.

Estudo combinou células de gengiva à de ratos (Foto: PA/BBC) Da BBC
Nova tecnologia pode significar o fim das
assustadoras brocas (Foto: PA/BBC)
Pesquisadores britânicos acreditam ter encontrado uma maneira de fazer tratamentos dentários sem a necessidade da broca.
Os cientistas da universidade King's College London acreditam que eletricidade pode ser usada para fortalecer um dente ao forçar minerais para dentro da camada do esmalte dentário.
Assim, eles esperam que a técnica acabe não só com a necessidade de brocas, mas também de injeções e obturações.
Mineirais como o cálcio e fosfato circulam naturalmente para dentro e fora do dente. O ácido produzido pelas bactérias que processam o alimento na boca ajuda os dentes a perder esses minerais.
Na experiência, o grupo de pesquisadores aplicou um coquetel de mineirais e depois usou uma fraca corrente elétrica para direcionar os minerais para dentro do dente.
Eles dizem que, assim, o processo, chamado de Electrically Accelerated and Enhanced Remineralisation ('Remineralização Eletricamente Acelerada e Aumentada', em tradução livre), reforça o dente.
Estágio inicial
A empresa Reminova, baseada em Perth, na Escócia, foi criada para tornar a técnica disponível para dentistas nos próximos três anos.
Não há dispositivo para ser visto, e devido à confidencialidade, não houve nenhuma evidência publicada sobre a eficácia da técnica em publicações médicas.
Nigel Pitts, um dos inventores, e um investidor na nova empresa, disse à BBC: "O estágio ainda é inicial, você não começa com o produto final, mas estamos animados porque acreditamos que a técnica seja inovadora."
"Nós criamos uma empresa para transformar uma tecnologia de demonstração em um produto comercial viável que podemos colocar nas mãos de dentistas por todo o mundo."
Ele disse que a tecnologia tem o potencial de substituir a necessidade de várias obturações, mas que não pode atacar cáries em "estágio final".
"O que a técnica não vai fazer é o dente voltar a crescer fisicamente", ele disse.
Imagem de cima mostra cárie dentária antes do tratamento e imagem de baixo mostra cárie depois do tratamento (Foto: Simbios at Abertay University Dundee/BBC)Imagem de cima mostra cárie dentária antes do tratamento e imagem de baixo mostra cárie depois do tratamento (Foto: Simbios at Abertay University Dundee/BBC)

domingo, 15 de junho de 2014

Ex-modelo luta para emagrecer e voltar a ser comparada a Halle Berry

Moradora de São Vicente, SP, já emagreceu 21 quilos em poucos meses.
Academia e alimentação moderada passaram a fazer parte da rotina.

Anna Gabriela Ribeiro Do G1 Santos
Heloisa emagreceu mais de 20 quilos após dieta e exercícios físicos (Foto: Anna Gabriela Ribeiro / G1)Heloisa emagreceu mais de 20 quilos após dieta e exercícios físicos (Foto: Anna Gabriela Ribeiro / G1)
Ela foi modelo na adolescência e nunca precisou se preocupar com a balança. Porém, após engravidar do segundo filho, a dona de casa Heloisa Moraes Alves, de 33 anos, não conseguiu mais recuperar a forma e chegou aos 98 quilos. Ela não se acomodou com o peso e resolveu emagrecer, fazendo reeducação alimentar e exercícios físicos. Hoje, ela brinca que voltou a ser comparada com a atriz norte-americana Halle Berry.
Heloisa, que mora em São Vicente, no litoral de São Paulo, ainda quer perder seis quilos. Ela conta que sempre foi magra, inclusive, na adolescência, trabalhou como modelo e até participou de concursos para misses. “Comecei a engordar na segunda gestação e também quando conheci meu marido. Ele gosta de comida, fartura, e comecei a acompanhá-lo. Eu beliscava muito e não praticava nenhuma atividade física. Mas nunca fui gorda, meu manequim era 38”, lembra.
Heloisa entrou em uma rotina de dieta e exercícios (Foto: Heloisa Moraes Alves / Arquivo Pessoal)Heloisa ganhou peso após a segunda gestação
(Foto: Heloisa Alves / Arquivo Pessoal)
A dona de casa, formada em Publicidade, lembra que, quando mais jovem, era comparada à atriz norte-americana Halle Berry. No entanto, ao chegar aos 98 quilos, se incomodou com a situação e resolveu mudar. “Nas lojas plus size eu não encontrava roupas modernas, jovens. Isso me incomodava, sempre fui muito vaidosa, queria andar bem vestida e não tinha roupa para mim. Também não tinha mais disposição para subir as escadas, pois moro em um prédio sem elevador. Minha família se acomodou e meu marido dizia que eu estava bem. É meio cultural, a mulher casar, ter filhos, engordar e ficar gorda para sempre. Mas eu não quis isso”, diz.
Heloisa não foi a nenhum médico. Por conta própria, pesquisou uma dieta na internet e iniciou uma reeducação alimentar. Em alguns meses, a ex-modelo perdeu 21 quilos. “Um psicólogo me falava que quem tinha que me dar prazer era o meu marido e não a comida. Me deu um estalo e resolvi emagrecer. Não comecei nem em uma segunda-feira, foi em uma quarta-feira. Pesquisei a dieta dos pontos na internet, em que você pode consumir tudo, só que em pequenas porções. Só deixei de comer pastel e pizza", conta.
Em cerca de cinco meses, a dona de casa perdeu 21 quilos, mas a meta dela é emagrecer mais seis quilos e chegar aos 70. “Comecei na academia, fui seguindo à risca, com musculação e exercícios aeróbicos. Faço 1h40 de aeróbico e 1h30 de musculação, todos os dias. Não falto de jeito nenhum, pode acontecer o que for. Gostei de praticar exercícios, nunca tinha feito, é prazeroso, academia vicia”, comenta.
Heloisa diz que emagrecer melhorou sua auto-estima e afirma que as pessoas não podem se sentir desestimuladas. “Estou refazendo o meu guarda-roupa, tenho mais disposição para subir as escadas com compras, tenho resistência, deixo o carro em casa e vou caminhando. Cortei novamente o cabelo. Me acostumei a comer pouco, foi uma reeducação alimentar. Até quando vamos viajar, eu vou ao mercado e compro os ingredientes para fazer uma salada dentro do quarto. A pessoa tem que focar, querer, pensar que vai entrar naquela roupa, assim vai ter mais saúde, disposição. A academia vira um hábito, é muito gostoso. Se não der para ir à academia, faça outras atividades”, finaliza.
Dieta ajudou Heloisa a recuperar a boa forma (Foto: Anna Gabriela Ribeiro / G1)Dieta ajudou Heloisa a recuperar a forma e ser comparada a Halle Berry (Foto: Anna Gabriela Ribeiro / G1)