Medicamentos que fortalecem a proteção natural do organismo contra as células tumorais tornam-se o principal alvo da medicina contra a doença. Um deles reduziu de forma significativa o tamanho do melanoma, um dos tipos mais agressivos da enfermidade
Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br), de Chicago (EUA)
Entender de que
modo os tumores driblam o sistema imunológico e crescem foi sempre um
dos desafios da medicina. Mas se por muitos anos a ideia de criar
tratamentos para atiçar as defesas do corpo contra as células tumorais
era uma entre outras possibilidades, agora se tornou a principal linha
de investigação de cientistas, indústria farmacêutica e companhias de
biotecnologia. Os primeiros resultados concretos desse esforço foram
vistos na semana passada durante o congresso da American Cancer Society
(Asco), realizado em Chicago (EUA).

RECUPERAÇÃO
O empresário João voltou a andar com a ajuda de
um remédio imunoterápico. Ele tem câncer ósseo
Um dos estudos mais comentados foi
executado na Universidade da Califórnia com 411 pacientes de melanoma
(tumor de pele bastante agressivo) em estágio avançado. Todos haviam
sido tratados com várias medicações, incluindo o ipilimumabe, a terapia
mais atual contra a doença. Porém seus tumores haviam voltado a
crescer. Os voluntários receberam uma substância injetável, o
pembrolizumabe, que bloqueia uma proteína encontrada nas células de
defesa, a PD-1. Por meio dela, um composto fabricado pelo tumor (PD-L1)
penetra nas células do sistema imunológico e neutraliza seu poder de
ataque ao câncer. Dos participantes do experimento, 72% apresentaram
diminuição do tumor – 39% dos quais tiveram o câncer reduzido a menos da
metade do tamanho. Quando foi combinado a outra droga, o nivolumabe, o
resultado foi a elevação da sobrevida média de um ano para três anos e
meio.
Espera-se que o remédio represente uma
possível cura do melanoma, mas mais estudos são necessários. “Em alguns
doentes com a doença avançada obtivemos a remissão total do tumor”,
disse o líder da pesquisa, Antoni Ribas. Por causa dos resultados sem
precedentes, a droga está sendo avaliada em regime de urgência pela FDA,
a agência americana responsável pela aprovação de medicamentos.
“Estamos diante da possibilidade de uma mudança de paradigma no
tratamento do melanoma”, diz o médico Antonio Buzaid, diretor do Centro
de Oncologia do Hospital São José, em São Paulo. A expectativa é de que a
droga chegue ao mercado até o fim do ano. Ela também está sendo testada
contra tumores de pulmão, bexiga e rim.


EXPECTATIVA
O médico Buzaid acredita que a droga contra o
melanoma esteja disponível até o fim do ano
Buzaid coordenou os testes com o remédio no
Brasil. O empresário mineiro João Cerqueira, 60 anos, experimentou os
benefícios. Desde outubro do ano passado ele usa o remédio e contabiliza
90% de regressão no tamanho de um tumor ósseo diagnosticado há um ano.
“Não andava mais. Hoje já caminho.”

Outras substâncias imunoterápicas estão em
teste. O cientista taiwanês John Lin, vice-presidente de imunoterapia do
laboratório farmacêutico Pfizer, trabalha na identificação de outro
composto envolvido na desativação do sistema de defesa, o 4-1bb. “Ele se
expressa na maioria dos tumores”, disse à ISTOÉ. A Genentech, uma das
mais destacadas empresas de biotecnologia, trabalha com a indústria
farmacêutica Roche na criação de uma droga que estimule as defesas
contra os tumores de bexiga e de pulmão.“Estou animado em ver pela
primeira vez que a imunoterapia é uma realidade. Essa estratégia terá
ampla aplicação contra a doença”, disse à ISTOÉ Clifford Hudis,
presidente do congresso.

Fotos: Marcus Desimoni/Nitro; Kelsen Fernandes/Ag. Istoé
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